A ação
de O Fantasma de Canterville decorre em plena época vitoriana. Nesse
tempo, o império britânico continuava a usufruir de grande poder, porém, em
contramão, o poder tradicional da monarquia em Inglaterra estava em contração,
perante a ascensão do poder parlamentar, cujos representantes eram eleitos
democraticamente.
Durante
o reinado da rainha Vitória, a Inglaterra transitou para uma monarquia
constitucional, um sistema em que a monarquia operava sob mandatos estabelecidos
por uma constituição. A partir de 1832, o Parlamento inglês começou a aprovar
uma série de leis de reforma que, entre outras coisas, conferiam direito de
voto a um número crescente de cidadãos, de tal modo que, na época em que O Fantasma
de Canterville foi publicado, meio século depois, o número de homens
britânicos que podiam votar tinha passado de quinhentos mil para mais de cinco
milhões. Quanto às mulheres, só teriam direito de voto a partir de 1918 e
apenas se fossem proprietárias de imóveis com mais de trinta anos. Com esta alteração
na estrutura do poder, proporcionado ao homem comum, e a subsequente ascensão
da classe média, a aristocracia – juntamente com o seu poder e riqueza –
começou a diminuir. É neste momento social e político crucial que a família
norte-americana Otis, no conto, decide comprar uma propriedade que pertencera
durante seculos a aristocratas.
Convém
não esquecer que a obra foi publicada e provavelmente ambientada por volta de
1887. A ação desenrola-se em Canterville Chase, uma antiga mansão fictícia
algures na Inglaterra, anteriormente pertença da família Canterville. A mansão
localiza-se na zona rural do país. A propriedade contém um grande parque, no
qual o Sr. Otis permite que grupos de ciganos acampem ocasionalmente e, como
Sir Simon refere a Virgínia, possui igualmente uma floresta de pinheiros e um
cemitério de família. A certa altura, quando Virgínia desaparece, o Sr. Otis e
o jovem namorado da rapariga tem de cavalgar quilómetros para chegar à estação
de caminho de ferro, o que evidencia a distância a que a propriedade distava de
qualquer vilarejo.
Por
outro lado, Canterville Chase tem pelo menos trezentos anos, conclusão a que se
pode chegar a partir da informação de Lady Eleanore Canterville foi
assassinada em 1575 e que a casa é assombrada desde 1584. Tal como sucede com
várias outras propriedades ancestrais em Inglaterra, Canterville Chase possui
armaduras antigas, vitrais com brasões de família e uma sala secreta com um esqueleto.