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sábado, 8 de julho de 2023

Espaço psicológico em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

    O espaço psicológico refere-se à memória dos dias felizes vividos pelo Gato e pela Andorinha e dos espaços em que conviveram. De facto, o felino vive uma experiência que abre caminho para a recordação de uma paixão romântica e idealizada, mas também muito sofrida, experiência essa que o muda e faz crescer.

Espaço social em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

 
Os animais que vivem no parque têm estatutos sociais diferentes: o Gato é uma espécie de vagabundo, enquanto a Andorinha é criada com luxo e até tem aulas de canto.

 
O Gato é discriminado e alvo de preconceito por parte dos outros animais até pela sua aparência.

 
A Andorinha pertence a uma classe distinta, superior aos demais, e é muito protegida.

 
O romance entre o Gato e a Andorinha é impossível, desde logo pelas diferenças sociais entre ambos, isto é, porque pertencem a estratos diferentes.

 
As relações sociais no parque seguem regras muito rígidas. Por exemplo, os animais só poderiam relacionar-se com alguém da mesma espécie: “Tem uma lei, uma velha lei, pombo com pombo, pato com pata, pássaro com pássaro, cão com cadela e gato com gata.”

 

Espaço físico de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

    A ação decorre num parque onde os animais vivem e que, com a chegada da primavera, se torna extremamente belo.

    Dentro do parque, o narrador foca a sua atenção noutros microespaços, como, por exemplo, debaixo das árvores, o local destinado aos bichos que não voam nem trepam e por onde o gato passeia. Os ramos das árvores são o lugar onde as aves pisam e fazem os seus ninhos. Além disso, é a partir dos ramos das árvores que a Andorinha observa o Gato. O esconderijo da Cascavel é um lugar longínquo, onde vive apenas a Cobra Cascavel, a encruzilhada do fim do mundo, e para onde ele se dirige no final da história, depois do casamento da Andorinha e do Rouxinol.

Tempo do discurso em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

    O tempo do discurso tem a ver com a forma como o narrador gere o tempo da história: a estação da primavera ocupa três capítulos, o verão um, o outono dois e o inverno um. Por outro lado, o narrador aumenta e diminui o tempo da narração, destacando alguns factos e omitindo outros. Além disso, ele não obedece sempre à cronologia, introduzindo algumas analepses e prolepses, como é o caso, por exemplo, do “Capítulo inicial, atrasado e fora do lugar”.

Tempo psicológico de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

 
. “É sempre rápido o tempo da felicidade.”

. “Curto foi o tempo do verão para o Gato e a Andorinha.”

Tempo da história em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá


Na obra, o tempo da história abrange cerca de um ano da vida dos protagonistas e é narrado de acordo com as estações do ano, que dão título a alguns dos capítulos da história e que estão em consonância com os sentimentos das personagens principais.

    Na primavera, o Gato e a Andorinha conhecem-se e, com a continuação da estação, interessam-se um pelo outro. No final, encontram-se todos os dias. No verão, o Gato e a Andorinha agem como namorados e o felino sente ciúmes por ela sair com o Rouxinol. No outono, o Gato parece mais sociável, sofre e escreve poemas apaixonados e nostálgicos, mas a Andorinha afasta-se e revela que vai casar com o Rouxinol. No inverno, ressalta a tristeza e a dor resultantes da separação: a ave casa com o Rouxinol e o Gato compreende que o “sonho de amor” acabou.

                Em síntese:

 
Primavera
 
. O Gato Malhado vivia isolado, pois era mau para os outros animais do parque.

 
. A Andorinha, curiosa e interessada, queria saber mais do gato, por isso passou a observá-lo.

 
. No primeiro dia da primavera, todos fugiram do Gato menos a Andorinha.

 
. Apesar da má relação entre gatos e andorinhas, o Gato e a Andorinha decidiram ser amigos.

 
. O Gato e a Andorinha encontravam-se e passeavam todos os dias, situação que se prolonga até à primavera findar.

Verão
 
. O Gato e a Andorinha passeavam e conversavam.

 
. O Gato tinha ciúmes do Rouxinol e ficava triste quando a Andorinha saía com ele.

 
. O Gato declarou-se à Andorinha: “Se eu não fosse gato, te pediria para casares comigo.”

Outono
 
. O Gato tinha mudado.

 
. Os animais já não tinham medo dele.

 
. O Gato escreveu um soneto à Andorinha.

 
. Os dois passeavam, mas em silêncio.

 
. No final do dia, o Gato ofereceu o soneto à Andorinha.

 
. No dia seguinte, a Andorinha não apareceu e enviou uma carta definitiva pelo pombo-correio.

 
. Ambos se sentiam tristes.

Inverno
 
. No início do inverno, a Andorinha casa com o Rouxinol.

 
. O Gato perde toda a esperança.

 
. O Gato vai ao encontro da morte, a Andorinha apercebe-se e chora.


Caracterização do Galo Don Juan de Rhode Island


    O Galo é um animal polígamo, “maometano” e orgulhoso. É o juiz do casamento civil da Andorinha e do Rouxinol.

    Como o próprio nome indicia, possui um harém de galinhas, pelo que na sua vida não há lugar para o amor monógamo. É verdade que possui uma galinha preferida, Carijó, porém tudo parece relacionar-se mais com a satisfação da pulsão do galo e uma forma de ostentação da sua virilidade, conquistando frangas cada vez mais novas. Os habitantes do parque não estranham nem condenam a poligamia do bicho, por um lado, porque é habitual um galo possuir mais do que uma fêmea e, por outro, dado que ele é maometano.

Caracterização do Pombo-Correio


    O Pombo-Correio fazia longas viagens, para levar e distribuir a correspondência pelo parque. Era olhado de forma trocista e como um tolo pelos outros animais, porque a Pomba-Correio o traía com o Papagaio.

    No caso dos pombos, “monógamos por opção”, a ideia da fidelidade a um só parceiro, apregoada pela Ciência e elogiada na poesia, é desmentida pela relação adúltera que a pomba mantém com o Reverendo Papagaio, durante as longas viagens do Pombo-Correio, e da qual nasce o Pombogaio, um pássaro estranho que falava a língua dos humanos e que, apesar desse aspeto incomum, notado por todos, foi registado oficialmente como filho do casal de pombos, o que mostra como a grande preocupação do pombo é cultivar as aparências (de ter uma família unida e feliz).

    Pelo exposto, o Pombo-Correio representa a ingenuidade e encarna o tipo do marido enganado, que chega ao ponto de, ao reconhecer oficialmente como seu filho uma ave que é fruto do adultério da sua esposa com o Reverendo Papagaio, pretende ignorar a traição da companheira para salvar a aparência de uma família unida e feliz (culto das aparências).

Caracterização da Pata Petita e do Pato Pernóstico


    Os dois animais contribuem para a composição do ambiente no que diz respeito à vida social do parque. Ambos criticam e condenam o namoro do Gato e da Andorinha.

    O casal de patos é interessante por outros motivos. A diferença de cor da plumagem (ele é preto, a dela é branca) não suscita inquietações ou comentários por parte dos outros animais do parque, o que pode indiciar a aceitação das diferenças neste caso, provavelmente porque pertencem à mesma espécie e possuem o mesmo estatuto social. Existe, contudo, uma nota dissonante: a referência ao facto de o pato ser monógamo “por força”, dado que a esposa é a única pata do parque. Deste modo, tendo em conta a inexistência de qualquer referência a sentimentos ou a harmonia enquanto casal, pode deduzir-se que o casamento de ambos não é produto de amor mútuo, mas de uma mera convenção social.

Caracterização da Cobra Cascavel

    A Cobra Cascavel é o animal mais temível e temido de todos, por isso mora fora do parque, depois de ter sido afugentada pelo Gato.

Caracterização dos pais da Andorinha Sinhá


    Os pais da Andorinha amam a sua filha, estão muito preocupados com ela e, por isso, são muito protetores, ralhando com ela quando entendem ser necessário. Se for preciso, dão a vida pelo rebento. Não aprovam o namoro com o Gato, por isso proíbem-na de se encontrar e falar com ele e, no final, convencem-na a casar com o Rouxinol.

    Eles defendem que as relações amorosas devem existir unicamente entre seres da mesma espécie. Procuram ser bons pais, pelo que, para salvarem a sua filha da má companhia do Gato, superam qualquer medo e dificuldade, não hesitando em arriscar a vida. No entanto, além disto, não sabemos se se amam; pelo contrário, a ausência de gestos de afeto e carinho entre ambos parece sugerir o contrário.

Caracterização da Manhã

    A Manhã é uma jovem solteira, bonita e leve, uma funcionária relapsa, um pouco irresponsável e preguiçosa, distraída e sonhadora, que se pela por uma boa história. Ela é a responsável por apagar as estrelas e acender o Sol. Deseja casar com um milionário para não ter de trabalhar e cumprir as regras rígidas de uma funcionária pública.

Caracterização do Vento

    O Vento é a personagem que originou a história do Gato e da Andorinha. Trata-se de um velho atrevido, travesso e ousado, alegre, aventureiro e dançarino famoso. Anda por todo o lado e sabe muitas histórias. Uma delas é do amor impossível entre o Gato e a Andorinha, de que tomou conhecimento precisamente através das suas aventuras e decide contá-la à Manhã para a cortejar, por quem tem uma paixão secreta.

Caracterização do Tempo

    O Tempo é o mestre de tudo e de todos, o senhor dos galos e dos relógios. É infinito e tem um fraquinho pela Manhã. O facto de gostar de levantar as saias das mulheres e de ser instável, tendo já vivido diversas relações, inviabilizam a relação, que é rejeitada pela Manhã.

Caracterização do Sapo Cururu

    O Sapo Cururu é o companheiro do Vento e a figura que conta a história ao narrador. É considerado no parque alguém ilustre e culto, um intelectual e académico (“Doutor em Filosofia, Catedrático de Linguística e Expressão Corporal…”), que denuncia o Gato por plagiar sonetos.

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