Português

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Resumo da 5.ª parte da 1.ª crónica: Os discípulos do Diabo


    Finda a analepse operada no capítulo anterior, a narrativa regressa ao presente da ação e ao convívio com a família de Mollie, que oferece uma recompensa em trica de informações que possam ajudar a esclarecer as mortes de Anna e Lizzie. Seguindo o conselho de Hale, os Burkharts contratam um detetive particular chamado Pike, enquanto Mollie e Ernest incentivam os guardiões da propriedade de Anna a procederem de modo semelhante. Convém esclarecer que um dos princípios do acordo estabelecido entre o governo norte-americano e os Osage passava ser atribuído um tutor pelo Office de Assuntos Indígenas a todo aquele que fosse considerado incapaz ou incompetente para administrar os seus negócios. Esses tutores eram, regra geral, homens brancos que tinham o poder de controlar todas as questões relativas a finanças do tutoriado. O tutor de Anna e Lizzie eram um indivíduo chamado Scott Mathis e também este decidiu contratar detetives privados, que investigam os últimos dias de vida de Anna, nomeadamente entrevistando testemunhas e verificando os seus registos telefónicos. Deste modo, conseguem estabelecer que, na noite em que desapareceu, se encontrava em casa às 20 horas e 30 minutos, mas também chegam à conclusão que alguém pagou para o registo de chamadas da mulher ser alterado. No entanto, entre teorias e boatos que correm, os investigadores particulares nada mais descobrem de relevante e, assim, nove meses volvidos sobre os crimes, as investigações estão paradas e tudo aponta para que não sejam desvendados.

    Está a situação neste ponto quando chega o mês de fevereiro de 1922, que marca a ocorrência de nova morte, a de William Stepson, envenenado, seguida de duas outras de membros da tribo Osage. Em desespero, esta roga o auxílio de Barney McBride, um negociante de petróleo branco que havia casado com uma mulher Creek. O sujeito desloca-se a Washington DC no sentido de solicitar o auxílio das autoridades federais, porém o contacto com estas acaba por nunca se concretizar, visto que o seu corpo é encontrado em Maryland na manhã subsequente à sua chegada.

Resumo da 4.ª parte da 1.ª crónica: Reserva subterrânea


    Este capítulo assenta num recuo no tempo – analepse – para clarificar como os Osage se tornaram uma tribo rica e como vieram a habitar naquela zona do estado do Oklahoma. A narrativa recua até à época que assistiu à chegada dos colonos europeus à América do Norte, quando os Osage ocupavam um território que compreendia a área que se estendia entre o Missouri e o Kansas, incluindo as famosas Montanhas Rochosas. Quando os Estados Unidos adquiriram grande parte desse território aquando da compra do estado do Louisiana (31 de outubro de 1803) à França, os Osage foram forçados a renunciar às suas terras situadas entre os rios Arkansas e Missouri. Deste modo, quando Mollie nasceu, a tribo estava limitada a uma pequena parcela de terra localizada a sudeste do Kansas. Duas vezes por ano, os Osage mudavam de território para caçar búfalos, uma atividade que consideravam sagrada: cada parte do animal era reverenciada e cuidadosamente utilizada. Entretanto, o chamado homem branco norte-americano continuava a conquista do Oeste, invadindo terras de diversas tribos índias, incluindo a dos Osage. Alguns desses homens, mais cruéis e oportunistas, não se limitavam a invadir esses terrenos e a usurpá-los, pois também assassinavam as famílias que neles viviam, mesmo nos casos em que os nativos concordavam com a sua venda.

    Os Osage decidiram, então, comprar terras aos Cherokees, concretamente uma área aparentemente imprópria para cultivo, pensado que, assim, demoveriam os colonos brancos de a ambicionarem e ocuparem. Foi nessa área que Lizzie e Ne-kah-e-se-y se estabeleceram em 1974, após se terem casado, juntamente com outros membros da tribo, que assistia a um decréscimo dos seus membros a cada ano que passava. As suas circunstâncias de vida eram cada vez mais precárias, por um lado, porque a população de búfalos eram cada vez menor e, por outro, porque o governo norte-americano lhes pagava em rações, em vez de em espécie, o que levava a que passassem fome e outras privações. Vendo-se cada vez mais em situação insustentável, decidiram enviar uma delegação ao governo, que lhes fez algumas concessões, as quais, porém, não melhorou grandemente o estado de coisas. Nesse tempo, os Osage foram forçados também a enviar os seus filhos para a escola, onde aprenderam a língua e a cultura inglesa e norte-americana. Foi o caso de Mollie. Além disso, a esperança que os Osage depositavam no desinteresse dos brancos por aquele pedaço de terra intratável caiu também. Nada parecia parar os colonos.

    E assim chegamos à década de 1890, quando o governo dos EUA pressionou a tribo no sentido de aceitar a divisão das suas terras até então partilhadas em parcelas de propriedade individual, que seriam concedidas a cada membro da tribo. Os Osage não se fizeram rogados e compraram-nas, o que permitiu ao chefe multilingue da tribo, James Bigheart, bem como ao advogado John Palmer, um homem de ascendência simultaneamente Sioux e caucasiana, casado com uma mulher osage, adiar a distribuição e, deste modo, negociar termos mais favoráveis para o seu povo. Com efeito, conseguiram chegar a um acordo que lhes proporcionava direitos duradouros sobre tudo o que existe debaixo da terra, o que constitui um golpe de génio, até porque os negociadores do governo desconheciam que nela tinha sido descoberto petróleo. O referido acordo estipulava, entre outras coisas, que cada membro da tribo teria direitos de cabeça que não poderiam ser vendidos. Os Osage, inteligentemente, passaram a arrendar lotes a uma enchente de exploradores selvagens que se deslocavam para a zona em busca de fortuna rápida e fácil. Alguns deles alcançaram, de facto, a riqueza, mas muitos outros fracassaram. Os únicos que lucraram no seu todo foram os Osage.

Análise da 3.ª parte da crónica 1 de Assassinos da Lua das Flores


    Este capítulo da obra centra-se na figura de William Hale, um self-made man que, na prática, governa o condado de Osage. Graças ao casamento de Mollie Burkhart com o seu sobrinho, Ernest, é familiar de Mollie e promete ajudá-la na demanda de justiça para a irmã. No entanto, parece haver algo sinistro ligado à sua pessoa, como o epíteto por que é conhecido entre a população deixa adivinhar. A sua aparência sugere estarmos na presença de um homem benevolente, preocupado e atencioso com a comunidade, como se pode depreender pela pressão que exerce sobre as autoridades locais e, mais tarde, quando contrata detetives privados para investigar os assassinatos ocorridos. A sua determinação e energia demonstradas na busca e obtenção de sucesso, superando dificuldades e obstáculos, granjeiam-lhe respeito de todos, porém o seu trajeto de vida também mostra que se trata de alguém que não observa e respeita limites, como fica bem patente através da referida pressão exercida sobre diversas pessoas. Embora tal suceda por um bom motivo, não deixa de ser uma postura reveladora de prepotência e abuso de poder.

    Por outro lado, a figura de Mollie continua a merecer grande centralidade na narrativa. Neste capítulo, o leitor pode observá-la pela primeira vez em discurso direto quando responde no contexto do inquérito sobre a morte de Anna. Grann reproduz as palavras da personagem, constituindo a transcrição do inquérito um documento inestimável, dado que permite que ela fale por si mesma e revele uma mulher determinada, decidida, de personalidade bem vincada, que se expressa num inglês claro, mesmo que não perfeito. De toda a sua intervenção, ressalta o desejo intenso de obter justiça para a irmã.

    A Décima Oitava Emenda da Constituição norte-americana estabeleceu a chamada Lei Seca, tendo sido ratificado em 16 de janeiro de 1919 e entrado em vigor um ano depois, até à sua revogação em 1933. Os seus efeitos práticos foram frequentemente contraproducentes, se tivermos em conta os objetivos que presidiram à sua publicação. De facto, os contrabandistas responderam à sua entrada em vigor abrindo lojas e comercializando produtos que continham substâncias altamente venenosas. O comércio ilegal de álcool transformou-se num negócio extremamente lucrativo e perigoso, ou até moral, em simultâneo. Ou seja, se quem esteve por trás da Lei Seca cria que a sua publicação iria reduzir a taxa de criminalidade, na realidade sucedeu o oposto. É neste contexto que as colinas que rodeavam Osage adquirem grande importância, visto que constituíam um esconderijo extraordinário para pessoas em fuga à lei.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Resumo da 3.ª parte da 1.ª crónica: Rei das colinas Osage


    Os corpos de Anna e Charlie, baleados com uma arma de calibre .32, são descobertos quase em simultâneo, o que gera um grande sururu e uma enorme especulação. Mollie assume, de novo, alguma preponderância na história, dado que, como sabe falar inglês e é casada com um homem de pele branca, é ela quem dialoga com as autoridades em nome da sua família, as quais se mostram particularmente renitentes em investigar as mortes. Esta ausência de ação leva a família Burkhart a solicitar a William Hale, tio de Ernest, que se envolva, no sentido de levar as autoridades a agir. De facto, Hale é uma figura com grande preponderância no condado de Osage, por se tratar de um homem abastado e com grande influência na região, bem como um defensor do Estado de Direito. Chegara àquela região dos EUA há bastantes anos, sem passado conhecido, e trabalhara como vaqueiro conduzindo gado destinado a abate através das planícies, conseguindo poupar dinheiro suficiente para comprar um rebanho de gado, para, no entanto, tudo perder pouco depois. No entanto, este fracasso, em vez de o desanimar e abater, tornou-se o combustível da sua grande ambição em busca de sucesso e riqueza. De facto, logo recomeça a sua demanda de riqueza e acaba por fazer fortuna dedicando-se à indústria pecuária. A conquista de riqueza faz com que ponha de lado a asua tradicional imagem de homem rude: muda a sua forma de vestir, começando a envergar roupa mais adequado ao seu novo estatuto socioeconómico, casa-se com uma professora e é pai de uma rapariga. A narrativa não deixa dúvidas: Hale mudou a sua vida graças ao facto de trabalhar mais e melhor do que os outros e sendo mais inteligente e astuto do que os rivais. Assim, acumula riqueza e, em simultâneo, poder e influência, não só apenas graças ao seu dinheiro, mas também a gestos em prol da comunidade, como por exemplo, a construção de um hospital e de escolas, que lhe granjeiam a imagem de um benfeitor excecional e amigo especial junto da tribo osage. Tudo isto faz com que seja reverenciado como um rei, homenageado com a nomeação honorária como vice-rei e assuma o título de reverendo. Deste modo, promete ajudar Mollie a obter justiça para a sua irmã, algo em que esta acredita piamente, graças à relação próxima com Ernest e a sua amizade com Anna.

    É aberto um inquérito formal sobre a sua morte, no qual a irmã Mollie testemunha, ansiosa por fornecer qualquer informação que possa contribuir para identificar o assassino da mana. Após a conclusão da inquirição e por ter sido a última pessoa a ver Anna viva, Bryan Burkhart é detido, juntamente com o seu irmão Ernest, todavia ambos são libertados pouco depois por inexistência de provas suficientes do seu envolvimento que permitissem a manutenção da sua detenção. Em Osage, muitos acreditam que os assassinos serão pessoas de fora, visto que a Lei Seca, que fora imposta no início de 1920, tinha criado um ambiente de desrespeito pela lei na região, enquanto outros apontam para o ex-marido de Anna, Oda Brown, que procura, sem sucesso, anular o testamento da defunta por esta não lhe ter deixado nada. Um falsificador do Kansas entra também em cena e entra em contacto com o xerife Freas para lhe comunicar que Brown lhe pagou para assassinar Anna, porém, como, mais uma vez, não existem quaisquer provas da sua narrativa, tanto ele como Brown são postos em liberdade.

    Perante este quadro, Hale pressiona as autoridades locais, que decidem desenterrar Anna para procurar e analisar a bala que a matou. Todos estes acontecimentos, nomeadamente toda a gama de sentimentos despertada pela morte da filha, levam à morte de Lizzie uns curtos dois meses após a daquela. Bill Smith desconfia, contudo, considera o passamento de Lizzie suspeito e começa a investigar por sua iniciativa, concluindo que foi envenenada. Perante isto, convence-se de que todas as mortes recentes – concretamente as de Anna, Lizzie e Charles Whitehorn – estão interligadas entre si e relacionadas com as vastas reservas de petróleo que a tribo osage controla.

Resumo da 2.ª parte da 1.ª crónica: Um ato de Deus ou do homem?


    A localização remota do condado de Osage significa que a aplicação da lei e as investigações criminais estão entregues a amadores locais, o que está longe de garantir qualquer espécie de fiabilidade ou eficácia. James e David Shoun, médicos brancos locais, realizam a autópsia de Anna. Os Shouns determinam que a mulher morreu entre cinco a sete dias e que a causa da morte é um ferimento de bala que ostenta na cabeça. Um agente da polícia procura a bala calibre 32 desaparecida e, embora não a encontre, descobre uma garrafa de aguardente e algumas marcas de pneus na área onde o corpo foi descoberto.

    Lizzie fica arrasada com a morte de Anna e sua saúde piora enquanto ela se pergunta se Wah'Kon-Tah (a força vital que cerca tudo e todos no sistema de crenças Osage) não tem mais o apoio da sua família. Mollie planeia o funeral da irmã, que combina tradições osage e católicas. As exéquias têm um preço exorbitante e claramente inflacionado, nomeadamente o caixão, o embalsamento e as flores. No momento do sepultamento, são entoados hinos e cânticos Osage, embora o estado do corpo de Anna não permita que que alguns rituais Osage possam ser realizados.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Provas De Aferição (2017-2023) – H.G.P. - 5.º Ano

     No domínio "A Península Ibérica"; localização e quadro natural", os alunos que Conseguiram ou Conseguiram, mas, os resultados decresceram de 54, 4% para 5, 7% (ou seja, menos 48, 7 pontos) entre 2017 em 2023; no "Dos primeiros povos à formação de Portugal", de 48, 6% para 13, 7% (menos 34 pontos); no de "Portugal no século XIII ao século XVII", de 20, 7% para 7, 4%) (menos 13, 3 pontos).

    Em suma, o estado da aprendizagem à disciplina tem evoluído fantasticamente. João Costa e sua troupe devem prosseguir o caminho a que deram início (ou talvez seja melhor dizer continuidade), porque a «coisa» está de estalo.

        . Resultados de 2017:


        . Resultados de 2023:



FONTEO Meu Quintal, blogue da autoria de Paulo Guinote

Provas De Aferição (2018-2023) – Português, 5.º Ano

     Entre 2018 e 2023, a queda nos resultados é inequívoca: na Oralidade, entre o Conseguiu e o Conseguiu mas (que terminologia fantástica!), aqueles desceram de 52,6% para 43,6% (isto é, menos 9 pontos); na Leitura e Educação Literária, passou-se de 32,4 % para 24,9% (menos 7, 5 pontos); na Gramática, de 38% para 26,5 % (menos 11, 5 pontos) e, na Escrita, de 67, 4% para 56, 8% (menos 10, 6 pontos).

        . Resultados de 2018:


        . Resultados de 2023:


FONTEO Meu Quintal, blogue da autoria de Paulo Guinote

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Na aula (LI): onde se fala de Bragança e Bruxelas

     Contexto: chega-se ao fim de Os Maias; Carlos da Maia e a sua pandilha vão jantar a um hotel lisboeta que já apareceu antes noutras páginas do romance.

    Começa a falar-se no jantar e pergunta-se pelo nome do hotel, fornecendo-se pistas para a sua identificação. A carroça não anda para trás nem para a frente, pelo que se fornece novo «indício»: o nome do hotel é o nome de uma capital de distrito portuguesa.

    Ato contínuo, o E. solta um sonoro «Bruxelas!»

    Vida que segue.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Análise do poema "Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia", de Ricardo Reis

    O poema encontra-se organizado no respeito pelo processo usado em determinadas odes de Horácio; quer dizer, constitui-se como um símile de valor parenético (ou seja, que encerra uma moralidade), tomando por base um exemplum.


    Relativamente à estrutura interna, o poema divide-se (pelo que acima foi referido) em duas partes: o exemplum (vv. 1 a 64) e a moralidade (vv. 65 a 105).


  
         1.ª parte: Exemplum (vv. 1 - 64)

    Embora seja um texto em verso (decassílabos e hexassílabos brancos), por isso com características evidentes do género lírico, é possível também detetar no poema alguns aspetos característicos do género narrativo, concretamente a presença de uma ação, narrador, tempo, espaço e personagens.

    A história (ação) narrada no texto prende-se com factos ocorridos durante a invasão de uma cidade da Pérsia. Tais factos, apesar da sua brutalidade e sanguinolência, foram incapazes de, por mais do que um leve e passageiro instante, desviar a atenção de dois jogadores de xadrez que, indiferentes a tudo o que os rodeava, prosseguiram serenamente o seu jogo.

    O narrador é o próprio...


    A análise completa do poema pode ser encontrada aqui: análise-de-ouvir-contar-que-outrora.

 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Análise da 1.ª e 2.ª partes da crónica 1 de Assassinos da Lua das Flores


    Grann dá início à sua obra com duas histórias de perda, uma de caráter pessoal e outra de natureza comunitária, o que signifique que a intenção do escritor passar por associar o desaparecimento de Anna Brown com a vida tensa do seu povo, os Osage, uma tribo nativa norte-americana, cujas terras tradicionais incluem as que, atualmente, formam os estados do Missouri, Oklahoma, Arkansas e Kansas. A sensação com que se fica desde o início é que nem Anna nem o seu povo estão onde pertencem. Ao detalhar o contexto da morte de Anna, o registo narrativo muda, indo dos acontecimentos de uma única família até aos julgamentos da nação Osage. Ambas as histórias precisam de ser contadas, sugere o livro, e só podem ser totalmente compreendidas quando narradas em conjunto.

    Convém nunca esquecer que o livro não é uma obra de ficção, mas a primeira secção por vezes lembra a estrutura romanesca. Grann relata eventos históricos e retrata atores, mas dá vida robusta às personagens, imaginando os seus sentimentos e reações, chegando até a recriar os seus supostos diálogos. Quer isto dizer que o autor pede emprestadas à ficção algumas das suas técnicas narrativas características, no sentido de preencher algumas lacunas que se verificam e que se relacionam com o facto de estarmos na presença de um registo histórico que, ocasionalmente, é parcial e com os imperativos típicos de uma narrativa longa. Caso contrário, estaríamos perante um texto árido, uma espécie de relatório descritivo de um acontecimento brutal e trágico.

    Nestas duas primeiras partes, o palco pertence quase por exclusivo a Mollie e são as suas experiências, emoções e ações que dominam o texto. Assim sendo, não é de estranhar que o leitor não veja Anna na vala onde foi entrada, pois tem apenas acesso ao conhecimento de Mollie dos acontecimentos: a organização da festa, o crescer da ansiedade decorrente do desaparecimento da irmã, etc.

    Mollie é uma mulher que vive entre culturas. Criada de acordo com as tradições dos Osage à medida que aumentava a pressão de relocalização e assimilação, Mollie casou-se, no entanto, com um homem branco e vive, graças à grande riqueza da tribo, ao estilo americano. Apesar de ter de suportar o preconceito e o racismo expelidos pela família e conhecidos do marido, a sua existência é, ainda assim, privilegiada, graças à riqueza obtida pela tribo a que pertence após a descoberta de petróleo. O abismo que existe entre os dois «povos» e respetivas culturas fica bem evidente aquando do funeral de Anna: os ritos católicos (a missa na igreja, presidida por um padre, e a lápide com uma frase cristã depositada no seu túmulo) coabitam com as tradições osage (entoar de orações osage dirigidas a Wah’Kon-Tah). O sepultamento ocorre ao meio-dia, para coincidir com o momento de ápice do Sol, no entanto, como referido anteriormente, o estado avançado de decomposição do corpo impediu a realização de todos os rituais osage.

Resumo da 1.ª parte da 1.ª crónica: A mulher desaparecida


    A ação tem início em 24 de maio de 1921, quando Mollie Burkhart, uma mulher da tribo osage, fica cada vez mais preocupada com a ausência prolongada de sua irmã mais velha. A preocupação acentua-se pelo facto de Minnie, a outra irmã, ter morrido quase três anos antes. O capítulo traça um quadro geral da história recente dos Osage. A tribo foi forçada a deixar suas terras tradicionais no Kansas na década de 1870 e reinstalou-se no nordeste do estado de Oklahoma. Este novo território parecia indesejável, mas, quando descobriram petróleo na zona, todos os membros da tribo enriqueceram. No início da década de 1920, os Osage eram as pessoas mais ricas do mundo per capita, o que causou a inveja dos homens brancos.

    Mollie trabalho de essas diferenças culturais serem superadas, desde logo porque ela é um exemplo de uma certa miscigenação cultural, dado que se, por um lado, usa o cabelo tradicional da tribo e se enrola em um cobertor, por outro, é casada com um homem branco, Ernest Burkhart. Este veio do Texas para a região, para fazer fortuna. Quando Mollie se apaixonou por ele, o homem alcançou esse objetivo. Embora Mollie tenha sentido alguma pressão para se casar de acordo com a tradição Osage, seguiu a sua vontade e desposou Ernest em 1917. Desse matrimónio resultaram dois filhos. A mãe de Mollie, Lizzie, morava com os Burkharts. No dia em que Anna desaparece, Mollie prepara-se para dar uma festa. Quando chega a casa, depara com a irmã alcoolizada, o que a irrita, pois os convidados incluem alguns parentes racistas de Ernest que estão sempre à procura de formas de rebaixar Mollie. Mesmo assim, esta entende que Anna está aborrecida com o seu recente divórcio de Oda Brown e, talvez por isso, flerta com o irmão de Ernest, Bryan, tornando-se cada vez mais conflituosa à medida que bebe. Bryan oferece-se para levar Anna a casa e esta é a última vez que Mollie vê a irmã viva.

    Dias depois, Ernest desloca-se a casa de Anna para conferir o seu estado, porém não a encontra na habitação. Pela localidade circulam notícias de que outro osage, Charles Whitehorn, também está desaparecido desde 14 de maio. Cerca de uma semana após o desaparecimento de Anna, um trabalhador do petróleo encontra o corpo de Whitehorn tão decomposto que só alguns papéis que encontram nos seus bolsos permitem o seu reconhecimento. Na mesma época, noutro ponto do território, um homem e o seu filho encontram o corpo de uma mulher à beira de um riacho. Mollie e a sua irmã, Rita, identificam-no como sendo o de Anna, graças ao cobertor enrolado nele.

Análise sumária da ação de Assassinos da Lua das Flores


    Ao longo da década de 1920, membros da nação Osage morreram a uma taxa muito superior à média nacional. Alguns foram obviamente assassinados, enquanto outros morreram em circunstâncias suspeitas devido a doenças debilitantes cuja causa foi impossível de determinar. Na época, a história das mortes misteriosas foi notícia nacional nos Estados Unidos, porém, à medida que o tempo foi passando, o caso foi caindo no esquecimento geral.

    Na sua narrativa, o autor estabelece um contraste gritante entre a imagem idealizada que os norte-americanos construíram sobre si próprios – por exemplo, a mitologia em torno da fronteira, o sonho americano, o indivíduo que se faz a si próprio – e a realidade concerta que, muitas vezes, esses mitos encobrem ou diminuem.

    A obra está dividida em três partes que combinam a história dos nativos osage, a situação dos Estados Unidos no início da década de 20 do século XX, a história dos detetives privados e a formação do departamento federam de investigação norte-americano. O traçar deste panorama por parte de Grann possibilita ao leitor contemporâneo ficar a conhecer a justiça como ela se exercia no país no início do século passado. Por outro lado, os factos narrados estão escorados pela investigação do autor, que consultou arquivos vários, oc qeu lhe permitiu desenterrar factos desconhecidos, procurando construir uma imagem tanto quanto possível fidedigna do que se passou na época e retratar o que os Estados Unidos foram e são. Além disso, a narrativa permite também fazer algo que é caro a variadíssimos povos: celebrar heróis, como Mollie Burkhar ou Tom White, e denunciar vilões, como William Hale.

    A segunda parte da obra retrata o desenvolvimento da investigação do caso dos nativos osage e a formação do FBI a partir da já existente agência conhecida como Bureau of Investigation. Este segundo fio narrativo é importante a dois níveis. Em primeiro lugar, as discussões acerca da mudança dos métodos de investigação ou a forma como a aplicação da lei e da justiça mudou radicalmente fomentam a atração para a leitura do livro de leitores que, de outra forma, talvez não o fizessem, isto é, se se tratasse de uma «simples» história sobre a história de uma tribo de nativos norte-americanos. Por outro lado, Grann enquadra os assassinatos dos osage no contexto nacional, visto que são precisamente esses crimes que J. Edgar Hoover utiliza como pretexto para desenvolver um departamento de investigação nos moldes que desejava. Em segundo lugar, o autor estabelece um paralelo subtil, mas muito significativo, entre as figuras de Hoover e William Hale. A base para esse paralelo reside no facto de ambos se deixarem corromper pelo poder e de supervisionarem extensas redes de influência. Esse cotejo demonstra que a corrupção está presente em qualquer lugar, seja numa localidade pequena como Osage ou num grande centro urbano como Washington, a capital da nação. Neste sentido, podemos inferir que, não obstante a história em torno dos osage ser terrível, não pode ser compreendida como excecional no tempo e no lugar, visto que casos análogos surgem em diversos pontos, sempre que as pessoas exercem o poder sem controle.

    Ao longo do texto, o seu autor promove várias a intertextualidade, seja por meio de referências a romances ou obras históricas, seja pela inserção na narração de citações de manchetes de jornais ou revistas da época em que os acontecimentos tiveram lugar. Por outro lado, dado que estamos na presença de uma obra de não ficção literária, a mesma contém diferentes registos. Por exemplo, quando o assunto gira em torno da investigação feita por White (segunda parte do livro), Grann baseia a narrativa nos relatórios e transcrições de entrevistas que os agentes fizeram e registaram na época. Esta metodologia estabelece uma ponte entre a busca de precisão e rigor por parte do líder da investigação e a omnisciência do narrador nesta parte do texto. Por seu turno, na primeira secção, quando o autor descreve os sentimentos de Mollie, que em grande medida têm de ser deduzidos a partir da pouca informação conhecida, o estilo adotado na narração é o típico da não-ficção narrativa, o qual permite a pintura de um quadro vibrante da vida dos osage, nomeadamente do terror a que são sujeitos e do desamparo em que se veem imersos após o início dos assassinatos. Para conseguir esse desiderato, Grann segue o modelo das obras de mistério: estabelece o problema – os assassinatos – e atrasa a resolução dos mesmos até ao final da segunda parte do texto. Quando chega à parte final, a pessoa narrativa muda da terceira para a primeira pessoa, fazendo uso da sua própria investigação em busca de informação no sentido de conferir à narrativa entusiasmo e sentido de urgência. Nesta fase da obra, o leitor interioriza que algumas das questões ficam sem solução, o que permite concluir que a questão da aplicação da justiça se mantenha igualmente em aberto. Procurando unificar os acontecimentos narrados e os temas abordados, o autor designa cada parte do seu livro de «crónica», uma terminologia que enfatiza a importância narrativa da obra e dos factos ocorridos.

    Um dos temas mais significativos da obra é uma questão que atravessa os tempos e parece não ser solucionável. Referimo-nos ao problema do preconceito racial, concretamente o que vitima os nativos americanos às mãos dos colonos brancos, numa fase inicial, e, mais tarde, dos norte-americanos. Na segunda seção do texto, John Ramsey é citado como tendo dito que os duzentos anos que correspondem à independência dos EUA não alteraram o modo como os homens brancos olham para os seus congéneres indígenas. O cinema norte-americano não se cansou de retratar o problema, por exemplo, nos incontáveis westerns que foram produzidos nas décadas de 40, 50 ou 60 do século passado e que colocavam, a par, o lado heroico da colonização do Oeste e a trágica epopeia das tribos índias, assassinadas em verdadeiros massacres ou remetidas para reservas indignas que constituíam verdadeiras prisões do corpo e do espírito. De forma simples, a obra de Grann sugere que era tão fácil assassinar um nativo americano em 1920 como o fora duzentos anos antes, ou seja, o preconceito está tão profundamente enraizado na história do país que continua a fazer-se sentir no presente. Confirmando esta hipótese, se é verdade que a terceira parte do livro não contém qualquer assassinato, o autor informa que a comunidade osage apenas em 2011 obteve justiça por parte do governo norte-americano no que se refere aos abusos e crimes a que foi sujeita cerca de um século antes.

    Estes dados permitem concluir também que existe uma continuidade entre o passado narrador e o presente, tanto no que concerne à injustiça racial, ao preconceito e à forma como os traumas desse passado continuam a interferir e a moldar a vida da comunidade tribal na atualidade. Uma fotografia de William Hale foi recortada de outra da década de 1920, não porque os osage queiram esquecer o que se passou, mas porque o passado ainda é demasiado presente e se faz sentir de forma aguda e o ódio racial permanece como um fato que perturba a relação entre passado, presente e futuro de forma destrutiva. A mensagem final passa por procurar chamar a atenção para a necessidade de a sociedade norte-americana ser, de facto, inclusiva, aceitando e integrando os variadíssimos tipos de pessoas que a constituem.

domingo, 21 de janeiro de 2024

Resumo da ação de Assassinos da Lua das Flores

    Assassinos da Lua das Flores narra a história da tribo osage em três partes.

    Nos anos 1920, a população mais rica per capita não era a parisiense ou a nova-iorquina, mas a dos índios osage, no Oklahoma, EUA, graças à descoberta de uma imensa jazida de petróleo debaixo da terra que lhes fora designada quando deslocados do seu território original. Os cerca de 2000 osage recebiam uma percentagem dos lucros das companhias petrolíferas. A tribo, cuja riqueza foi largamente reportada em revistas e jornais, desafiava todos os estereótipos relacionados com os americanos nativos: andavam de Cadillac com motorista, construíam mansões e mandavam os seus filhos estudar na Europa.

    Então, misteriosamente, os osage começaram a ser assassinados: alguns, envenenados, outros, mortos a tiro ou espancados. De um momento para o outro, passaram a ser, em simultâneo, a comunidade mais rica e com o maior índice de assassínios do planeta. Muitos dos que tentaram investigar estes crimes encontraram um destino semelhante: foram mortos a tiro, estrangulados, tendo um advogado sido mesmo atirado de um comboio em andamento.

    Desesperados, os osage viraram-se então para o Bureau de Investigação (BI) que tinha sido acabado de criar, e o seu caso – um dos muitos, mas cheio de ramificações – tornou-se o primeiro grande caso de homicídios do FBI. Porém, o dinheiro do petróleo estava infiltrado no próprio FBI e até na Casa Branca.

    A primeira parte da obra detalha os acontecimentos à medida que se desenrolavam durante a década de 1920, localizando as mortes de mais de vinte e quatro membros da nação osage no contexto da época. A primeira seção centra-se numa mulher osage chamada Mollie Burkhart, que perde a maior parte da sua família durante o período que ficou conhecido como o Reinado do Terror. A segunda secção foca-se na investigação dos assassinatos por parte do governo dos EUA, a qual é liderada pelo agente Tom White, do emergente Bureau of Investigation. A equipa de agentes que ele dirige consegue solucionar alguns dos assassinatos, e a secção acompanha os seus esforços para apurar os factos e levar os perpetradores à justiça. Na sua secção final, o livro avança para o século XXI enquanto o autor investiga crimes que não foram resolvidos quase um século antes, trabalhando para esclarecer os crimes e trazer paz às famílias osage que ainda sofrem com as suas perdas.

    No meio das várias mortes ocorridas, os falecimentos da mãe, das irmãs e do cunhado de Mollie Burkhart constituem o objeto da primeira parte. Em 1921, Anna Brown, irmã mais velha de Mollie, é baleada dentro de um carro, após ter sido levada para casa depois de uma reunião na casa da mana. Pouco tempo depois, outros membros da família encontram igualmente a morte: Lizzie, a mãe de Mollie, definha repentinamente, enquanto Rita, outra irmã, e o seu marido Bill Smith são mortos quando a casa onde vivem explode. A terceira irmã de Mollie, Minnie, também faleceu abruptamente de uma doença desconhecida antes do início da ação relatada no livro. Apoiada pelo marido Ernest, Mollie promete descobrir o que está a acontecer à sua família. Esta passagem da obra torna clara a forma como a aplicação da Lei na área rural do estado de Oklahoma durante a década de 1920 é extremamente deficiente. Por exemplo, a investigação das mortes fica a cargo de amadores ou de detetives contratados. Por outro lado, a corrupção no condado e que se espraia pelo sistema de Justiça do estado impede a investigação.

    William Hale, tio de Ernest e um importante empresário local, oferece apoio à investigação. Deste modo, contrata detetives a expensas pessoais detetives com o único objetivo de descobrir a verdade e fazer justiça. A expansão da nação norte-americana para oeste despojara sistematicamente os osage e outros povos indígenas do seu território e das condições básicas necessárias para sustentar o seu modo de vida tradicional. Assim, os osage acabaram por comprar um pequeno lote de terras rochosas imprestáveis no Oklahoma. A sua sorte madrasta muda aparentemente quando é descoberto petróleo nas terras que tinham adquirido. Ao arrendar as suas terras aos pesquisadores de petróleo, os membros da tribo tornaram-se as pessoas mais ricas do mundo no início do século XX, considerando o seu rendimento per capita. Porém, em simultâneo, essa riqueza faz deles alvo perfeito para a ganância e o crime: vinte e quatro pessoas morrem num período de tempo que ficou conhecido como Reinado do Terror. Ninguém consegue explicar as mortes e muito menos descobrir o que se passou, pelo que representantes dos osage deslocam-se a Washington, com o intuito de dirigir uma petição ao governo federal.

    A segunda parte debruça-se sobre a atuação do Bureau of Investigation, de J. Edgar Hoover, seu diretor, e de Tom White, o agente que o primeiro incumbe de investigar e solucionar o crime, numa fase em que o Bureau se vê abalado por escândalos e por uma péssima reputação. Neste contexto, Hoover espera que a resolução dos assassinatos dos osage contribua fortemente para reparar a sua imagem. Embora White, um ex-ranger do Texas, não corresponda ao modelo de agente que Hoover pretende para o Bureau moderno que ambiciona construir, a sua integridade e o seu conhecimento daquela área do país tornam-no a pessoal adequada para liderar a investigação. Acresce o facto de White ser originário de uma família texana de homens da lei e se sentir confortável com uma arma na mão, apesar de preferir não a usar. Deste modo, o agente forma uma força-tarefa constituída por agentes secretos e dá o sinal de partida para a investigação.

    Deste modo, procura separar cuidadosamente os factos da ficção, construindo lentamente a perceção da existência de uma conspiração no seio do condado de Osage, no centro da qual moram William Hale e os seus sobrinhos, Ernest e Bryan, acolitados por vários outros cidadãos caucasianos importantes, incluindo médicos e comerciantes locais. Reunidas as provas, procura levar Hale a julgamento, mas há forças poderosas que se interpõem no seu caminho, como o racismo ou a influência do réu. A promotoria tenta, sem sucesso, levar o caso ao tribunal federal, quando o primeiro julgamento termina num empate do júri. No entanto, o governo insiste e, desta vez, Ernest Burkhart, provavelmente movido pela morte da sua filha mais nova, Anna, declara-se culpado da sua participação nos crimes e testemunha contra Hale e Ramsey, o braço direito deste, que são considerados culpados e condenados a prisão perpétua. A esposa de Burkhart, que o apoiara ao longo de todo o processo, após a condenação divorcia-se dele e conquista o direito a conduzir a sua própria existência. Com o caso aparentemente resolvido, White abandona o Bureau e torna-se diretor da prisão de Leavenworth, onde supervisiona o encarceramento de Hale e Ramsey durante algum tempo, até se ver forçado a mudar para outra penitenciária depois de ter sido ferido durante uma tentativa de fuga.

    Depois de colaborar com os descendentes das vítimas, David Grann apercebe-se de o número de mortos durante o Reinado do Terror é, com certeza, muito superior à contagem oficial e que os crimes começaram antes da década de 1920 e se prolongaram até à seguinte, portanto depois da prisão de William Hale em 1926. Depois de analisar os registos e os arquivos da investigação, Graan conclui que os padrões de moralidade em Osage na época em questão superam largamente a média nacional, o que significa que a conspiração extravasou a teia tecida por Hale. O escritor crê que poderá decifrar o que aconteceu a algumas vítimas, porém não consegue reunir provas que iluminem o que sucedeu a algumas delas. A obra termina com Grann a prometer a mais uma pessoa que irá tentar solucionar um mistério que moldou a sua vida, citando o Livro do Génesis.

Obras de David Grann

    A sua primeira obra, intitulada A Cidade Perdida de Z, foi publicada em fevereiro de 2009 e conta a aventura de Percy Fawcett, que, em 1925, se embrenhou na Amazónia em busca da antiga cidade perdida de Z. Durante séculos, os europeus acreditaram que a maior selva do mundo descondia um reino esplendoroso, o Eldorado. Milhares de pessoas, ao longo dos tempos, partiram à sua descoberta e pagaram com a vida a ousadia. Enquanto isso, vários cientistas começaram a questionar a sua existência e a olhar para a Amazónia como uma armadilha mortífera que jamais poderia esconder a existência de uma sociedade complexa. No entanto, Fawcett, cujas expedições aventurosas serviram de inspiração a Arthur Conan Doyle para escrever O Mundo Perdido, após anos de aturada investigação, partiu, juntamente com o seu filho de 21 anos, para a selva amazónica, determinado a provar que essa antiga civilização – que apelidou de «Z» Genéricos – existia. Nela mergulhou e desapareceu. Ao encontrar casualmente uma valiosa coleção de diários, David Graan foi tentado a desvendar «o maior mistério de investigação do século XX»: o que terá acontecido a Percy Fawcett e à sua demanda pela Cidade Perdida de Z.

    Em 2010, publicou The Devil and Sherlock Holmes: Tales of Murder, Madness, and Obsession, um conjunto de 12 artigos (ensaios), publicados anteriormente entre 2000 e 2009 no The New Yorker, na The New York Times Magazine, no The New Republic e no The Atlantic, após terem sido objeto de revisão e atualização, e que se debruçam sobre mistérios da vida real.

    Em 2014, publicou Assassinos da Lua das Flores, uma obra que se debruça sobre a trigo Osage e os misteriosos assassinatos que se abatem sobre ela. Para adensar o mistério, vários investigadores desses crimes foram igualmente assassinados. Em desespero, a tribo procura o FBI, mas o dinheiro do petróleo e as ligações à Casa Branca vão interferir no decurso dos acontecimentos.

    Em 2018, deu à estampa The Wager: A Tale of Shipwreck, Mutiny and Murder, o quinto livro de não ficção de David Grann, que se debruça sobre a história do HMS Wager Mutiny, um navio da Marinha Real de sexta categoria, de cordame quadrado, com 28 canhões, construído como um East Indiaman por volta de 1734 e que fez duas viagens à Índia para a Companhia das Índias Orientais antes que a Marinha Real o comprasse em 1739. A embarcação fazia parte de um esquadrão comandado pelo Comodoro George Anson e naufragou na costa sul do Chile em 14 de maio de 1741. O naufrágio do Wager tornou-se famoso pelas aventuras subsequentes dos sobreviventes que se encontraram abandonados na desolada Ilha Wager no meio de um inverno patagónico e, em particular, por causa do Motim Wager que se seguiu.

    Em 2023, publicou A Escuridão Branca, um livro sobre Henry Worsley (1960-2016), um homem que, durante toda a sua vida, idolatrou Ernest Shackleton, o explorador que tentou ser o primeiro a atingir sozinho o Polo Sul, mas que nunca completou a empreitada. Worsley vivia fascinado com essas expedições e acreditava que as poderia completar com bastante estudo e treino, de forma a evitar os erros cometidos anteriormente. Em 2008, fez a primeira viagem, acompanhado por um descendente de Shackleton e pelo bisneto do seu homem de confiança. Depois de regressar a casa, quis voltar à Antártida, agora para a cruzar em solitário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...