Português: Análise da 3.ª parte da crónica 1 de Assassinos da Lua das Flores

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Análise da 3.ª parte da crónica 1 de Assassinos da Lua das Flores


    Este capítulo da obra centra-se na figura de William Hale, um self-made man que, na prática, governa o condado de Osage. Graças ao casamento de Mollie Burkhart com o seu sobrinho, Ernest, é familiar de Mollie e promete ajudá-la na demanda de justiça para a irmã. No entanto, parece haver algo sinistro ligado à sua pessoa, como o epíteto por que é conhecido entre a população deixa adivinhar. A sua aparência sugere estarmos na presença de um homem benevolente, preocupado e atencioso com a comunidade, como se pode depreender pela pressão que exerce sobre as autoridades locais e, mais tarde, quando contrata detetives privados para investigar os assassinatos ocorridos. A sua determinação e energia demonstradas na busca e obtenção de sucesso, superando dificuldades e obstáculos, granjeiam-lhe respeito de todos, porém o seu trajeto de vida também mostra que se trata de alguém que não observa e respeita limites, como fica bem patente através da referida pressão exercida sobre diversas pessoas. Embora tal suceda por um bom motivo, não deixa de ser uma postura reveladora de prepotência e abuso de poder.

    Por outro lado, a figura de Mollie continua a merecer grande centralidade na narrativa. Neste capítulo, o leitor pode observá-la pela primeira vez em discurso direto quando responde no contexto do inquérito sobre a morte de Anna. Grann reproduz as palavras da personagem, constituindo a transcrição do inquérito um documento inestimável, dado que permite que ela fale por si mesma e revele uma mulher determinada, decidida, de personalidade bem vincada, que se expressa num inglês claro, mesmo que não perfeito. De toda a sua intervenção, ressalta o desejo intenso de obter justiça para a irmã.

    A Décima Oitava Emenda da Constituição norte-americana estabeleceu a chamada Lei Seca, tendo sido ratificado em 16 de janeiro de 1919 e entrado em vigor um ano depois, até à sua revogação em 1933. Os seus efeitos práticos foram frequentemente contraproducentes, se tivermos em conta os objetivos que presidiram à sua publicação. De facto, os contrabandistas responderam à sua entrada em vigor abrindo lojas e comercializando produtos que continham substâncias altamente venenosas. O comércio ilegal de álcool transformou-se num negócio extremamente lucrativo e perigoso, ou até moral, em simultâneo. Ou seja, se quem esteve por trás da Lei Seca cria que a sua publicação iria reduzir a taxa de criminalidade, na realidade sucedeu o oposto. É neste contexto que as colinas que rodeavam Osage adquirem grande importância, visto que constituíam um esconderijo extraordinário para pessoas em fuga à lei.

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