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terça-feira, 27 de julho de 2021

Introdução à Ilíada

             A Ilíada é a primeira obra da literatura europeia e, até hoje, nenhuma outra conseguiu superá-la.
            A origem da cadeia de transmissão situa-se algures na Idade Média, mas é impossível estabelecer uma data concreta por falta de dados. Não obstante, segundo Frederico Lourenço, é possível afirmar que no século VII a.C., no fim de uma longa tradição épica oral, surgiu este poema, atribuído a Homero.
            No século VI a.C., uma família aristocrática de Atenas providenciou, a expensas próprias, a primeira edição oficial escrita do livro. Mais de duzentos anos depois, Aristóteles concretizou uma nova edição da Ilíada, que foi lida de forma apaixonada e inspiradora pelo seu mais famoso aluno, Alexandre. Nos séculos seguintes, diversos estudiosos produziram, na biblioteca de Alexandria, a famosa cidade fundada pelo mesmo Alexandre, várias edições críticas em papiro. Um milénio depois, eclesiásticos bizantinos efetuaram as cópias dos primeiros manuscritos completos que ainda hoje podemos consultar na biblioteca de Florença, Veneza e Londres. Um desses manuscritos, que se encontra presentemente na Biblioteca Ambrosiana de Milão, foi adquirida por Petrarca, que, frustrado por não conseguir ler o poema em grego, encomendou uma tradução latina a Leôncio Pilato, que constituiu, afinal, a primeira tradução renascentista da obra. Em 1488, surgiu, em Itália, a primeira edição impressa do poema homérico. Crê-se que, cerca de trinta anos depois, D. Jerónimo Osório, bispo de Silves, traduziu para português os primeiros oito cantos, trabalho que foi retomado posteriormente, também de forma parcelar, pela Marquesa de Alorna. Outras traduções foram surgindo ao longo dos séculos em língua portuguesa, no entanto, desde o Renascimento, a primeira a exprimir nela o que está, de facto, no texto grego, se encontra nos excertos da Ilíada que a professora Maria Helena da Rocha Pereira apresentou na sua antologia Hélade.
            Apesar da problemática, não solucionada, em torno da sua autoria, são vários os estudiosos que creem que se trata da obra de um só poeta, que nela trabalhou durante muitos anos, tendo numa primeira fase criado uma estrutura relativamente simples, que posteriormente se complexificou com a introdução de novos episódios. Esta ideia não exclui, porém, a hipótese de terem sido introduzidas intercalações posteriores. Por exemplo, crê-se que o Canto X não teria feito parte dos planos de Homero, como o parece comprovar o facto de os 579 versos que o constituem surgirem, em certas edições críticas, entre parênteses.
            Outra questão prende-se com o registo em que teria sido composta por Homero: escrito ou oral? Também neste capítulo as opiniões divergem: há quem defenda que o poema, embora proveniente de uma tradição oral, foi composto pelo poeta por escrito; porém, também existem autores que continuam a sustentar que os Poemas Homéricos foram ditados por um aedo analfabeto a alguém que sabia escrever.
 
            No que diz respeito ao tempo dos eventos narrados, Homero dá-nos conta de acontecimentos que ocorreram num período de pouco mais de 50 dias, já na fase final da guerra, do qual nos descreve, em termos de ação efetivamente narrada, 14 dias. Assim sendo, o poeta concentrou o conflito bélico de 10 anos em duas semanas.
            Relativamente aos motivos que deram origem à guerra, Homero pouco conta; o julgamento de Páris (a quem o poeta prefere chamar Alexandre) só é referido de passagem no Canto XXIV; e o epicentro do poema, quanto aos sentimentos adúlteros que levaram ao conflito, é a recriação, no Canto III, da primeira noite de amor de Páris e Helena, ocorrida nove anos antes. O resultado da guerra parece não interessar particularmente ao poeta, pois só o verso final do livro sugere a destruição de Troia. Por outro lado, os 55 dias da ação global do poema, bem como os 14 de ação efetivamente narrada, estão condicionados por reações em cadeia provenientes do passado, que terão repercussões trágicas no presente.

Significado do título Ilíada

             O termo Ilíada (em grego antigo: Ἰλιάς) é uma palavra grega que significa «poema sobre Ílion» (ou «Ílio»), que é um nome alternativo para designar a cidade de Troia, o cenário da guerra que está no centro da obra.

Estrutura da Ilíada

             A Ilíada está dividida em 24 cantos ou livros, os quais se dividem em 5 partes:

▪ Canto I;

▪ Cantos II a X;

▪ Cantos XI a XIV;

▪ Cantos XV a XIX;

▪ Cantos XX a XXIV.

 
            Outra possível distribuição dos 24 cantos da Ilíada é a seguinte:
 
Introdução: Apolo inflige uma praga ao exército aqueu.
 
Peripécias:

a) Agamémnon toma Briseida de Aquiles;

b) Zeus promete a Tétis punir os Aqueus por causa da afronta de Agamémnon a Aquiles;

c) Mortais e deuses combatem e são feridos em batalha;

d) Zeus proíbe os outros deuses de interferir na guerra;

e) Com a ajuda de Zeus, Heitor ataca os navios aqueus;

f) Heitor mata Pátroclo;

g) Aquiles e os deuses voltam à batalha.
 
Clímax: Aquiles mata Heitor.
 
Resolução:

h) Príamo implora a Aquiles o corpo de Heitor;

i) Aquiles devolve o corpo de Heitor a Príamo.
 
Situação final: Heitor é sepultado em Troia.
 
            A Ilíada não narra a guerra de Troia desde o começo – ab ovo, nas palavras de Horácio. Pelo contrário, a narração não chega a descrever a morte de Aquiles – tantas vezes anunciada – nem a queda de Ílion. É somente através da Odisseia que tomamos conhecimento da forma como ela correu, através do célebre estratagema do cavalo de pau.

                Depois de uma breve Proposição e Invocação, a Narração inicia-se «in medias res» (isto é, no meio dos acontecimentos): Crises avança até às naus dos Aqueus, para implorar que lhe seja restituída a sua filha Criseida, pela qual oferece um riquíssimo resgate.

                Por outro lado, a ação possui um só fio condutor, retardado por diversos episódios, que conferem variedade à narrativa, conseguida através de alguns processos literários, como, por exemplo, a mudança de cena terrestre para o Olimpo, os símiles, a breve biografia de uma vítima menor, variantes estilísticas (como a apóstrofe ou a interrogação retórica), a narração feita na ordem inversa dos acontecimentos, etc.

            O poema narra os acontecimentos decorridos no período de pouco mais de 5o dias no décimo ano da Guerra de Troia, em 15693 versos em hexâmetro datílico, compostos num misto de dialetos, resultando numa língua literária artificial que nunca foi, de facto, falada na Grécia, distribuídos por 24 livros ou cantos de tamanho desigual, identificados pela tradição literária com as letras do alfabeto grego.

 
            Resumo dos cantos:
 
Canto I: já na fase final da Guerra de Troia, Aquiles, furioso por Agamémnon lhe ter roubado a escrava Briseida, retira-se para o seu acampamento e decide não voltar a tomar parte no cerco da cidade.
 
Canto II: os Gregos, desanimados, decidem regressar a casa, mas Ulisses demove-os.
 
Canto III: Helena, do cimo das muralhas de Troia, identifica para Príamo os principais líderes gregos. Páris e Menelau duelam para decidir o destino da guerra e o primeiro é salvo da morte por Afrodite.
 
Canto IV: um archeiro troiano, durante as tréguas, fere Menelau com uma seta. Agamémnon exorta os Gregos a combater.
 
Canto V: Diomedes distingue-se no campo de batalha, chegando a ferir os deuses Ares e Afrodite.
 
Canto VI: Heitor, de regresso a Troia para apaziguar Atenas, encontra-se com a esposa e o filho, e condena a cobardia de Páris. No final, regressa à batalha com o irmão.
 
Canto VII: Heitor e Ájax lutam até à morte, mas sem resultados, pois a luta é interrompida pela chegada da noite. No dia seguinte, Gregos e Troianos fazem uma trégua para enterrarem os mortos.
 
Canto VIII: ocorre nova batalha, em que os Gregos são repelidos pelos Troianos. Os deuses retiram-se do conflito.
 
Canto IX: Agamémnon tenta reconciliar-se com Aquiles e envia-lhe uma embaixada. Ájax, Ulisses e Fénix tentam chamá-lo à razão, em vão, porém.
 
Canto X: Ulisses e Diomedes fazem, durante a noite, o reconhecimento do campo dos Troianos e matam, para além de Risos e dos seus trácios, o espião Dólon. Por isso, este canto é conhecido por Dolonia.
 
Canto XI: tem lugar a terceira grande batalha, que resulta na derrota dos Gregos. Páris fere Diomedes e Pátroclo fica a conhecer a situação precária dos Aqueus.
 
Canto XII: os Troianos aproveitam o êxito e penetram no acampamento dos Aqueus, que retiram até aos seus navios.
 
Canto XIII: os Gregos contra-atacam e anulam o ataque dos Troianos.
 
Canto XIV: Hera desvia a atenção de Zeus e a vitória inclina-se para o lado grego.
 
Canto XV: Zeus, já desperto, envia Apolo em socorro dos Troianos e o deus do Sol leva Heitor a avançar sobre os barcos gregos.
 
Canto XVI: Aquiles empresta as suas armas a Pátroclo e dá-lhe permissão para entrar na luta. Quando o veem chegar ao campo de batalha, os Troianos julgam que é Ulisses e fogem. Heitor, convencido também de que batalha com Aquiles, duela com Pátroclo e mata-o.
 
Canto XVII: gera-se uma disputa pelo corpo e pela armadura de Pátroclo. O corpo acaba por ser resgatado pelos Gregos, enquanto Heitor fica com as armas de Aquiles.
 
Canto XVIII: Aquiles, ao tomar conhecimento da morte de Pátroclo, exprime o seu desgosto e promete vingá-lo. Tétis, sua mãe, faz com que Hefesto lhe fabrique novas armas prodigiosas (as suas, que havia emprestado a Pátroclo, tinham ficado em posse de Heitor). É neste canto que se encontra a célebre descrição do escudo de Aquiles.
 
Canto XIX: a escrava Briseida é restituída a Aquiles e o diferendo entre este e Agamémnon fica sanado. O herói grego regressa à luta.
 
Canto XX: vai travar-se a quarta batalha da Ilíada, a decisiva, cujo desenlace será favorável aos Gregos. Inicialmente, os deuses também participam no conflito, mas acabam por se retirar. Aquiles semeia a morte entre os Troianos.
 
Canto XXI: os rios Xanto (ou Escamandro) e Simoente intervêm a favor dos Troianos e perseguem os Gregos com as suas águas, mas Hefesto fá-los recuar com o fogo e os Troianos têm de se refugiar dentro das suas muralhas.
 
Canto XXII: Heitor fica só diante da muralha e, ao encontrar Aquiles, inicialmente foge de medo, mas depois resiste e é morto pelo adversário. Aquiles arrasta o corpo de Heitor perante o olhar desesperado dos Troianos.
 
Canto XXIII: Aquiles e os Gregos celebram os funerais de Pátroclo com jogos, corridas e combates.
 
Canto XIV: Zeus inspira Príamo a ir até à tenda de Aquiles pedir o corpo do seu filho Heitor. Aquiles, comovido pela recordação do seu próprio pai, Peleu, restitui-lhe o cadáver. O poema finaliza com as exéquias de Heitor no meio das lamentações de Andrómaca, Hécuba e Helena.
 
            Esta divisão em 24 cantos é atribuída tradicionalmente aos estudiosos da biblioteca de Alexandria que produziram edições críticas da obra, mas nada contraria a hipótese de ser anterior.
 

sexta-feira, 23 de julho de 2021

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Resumo da Ilíada

             A Ilíada inicia-se com uma expressão de raiva e frustração. A causa é simples: a Guerra de Troia já dura há nove anos e os Aqueus são incapazes de derrubar as muralhas da cidade. O exército grego saqueia Crise, uma cidade aliada dos Troianos (também designados como «Dárdanos», «Dardânidas» ou «Dardânios») e captura duas jovens donzelas, Criseida e Briseida, distribuídas respetivamente a Agamémnon (rei dos Aqueus) e Aquiles, o maior guerreiro aqueu como escravas e concubinas.

            O velho Crises, pai de Criseida e sacerdote de Apolo, dirige-se ao acampamento dos Aqueus para resgatar a filha, trazendo consigo riquezas incontáveis. Agamémnon, porém, rejeita o resgate, escorraçando Crises com palavras cruéis e enfatizando o papel da filha enquanto concubina. Neste passo inicial do poema, é clara a intenção de retratar o rei aqueu como um monarca arrogante e cruel, tendo em conta, além da forma como se dirige ao velho sacerdote, o modo diferente como Aquiles trata Briseida, que é muito mais do que mero objeto sexual.

            Este início da obra contrasta com o seu final, nomeadamente o canto final, que nos apresenta uma situação oposta: um pai idoso, Príamo, vai à tenda de Aquiles para resgatar o cadáver do seu filho Heitor, sendo acolhido num espírito de humanidade e compaixão. Fecha-se aí o círculo, com o apaziguamento da cólera (que, em grego, é a primeira palavra da Ilíada), sentimento cujas consequências trágicas conheceremos ao longo dos 24 cantos do poema.

            Perante a recusa de Agamémnon, Crises reza, desesperado, a Apolo, pedindo-lhe que castigue os Aqueus. O deus acolhe o pedido e assola o exército grego com uma epidemia de peste, o que leva à convocação de uma assembleia, onde Agamémnon consulta Calcas para determinar a causa da peste. Para grande fúria do monarca, o adivinho declara que só restituindo Criseida ao pai se acalmará a fúria de Apolo. Aquiles sustenta a posição de Calcas, o que enfurece Agamémnon, que, despeitado, hostiliza o guerreiro, apropriando-se de Briseida. Furioso, Aquiles insulta o rei aqueu, regressa à sua tenda e desiste de participar na guerra, para repor a verdade dos factos, o que equivale a coagir Agamémnon a aceitar que a real hierarquia o coloca abaixo do próprio Aquiles, herói supremo. Para mostrar ao monarca quem é mais importante no contexto bélico, o guerreiro pede aos deuses que permitam que os Troianos derrotam o seu próprio exército – os Aqueus – até que ele regresse ao combate. Queixa-se a sua mãe, a deusa Tétis, que lhe promete ir pedir a Zeus que o desafronte, mandando reveses aos Aqueus. Criseida é restituída ao pai, e a peste cessa. Por seu turno, Tétis obtém de Zeus o assentimento que pretende, para desagravar o filho. Mal ela se retira, desenrola-se a este propósito uma discussão no Olimpo, entre Zeus. Hera, acalmada com grandes dificuldades por Hefesto, o filho de ambos. O canto inicial termina com um festim dos bem-aventurados, a que não falta o canto e a música de Apolo e das Musas.

            No Canto II, Agamémnon tem um sonho enganador, enviado por Zeus para o induzir a atacar. Os exércitos marcham para o campo da batalha, mas Páris, o príncipe troiano que espoletou a guerra ao raptar Helena, esposa de Menelau, irmão de Agamémnon, propõe um duelo entre si e Menelau, destinado a pôr cobro ao conflito através da luta entre os dois principais interessados. O aqueu concorda e o duelo começa, todavia, quando Menelau está prestes a vencer o adversário, a deusa Afrodite leva Páris de volta a Troia e a batalha recomeça.

            O Canto V põe-nos em contacto com os feitos de guerreiros de Diomedes, que, com a ajuda de Atena, fere Afrodite e Ares, dois dos deuses apoiantes dos Troianos. Entretanto, Heitor, um príncipe e o maior guerreiro troiano, regressa brevemente a Troia para pedir a Hécuba que faça oferendas a Atena, trazer Páris de volta ao campo de batalha e se despedir de Andrómaca, sua esposa. Segue-se novo duelo, desta vez entre Heitor e Ájax, o guerreiro aqueu mais forte a seguir a Aquiles, que adquire vantagem, mas não pode matar o adversário.

            Segue-se uma trégua destinada a cada lado enterrar os seus mortos, que é aproveitada pelos Aqueus para construir uma muralha em redor dos seus navios. Quando a luta recomeça no dia seguinte, Zeus proíbe os deuses de intervirem na guerra, cumprindo assim a promessa feita a Tétis, mandando reveses aos Aqueus de tal ordem que forçam Agamémnon a enviar uma embaixada a Aquiles, destinada a solicitar a reconciliação e o seu regresso à contenda, com ofertas riquíssimas, incluindo o retorno de Briseida. A iniciativa, porém, mão frutifica, pois ele não se desculpa perante Aquiles e a sua cólera mantém-se.

            Incapazes de dormir, Ulisses e Diomedes fazem uma incursão noturna com o intuito de espiar o exército troiano, cruzando-se com Dólon, o espião enviado por Heitor, e matando-o. De manhã, Agamémnon faz recuar os Troianos para a sua cidade, mas, graças a uma intervenção de Zeus, os Troianos atacam com êxito a muralha e trincheira defensiva dos Aqueus. A derrota parece iminente. Segue-se o dolo do pau dos deuses: Hera consegue seduzir e adormecer Zeus de modo a desviar as suas atenções do campo de batalha, para que Poseidon possa socorrer os Aqueus. Estes, auxiliados pelo deus do mar, expulsam os Troianos para fora da muralha, contudo Zeus desperta e continua a favorecer os Troianos, de acordo com a promessa feita a Tétis, e o seu avanço é tal que se preparam para incendiar as naus dos Aqueus, o que equivale a cortar-lhes a retirada. Perante a iminência da derrota, Aquiles consente que o seu amigo Pátroclo (que lhe solicitara que regressasse à batalha e salvasse os seus, o que o maior guerreiro aqueu não aceita por permanecer irado), revestido das suas próprias armas e conduzindo o seu carro, para iludir os Troianos a pensar que Aquiles tinha voltado, vá para o combate, à frente dos Mirmidões. Pátroclo é um excelente guerreiro e a sua presença no campo de batalha ajuda os Aqueus a empurrar os Troianos para longe dos navios e de volta para as muralhas da cidade. No entanto, Pátroclo acaba por morrer às mãos de Heitor, que, num acesso de orgulho, tira a armadura de Aquiles ao adversário morto e veste-a, enquanto os Aqueus recuperam o corpo frio do seu herói, graças à ação sobretudo de Menelau.

            Profundamente ferido pela triste notícia, Aquiles resolve regressar à batalha para vingar a morte do amigo. Tétis dirige-se ao Olimpo e convence Hefesto a forjar uma nova armadura e armas de ouro. Após a reconciliação com Agamémnon, Aquiles retorna à luta à frente do exército aqueu. Enquanto isso, Heitor não espera que Aquiles regresse à refrega e ordena aos seus homens que acampem fora das muralhas de Troia, mas, quando eles avistam o filho de Tétis, refugiam-se, aterrorizados, dentro delas. O guerreiro aqueu elimina todos os cavalos de Troia que vê e luta com o deus do rio Xanthus, que está furioso porque o adversário fez com que tantos cadáveres caíssem nos seus afluentes.

            A luta titânica entre o maior dos heróis aqueus e o maior dos troianos ocupa três livros. Depois de diversos recontros em que Eneias, príncipe troiano, se evidencia, dá-se finalmente o combate junto do rio (em que o Escamandro, transbordante de guerreiros derrubados pelo aqueu, inunda a planície, ameaça submergi-la e só é dominado pelo sogro ígneo de Hefesto), e a morte de Heitor, depois de uma longa perseguição em volta das muralhas de Troia. De facto, envergonhado por ter liderado o seu exército à derrota, o maior dentre os Troianos recusa-se a refugiar-se dentro da cidade com eles e espera pro Aquiles fora dos portões da cidade, no entanto perde a coragem e foge quando o inimigo se aproxima, sendo perseguido três vezes, até que Atena o engana e ele para. A armadura divina de Aquiles protege-o, mas este acaba por o atingir mortalmente através de um ponto fraco que nele existe e que o aqueu bem conhece. Aquiles amarra o corpo de Heitor à parte de trás do seu carro e arrasta-o pelo acampamento de batalha até ao acampamento aqueu.

            Após o regresso de Aquiles, os Aqueus cremam Pátroclo e realizam uma série de jogos em sua honra. Nos nove dias seguintes, Aquiles arrasta o corpo de Heitor em círculos, em redor do esquife funerário do amigo.

            No canto final, Príamo, o velho rei de Troia, ousa ir à tenda de Aquiles, pedir-lhe, com ricos presentes, a restituição do corpo do seu filho; o herói comove-se com as palavras de Príamo, aceita e concede umas tréguas de doze dias para se realizarem os funerais de Heitor, ato com que termina o poema.

domingo, 18 de julho de 2021

Calendário escolar 2021/2022

Exames de equivalência à frequência - Ensino secundário - 2021/2022


Calendário dos exames nacionais do ensino secundário - 2.ª fase - 2021/2022


Calendário dos exames nacionais do ensino secundário - 1.ª fase - 2021/2022


Calendário - provas de equivalência à frequência do ensino básico - 2021/2022


 

Roteiros “Escola + 21/23”

Novos documentos do Plano Escola + 21/23:






Análise de Mona Lisa

             «Mona Lisa» é uma das pinturas mais célebres da história da humanidade, um óleo sobre madeira da autoria de Leonardo da Vinci, algures entre 1503 e 1506, de 77 por 53 cm. A obra compreende o retrato de uma mulher misteriosa e encontra-se exposta no Museu do Louvre, em Paris.

            O título do quadro é “Mona Lisa”, sendo que «Mona» é a contração do termo italiano «Madona», que significa «Senhora» ou «Madame». Assim sendo, o título será «Senhora / Madame Lisa». A obra é também conhecida pela designação de «Gioconda», que pode significar «mulher alegre» ou «a esposa de Giocondo».

            Relativamente às técnicas utilizadas na imagem, destaca-se a do sfumato, a qual foi criada pelos primeiros pintores flamengos, mas aperfeiçoada por Da Vinci. A técnica consiste na criação de gradações de luz e sombra que diluem as linhas dos contornos do horizonte. No caso concreto da «Mona Lisa», o recurso ao sfumato cria a ilusão de que a paisagem se vai afastando do retrato feminino, pintado com nitidez, por oposição à paisagem esfumada – sfumato –, conferindo profundidade à obra.

            A pintura apresenta uma mulher sentada, revelando apenas a parte superior do seu corpo. Atrás dela, vemos uma paisagem que mistura a natureza (as águas e as montanhas) e a ação humana (os caminhos). Note-se que o corpo feminino é construído pelas mãos e o vértice superior o seu rosto.

            O aspeto que mais interesse desperta no quadro é o sorriso da mulher, enigmático e ambíguo. Vários são os estudos e as interpretações sobre e do sorriso; aparentemente, as rugas em torno dos olhos e na curva dos lábios parecem indiciar felicidade.

            Já o olhar apresenta uma expressão carregada de intensidade; por outro lado, a pintura foi construída de forma a sugerir que os olhos inquisitivos e penetrantes nos seguem de todos os ângulos.

            No que diz respeito à postura, a mulher está sentada, com o braço esquerdo apoiado na cadeira, enquanto a mão direita se encontra poisada sobre a esquerda. A postura, em termos gerais, sugere alguma formalidade e solenidade, tornando claro que está a posar para o quadro.

            Em fundo, encontra-se uma paisagem imaginária, constituída por montanhas com gelo, águas e caminhos traçados pelo ser humano. Essa paisagem é desigual, pois é mais baixa do lado esquerdo e mais alta do direito.

            No que concerne à identidade da mulher retratada, ela continua a ser um mistério, destacando-se três dentre as várias teorias que a procuram decifrar. A primeira hipótese defende que a figura feminina é Lisa del Giocondo, esposa de Francesco del Giocondo, uma figura proeminente da sociedade de Florença. De acordo com alguns estudos, há documentos que atestam que Da Vinci estava a pintar um quadro dessa mulher. Por outro lado, acredita-se que ela teria sido mãe pouco tempo antes e o quadro seria uma encomenda do marido para comemorar o acontecimento. De acordo com outras investigações, as várias camadas de tinta parecem sugerir que, nas primeiras versões da obra, a mulher teria um véu no cabelo que era usado tradicionalmente pelas mulheres grávidas ou que tinham dado à luz recentemente.

            A segunda hipótese aponta para Isabel de Aragão, a duquesa de Milão, para quem Leonardo trabalhou. Segundo alguns estudos, o tom verde escuro e o padrão das vestes da figura feminina indiciam que pertence à casa de Visconti-Sforza. Por outro lado, uma comparação da Mona Lisa com retratos de Isabel de Aragão evidencia algumas semelhanças entre ambas.

            A terceira hipótese sugere que a figura retratada é a do próprio Leonardo Da Vinci, envergando roupas femininas. Esta teoria explicaria o facto de a paisagem ser mais elevada do lado direito (associado ao género feminino) do que o esquerdo (associado ao género masculino). Esta possibilidade radica nas semelhanças existentes entre a figura feminina retratada e os autorretratos do pintor.

            Ainda relativamente à figura da mulher, é de salientar também o facto de ela não possuir sobrancelhas, visto que, na época, era comum as mulheres rasparem as sobrancelhas, dado que os pelos das mulheres eram sinónimo de luxúria. Este traço é visível noutros quadros de Da Vinci, como “Retrato de Ginevra de Benci”.

 

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