Português

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Capítulo XI de A Sibila

             1. A adolescência de Germa
 
            Aos treze anos, Germa entra num período de afirmação da personalidade e forte individualismo gerador de contestação e conflitos com a tia, a ponto de durante muito tempo não voltar à casa da Vessada: "Tinha então quase treze anos, e continuava bonita." (p. 122)
            "Foi o contraste de caracteres, a inadaptação, a perene batalha do seu espírito contra o ambiente, que amadureceu muito depressa Germa. Toda a gente, e igualmente Quina, lhe desagradavam. (...) Entrou depois no período esfuziante da adolescência, e durante muito tempo não voltou à casa da Vessada, que achava opressiva...". (p. 125)
 
            Dedica à tia um grande respeito. O convívio com Quina proporciona-lhe um perfeito conhecimento do ser humano.
 
 
            2. Morte de Elisa Aida
 
            A causa imediata da sua morte é uma queda, que lhe quebra uma perna. Gradualmente, a sua vida vai-se degradando, "afastando os amigos e aceitando a falência de certos hábitos" (p. 128), mantendo somente a amizade de Quina.
 
 
            3. Referência ao escudeiro de Elisa Aida: "bonito grumete loiro, com essa petulância (...). Além de filho, disseram-no seu amante". (p. 128)
            Quina recebe-o e acaba por conhecer a sua história: era casado com uma prostituta de quem teve um filho, "um menino de quatro anos, belo como um pastorinho de presépio, e que não falava ainda", mas que "não tinha qualquer significação para si" (p. 134). A prostituta morre, entretanto, e face à indiferença e desinteresse do pai relativamente à criança, Quina decide recebê-lo em sua casa.         

Poesia Trovadoresca Galego-Portuguesa

 

    Este é o primeiro episódio «a sério» do podcast «Que farei com este livro?», dedicado à Poesia Trovadoresca. Para ouvir o original, basta clicar na ligação [Ep. 1.1.].

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Autárquicas 2021: contra o cocó de cão votar, votar!


 

Antes de o ou antes do?

     Por regra, as preposições a, de, em e por contraem-se quando estão seguidas dos determinantes artigos definidos o, a, os, as.

        Ex.: O Benfica foi campeão antes do Belenenses.
                Jesus elogiou Cebolinha pelo seu golo.

    No entanto, quando na frase está presente uma forma verbal no modo infinitivo, a referida contração não ocorre, visto que o determinante artigo faz parte do sujeito da oração infinitiva.

        Exs.:
            O Benfica foi campeão antes de o Belenenses o ter conseguido.
            Jesus elogiou Cebolinha por o seu golo ter sido decisivo.

"Alugar" e "arrendar"

    Os verbos «alugar» e «arrendar» são sinónimos? Não.

    Quando se usa um e o outro?

    O verbo «alugar» usa-se quando nos referimos a bens imóveis:
        Ex.: Vou arrendar uma casa de férias em setembro.

    O verbo «arrendar» emprega-se quando nos referimos a bens móveis:
        Ex.: Vou alugar um carro quando me deslocar ao Brasil.

Autárquicas 2021: Chocolate Contradanças, o elevador


 

Autárquicas 2021: só custa a primeira vez


 

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Análise de "Serenata sintética", de Cassiano Ricardo

 
Serenata sintética
 
Rua
torta.
 
Lua
morta.
 
Tua
porta.
 
            O título deste poema de Cassiano Ricardo tem a ver com o facto de o texto se referir a vários elementos relacionados com uma serenata, como «lua», «rua», «porta», de modo sintético.
            Relativamente à forma, o poema é constituído por três dísticos; cada verso é composto por uma só palavra e por uma única sílaba métrica; por outro lado, não foi utilizado nenhum verbo, o que confere maior dinamismo à composição.
            Cada verso é constituído por um nome e um adjetivo ou determinante possessivo. O primeiro dístico, «rua torta», remete para uma rua sinuosa. Metaforicamente, «rua» pode remeter para caminho, passagem, destino, e «torta» como difícil, sinuosa, misteriosa, duvidosa. No verso três, o vocábulo «lua» não se refere apenas ao satélite natural da Terra, mas também ao complemento romântico de uma serenata; no quarto, «morta» significa sem vida. Assim sendo, o dístico «Lua morta» refere-se à ausência da lua, à noite sem luar, sem luz. Se a noite é escura, essa escuridão torna-a misteriosa. A terceira estrofe aponta o destino da serenata: a «tua porta». Que porta? A de casa ou a do coração? Ambas. Porém, não se sabe se ela se abrirá ou não para o seresteiro.
 

Análise de "Poética", de Cassiano Ricardo

 1.
Que é poesia?

Uma ilha cercada de palavras por todos os lados.

 

2.
Que é o poeta?

Um homem que trabalha o poema com o suor de se rosto.

Um homem que tem fome como qualquer outro homem.

 

            O tema do poema é o universo poético, mais concretamente a poesia e o poeta, como indicia o título do texto. De facto, este indica o assunto da composição, funcionando como uma espécie de verbete do qual o poema (as estrofes) representa as definições.

            Ambas as estrofes possuem uma estrutura semelhante: pergunta seguida de resposta. A primeira procura esclarecer o que é a poesia: “uma ilha cercada de palavras por todos os lados”. Uma ilha é uma porção de terra cercada por todos os lados de água. Na realidade, esta definição é incorreta, visto que essa extensão de terra é uma porção emersa de uma montanha submersa. Se fosse mesmo cercada por todos os lados, teria água acima e abaixo da extensão de terra, o que não é verdade. Seja como for, a definição apresentada de poesia enfatiza a importância da palavra: qualquer uma pode ser dotada de poeticidade.

            A segunda interrogação destina-se a saber o que é um poeta. Este é definido como um homem comum, que trabalha e tem necessidades (fome) como qualquer outro homem. Por outro lado, o poeta é um ser que vive do seu suor, do seu trabalho esforçado, e que precisa de se alimentar como qualquer outra pessoa. Ora, estas aproximações roubam um pouco o romantismo associado ao ofício de poeta, que necessita, como qualquer outro indivíduo, de possuir rendimentos para (sobre)viver.

 

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Resumo do Canto XVIII da Ilíada

             Aquiles pressente a morte de Pátroclo mesmo antes da chegada do mensageiro de Menelau. Ao tomar conhecimento de que os seus receios eram verdadeiros, Aquiles fica desesperado: chora, puxa os cabelos, bate com os punhos no chão, cobre o rosto de terra e grita, enraivecido, de tal maneira que Tétis o escuta e vem com as suas irmãs ninfas aquáticas do oceano ver o que tanto perturba o filho. Aquiles relata-lhe a desgraça que o atingiu e afirmará que se irá vingar de Heitor, não obstante o facto de ter consciência de que, ao fazê-lo, ao optar pela vida de guerreiro, estará a sentenciar a sua morte. Tétis lamenta que o filho tenha de morrer logo depois de Heitor e diz-lhe que não combata até ela voltar. A deusa do oceano pedirá a Hefesto que lhe faça uma nova armadura, já que a sua é usada agora pelo comandante dos Troianos.

            Enquanto isso, as tropas de Troia continuam a querer apossar-se do corpo de Pátroclo, mas Íris, a mando de Hera, diz a Aquiles que ele deve aparecer no campo de batalha, visto que só a sua presença atemorizará os inimigos e fá-los-á desistir do corpo de Pátroclo. Então, Aquiles sai da sua tenda e solta um grito tão forte que, de facto, causa a fuga dos Troianos. O corpo de Pátroclo é trazido para o acampamento aqueu e os eus companheiros choram-no, enquanto Aquiles jura que o seu amigo não será sepultado até que Heitor caia às suas mãos, embora ordene que as suas feridas sejam limpas para o preparar para o enterro.

            No acampamento troiano, Podidama, temendo as consequências do retorno de Aquiles, aconselha que as tropas regressam à cidade nessa noite, em vez de permanecerem acampados na planície. Todavia, Heitor considera esse gesto num ato cobarde, responde, orgulhosamente, que nunca fugirá de Aquiles e insiste em repetir o ataque do dia anterior. O seu plano é acolhido favoravelmente pelos seus companheiros, destituídos do seu juízo por Atenas.

            Enquanto isso, Tétis dirige-se à morada de Hefesto e pede-lhe que faça uma nova armadura para Aquiles. Grato por ela o ter auxiliado no passado, o deus do fogo forja uma armadura, um capacete, grevas e um escudo extraordinários com imagens de constelações, pastagens, crianças dançando, cidades humanas em relevo, paz e guerra, vida e morte.

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Análise do Canto XVII da Ilíada

             O Canto XVI é dominado pela ação de duas personagens inimigas: Heitor e Pátroclo. Num plano secundário, situa-se Aquiles, cujo orgulho ferido o continua a impedir de regressar à batalha e a agir de forma nada humana e patriótica, pois não revela, mais uma vez, qualquer preocupação com o destino dos seus compatriotas e, em última análise, da sua pátria. Já a atitude de Pátroclo é absolutamente diversa: ele chora ao constatar a situação dramática e acusa Aquiles de ser frio e insensível, acusando-o de não ser filho de deuses e humanos, mas do oceano e das rochas, forças que não possuem sentimentos. Neste contexto, Homero cria um momento de ironia trágica relativo ao destino de Pátroclo: Aquiles reza pelo seu sucesso na batalha contra os Troianos e pelo seu regresso são e salvo, mas o poeta lembra ao leitor/ouvinte que o segundo termo da oração não se concretizará. Este passo recorda, de alguma forma, o poema “O menino de sua mãe”, da autoria de Fernando Pessoa, mas especificamente o momento em que a mãe e a criada rezam, lá longe, em casa, pela saúde e bem-estar do jovem, quando, na realidade, já está morto.

            Relativamente à figura de Heitor, o seu tratamento nesta fase da Ilíada parece diferente dos cantos iniciais. De facto, até aqui ele era o guerreiro mais valente e corajoso do exército troiano, o líder incontestado, heroico e exemplar, que chega a censurar fortemente o próprio irmão por se recusar a combater. Porém, chegados a este ponto, somos confrontados com um Heitor que foge da batalha após a entrada em combate de Pátroclo abandonando as tropas que comanda, certamente convencido de que se tratava de Aquiles. O seu companheiro Glauco envergonha-o aquando da primeira fuga, tarefa que cabe ao próprio tio quando a segunda tem lugar, embora neste caso saibamos que foi Zeus quem o tornou cobarde momentaneamente.

            O desejo de proteger o corpo de Sarpédon fá-lo retornar à batalha e enfrentar Pátroclo, mas, até pelo que foi dito, o percurso dos dois é marcado por um contraste óbvio: à medida que Pátroclo se glorifica, Heitor vê a sua glória pessoal de crescer. Além dos dois recuos durante a batalha já descritos, a morte do inimigo às suas mãos nada tem de heroico ou honroso, visto que Apolo retirou previamente a armadura e as armas do guerreiro grego, permitindo que um jovem soldado troiano o apunhalasse pelas costas e só então Heitor entra em cena para dar o golpe final. Em suma, os deuses fizeram a parte essencial do trabalho de conduzir à morte de Pátroclo, não Heitor. Neste contexto, o amigo de Aquiles morre em glória, pois, antes de ser liquidado da forma que conhecemos (foram precisas três figuras para tal, incluindo um deus, e parte dos ataques foi desferida cobardemente, pelas costas), elimina vários inimigos e retira-lhes a armadura, algo que, como já vimos em cantos anteriores, era muito importante na época.

            Uma última nota para a relação entre os deuses e o destino. Tendo em conta os eventos narrados neste canto, é lícito concluir que o destino não é imutável; pelo contrário, ele pode ser contrariado e mudado, visto que Zeus, na iminência da morte do seu filho Sarpédon, considera abrir uma exceção e alterar o destino, poupando a sua vida. No entanto, nem o próprio pai dos deuses se pode dar a esse luxo sem que existam consequências. Como Hera o adverte, se Zeus salvar Sarpédon, deixará de ser respeitado pelos restantes deuses e serão levados a concluir que poderão fazer o mesmo, o que acarretará problemas imprevisíveis.

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