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quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

A datação das décadas e dos séculos


Afinal, hoje, 1 de janeiro de 2020, estamos ainda na segunda década do século XXI ou entrámos na terceira? Esta questão estende-se também à delimitação dos séculos.

Os séculos começam em 01 e terminam em 00, inclusive. Assim sendo, o século atual teve início a 1 de janeiro de 2001 e terminará no dia 31 de dezembro de 2100.

Quanto às décadas, se dividirmos os séculos em 10, a lógica é a mesma daqueles: o período de 2001 a 2010 constitui a primeira década do século XXI; o de 2011 a 2020 corresponde à segunda; o de 2021 a 2030 refere-se à terceira. Deste modo, atualmente ainda vivemos na segunda década do século XXI.

No entanto, se falarmos em anos, a questão é ligeiramente diferente. Assim, se nos referirmos aos anos 20 deste século, estaremos a falar de 2020 a 2029. O mesmo sucede, por exemplo, quando falamos da época de quinhentos: o século é o XVI (1501 a 1600), a época é a de quinhentos (de 1500 a 1599).

A razão que explica tudo isto reside no facto de não ter existido um ano 0, e o cálculo dos séculos parte desse princípio. De facto, grande parte do mundo ocidental utiliza o calendário gregoriano, que foi estabelecido pelo Papa Gregório XII em 1582 e que coloca o nascimento de Jesus Cristo como ano 1. Isto significa que saltamos do ano 1 antes de Cristo diretamente para o ano 1 depois de Cristo.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Gertrudes: origem e significado do nome

O nome Gertrudes deriva do francês Gertrude, que, por sua vez, constituirá um empréstimo do alemão Gertrud por via alsaciana. O “s” que caracteriza o nome no português gterá sido um caso de paragoge surgido por via popular.
De acordo com José Machado, no seu Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, o nome é, portanto, de origem alemã, composto pelos elementos germânicos “gari-”, “ger-“ (“lança”) e “trud-“ (“fiel”). A sua popularidade deveu-se ao culto a Santa Gertrudes, cuja festa litúrgica é celebrada a 16 de novembro.
A santa nasceu na Alemanha a 6 de janeiro de 1256 e foi enviada para estudar no mosteiro beneditino de Helfta quando tinha 5 anos. Após a tomada de hábito na adolescência, tornou-se amiga de Santa Matilde de Hackeborn, sendo ambas devotas do Sagrado Coração de Jesus.
Santa Gertrudes é hoje venerada como a padroeira das pessoas místicas.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Origem e significado de Jesus Cristo

Cristo não é propriamente o sobrenome de Jesus. Com efeito, o termo constituiria um epíteto de origem grega dado a Jesus que significava ungido.
Jesus era um judeu, daí que o seu nome fosse de origem aramaica (o aramaico, derivado do hebraico, era a língua falada pelos judeus do século I da nossa era) Yehoshua (ou Yeshua) ben Youssef, isto é, Josué, filho de José.
Porém, Jesus também era conhecido como Jesus de Nazaré, ou Jesus o Nazareno, pois a sua cidade de origem era, precisamente, Nazaré. Quando foi batizado no rio Jordão por João Baptista, e reconhecido como o mensageiro de Javé que tinha vindo libertar o povo judeu da opressão romana (Yehoshua significa Javé salva), Jesus recebeu o epíteto de Mashiach (ou Mashiyac) (isto é, Messias), que em hebraico quer dizer ungido. Como o Novo Testamento foi redigido num grego tardio chamado koiné, o nome Yeshua Mashiach foi traduzido para Iesoûs ho Khristós, literalmente Jesus o Ungido.
Quando o Cristianismo se disseminou pelo Império Romano, levando a que o latim passasse a ser a língua oficial de Roma, o nome grego de Jesus Cristo foi latinizado para Iesus Christus (o latim não tinha artigos), daí derivando o português Jesus Cristo e as diferentes designações das demais línguas.
Falta apenas esclarecer um ponto. Se o vocábulo ungido em latim é unctus, por que razão Jesus não ficou conhecido em Roma como Iesus Unctus? Sucede que a língua grega tinha um enorme prestígio em Roma, e, como os Evangelhos tinham sido escritos em grego, o epíteto Khristós não foi traduzido e manteve-se, tendo sido apenas adaptado para Christus.


Significado de Natal em diversas línguas

O termo português Natal deriva da expressão latina dies natalis, com supressão do nome dia e substantivação do adjetivo natal.

O espanhol Navidad é um sinónimo de natividade, uma palavra que, em português, se aplica para designar o nascimento da Virgem Maria.

O francês Noël provém do francês antigo nael, mais próximo do étimo latino natalis.

O inglês Christmas é uma palavra composta pelo nome de Cristo e pelo nome mass, que significa missa, daí que o vocábulo queira dizer missa de Cristo.

O alemão Weihnachten, que quer dizer noites santas, referia-se na origem ao período de 12 dias (ou noites), situado entre 25 de dezembro e 5 de janeiro, correspondente aos 12 dias consecutivos ao solstício de inverno, durante os quais os antigos Germanos pagãos celebravam também a festa dos mortos.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Origem e significado de Natal

O termo natal começou por ser um adjetivo que significava «relativo ao nascimento», «onde se deu o nascimento», «natalício».
            A palavra provém do adjetivo latino natalis (adjetivo que significava "do nascimento") - com o passar do tempo, caíram alguns sons e passou a dizer-se somente "natal" -, formado a partir do verbo «nascor», que queria dizer «nascer», que, por sua vez, tem na sua origem a raiz proto-indo-europeia *ǵenh₁-. Esta raiz antiquíssima deu origem a um conjunto de palavras gregas também relacionadas com o nascimento e que acabaram por fazer parte igualmente do português, como, por exemplo, «génese» e «génesis.
           Da mesma raiz indo-europeia, surgiu o king inglês, embora a palavra que significa Natal tenha uma origem completamente diferente da do português. De facto, o nome Christmas provém de «Christ's mass», isto é, a missa de Cristo.
            Do adjetivo «natal», formou-se o nome «natal», subentendendo-se a palavra «dia»: o dia natal significava o dia do nascimento e, daí, o próprio nascimento, mas esse termo normalmente apenas é usado para designar o nascimento de Jesus Cristo, iniciado por maiúscula (o Natal). Do latim natalis derivaram também as designações de várias outras línguas, como o francês (noël) ou o italiano (natale), entre outras.
            Deste modo, o vocábulo «Natal», escrito com maiúscula inicial, é o nome da festa religiosa cristã que celebra o nascimento de Jesus Cristo, a figura central da religião cristã; o termo «natal», com letra minúscula, significa «do nascimento» e refere-se ao nascimento ou ao local onde se deu o nascimento. Escrevem-se, igualmente, com maiúscula alguns topónimos, como o da cidade brasileira de Natal.
            Primitivamente, nas igrejas do Oriente, o nascimento de Jesus celebrava-se a 6 de janeiro. No entanto os Evangelhos não contêm qualquer referência à data exata desse nascimento. Foi o clero romano, algures entre 243 e 336, que definiu o dia 25 de dezembro como o da celebração do nascimento de Jesus, possivelmente graças ao papa Júlio I.
            A teoria mais aceite sugere que a comemoração do Natal teve origem em festas pagãs que ocorriam no mês de dezembro, durante o Império Romano, relacionadas com o solstício de inverno, para garantir a fertilidade e para celebrar o «renascimento do Sol», uma vez que o solstício de inverno era o dia mais curto do ano. De facto, a Roma pagã comemorava o Natale Solis Invicti, a festa solsticial consagrada ao Sol, precisamente no dia 25 de dezembro. De acordo com os cálculos da época, estava-se no solstício de inverno e esse era o dia em que o Sol estava mais fraco e, portanto, pronto para recomeçar a crescer e a trazer vida à natureza: era o nascimento do Sol invencível (Natale Solis Invicti), que prevalecia sobre a noite. Após a decisão do clero romano, gradualmente a celebração pagã deu lugar à cristã. Aliás, se tivermos em atenção as Escrituras, Jesus é apresentado como a verdadeira «luz do mundo», sendo frequente a associação de Deus ao Sol, Deus como a luz que ilumina a terra. De Roma, a celebração de 25 de dezembro propagou-se a todas as terras cristãs.
            Algumas vozes colocam o nascimento de Jesus no mês de abril, outras na festa dos Tabernáculos dos judeus, correspondente ao atual mês de setembro. Uma declaração de Clemente de Alexandria aponta mesmo várias datas: 15 de abril, 20 de abril, 21 de abril, 20 de maio. Enquanto a Igreja católica não fixou a data do Natal, este era comemorado em dias diferentes, dependendo da região, pois não se sabia com exatidão o dia do nascimento de Jesus. No entanto, para que passasse a constar do calendário litúrgico, bem como para marcar o ano I da nossa era (depois de Cristo) e ainda para permitir a conversão dos novos pagão sob o domínio do Império Romano, estabeleceu-se o dia 25 de dezembro, uma opção que terá sido ditada enquanto estratégia da Igreja para enfraquecer as comemorações pagãs que ocorriam nessa data, como, por exemplo, o Dies Natalis Solis Invicti ou a Saturnália, uma festa de homenagem ao deus Saturno. Assim, é muito provável que, gradativamente, durante os séculos III e IV, a comemoração do Natal no dia 25 de dezembro se tenha popularizado a ponto de o Papa Júlio I ter determinado que o nascimento de Jesus ocorrera, de facto, nessa data. Supostamente, o anúncio do papa teve lugar em 350.
            Relativamente à origem, alguns historiadores situam-na na antiga Babilónia, numa festa que comemorava o nascimento de Nimrode, um dos seus reis, e também no Egito, onde a data marcava o nascimento da deusa Ísis. De modo semelhante, a época, ainda antes do Cristianismo, era festejada no norte da Europa para marcar o fim dos dias curtos e o retorno do Sol. As antigas comemorações de Natal duravam até 12 dias, pois foi este o tempo que os três Reis Magos demoraram até chegar à cidade de Belém para entregarem os seus presentes (ouro, mirra e incenso) ao recém-nascido Jesus. Hoje, os enfeites de Natal são iniciados no começo de dezembro e terminam doze dias após o Natal.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

"O que"

A análise da questão colocada exige antes de mais que se faça a distinção entre duas realidades; a locução pronominal «o que» e a sequência «o que» formada por artigo, usado como “pronome demonstrativo” seguido de que1.
I. Esta última realidade está presente numa frase como (1):
(1) «Adorei o que me aconselhaste.» (Conversa sobre um livro)
Vários dados comprovam que o não faz parte do constituinte relativo:
(i) o é variável em género e número:
            (2) «Adorei os que me aconselhaste.» (conversa sobre livros)      
(3) «Adorei a que me aconselhaste.» (conversa sobre música)    
(4) «Adorei as que me aconselhaste.» (conversa sobre músicas)
(ii) pode ser substituído por outro determinante como aquele:
            (5) «Adorei aquele que me aconselhaste.»
(iii) introduz um nome omitido que se recupera pelo contexto:
            (6) «Adorei o livro que me aconselhaste.»
Neste caso, estamos assim perante uma oração relativa com antecedente implícito.
II. Estamos perante a locução relativa «o que» quando
(ii) o artigo o não pode ser substituído por um determinante:
            (7) «Ofereceu-me um livro, o que me deixou feliz.»
            (8) «*Ofereceu-me livro, aquilo que me deixou feliz.»
(ii) não flexiona em género e número:
            (9) «*Ofereceu-me prendas, as que me deixaram muito feliz.»2
(iii) não é possível inserir um nome entre que (porque se trata de uma locução):
            (9) «*Ofereceu-me um livro, o livro que me deixou muito feliz.»2
A diferença assinalada entre I e II tem implicações também no uso das preposições com os relativos. Como se sabe, no caso de o verbo da oração relativa reger preposição, esta será colocada no início da oração relativa, como em (10):
(10) «A festa de que gostei muito durou até tarde.»
No caso I, a preposição será colocada entre o artigo e o relativo:
(11) «Adorei o de que me falaste.»
No caso II, a preposição será colocada antes da locução relativa:
(12) «Fez uma apresentação tocante do livro, com o que me surpreendeu.
As frases apresentadas pelo consulente têm ainda a particularidade de constituírem construções clivadas ou de foco (cf. aqui). Uma frase na ordem normal (13) permite que um dos seus elementos seja colocado em destaque através da construção de clivagem (14) ou (15):
(13) «Muitos duvidam das suas possibilidades.»
(14) «O de que muitos começam a duvidar é das suas possibilidades.»
(15) «Do que muitos começam a duvidas é das suas possibilidades.»
Nos casos apresentados pelo consulente, estamos perante uma situação de interpretação dúbia, ou seja, tanto tratar-se de uma oração relativa com antecedente implícito como de uma construção com locução relativa. Esta dificuldade de interpretação deve-se ao facto de os traços semânticos da sequência «o que» serem semanticamente vagos. Daí ser difícil identificar o nome que se poderia colocar entre o e que. Porém, note-se que é possível substituir o por aquilo3.
Perante esta ambiguidade de interpretação, diremos que ambas as possibilidades apresentadas pelo consulente são possíveis: a colocação da preposição entre o artigo e o pronome ou a colocação da preposição antes da locução relativa.

Em nome do Ciberdúvidas, agradeço as gentis palavras que nos endereça.

*assinala agramaticalidade.
1. Para maior aprofundamento, cf. Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 2085-2089.
2. Note-se que esta frase seria possível como modificador do nome (adjunto do nome). Neste caso estaríamos, de novo, perante um caso de artigo seguido de que.
3. Esta mesma situação é discutida em Raposo et al., Ibidem, pp. 2088 – 2089, caixa [10].
Carla Marques 

Fonte: Ciberdúvidas

Construção clivada

Fala-se mais em construção clivada ou de clivagem do que em "oração clivada" (Ana Maria Brito e Inês Duarte, em M.ª Helena Mira Mateus et aliiGramática da Língua Portuguesa, 2003, págs. 685-694). Aparentada com as orações relativas, trata-se de uma construção em que participa o verbo ser com pronomes relativos ou a expressão é que e que permite pôr em destaque a maior parte dos constituintes de uma frase, a saber, sujeito, complementos e adjuntos do verbo (exceptuando advérbios de frase como provavelmente e orações adverbiais condicionais e concessivas). Por exemplo, a partir de uma frase como «a Rita comprou o vestido na feira», focam-se vários constituintes do seguinte modo:
1. Sujeito «a Rita»
(a) Foi a Rita que/quem comprou o vestido na feira.
(b) Quem comprou o vestido na feira foi a Rita.
A Rita foi quem comprou o vestido na feira.
A Rita é que comprou o vestido na feira.
2. Objecto directo
(a) Foi o vestido o que/que a Rita comprou na feira.
etc.
3. Adjunto adverbial
(a) Foi na feira que a Rita comprou o vestido.
etc.
Em (2) e (3), também se inclui, respectivamente, «A Rita comprou foi o vestido» e «A Rita comprou o vestido foi na feira», construção que não é possível com o sujeito — *«Comprou o vestido na feira foi a Rita.»
Carlos Rocha 
Fonte: Ciberdúvidas

domingo, 8 de dezembro de 2019

Pôr as barbas de molho

Noutros tempos, a barba era um sinal de prestígio, honra e poder.
D. João de castro, o quarto vice-rei da Índia, ficou registado nos livros de História como o protótipo do português antigo, de consciência reta e austera. No século XVI, enquanto exerceu o cargo mencionado, resistiu ao cerco montado a Diu em 1546 pelo sultão Mafamud, conservando assim a soberania portuguesa naquelas paragens do Oriente.
Após os confrontos, D. João de Castro teve de reconstruir a fortaleza de Diu para impedir novos ataques, mas faltava-lhe o dinheiro necessário pata executar a tarefa, por isso escreveu à câmara de Goa uma missiva em que solicitava um empréstimo de vinte mil pardaus, oferecendo em penhor as próprias barbas. E foi isso que aconteceu: o empréstimo foi-lhe concedido e a fortaleza refeita. Ora, na época, ter a barba cortada representava uma humilhação.
Note-se que a barba constituiu um atributo indispensável ao prestígio da magistratura. De facto, os magistrados usavam barba para conferir maior solenidade à função de julgar. Talvez por isso, em 17 de junho de 1716, o regedor do reino português ordenou que cada um dos desembargadores tivesse dez cruzados anuais para o barbeiro.
Várias línguas possuem provérbios que dão nota da importância da barba como sinal do valor de um homem. Um desses provérbios é de origem espanhola e reza o seguinte: «Cuando las barbas de tu vecino veas pelar, pon las tuyas a reojar», ou seja, “Quando vives as barbas do vizinho ficar sem pelos, põe as tuas de molho.”. Daí terá surgido o provérbio português, “Quando vires as barbas do vizinho a arder, põe as tuas de molho.», que significa observar o dano, o perigo na vizinhança e, em consequência, tomar precauções.
O uso popular adotou a parte final do provérbio: “pôr ou deitar as barbas de molho”, ou seja, acautelar-se, ficar de sobreaviso, precaver-se contra um perigo iminente.


Pronúncia de molho

Molho e molho são palavras homógrafas, isto é, escrevem-se da mesma maneira, mas pronunciam-se (e têm significados diferentes).
Assim, pronunciamos molho
com o o aberto (ó) quando é sinónimo de “feixe”, “punhado”:
- um molho de grelos
- um molho de erva
com o o fechado (ô) quando nos referimos a um tempero culinário:
- molho de carne
- molho de tomate

Quando a palavra surge no plural, a distinção de sons mantém-se:
- molhos (mólhos) de erva
- molhos (môlhos) de tomate

Plural de abaixo-assinado

Qual é o plural de abaixo-assinado? Abaixo-assinados ou abaixos-assinados?

Abaixo-assinado é uma palavra composta pelo advérbio abaixo e pelo particípio passado assinado. Só este segundo elementos deve ser flexionado no plural, visto que o primeiro elemento é um advérbio, logo é invariável.

Assim, a forma correta de plural é abaixo-assinados.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Acentuação das palavras terminadas em -inho ou -inha

     As palavras graves terminadas em -inho ou -inha (como rainha, campainha, ladainha, tainha, ventoinha, moinho) não têm acento gráfico.
     Tal sucede, porque a quebra do ditongo nem sempre se faz através do acento gráfico. De facto, ela pode ocorrer naturalmente, por força das letras que se encontram junto a um potencial ditongo, fazendo com que os seus elementos façam parte de sílabas diferentes.
     Nos exemplos apontados, a semivogal i vem seguida do dígrafo nh, que a anasala, levando-a a forma, por si só, uma sílaba.
     Quando o ditongo é seguido das consoantes r, l ou z, ele é quebrado e também não há lugar a acento gráfico: juiz, raiz, Raul, paul, cair, cairdes.
     O mesmo sucede quando vem seguido de m, n ou ns: ainda, Caim, ruim, ruins.

     São acentuadas, porém, as palavras que dele necessitam para que não se forma ditongo com a vogal anterior:  (diferente de ai), país (diferente de pais), caía (diferente de caia), caíra, saía (diferente de saia), juíza, juízo, Luís, Luísa, raízes, ruína, etc.

     Por regra, são acentuados graficamente o i e o u tónicos que não forma ditongo com a vogal anterior, desde que não formem sílaba com r, l, m, n ou z ou não sejam seguidos do dígrafo nh: cafeína, construído, distribuído, egoísta, faísca, heroína, juízo, peúga, proíbe, reúne, saúde, etc.

sábado, 23 de novembro de 2019

Paciência de Jó/Job

     Paciência de Jó significa revelar uma paciência, uma tolerância ou resignação acima dos limites razoáveis.
     Jó foi uma personagem do Antigo Testamento que viveu na terra de Uz, atual Iraque. Por causa de uma aposta entre Deus e o Diabo, foi vítima de muito sofrimento: perdeu a sua fortuna, a sua saúde e quase todos os seus parentes, para ver se ele mantinha a sua fé, a despeito de todas as adversidades.
     A sua esposa e os amigos incitaram-no a amaldiçoar Deus, porém Jó sofreu todas as provações a que foi sujeito, por isso, no final, Deus recompensou-o, devolvendo-lhe em dobro tudo o que perdera.

Bode expiatório

     Ser o bode expiatório de algo significa pagar pela culpa dos outros.
     De acordo com a tradição hebraica da época do Templo de Jerusalém, o bode expiatório era um animal separado do rebanho e deixado só no deserto, depois de os sacerdotes o terem carregado com as maldições que queriam desviar de cima do povo.
     Este costume fazia parte dos rituais do Yom Kippur, o Dia da Expiação, e é descrito com detalhes no livro do Levítico, no Velho Testamento.
     Em sentido figurado, um "bode expiatório" é uma pessoa, grupo de pessoas ou mesmo todo um povo, escolhido arbitrariamente para assumir sozinho a culpa de uma calamidade, crime ou qualquer evento negativo.

sábado, 2 de novembro de 2019

Concordância de "a gente"


            Qual é a frase correta?
. A gente vai ao cinema?
. A gente vamos ao cinema?
            A regra informa-nos que o predicado concorda em pessoa e número com o sujeito.
            «Gente» é um nome coletivo que designa um conjunto de pessoas. Como se encontra no singular, o verbo (núcleo do predicado) tem de estar também no singular, em concordância com a expressão.
            Assim sendo, a frase correta é a primeira: «A gente vai ao cinema?».
            A talhe de foice, esclareça-se também um erro cometido por muitos: a confusão entre a expressão «a gente» e o nome «agente», que designa uma pessoa que age:
. A gente vai ao cinema.
. O agente da polícia prendeu o ladrão.


Teste para distinguir complemento indireto de complemento oblíquo


1. O complemento indireto não pode ser realizado pela sequência a + pronome pessoal tónico:
▪ * Entregou o livro a ele. (frase agramatical)

2. O complemento oblíquo admite a substituição por a + pronome pessoal tónico:
O Ernesto recorreu aos amigos. → O Ernesto recorreu a eles.
O padre obrigou o João a uma confissão. → O padre obrigou o João a isso.
O Eusébio cedeu ao sentimento. → O Eusébio cedeu a ele / a isso.

"Abaixo" ou "a baixo"?


            Ambas as formas estão corretas, pois existem na língua portuguesa. O que varia é o seu significado e uso.
            A expressão "a baixo" é uma locução adverbial que designa um ponto de chegada inferior, significando «para baixo» (nessa direção) e opondo-se a «do alto» ou «de cima».:
. O homem olhou a atriz de cima a baixo.
. Vamos alterar este projeto de cima a baixo.

 Por sua vez, a expressão "abaixo" pode enquadrar-se em duas classes de palavras:
1.º) Enquanto advérbio de lugar significa «em sentido descendente»:
. A minha tia caiu pelas escadas abaixo. (sentido descendente)
. As vendas da nova camisola do Sporting estão abaixo do que Varandas deseja. (nível inferior ao desejado)
. O meu cão dorme no andar abaixo do meu. (em baixo)
. O teu encarregado de educação tem de assinar a autorização abaixo. (na parte inferior da folha)
. O peso da Miquelina situa-se abaixo da média. (nível inferior)
2.º) Enquanto interjeição, significa «reprovação», «protesto», «contestação»:
. Abaixo este governo de primos e primas!

Coisas do arco da velha

     Coisas do arco da velha são coisas inacreditáveis, absurdas, espantosas ou inverosímeis.
     A expressão teve origem no Antigo Testamento: arco da velha é o arco-íris, ou arco-celeste, e foi o sinal do tacto que Deus fez com Noé: "Estando arco nas nuvens, Eu ao vê-lo recordar-ME-ei da aliança eterna concluída entre Deus e todos os seres vivos de toda a espécie que há na terra." (Génesis, ):16).
     Arco da velha é uma simplificação de Arco da Lei Velha, uma referência à Lei Divina.
     Há também várias histórias populares que defendem outra origem da expressão, como a da existência de uma velha no arco-íris, sendo a curvatura do arco a curvatura das costas provocada pela velhice, ou devido a uma das propriedades mágicas do arco-íris: beber a água num lugar e enviá-la para outro, pelo que a velha poderá ter vindo do italiano "bere"( (= beber).

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

"Impressa" ou "imprimida"?

     Qual é a frase correta?

         a) A folha foi impressa?

         b) A folha foi imprimida?

     O verbo «imprimir» é um dos que possui duas formas de particípio passado: uma fraca ou regular (imprimido) e outra forte ou irregular (impresso).

     O particípio regular é usado nos tempos compostos com os auxiliares ter e haver:
          . A Miquelina tinha imprimido a folha.

     O particípio irregular é usado com os auxiliares ser e estar:
          . A folha foi impressa pela Miquelina.

     Resposta à pergunta inicial: a frase correta é a b) A folha foi imprimida.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

"A fim de" e "afim"

     A expressão "a fim de" é uma locução que expressa uma ideia de finalidade e equivale a "para" e "para que":
          . Fui ao estádio a fim de me despedir de Jonas.

     O adjetivo "afim" significa "ter afinidade, parentesco ou semelhança"; "próximo, aderente, comum":
          . A nova loja do Continente vende produtos de cosmética e afins.
          . Eu e o Ernesto temos amigos afins.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Conjugação do verbo "abster"

     "Abster" é um verbo composto pelo prefixo "abs-" e pelo verbo "ter".
     Os verbos compostos conjugam-se de acordo com o paradigma de flexão do verbo que está na sua base (neste caso, ter), mantendo-se o resto da forma inalterado.
     Assim:
          . eu abstenho (presente do indicativo)
          . eu abstive (pretérito perfeito do indicativo)
          . eu abstinha (pretérito mais-que-perfeito do indicativo)
          . vós abstereis (futuro do indicativo)
          . tu absterias (condicional)
          . etc.
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