Fala-se mais em construção clivada ou de clivagem do que em "oração clivada" (Ana Maria Brito e Inês Duarte, em M.ª Helena Mira Mateus et alii, Gramática da Língua Portuguesa, 2003, págs. 685-694). Aparentada com as orações relativas, trata-se de uma construção em que participa o verbo ser com pronomes relativos ou a expressão é que e que permite pôr em destaque a maior parte dos constituintes de uma frase, a saber, sujeito, complementos e adjuntos do verbo (exceptuando advérbios de frase como provavelmente e orações adverbiais condicionais e concessivas). Por exemplo, a partir de uma frase como «a Rita comprou o vestido na feira», focam-se vários constituintes do seguinte modo:
1. Sujeito «a Rita»
(a) Foi a Rita que/quem comprou o vestido na feira.
(b) Quem comprou o vestido na feira foi a Rita.
A Rita foi quem comprou o vestido na feira.
A Rita é que comprou o vestido na feira.
(a) Foi a Rita que/quem comprou o vestido na feira.
(b) Quem comprou o vestido na feira foi a Rita.
A Rita foi quem comprou o vestido na feira.
A Rita é que comprou o vestido na feira.
2. Objecto directo
(a) Foi o vestido o que/que a Rita comprou na feira.
etc.
(a) Foi o vestido o que/que a Rita comprou na feira.
etc.
3. Adjunto adverbial
(a) Foi na feira que a Rita comprou o vestido.
etc.
(a) Foi na feira que a Rita comprou o vestido.
etc.
Em (2) e (3), também se inclui, respectivamente, «A Rita comprou foi o vestido» e «A Rita comprou o vestido foi na feira», construção que não é possível com o sujeito — *«Comprou o vestido na feira foi a Rita.»
Carlos Rocha 8 de novembro de 2007
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