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quarta-feira, 19 de julho de 2023

Caracterização de Maria da Hortaliça

    Maria da Hortaliça é uma vendedora dos mercados de Lisboa que emigra para o Rio de Janeiro. A bordo do navio que a transporta, conhece Leonardo Pataca e envolve-se amorosamente com ele, acabando por engravidar. No Rio, moram juntos, embora não sejam casados, porém, passado algum tempo, ela começa a traí-lo com diferentes homens. Quando Pataca confirma as suas suspeitas de traição, agride-a, o que a leva a abandoná-lo e ao filho de ambos, fugindo na companhia do capitão de um navio.

Caracterização de Leonardo Pataca


    Leonardo Pataca é oficial de justiça e pai de Leonardo. Durante a viagem de barco rumo ao Rio de Janeiro, conhece a bordo Maria da Hortaliça, com quem se envolve sexualmente, engravidando-a. Já no Brasil, desconfia da fidelidade da companheira e, quando confirma a sua traição, agride-a fisicamente. Na sequência, ela foge com o capitão de uma embarcação e Leonardo entrega o filho ao barbeiro e acaba por casar com Chiquinha.
    Trata-se de um homem sentimental que tem um fraquinho por mulheres. Uma das com quem se envolve depois de Maria da Hortaliça é uma cigana, que, porém, o abandona, pelo que ele recorre a algo proibido na época – a feitiçaria –, para a conseguir de volta e que lhe traz problemas com Vidigal.
    Apesar de ser oficial de justiça, envolve-se em atividades suspeitas. O seu apelido – Pataca – deriva do facto de possuir dinheiro. Recorde-se que o termo «pataca» designava uma moeda de prata com o valor de 320 réis, que foi emitida por Portugal até ao século XIX.

Caracterização do Major Vidigal


    O Major Vidigal é um militar que persegue Leonardo e o prende algumas vezes, mas acaba por o integrar nas suas forças milicianas, primeiro como granadeiro, depois como sargento de milícias, para permitir que se casasse. É uma figura temida e respeitada por todos, severa e punidora, desempenhando ao mesmo tempo os papéis de polícia e juiz.
    Major Vidigal é uma personagem construída com base numa pessoa que existiu e viveu na época chamada Miguel Nunes Vidigal, que era chefe da Guarda Real, uma posição criada por D. João VI em 1809, para policiar o Rio de Janeiro.
    No que diz respeito à sua representatividade, o Vidigal configura o símbolo da repressão arbitrária e socialmente injusta, temida por todos aqueles que – tenham ou não problemas com a lei – são pobres e não dispõem de recursos nem beneficiam da proteção trazida pela amizade com alguém poderoso. Representa, de facto, a ordem do Rio de Janeiro, combatendo a malandragem e a vagabundagem da época. No entanto, apesar de ser o símbolo da Lei e da Justiça, acaba por as quebrar ocasionalmente, cedendo, nomeadamente, aos desejos da amante, com quem vai viver num relacionamento não oficial.

Caracterização de José Manuel

    José Manuel é um homem ambicioso, materialista e calculista que se casa por dinheiro para ter acesso à riqueza dele. No fundo, não passa de um caça fortunas. Após o enlace, trata muito mal a esposa, prendendo-a em casa. Acaba por falecer de apoplexia em decorrência de uma demanda que lhe é colocada por D. Maria. No fundo, não passa de um caça-dotes, representando de uma figura uma crítica à burguesia.

Caracterização de D. Maria

    D. Maria é uma velha senhora que adora demandas judiciais e que obtém a guarda de Luisinha quando os seus pais falecem. Trata-se de uma viúva rica e bondosa, tia e tutora de Luisinha, amiga da comadre e do compadre. Além disso, é uma das figuras da obra que sempre procura proteger e agir em defesa de Leonardo.

Caracterização do compadre barbeiro


    O compadre é barbeiro de profissão. Acolhe Leonardo quando os pais se separam, cria-o como seu filho, educa-o, protege-o e deixa-lhe uma herança que obteve de forma ilícita do comandante de um navio. Sonha um futuro próspero para ele – ser padre –, mas tal não se concretiza. Apesar da referida herança, vive humildemente.

    Em determinada fase da sua vida, foi para África como médico num navio negreiro. Na viagem de regresso, fica, de forma ilícita, com um baú de dinheiro do capitão que, moribundo, lho confiou para entrega à sua filha, porém ficou com ele para si. Tendo-se tornado homem de bem, cria Leonardo como seu filho.

Caracterização de comadre

    A comadre defende e acompanha Leonardo em todos os momentos importantes da sua vida, indo em seu socorro diversas vezes, porque o adora. É uma parteira e madrinha do protagonista. Apesar de ser muito religiosa e frequentar assiduamente a igreja, gosta de intrigas e é a responsável por espalhar uma mentira sobre José Manuel, o pretendente de Luisinha e rival de Leonardo.

Caracterização de Vidinha

    Vidinha é uma jovem mulata, bonita e extrovertida, que toca viola e canta modinhas. Em determinado momento, seduz Leonardo, que vive com ela durante um determinado período de tempo, constituindo a sua segunda paixão.

Caracterização de Luisinha

    Luisinha é a jovem órfã com quem Leonardo casa e que foi o seu primeiro amor. Inicialmente, é apresentada como uma rapariga desengonçada e estranha, mas vai-se transformando com o tempo. De facto, as suas características fogem ao modelo idealizado da mulher romântica: era feia, pálida e desajeitada.

    Por influência da tia, casa com José Manuel, um marido que a trata mal e a prende em casa e só casa por interesse nos seus bens. Algum tempo depois, fica viúva, o que possibilita a sua reaproximação a Leonardo, com quem casa.

Caracterização de Leonardo


    Leonardo é o herói ou protagonista da obra. Em rigor, estamos na presença do chamado anti-herói ou herói pícaro, dado ser alguém que é malandro, matreiro, vadio, que se envolve em problemas e adora fazer estripulias.
    Desde criança, Leonardo é instável e rebelde. Foi abandonado pelos pais: primeiro pela mãe, que fugiu para Portugal com um capitão de navio; depois, pelo pai, que o entregou ao cuidado do padrinho, que o criou, e foi viver a sua vida.
    A única tentativa de frequentar a escola redundou em fracasso: começou a frequentar as aulas de manhã e, à tarde, já estava a receber palmatoadas do professor por mau comportamento. Mais tarde, tornou-se amigo do sacristão da igreja, igualmente um malandro, e acabou por exercer essa função, mas entrou em conflito com um padre e foi expulso.
    Com o tempo foi-se acalmando, até que chegou à idade dos amores Se desde criança foi descrito como uma figura esperta e vagabunda, mais tarde é apresentado como um mulherengo, assemelhando-se neste caso ao protagonista de Macunaíma. O seu percurso a partir daqui pode resumir-se da seguinte forma: mulherengo, como o pai, quase perdeu o seu amor – Luisinha – por ser inconsciente. Foi preso algumas vezes, tornou-se granadeiro, depois sargento de milícias, casou-se com a sua amada e assentou na vida confortavelmente, graças a heranças. A sua primeira paixão foi Luisinha, sobrinha de D. Maria, mas o namoro acabou por não vingar por falta de jeito dele, apesar de a jovem gostar do filho de Pataca.
    Entretanto, Leonardo voltou a viver com o pau, porém os desentendimentos com a madrasta – Chiquinha – eram frequentes e acabou por ser expulso da casa paterna, tendo-se depois afastado e isolado de todos, até reencontrar o antigo amigo sacristão, com quem foi viver, na Rua da Vala, onde habitavam duas mulheres quarentonas, cada uma com três filhos – uma tinha três rapazes e outra três raparigas. Leonardo apaixonou-se pela mais bonita – Vidinha. Estes amores despertaram o ciúme de dois primos, que a disputavam também e que o foram intrigar junto de Vidigal, que o tentou prender, mas sem sucesso.
    A madrinha conseguiu-lhe um emprego na ucharia real, contudo também não parou aí muito tempo, dado que se envolveu amorosamente com a esposa do patrão, o toma-largura. Na sequência, acabou por ser preso pelo Vidigal. Na sua ausência, Vidinha cedeu aos avanços do toma-largura, que se tinha encantado por ela.
    Após a sua prisão, foi obrigado a servir o exército, tendo entrado para o batalhão dos granadeiros, para combater a malandragem do Rio de Janeiro, porém a sua índole não tinha mudado e ele continuou a fazer diabruras. A última que aprontou foi quando avisou um indivíduo que imitava o Vidigal que iria ser preso, permitindo-lhe, assim, escapar à lei. No entanto, o major descobriu a artimanha e prendeu de novo Leonardo. Mais uma vez, foi salvo pela madrinha, por D. Maria e por Maria Regalada: não só foi libertado como foi promovido a sargento de milícias. No final da obra, casou-se com Luisinha, que entretanto ficara viúva de José Manuel.
    Relativamente à sua representatividade, Leonardo simboliza o malandro e o seu esforço no sentido de conseguir sobreviver à margem das instituições sociais. Por outro lado, é uma versão carnavalizada do herói romântico: a sua origem foi cómica e tornou-se um malandro, tentando sobreviver de esquemas e à margem da família, da igreja, da sociedade, em suma.

As personagens de Memórias de um Sargento de Milícias

    As personagens de Memórias de um Sargento de Milícias são tipos sociais, visto que a maioria não possui profundidade psicológica (são planas) e representam um grupo ou uma classe social: o povo, a classe média, etc. Note-se que várias personagens não têm nome próprio, sendo designadas pela sua profissão ou condição social.
    Por outro lado, a ação da obra centra-se num grupo de homens livres pobres. Fora dessa classe, encontramos uma senhora rica, dois padres, um chefe de polícia, um oficial superior e um fidalgo, que servem de ponte a uma breve descrição do Paço. Ausentes estão os membros da corte, bem como os escravos, que constituiriam provavelmente a maior parte da população do Rio de Janeiro na época, e os negros, representados por figuras meramente decorativas como as baianas da procissão dos Ourives e as criadas de D. Maria.
    Ou seja, estamos na presença de uma obra restrita socialmente, pois não aborda as camadas altas da sociedade e praticamente omite a população cativa. Os grupos sociais representados corresponderão àquilo que hoje chamaríamos classe média baixa.

Contexto de Memórias de um Sargento de Milícias


    A ação decorre no período em que D. João VI e a corte portuguesa viviam no Brasil, entre 1808 e 1821, depois de aí se terem refugiado, fugidos de Portugal das Invasões Francesas, por isso o romance começa com a expressão “Era no tempo do rei”, que recorda o início dos contos tradicionais populares: “Era uma vez…”.
    Em 1806, a Inglaterra e a França estavam em conflito. Napoleão Bonaparte, imperador da França, decretou o Bloqueio Continental, que estabelecia que todos os países europeus deveriam encerrar os seus portos aos navios ingleses, com o objetivo de enfraquecer as exportações inglesas, dando origem a uma crise económica.
    Nessa época, Portugal e Inglaterra eram aliados e mantinham boas relações comerciais, por isso os portugueses não anuíram às exigências dos franceses. Assim, Napoleão decidiu invadir Portugal, pelo que, em 1808, a família real lusitana fugiu para o Brasil, passando a capital do Império a ser o Rio de Janeiro.
    Após a chegada da corte portuguesa ao Brasil, D. João VI põe em prática diversas medidas económicas, políticas e sociais que favoreceram o florescimento das atividades culturais no Brasil. Depois de 1822, D. João VI regressou a Portugal. Dois anos a seguir, em 1824, D. Pedro I outorga a Constituição brasileira.
    Em 1840, dá-se o Golpe da Maioridade de D. Pedro II, que faz com que o Brasil inicie novo período de crises económicas, políticas e sociais, acentuadas pela guerra com o Paraguai, a extinção do tráfico negreiro e a abolição da escravatura.
    Já na década de 1860, o Brasil começa a exportar diversos produtos, como café, açúcar e algodão, que tornam a balança comercial brasileira positiva. Foi neste contexto que, entre 1836 e 1881, floresceu, atingiu o apogeu e decaiu o Romantismo.
    A obra explora personagens características da sociedade do Rio de Janeiro do século XIX, sempre recorrendo ao humor e à ironia. Nessa época, a literatura brasileira cultivava uma narrativa que recuperava as raízes e tradições nacionais. Em simultâneo, surgiu um outro género, o chamado romance urbano, que tinha como pano de fundo a cidade e a vida social, familiar e amorosa de personagens que vivem os seus conflitos amorosos, os problemas de convivência, o materialismo, a corrupção, a procura de ascensão social, etc.
    Manuel António de Almeida não foi alheio ao envolvimento político. Na obra, descreve e compara a cultura brasileira referente ao período em que o Brasil foi a sede da monarquia portuguesa com a do tempo em que a obra foi escrita (1852 – 1853), fazendo uso da ironia para denunciar as mazelas sociais, procurando mostrar que aqueles que defendiam o “tempo do rei” estavam equivocados ao pensar que o governo déspota desenvolveria a sociedade brasileira com o passar dos anos. Pelo contrário, enquanto liberal, considerava que um governo tirano como o que se praticava no Brasil teria exatamente o efeito contrário, isto é, atrasaria o desenvolvimento social, criando pessoas ignorantes e rudes. Assim, o livro pode ser lido como uma alegoria da época da sua escrita, pretendendo o autor sugerir que o Brasil de 1850 não diferia muito do de 1808, daí a crítica que vai tecendo ao sistema de Justiça, à Educação, ao clero, à polícia, aos imigrantes portugueses, etc., etc.
    Na sua ótica, o desenvolvimento brasileiro teria de estar ligado ao investimento na educação dos seus cidadãos, algo completamente descuidado pelos sucessivos governos e abordado na obra. De facto, todas as personagens manifestam comportamentos tidos por inadequados, bem como uma clara falta de formação intelectual. Elas são espertas e resolvem os seus problemas com base em esquemas e na malandragem. O próprio Vidigal, o legítimo representante da lei no Rio, conhecido pela sua eficiência, usa métodos investigativos e punitivos violentos e ilegais.

terça-feira, 18 de julho de 2023

Resumo do capítulo XXV da 2.ª parte de Memórias de um Sargento de Milícias


    Este é um capítulo muito rápido, que nos dá a conhecer tudo o que se passou. Esta rapidez na narração dos acontecimentos é já um elemento do Realismo, pois dentro do Romantismo este capítulo abrangeria muitos mais.
    Leonardo e Luisinha retomam o namoro assim que termina o luto por José Manuel e D. Maria começa a fazer planos para casar novamente a sua sobrinha. Há um impedimento, porém: Leonardo não se pode casar, dado que é um sargento de linha e estes não podiam contrair matrimónio.
    Para tentar resolver o problema, D. Maria, a comadre e Luisinha procuram novamente Maria Regalada, para que esta interfira e convença o major a promover Leonardo a sargento de milícias, a fim de que possa desposar a jovem viúva. Para surpresa das três, encontram Maria Regalada a viver com Vidigal: tinha sido esta a promessa feita ao ouvido do major, para este libertasse Leonardo.
    O Major Vidigal promove-o a sargento de milícias e Leonardo casa com Luisinha, já na posse da herança que o padrinho lhe deixara e que o pai, enfim, lhe devolvera.
    O romance termina com a notícia das mortes de D. Maria e de Leonardo Pataca e com a alusão a vários acontecimentos tristes, que o narrador omite, para poupar o leitor.

Resumo do capítulo XXIV da 2.ª parte de Memórias de um Sargento de Milícias


    Os acontecimentos precipitam-se rapidamente, entre os quais se destaca a morte de José Manuel, vítima de uma apoplexia, causada por uma demanda que D. Maria lhe move. No velório, Luisinha chora, mas parece fazê-lo mais como cumprimento de um rito social do que como esposa. Afinal, José Manuel nunca fora um bom marido.

    Depois do enterro, Leonardo surge em casa de D. Maria, fardado de sargento e dá-se o encontro com Luisinha, agora uma mulher madura, e a faísca do amor surge de novo entre ambos. Como José Manuel não deixa herdeiros, a causa de D. Maria está ganha: a morte foi juiz.

Resumo do capítulo XXIII da 2.ª parte de Memórias de um Sargento de Milícias

    Este capítulo mostra uma imagem diferente de Vidigal, pois as três mulheres conseguem demovê-lo e a soltar Leonardo. Inicialmente, mostra-se inflexível, argumentando nada poder fazer, pois está apenas a cumprir a lei, contudo Maria Regalada segreda-lhe algo ao ouvido que o faz mudar de opinião e libertar Leonardo.

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