Português

domingo, 31 de dezembro de 2023

Na aula (XLIX): Cagadinhos de medo


 

"Encontra-se" ou "se encontra"?


    Neste caso, o pronome «se» deveria anteceder a forma verbal, dado que faz parte de uma oração subordinada substantiva completiva: "... revelou que a filha mais velha se encontra a estudar...".

Rita Pereira não é canibal


    A piadola brejeira é óbvia, portanto adiante.

    Rita Pereira e/ou o jornaleiro que escreveu este pedaço de prosa desconhecem a regência do verbo «ir», o qual, neste caso, pede a preposição «com»: ir com alguém fazer alguma coisa.

"Trás" ou "Traz"?

     Neste caso, seria "traz", do verbo "trazer"...

"Cujos os"... iletrados que escrevem bacoradas


quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Provas De Aferição (2018-2023) – Matemática, 8.º Ano

    Comecemos pela Matemática e pelos resultados de 2018 e os de 2023.

    Nos quatro domínios comparáveis, os resultados dos alunos que “conseguiram” ou “conseguiram, mas” foram em 2018 de 24,7%, (Números e Operações) 22,4%, (Geometria e Medida) 28,7% (Álgebra) e 17,3% (Org. Tratamento Dados). Em 2023 os resultados foram, respectivamente de 24,2% (- 0,5%), 9,5% (-12,9%), 23,9% (-4,8) e 20,3% (+2,7%).

    É fazer as contas, por muito simplista que seja a apresentação das coisas.

            . Resultados de 2018:

    

            Resultados de 2023:


FONTE: O Meu Quintal, blogue da autoria de Paulo Guinote

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Apreciação crítica: análise do quadro "Golconde", de René Magritte


 Plano de texto


Introdução (1.º par.) – Identificação da pintura, do autor e aspetos da obra.


Desenvolvimento: descrição, análise e avaliação:

2.º par.: do cenário;

3.º par.: das figuras humanas;

4.º par.: do tema do quadro.


Conclusão (5.º par.) – Ideia central retirada sobre a pintura.


Introdução

 
Título:
 
Um mundo diferente


    O quadro “Golconde”, pintado em 1953 por René Magritte, poeta surrealista de origem belga, nascido em 1898 e falecido em 1967, representa uma cena intrigante, que rompe com as leis do mundo que conhecemos e nos traz para uma realidade marcada pelo maravilhoso.


Desenvolvimento
Cenário

    A pintura retrata um cenário urbano e tem como pano de fundo um conjunto de prédios alinhados, que preenchem a parte inferior e lateral da tela. Foi engenhosa a ideia de representar, deliberadamente, edifícios monotamente semelhantes: retilíneos, germinados, formando um contínuo. Todas as paredes estão pintadas da mesma cor – castanho claro –, as janelas possuem todas a mesma forma retangular, os telhados exibem o mesmo tom de vermelho. Certo é que a conjugação das cores torna este conjunto arquitetónico harmonioso. Por outro lado, nesta selva de cimento, o céu, pintado com matizes atraentes de azul claro, é o elemento que confere vida à cena representada.


Desenvolvimento
Figuras

    Esta paisagem citadina revela-se claustrofóbica também porque o espaço deixado vazio pelos edifícios é preenchido por dezenas de figuras humanas masculinas que se encontram suspensas no ar, do topo à base da pintura, do primeiro ao mais remoto plano. Não há sinais de movimento, mas as personagens podem ser sempre a mesma figura: um homem de sobretudo preto e com um chapéu de coco também preto. Deste modo, cria-se a ilusão, bem conseguida, de as personagens se multiplicarem infinitamente.


Desenvolvimento
Tema

    Numa das interpretações possíveis, “Golconde” representa, de forma genial, a sobrepopulação das cidades. Efetivamente, podemos nele ver uma crítica bem construída ao facto de as cidades serem lugares claustrofóbicos (daí os prédios) povoados por um número excessivo de pessoas. Assim se sugere que este não é o espaço harmonioso para o ser humano viver. Mais ainda, o facto de todos os homens se assemelharem é um indício preparado com grande subtileza para denunciar que a cidade gera pessoas iguais, monotamente indistintas.


Conclusão

    Concluindo, este é um quadro fascinante que representa uma cena de um mundo diferente do nosso, mas que nos refletir sobre o nosso próprio mundo.

Viver no presente


Dave Whamond

Análise do poema "A abelha que, voando, freme sobre", de Ricardo Reis


    Nesta ode, Ricardo Reis socorre-se de um inseto, uma abelha, para demonstrar o contraste entre a mudança que ocorre na vida do ser humano e a imutabilidade da Natureza.
    Assim, neste poema de três quadras, o «eu» começa por descrever uma situação em que uma abelha, ao aproximar-se de uma flor e ao pousar nela, se confunde com esta aos olhos de quem não presta atenção, “À vista que não olha”. A ideia expressa na primeira quadra apenas se conclui no primeiro verso da segunda (transporte): a abelha não mudou desde a Antiguidade, representada por Cecrops, o lendário fundador e rei de Atenas (entre 1558 e 1508 a.C.), que ensinou aos gregos a leitura, a escrita, o casamento e o cerimonial do sepultamento.
    Pelo contrário, o “ser que se conhece”, isto é, o ser humano, que tem consciência de si mesmo e da sua individualidade, ao contrário do que sucede com os elementos da Natureza, envelhece de forma distinta dos outros membros da sua espécie. Dito de outra forma, o ser humano tem consciência de que envelhece, é diferente dos outros seres e vai morrer, ou seja, conhece-se.
    A «abelha» é a mesma que outra que não ela.”, isto é, é igual a qualquer outra abelha, de qualquer época, sem diferença ou individualidade, ao contrário dos seres humanos, que, marcados pelo tempo, pela alma, pela vida e pela morte (atente-se na enumeração e sucessão de apóstrofes), «compram» (metáfora) “Ter mais vida que a vida”, ou seja, procuram algo mais do que a vida naturalmente lhes oferece (sonhos, desejos, arte, cultura, etc.). Essa demanda é, todavia, mortal, já que implica sofrimento e dor, desde logo porque o Homem está condenado à morte, que tudo reduz a pó. Mas não é esse, afinal, o desejo do ser humano, isto é, ser diferentes dos demais animais e não se limita a viver? “Ter mais do que a vida”.
    Assim, neste poeta, o «eu» poético estabelece o contraste entre o ser humano, a única entidade que é consciente de si mesma, e os outros animais, representados aqui pela abelha, que são iguais e imutáveis. Além disso, o ser humano envelhece e morre de forma diferente dos outros animais, exatamente porque é um ser consciente, desde logo de si, e, por isso, sabe que envelhece e morre e esta consciência, este saber que, provocando-lhe dor, angústia, sofrimento. Enquanto ser irracional, a abelha de nada tem consciência, daí que não sofra, por exemplo, com a passagem do tempo, o envelhecimento e a morte. A abelha é a mesma desde a Antiguidade, o ser humano envelhece e diferencia-se dos outros elementos da sua espécie, é único e mortal.
    Em suma, para Ricardo Reis, a questão que diferencia o ser humano e os animais é a mortalidade do primeiro e a imortalidade dos segundos, neste caso não em sentido literal, mas figurado, ou seja, a abelha, o exemplo de que se socorreu o poeta, é tomada como um elemento de uma espécie [morre uma abelha, nasce(m) outra e assim sucessivamente]. Pelo contrário, o Homem é encarado, não em termos de espécie, mas como ser individual.

Análise do poema "As mãos da noite postas sobre a mesa : uma palma", de Manuel Gusmão


 
As mãos da noite postas sobre a mesa : uma palma


As mãos da noite postas sobre a mesa : uma palma
oblíqua à espera da surda cabeça da manhã:
– a outra escura como se abrem as folhas do chá.

 
Uma recordação e a sua névoa; um rosto indeciso
entre o sono e o sonho, entre o corpo do brilho
e a cintilação da noite :  as figuras quebradas.

 
A ondulação é mais pressentida que avistada. Pode
ser apenas a circulação do sangue no animal ereto,
a tremulante auréola dos fetos arbóreos. Ou

 
a luz que sobe da mesa onde as mãos esperam, ou
do chão sobre que dançamos a dança. Tomo
irrepetível a curva infinita de uma linha, onde


O teu corpo não cessa de ter nascido. Não cessa


    Este poema de Manuel Gusmão abre com uma imagem das mãos da noite – personificada – postas sobre a mesa, indiciando uma atmosfera de silêncio, espera, contemplação. O que simbolizará a peça de mobiliário? Um local de espera? De encontro? De espera? Uma das palmas é ou está oblíqua, isto é, inclinada desviada, sugerindo uma atitude de espera, enquanto a outra é escura, como as folhas de chá que se abrem na água quente. A comparação que aqui é feita indicia uma atitude de mistério, de profundidade e revelação, a partir da alusão à noite e à escuridão. Por outro lado, associa a mão a um movimento ou abertura subtil (“como se abrem as folhas do chá”), que remete para uma revelação gradual que se vai operando. Recuando ao verso anterior, a mão cuja palma é oblíqua está à espera da “surda cabeça da manhã”, ou seja, à espera do nascer do sol, que sucede sem se ouvir. O amanhecer surge silenciosamente.
    Na segunda estrofe, o sujeito poético alude à memória, que está envolta em «névoa», isto é, estamos perante uma memória que não é clara, que é vaga ou distante. O “rosto indeciso” representa a indefinição “entre o sono e o sonho”, entre o corpo do brilho e a cintilação da noite, o que pode constituir uma imagem poética que aponta para uma fronteira entre a vigilância e a sonolência.
    O terceiro terceto apresenta-nos uma ondulação apresentada como algo pressentido, não necessariamente visto, isto é, trata-se de um movimento suave e ritmado que é mais sentido do que visto, mais intuído do que percebido. O «eu» poético coloca em questão se essa ondulação pode ser apenas a circulação do sangue no animal ereto, isto é, no ser humano. Pode referir-se também à “tremulante auréola dos fetos arbóreos”, quer dizer, a luz que se reflete nas folhas dos samambaias, plantas antigas e resistentes que simbolizam a vida e a renovação. Pode ainda ser “a luz que sobe da mesa onde as mãos esperam”, ou seja, a claridade que se eleva da mesa onde as mãos descansam, a claridade que brota do local onde a noite está presente. A referência ao “chão sobre que dançamos a dança” (pleonasmo) aponta para uma ligação à terra e para o caráter terreno e ritualístico da vida, uma expressão artística – a dança –, uma celebração da vida. A dança desde sempre constitui uma forma ritualizada de celebração com múltiplos significados, desde ritos de agradecimento ou de celebração dos deuses até formas de sedução do outro. O recurso à conjunção coordenativa disjuntiva «ou» indicia a multiplicidade de interpretações possíveis.
    Os dois últimos versos oferecem diferentes possibilidades de interpretação. A forma verbal «tomo» remete para uma escolha: ele toma irrepetível a curva infinita de uma linha, na qual o “teu corpo não cessa de ter nascido”, isto é, o corpo do «tu» (a pessoa amada? a vida?) está em constante renovação e transformação.

O tema do sacrifício do filho / A intertextualidade no conto "A Aia"


    O tema do sacrifício do filho surge em textos seminais do Oriente, como, por exemplo, a Bíblia, através de Abraão, e a mitologia grega, através de Ifigénia, personagem da Ilíada.
    Na Bíblia, no Génesis, Abraão oferece o seu filho primogénito, Isaac, em sacrifício para provar a sua fidelidade à divindade. Ora, o ritual é interrompido pelo próprio Deus, que considera que o gesto de Abraão constitui já prova de amor e adoração.
    Há uma relação entre o gesto de Abraão e a atitude da aia: a lealdade. Tal como sucede com a figura bíblica, também no conto de Eça se confrontam a fidelidade a um Senhor e o amor ao filho. No entanto, na casa da ama de leite, a lealdade é levada ao extremo, tanto que o amor de mãe se torna secundário perante a submissão à rainha e aos interesses do reino. Ao contrário do que sucede na narrativa bíblica, o sacrifício do filho da aia não é interrompido por nenhum Deus piedoso; o seu filho não é substituído pelo cordeiro, antes se torna o cordeiro que substitui o príncipe.
    O episódio da Ilíada tem contornos semelhantes: o sacrifício de Ifigénia. Agamémnon provocou a ira de...


    Continuação da análise: aqui.

Relação do conto "A Aia" com os contos de fada


    A expressão “Era uma vez” remete-nos para o mundo atemporal da fantasia, bem característico dos contos de fadas.

    Por outro lado, a lealdade da aia à rainha e ao pequeno príncipe, traduzida em última análise no facto de tirar a vida ao próprio filho para salvar a do futuro rei, sugere uma aceitação e uma felicidade em ser servo. Essa servidão atinge o auge no momento em que a serva sacrifica o próprio filho, tornando o amor de mãe em secundário para que a lealdade à rainha e ao reino seja superior e prevaleça.

    Deste modo, a felicidade parece estar reservada aos nobres: quem vai viver e ser feliz é o príncipe e não o bebé escravo. Por outro lado, o bem público parece prevalecer sobre...


    A análise continua aqui → a-aia-e-os-contos-de-fadas.
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