Português

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Frações

     Uma fração é um número que representa uma ou mais partes iguais da unidade. Representa-se com o auxílio de um traço horizontal.


     O número que se escreve por cima do traço chama-se numerador e representa o número de partes de unidades representadas.

     O número que se escreve por baixo do traço chama-se denominador e indica o número de partes iguais em que a unidade foi dividida.


Situação problemática

                O João tinha um chocolate dividido em seis partes iguais, mas já comeu duas partes.
                Que parte do chocolate comeu o João?


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Memória

. Etimologia

     Na antiguidade grega, Mnemosine (Memória) era uma divindade que dava o poder de recuar no tempo e recordá-lo para transmiti-lo à sociedade – deusa da memória, no fundo.


. Definição

     As memórias são escritos em que um autor recorda e narra factos ligados à sua pessoa ou à sua época.


. Tipos

     - memórias de viagem;
     - memórias de infância;
     - ...


. Características

     - Pertence ao género literário narrativo.
     - É uma forma de escrita sobre si mesmo.
     - Constitui:
          o relato de factos/vivências pessoais e familiares;
          . o testemunho dum tempo e dum meio;
          . o relato de acontecimentos históricos e políticos.
     - A narrativa de memórias tem um fundo histórico-cultural, sujeito à filtragem subjetiva de quem a produz.
     - O papel fundamental neste tipo de texto é desempenhado pela memória. Os acontecimentos são passados pelo crivo da lembrança, que por vezes precisa de auxiliares: diários íntimos, cartas, jornais, etc.
     - Os factos são relatados num desfasamento temporal: o presente do discurso (da escrita) e o passado da história.
     - O discurso está centrado na primeira pessoa, com os verbos preferencialmente no pretérito imperfeito (para presentificar o passado) e no pretérito perfeito.
     - As memórias possuem enorme valor documental, pois constituem o testemunho de um tempo, um espaço e um meio. De facto, o narrador descreve todos os acontecimentos e condicionalismos que determinaram a sua infância, sejam de ordem familiar, social, cultural ou política.
     - Nas memórias, acumulam-se nomes de personagens ilustres que foram atores da história, ao mesmo tempo que o memorialista é actor da sua história.
     - A memória constitui uma recriação seletiva do passado: sendo seletiva, guarda apenas os factos e ocorrências significativos, aqueles que, por motivos diversos, se assumam como mais marcantes.
     - Neste tipo de texto, como a designação deixa antever, desempenha papel central a memória, pois é ela, enquanto faculdade que permite conservar recordações, que propicia a lembrança dos acontecimentos passados relatados.
     - A exterioridade possui um peso enorme: ainda que alusivo à vida do sujeito da enunciação, o texto centra-se sobretudo na sua relação externa com o meio e as outras pessoas, não registando apenas, como sucede com o diário, a posição do «eu» face ao mundo.

Protótipos textuais

                Embora cada texto seja uma unidade distinta, não deixa de ser agrupável num tipo ou género, a partir das suas marcas verbais, semânticas, formais e pragmáticas.
                Os tipos textuais são modelos mentais, abstratos, que o leitor, de acordo com os conhecimentos adquiridos na audição e na leitura, guarda na sua memória e lhe permitem reconhecer, produzir e classificar textos com marcas específicas. Cada tipo de texto define-se, pois, por um determinado conjunto de características, umas constantes e outras variáveis.
                Os textos são constituídos por sequências, estruturalmente organizadas entre si e em relação ao todo que constituem, configurando assim a organização do texto. Essas sequências poderão atualizar diferentes tipos textuais, podendo, num mesmo texto, ocorrer sequências de diferentes tipos. Por exemplo, é frequente que, num texto narrativo, ocorram sequências descritivas ou dialogais, além das narrativas.
                A configuração de um texto representa, assim, a sua estrutura global, permitindo classifica-los em diferentes tipos.


1. Texto narrativo

                O texto narrativo tem como principal objetivo relatar eventos, factos ou acontecimentos.
                O texto narrativo possui cinco características específicas: uma ação ou ações, localizada(s) no tempo e no espaço, protagonizada por uma pessoa ou personagem, que confere unidade à ação ou atravessa toda a narrativa, e contada por um narrador, que pode ser, ou não, uma das personagens.
                Por outro lado, os eventos representados encadeiam-se de forma lógica e orientam-se para um desenlace, desenvolvendo-se ao longo de três momentos, sobretudo no de texto de índole literária:
. Situação inicial: situação de estabilidade, em que se apresentam as personagens, situadas no tempo e no espaço. Habitualmente, são frequentes as sequências descritivas neste momento inicial.
. Complicação / problema: é o conjunto de eventos que geram um conflito, desequilibrando a situação inicial, e que constituem o núcleo da narração. Frequentemente, há textos narrativos que alternam situações de equilíbrio e desequilíbrio, correspondendo à ocorrência de vários episódios ou capítulos de uma obra.
. Resolução: é a solução do conflito e o regresso a uma situação de equilíbrio.
                São exemplos do protótipo textual narrativo textos literários, como o romance, a novela, o conto, a fábula, a lenda, o mito, a parábola, a banda desenhada, a (auto) biografia, e não literário, como a notícia, a reportagem, a crónica, o relatório, o relato histórico ou de experiências pessoais, o relato oral, etc.
                As principais marcas linguísticas desta tipologia textual são as seguintes:
. o uso predominante de verbos de ação;
. o predomínio do pretérito perfeito do indicativo ou do presente histórico;
. o uso do pretérito imperfeito para iniciar a narrativa;
. a abundância de organizadores e conectores temporais e espaciais (“quando”, “depois”, “um dia”, etc.);
. o recurso a advérbios de valor locativo e temporal;
. o uso de marcadores discursivos explicativos e conclusivos (“assim”, “porque”, “por esse motivo”, etc.).


2. Texto descritivo

                O texto descritivo constrói-se em torno de um dado assunto ou objeto, ao qual se atribuem predicados ou características diversos. Por outro lado, esse assunto ou objeto pode ser descrito de forma genérica / global, ou desdobrado e descrito nas suas partes constituintes.
                Podem ser objeto de descrição pessoas, personagens (os seus traços físicos e psicológicos), espaços (físicos, psicológicos ou sociais), fenómenos atmosféricos e todo o tipo de objetos. As sequências textuais descritivas surgem frequentemente articuladas com sequências textuais de outros tipos. Por exemplo, é frequente surgirem, em textos narrativos, sequências descritivas que permitem caracterizar uma personagem ou um espaço social, por forma a motivar o desenrolar da ação.
                O texto descritivo pode concretizar-se de diferentes formas:
. num texto corrido (uma enciclopédia, por exemplo);
. numa introdução seguida de uma listagem de itens caracterizadores de algo;
. num texto narrativo ou num texto científico.

                As principais marcas linguísticas deste protótipo textual são as seguintes:
. verbos de estado para a descrição estática (“ser”, “estar”, “parecer”, etc.) e verbos de ação para a descrição dinâmica;
. predomínio do pretérito imperfeito e do presente do indicativo;
. adjetivos e expressões caracterizadoras;
. conectores e marcadores discursivos (aditivos, enumerativos, etc.);
. advérbios com valor locativo;
. vocabulário expressivo e figuras de estilo.


3. Texto argumentativo

                O texto argumentativo tem como objetivo central justificar e / refutar ideias e opiniões. A sua intenção comunicativa é convencer, persuadir o(s) interlocutor(es), levando-o(s) a aceitar determinado ponto de vista, ideia ou produto, etc., obtendo assim a sua aprovação, ou refutar uma opinião alheia, estabelecendo relações entre factos, hipóteses, provas e refutações. Deste modo, pode afirmar-se que um texto argumentativo se caracteriza, por um lado, pela expressão de uma opinião que, sendo controversa, suscita uma defesa e abre espaço de contestação e, por outro lado, pela apresentação de argumentos a favor ou contra uma determinada tese.
                O texto argumentativo apresenta, geralmente, a seguinte estrutura:
. Tese: apresentação da opinião que se se pretende defender.
. Premissa: pode(m) ou não estar expressa(s), representando algo que é inequivocamente aceite.
. Argumentos: conjunto de provas ou razões que sustentam a tese, que devem ser fidedignas, autênticas e relevantes. Podem funcionar como argumentos exemplos, ilustrações, narrações, descrições, estatísticas, comparações, referências históricas, etc. Normalmente, os argumentos são apresentados de forma gradativa e crescente, partindo-se dos mais frágeis para os mais fortes e irrefutáveis.
. Conclusão: é uma demonstração clara da tese defendida.
                Como exemplo do protótipo textual argumentativo, podemos referir os discursos políticos, a publicidade, os discursos da imprensa escrita e falada, os debates, a propaganda política, situações informais de interação sobre aspetos práticos e quotidianos.
                As principais marcas linguísticas são as seguintes:
. verbos de opinião e crença (“achar”, “julgar”, “crer”, “dever”, “querer”, “gostar”, “ser preciso”, “concordar”, etc.);
. verbos declarativos (“afirmar”, “considerar”, “declarar”, etc.);
. verbos que indicam uma relação entre a causa e o efeito (“causar”, “motivar”, “originar”, “provocar”, “ocasionar”, etc.);
. uso frequente do verbo “ser” ou equivalente na elaboração da tese;
. predomínio do presente, pretérito perfeito e futuro do indicativo com valor universal;
. frases declarativas e interrogativas;
. marcadores e conectores discursivos com valores diversos: aditivo (“mais”, “além disso”), exemplificativo / confirmativo (“por exemplo”, “com efeito”), contrastivo (“mas”, “no entanto”, embora”), explicativo e conclusivo (“porque”, “pois”, “com efeito”, “por conseguinte”).


4. Texto expositivo

                O texto expositivo tem como objetivo a análise ou a síntese de ideias, conceitos e teorias; expor, explicar e informar sobre algo, apresentando problemas e propostas de resolução dos mesmos, acompanhados, ou não, de justificação.
                Constituem exemplos de atualização deste tipo textual os manuais da área das ciências naturais (onde abundam textos em que se passa constantemente da exposição – sucessão de informações com o objetivo de dar a conhecer algo – à explicação – com o intuito de fazer compreender o porquê do problema e a sua resolução).
                Algumas das marcas linguísticas que caracterizam esta tipologia textual são estas:
. verbos com sentido expositivo (“ser”, “ter”, “consistir”, etc.) no presente, pretérito perfeito e futuro do indicativo, normalmente com valor universal e intemporal;
. adjetivos e advérbios para descrever, precisar e situar;
. uso frequente de analogias e comparações;
. enunciação objetiva na terceira pessoa, omitindo as marcas do sujeito enunciador e estruturas que indicam uma avaliação pessoal (“na minha opinião”, “julgo”, “creio”, “parece-me que”, etc.), recorrendo antes a estruturas impessoais (“deve-se”) e passivas;
. léxico especializado;
. conectores e marcadores de causa e consequência, confirmativos e exemplificativos, explicativos e conclusivos.


5. Texto conversacional ou dialogal

                O texto conversacional é atualizado em textos em que intervêm, pelo menos, dois interlocutores que tomam a palavra alternadamente e que produzem um número variável de trocas verbais, cooperando na produção do texto.
                Este protótipo textual manifesta-se em qualquer interação verbal, como, por exemplo, numa conversa telefónica, nas interações quotidianas orais, no comentário de acontecimentos, em debates e nas entrevistas.
                As marcas linguísticas que o enformam são as que, seguidamente, se enunciam:
. características do discurso oral (repetições, quebras sintáticas, etc.);
. segmentos de reformulação;
. marcadores conversacionais (“olha”, “ouve”, etc.);
. formas de tratamento;
. formas verbais do modo indicativo e do imperativo;
. uso da segunda pessoa de verbos, pronomes e determinantes;
. modos de localização espacial que indicam proximidade ou afastamento relativamente aos interlocutores.


6. Texto instrucional ou diretivo

                Os textos que atualizam o tipo textual instrucional ou diretivo têm subjacente o objetivo de controlar o comportamento do(s) seu(s) destinatário(s), de o(s) ensinar a praticar determinada ação.
                São textos que incitam à ação, estabelecem regras de comportamento ou que fornecem instruções sobre as etapas e os procedimentos que deverão ser seguidos de modo a alcançar um determinado objetivo.
                Este protótipo textual é atualizado numa grande diversidade de textos: avisos / enunciados simples como «Não pisar a relva» ou «Proibido fumar», receitas de culinária, instruções de montagem, regras de utilização de um programa / máquina, instruções de montagem de um aparelho, alguns provérbios, manuais de instruções, a posologia dos medicamentos, “slogans”, etc.
                As principais marcas linguísticas são as seguintes:
. verbos, em geral, de movimento que incitam à ação;
. formas verbais no imperativo, conjuntivo (“insira-se”), infinitivo (“Não fumar”) e futuro do indicativo;
. frases imperativas;
. marcadores discursivos predominantemente temporais.


7. Texto preditivo

                O texto preditivo tem como função informar sobre o futuro, antecipando ou prevendo acontecimentos / eventos que irão ou poderão acontecer.
                A palavra «preditivo» é um adjetivo formado a partir da forma verbal «predizer», que significa «dizer antes», «anunciar com antecedência», «prognosticar», «vaticinar» ou «profetizar». Assim, o discurso preditivo afirma algo antecipadamente, antes de os factos serem observados ou comprovados.
                O protótipo textual preditivo manifesta-se, por exemplo, em boletins meteorológicos, profecias, horóscopos, alguns provérbios, etc.
                Algumas das marcas linguísticas que o caracterizam são as seguintes:
. expressões com valor temporal de futuro;
. predomínio do futuro do indicativo ou complexos verbais com utilização de auxiliar temporal.

Bibliografia:
. Domínios, de Zacarias Nascimento et alii;
. Gramática da Língua Portuguesa, de Clara Amorim.

domingo, 5 de outubro de 2014

'Vozes dos animais'

Palram pega e papagaio
E cacareja a galinha
Os ternos pombos arrulham
Geme a rola inocentinha

Muge a vaca, berra o touro
Grasna a rã, ruge o leão,
O gato mia, uiva o lobo
Também uiva e ladra o cão.

Relincha o nobre cavalo,
Os elefantes dão urros,
A tímida ovellha bala,
Zurrar é próprio dos burros.

Regouga a sagaz raposa,
Brutinho muito matreiro;
Nos ramos cantam as aves,
Mas pia o mocho agoureiro.

Sabem as aves ligeiras
O canto seu variar:
Fazem gorjeios às vezes,
Às vezes põem-se a chilrar.

O pardal, daninho aos campos,
Não aprendeu a cantar;
Como os ratos e as doninhas
Apenas sabe chiar.

O negro corvo crocita,
Zune o mosquito enfadonho,
A serpente no deserto
Solta assobio medonho.

Chia a lebre, grasna o pato,
Ouvem-se os porcos grunhir,
Libando o suco das flores,
Costuma a abelha zumbir.

Bramam os tigres, as onças,
Pia, pia o pintainho,
Cucurica e canta o galo,
Late e gane o cachorrinho.

A vitelinha dá berros
O cordeirinho balidos,
O macaquinho dá guinchos,
A criancinha vagidos.

A fala foi dada ao homem,
Rei dos outros animais:
Nos versos lidos acima
Se encontra em pobre rima

As vozes dos principais.

                                         Pedro Dinis

Onomatopeias: vozes de animais

abelha - azoinar, zoar, zonzonear, zumbar, zumbir, zunir, zunzunar
abutre, açor - crocitar, grasnar
águia - crocitar, grasnar, gritar, guinchar
andorinha - chilrar, chilrear, gazear, gorjear, grinfar, piar, pipilar, trinfar, trissar, zinzilular
anho - balar, balir
arara - chalrar, grasnar, gritar, palrar, taramelar
arganaz - chiar
asno - vd. burro
avestruz - grasnar, roncar, rugir
baleia - bufar
beija-flor - arrulhar, ruflar, trissar
besouro - zoar, zumbir, zunir
bezerro - berrar, mugir
bisonte - berrar, bramar, mugir
bode - balar, balir, berrar, bodejar, gaguejar
boi - arruar, berrar, mugir, urrar
búfalo - berrar, bramar, mugir
burro - zurrar, azurrar, ornear, ornejar, rebusnar, relinchar, zornar
cabra, cabrito - balar, balir, berregar, barregar, berrar, bezoar
calhandra - grinfar
camelo - blaterar
canário - cantar, dobrar, modular, trilar, trinar
cão - acuar, balsar, cainhar, cuincar, ganir, ganizar, ladrar, latir, maticar, rosnar, uivar, ulular
carneiro - balar, balir, berrar, berregar
cavalo - nitrir, relinchar, rinchar
cegonha - gloterar, grasnar
chacal - gritar, ladrar, latir, uivar
cigarra - cantar, chiar, chichiar, ciciar, cigarrear, estridular, estrilar, fretenir, rechiar, rechinar, retinir, zangarrear, zinir, ziziar, zunir
cisne - arensar
cobra - assobiar, chocalhar, guizalhar, sibilar, silvar
codorniz - cantar
coelho - chiar, guinchar
cordeiro - berregar, balar, balir
coruja - chirrear, crocitar, piar, rir
corvo - corvejar, crocitar, grasnar
cotovia - cantar, gorjear
crocodilo - bramir, chorar, soprar
cuco - cucular, cucar
doninha - chiar, guinchar
égua - vd. cavalo
elefante - barrir, bramir
estorninho - pissitar
falcão - crocitar, piar, pipiar
gafanhoto - chichiar, ziziar
gaio - gralhar, grasnar
gaivota - grasnar, pipilar
galinha - cacarejar, carcarejar, carcarear
galo - cantar, clarinar, cocoriar, cocoricar, cucuricar, cucuritar
gamo - bramir
ganso - grasnar, gritar
garça - gazear
gato - miar, resbunar, resmonear, ronronar, roncar
gavião - guinchar
gralha - gralhar, gralhear, grasnar
grilo - estridular, estrilar, guizalhar, trilar, tritrilar, tritrinar
grou - grasnar, grugrulhar, gruir, grulhar
hiena - gargalhar, gargalhear, gargalhadear
hipopótamo - grunhir
jaguar - vd. onça
javali - arruar, cuinchar, cuinhar, grunhir, roncar, rosnar
jumento - azurrar, ornear, ornejar, rebusnar, zornar, zurrar
lagarto - gecar
leão - bramar, bramir, fremir, rugir, urrar
lebre - berrar, chiar
leitão - bacorejar, cuinchar, cuinhar
leopardo - bramar, bramir, fremir, rugir, urrar
lobo - ladrar, uivar, ulular
lontra - chiar, guinchar
macaco - assobiar, guinchar, cuinchar
melro - assobiar, cantar
milhafre - crocitar
mocho - chirrear, corujar, crocitar, piar, rir
morcego - farfalhar, trissar
mosca - zinir, zoar, zumbir, zunir, zumbar, ziziar, zonzonear, sussurrar, azoinar
mosquito - zumbir
onça - esturrar, miar, rugir, urrar
ovelha - balar, balir, berrar, berregar
pantera - miar, rosnar, rugir
papagaio - charlar, charlear, falar, grazinar, palrar, palrear, taramelar, tartarear
pardal - chiar, chilrear, piar, pipilar
pato - grasnar, grasnir, grassitar
pavão - pupilar
pega - palrar
peixe - roncar
pelicano - grasnar, grassitar
perdigão, perdiz - cacarejar, piar, pipiar
periquito - chalrar, chalrear, palrar
peru - gorgolejar, grugrulejar, grugrulhar, grulhar
pica-pau - estridular, restridular
pintarroxo - cantar, gorjear, trinar
pintassilgo - cantar, dobrar, modular, trilar
pinto - piar, pipiar, pipilar
pombo - arrulhar, gemer, rulhar, suspirar, turturilhar, turturinar
porco - grunhir, guinchar, roncar
poupa - arrulhar, gemer, rulhar, turturinar
rã - coaxar, engrolar, gasnir, grasnar, grasnir, malhar, rouquejar
raposa - regougar, roncar, uivar
rato - chiar, guinchar
rinoceronte - bramir, grunhir
rola - gemer
rouxinol - cantar, gorjear, trilar, trinar
sapo - coaxar, gargarejar, grasnar, grasnir, roncar, rouquejar
serpente - vd. cobra
tigre - bramar, bramir, miar, rugir, urrar
tordo - trucilar
toupeira - chiar
touro - berrar, bufar, mugir, urrar
tucano - chalrar
urso - bramar, bramir, rugir
vaca - berrar, mugir
veado - berrar, bramar, rebramar
vitela - berrar, mugir
vespa - vd. abelha
zebra - relinchar, zurrar

'Média' ou 'mídia'?

     «Com o furioso domínio da língua inglesa que se vem sentindo, já não há latinidade que resista! Há muita gente por aí a dizer mídia e multimídia! E não se lembra ou não sabe, essa gente, que a palavra é um latinismo. Como curricula, por exemplo. E que, para a Inglaterra ou para a América, ou para qualquer outro país, foi o latim que a forneceu e que, nessa língua ou nas suas derivadas novilatinas, se deve pronunciar média. Deixemos os Ingleses e os Americanos pronunciar o latim como eles quiserem... Quem poderá obstar?...
     Mas o desaforo (ou snobismo?) vai mais longe... Um locutor da rádio, referindo-se aos media, a certa altura dizia assim: "Utilizar um media para...". E aí está outra incorreção: media é plural. "Os media" é correto; "o media" não. Se quero usar o latinismo no singular, terei de dizer: o medium. O mesmo se diga de curricula: os curricula, o curriculum.
     Não é obrigatório usar o latinismo quando no vernáculo há palavras apropriadas. Mas, usando-o, use-se corretamente...: os media, o medium; os curricula, o curriculum.
     Posto isto, continuar, em Portugal, a dizer mídia por média, só pode ser ignorância ou snobismo.»

(c) Tento na Língua, António Marques

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Na aula (XV): problemas médicos

     Contexto: aula de 7.º ano, alunos a realizarem um exercício desobedecendo alegremente às instruções do professor.

     Situação «problemática»: comentário do professor - «Precisam de ir urgentemente ao otorrinolaringologista».

     Após uns instantes de reflexão: «Sabem o que é um otorrino...?»

     Resposta lá do fundo: «Claro: é um médico dos olhos.»

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Registos formal e informal - Formas de tratamento

1. Registos formal e informal

                O contexto situacional em que se encontram dois interlocutores condiciona as escolhas linguísticas que ambos fazem. Por outro lado, o tipo de relação social que mantêm (marcado por fatores como a idade, o sexo, o grau de instrução, etc.) condiciona igualmente o grau de formalidade da sua interlocução, que pode oscilar entre um registo mais informal ("Dá-me esse livro!") e um registo cuidado ou mais formal ("Não se importa de me dar esse livro?").


2. Formas de tratamento

                Cada falante dispõe de um conjunto de formas de tratamento para comunicar e que refletem as relações existentes entre si: de familiaridade, de amizade, de submissão, etc.
                A opção por uma determinada forma de tratamento em detrimento de outra é determinada por alguns critérios:
. a relação de familiaridade / proximidade;
. a idade e o estatuto social dos falantes (em termos de hierarquia social e profissional;
. o sexo;
. o grau de instrução;
.


                As principais formas de tratamento são as seguintes:

. Familiar (é usado na intimidade, entre iguais e de mais velhos para mais novos): tu, querido, amigo;

. Nome próprio: o João, a Maria;

. Você: este termo é considerado, pelo português europeu, uma forma de tratamento menos respeitosa, de nível mais popular. Situa-se entre o tu e o senhor. Por outro lado, em determinados ambientes (citadinos, classes mais altas), o uso de você é considerado elegante, sendo usado entre iguais, ou como forma de tratamento íntimo. Porém, nos estratos socioculturais mais populares de determinadas regiões, o pronome você ainda é usado de inferior para superior como sinal de respeito, de deferência. Pelo contrário, nos estratos mais cultos, este tratamento é entendido como muito deselegante e a sua utilização ofensiva. Já no que diz respeito ao português do Brasil, o você é de utilização corrente e familiar;

. Sujeito nulo subentendido: quando nos dirigimos a uma pessoa com quem não temos suficiente familiaridade para a podermos tratar por tu e como entendemos o uso de você como deselegante e ofensivo, optamos por recorrer ao sujeito nulo subentendido ou, então, à explicitação do nome do nosso interlocutor ou do grau de parentesco precedido de artigo definido:
. Está bom?
. A mãe foi à missa?
. A avó vai sair com o avô?
. A Joana viu o seu colega no cinema?

. De cortesia: o senhor / a senhora: estas formas de tratamento formal mostram maior respeito ou distância social no tratamento;

. Académico: senhor professor, senhor doutor, Professor Doutor, etc.;

. Honorífico: Senhor Primeiro-Ministro, Senhor Presidente da República, Vossa Excelência, Vossa Senhoria;

. Eclesiástico: Vossa Santidade (Papa), Vossa Eminência (cardeais), Monsenhor, Vossa Reverência, etc.;

. Nobiliárquico: Vossa Alteza, Vossa Majestade, Sua Majestade, etc.

                Estas formas de tratamento podem surgir conjugadas:
. A senhora dona Cláudia…
. Senhor engenheiro…



Fontes:

     » Dicionário Terminológico;
     » AMORIM, Clara e SOUSA, Catarina, Gramática da Língua Portuguesa, Areal Editores

Análise de "As palavras", Eugénio de Andrade

As palavras

São como cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.

Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

                “As palavras” é uma composição poética da autoria de Eugénio de Andrade, pseudónimo do poeta José Fontainhas, nascido a 19 de janeiro de 1923 no Fundão e falecido em 13 de junho de 2005, no Porto, incluído na obra O Coração do Dia.
                Formalmente, o poema é constituído por quatro estrofes, duas sextilhas e duas quadras, num total de 20 versos, maioritariamente brancos ou soltos, à exceção do 1 e do 3, que apresentam rima cruzada, e aborda o tema da reflexão sobre o valor polissémico das palavras.
                Relativamente à sua estrutura interna, o texto divide-se em duas partes: a primeira, constituída pelas primeiras três estrofes e a segunda pela última. Na primeira parte, o sujeito poético descreve as palavras, enquanto na última faz duas interrogações retóricas, chamando deste modo a atenção do leitor para o seu papel de descodificador delas.
                Logo a abrir, as palavras são comparadas a um cristal, revelando-se, assim, desde logo o seu sentido polissémico, devido ao facto de os cristais possuírem várias faces, tal como a palavra possui vários sentidos. Além disso, como os cristais, as palavras podem adquirir vários significados (polissemia), podem ser claras, transparentes, belas, brilhantes, isto é, são “multifacetadas”. De seguida, são identificadas com um punhal, metáfora que remete para a agressividade, dor, morte e sofrimento que podem carregar; com um incêndio, pois podem queimar, destruir, aludindo pois à sua capacidade de destruição e também de regeneração; e finalmente com o orvalho “apenas”, metáfora que nos conduz à suavidade das palavras, capazes de despertar a calma, a brandura, o amor e a esperança.
                A segunda estrofe ensina-nos que as palavras são essenciais na comunicação entre os seres humanos e intemporais, pois têm carregado, através dos tempos, as histórias e os segredos dos homens. Com o passar do tempo vão recebendo novos significados, evoluindo, carregando os segredos da história dos homens e acompanhando os seres humanos como instrumento indispensável de comunicação; trazem consigo um saber muito antigo (“Secretas vêm, cheias de memória”). Em simultâneo, porém, também causam insegurança e agitam as pessoas, fazendo-as estremecer como os barcos, que agitam as águas, e os beijos, que também fazem estremecer. Com efeito, os versos 8 a 10 (“Inseguras navegam / barcos ou beijos / as águas estremecem”) revelam insegurança quer das palavras, que agitam as pessoas, quer dos barcos, que agitam as águas. Ao amor representado pelos beijos, ninguém lhes fica indiferente, assim como às palavras.
                Na terceira estrofe, o sujeito poético caracteriza as palavras como “desamparadas” (porque estão ao alcance de todos), “inocentes” (porque não representam qualquer perigo, mas podem ser usadas e abusadas) e “leves” (quando não têm importância no texto). Estamos na presença de características que conferem alguma fragilidade às palavras, mas não nos devemos esquecer que as palavras podem ser usadas de várias formas, com vários tons. Uma palavra “leve” e “inocente” também pode ofender, caluniar... Por sua vez, a metáfora e a antítese “Tecidas são de luz / e são a noite” realçam as contradições que as palavras contêm (positividade versus negatividade) e o seu sentido conotativo: há as que surgem cobertas de luz, são claras, transparentes, mas estas mesmas podem também ser a noite, podem ser negras, escuras, sombrias. Por seu turno, nos versos “E mesmo pálidas / verdes paraísos lembram ainda”, o sujeito lírico sugere que as palavras podem não ser intensas nem coloridas, mas ainda assim podem ser aprazíveis e alegres, lembrando o paraíso.
                O poema termina com duas interrogações retóricas, através das quais o eu poético chama a atenção do leitor, dizendo-lhe que lhe cabe o papel de intérprete das palavras, do seu significado, de acordo com a sua experiência de vida, com o seu modo de sentir. É o leitor que vai abrir as conchas puras, com as palavras lá dentro cheias de mistério, atribuindo-lhes um sentido. As interrogações retóricas “Quem as escuta? Quem/as recolhe, assim, /cruéis, desfeitas, /nas suas conchas puras?” apelam à releitura das palavras.

'Personagem'

     Deve dizer-se a personagem ou o personagem?
     A palavra personagem é um galicismo (ou francesismo). Ora, as palavras francesas terminadas em -age são normalmente do género masculino: le personnage.
     Ao contrário, em português, os vocábulos terminados em -agem pertencem normalmente ao género feminino, daí que digamos a personagem. No entanto, persiste quem atribua à palavra o género masculino e diga o personagem. Este facto justifica-se pela sua introdução em Portugal através do galicismo, daí a tendência par manter o mesmo género do termo francês. O fenómeno linguístico que aqui ocorre é conhecido por «palavras de género oscilante».
     Perante os dois usos, o mais adequado será o que corresponde ao género feminino: a personagem. De acordo com António Marques (Tento na Língua), por três razões:
  • esse uso é mais conforme ao caráter da língua portuguesa;
  • a maior parte dos falantes e dos escritores assim o entende na prática;
  • a maioria dos dicionários registam a palavra como feminina.

A palavra 'moral'

     A palavra moral provém do adjetivo latino moralis [ac. morale(m)] e significa, tendo em conta a etimologia, tudo o que se relaciona com os costumes (latim: mos, moris).

     Por via da derivação imprópria, o adjetivo, nas línguas novilatinas, substantivou-se, podendo usar-se ora como adjetivo ora como substantivo.

     Como adjetivo, sujeita-se ao género do nome a que está ligado e significa o comportamento moral, a atitude moral.

     Como nome, pode assumir os dois géneros, mas o seu significado varia consoante o género. Assim, pode remeter para os valores que regem a conduta humana, os princípios morais (a honestidade ou a sua ausência, a virtude ou a sua ausência, etc.).
          . A moral dos alunos é assinalável. (isto é, são boas pessoas, têm
            comportamentos e ações dignas e positivas).

Por outro lado, pode remeter para o estado de espírito da pessoa:
          . O moral dos sportinguistas está em baixo. (ou seja, os adeptos
            do Sporting estão desanimados, tristes...).

     A palavra, usada na expressão "moral da história", significa a lição que é possível aprender com uma determinada narrativa.

     Por último, convém não confundir «moral» com «mural», termo que remete para algo afixado ou pintado numa parede, num muro:
          . Os alunos coloriram o mural da biblioteca com os seus textos.



     Em síntese:


domingo, 28 de setembro de 2014

Apesar de

     Qual é a frase correta?
          a) Apesar de o Benfica jogar mal, venceu o Boavista.
          b) Apesar do Benfica jogar mal, venceu o Boavista.

     A frase correta é a primeira.

     A regra estabelece que, quando a seguir à preposição "de" se encontra uma forma verbal no infinitivo, a preposição não se contrai com o artigo ou pronome:
          . Apesar de o Benfica jogar mal, venceu o Boavista.
          . Apesar de ela ser bonita, o marido traiu-a.

     Porém, se na frase não houver um verbo no infinitivo, a preposição já se pode contrair:
          . Apesar da tua vitória, estou triste contigo.

     As regras atrás enunciadas aplicam-se também às preposições "em" e "por".

Ténis de Mesa: Portugal é campeão da Europa!

Fonte: Record

     Portugal sagrou-se campeão da Europa em ténis de mesa, ao derrotar a Alemanha, hexacampeã europeia, por 3 a 1, na final disputada no Meo Arena, em Lisboa.
     Portugal colocou-se na frente após Marco Freitas ter ganho o jogo inaugural frente a Stefen Mengal por esclarecedores 3 sets a 0. No segundo, o número dois do ranking europeu, Timo Boll, bateu João Monteiro por igual score. No entanto, Tiago Apolónia começou a dar forma ao sonho ao derrotar o número um europeu, Dimitrij Ovtcharov, por 3 a 1.
     No desafio derradeiro, Marco Freitas confirmou que o sonho se tornara realidade ao superar Timo Boll por 3 a 1.
     Como é frequente no desporto, David, desta vez, venceu Golias.

sábado, 27 de setembro de 2014

Uso do infinitivo pessoal e impessoal

     O uso do infinitivo (pessoal e impessoal) continua a ser objeto de muitas dúvidas e de uso errado.

     A regra diz que, se o sujeito da oração com infinitivo é o mesmo da anterior, não se flexiona. Porém, caso o sujeito das orações seja diferente, deve usar-se o infinitivo pessoal:
  • O aluno que faltou obrigou os professores a realizarem um novo teste.
     No exemplo dado acima, o sujeito da primeira oração (O aluno) é diferente do da última (os professores), daí que se use o infinitivo pessoal nesta.

* * *

     Para uma resposta mais completa, observe-se o que afirma a professora Eunice Marta sobre a matéria (Ciberdúvidas), em resposta à seguinte pergunta: «Os leitores têm a possibilidade de consultarem», ou «Os leitores têm a possibilidade de consultar»?

   Ambas as formas são aceitáveis, embora a do infinitivo não flexionado (ou impessoal) — «Os leitores têm a possibilidade de consultar» — seja a mais aconselhável.
Repare-se que se trata de um dos casos previstos para o uso do infinitivo impessoal (não flexionado), pois está precedido da preposição de e dependente de um substantivo — possibilidade —, cuja construção corresponde a um infinitivo passivo, tal como aconselham Cunha e Cintra com a seguinte indicação: «O infinitivo conserva a forma não flexionada […] quando é precedido da preposição de, em que o infinitivo depende de um substantivo [assim como de um adjetivo ou de um verbo] em construções em que corresponde a um infinitivo passivo» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, pp. 483).
De qualquer modo, os próprios gramáticos apercebem-se de que «o emprego das formas flexionada e não flexionada do infinitivo é uma uma das questões mais controvertidas da sintaxe portuguesa» (idem, p. 482), o que os levou a considerar que lhes «parece mais acertado falar não de regras, mas de tendências» (idem). Por isso, concluem, seguindo Said Ali, que se «trata de um caso de emprego seletivo, cuja escolha depende da intenção do emissor: «a escolha da forma infinitiva depende de cogitarmos somente da ação ou do intuito ou necessidade de pormos em evidência o agente da ação. No primeiro caso, preferimos o infinitivo não flexionado (ou impessoal); no segundo, o flexionado (ou pessoal)» (idem, p. 487).
Portanto, a primeira frase — «Os leitores têm a possibilidade de consultarem» — é, também, legítima, pois o sujeito do infinitivo é o mesmo que o do verbo anterior («têm de») — os leitores, sendo o uso do infinitivo flexionado justificado pelo realce do sujeito.
Nestes casos, podemos optar por usar quer o infinitivo pessoal (flexionado) quer o impessoal (não flexionado). É o que acontece, por exemplo, numa frase como «Os leitores têm o hábito de ler/lerem muitos livros». E é também o que acontece com a frase em apreço.
Note-se que, se o sujeito for diferente e estiver expresso, a concordância tem de se fazer com o sujeito do infinitivo: «Os leitores habituam a criança a ler», «Os leitores habituam os filhos a lerem».

Movimento Boicote&Cerco

Comunicado

No passado dia 18 de setembro de 2014 tivemos o DESprazer de assistir ao debate encomendado pelo PSD, para que o ministro Nuno Crato pudesse fazer uma mea culpa (mais do que evidente), na nossa opinião e corroborando a do Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, um pedido de desculpas que soou a falsidade e com o mero intuito de passar uma imagem de humildade, tão adequada ao período que se aproxima de eleições!
Qualquer ser humano que tenha prestado atenção à fórmula por 3 segundos percebe que ela estava mais do que errada. Um erro pouco admissível a um aluno de 4ª classe (4ºano)! Porém, por orgulho, o ministro e toda a sua equipa de trabalho, levaram semanas a compreender (tiveram que lhes explicar devagarinho, uma vez, e outra, e outra…). Continuamos a achar que se tratou de desonestidade intelectual, e desiludiu-nos que os maiores representantes legais a nível nacional tivessem ficado em silêncio, compactuando com este “crime” e ignorando as suas funções de zelar pela justiça e interesses do povo português!
Neste sentido, hoje escrevemos pelo DESprazer de ter assistido ao debate parlamentar e termos visto 3 “prostitutos intelectuais” (perdoem-nos a rudeza da expressão mas não nos ocorre expressão mais adequada) a falar perante um país. É que acreditem: são pagos a peso de ouro, com os nossos impostos!
Falamos naturalmente de Amadeu Albergaria, licenciado em Direito, advogado com inscrição suspensa, Duarte Marques, consultor, actualmente a tirar mestrado, e Michael Seufert, estudante de mestrado, e ao que parece teve frequência em licenciatura (Estranho? Talvez a conclusão desta tenha sido por equivalência similar a outra situação bem conhecida por todos nós).
Verificamos claramente que não são homens de números. Revelam clara necessidade de realizar uma PAAC política, apesar de nem todos reunirem habilitações para tal.
Ouvi-los foi de uma repugnância intelectual tremenda! Deviam ter-nos pago para tamanho feito!
Acreditamos que ainda hoje não percebam o erro da fórmula e por isso não falaram nela durante as suas intervenções. Estavam claramente pouco à vontade para falar e, aqui entre nós, pareceram-me muito pouco informados sobre o assunto, não fosse essa a clara obrigação das suas funções!
Mas mesmo assim aventuraram e referiram 1% ou 2% de erros na colocação de professores. Esperamos por isso clarificá-los mais uma vez!
Na realidade dos factos e números, o problema das colocações NÃO afecta os 1% ou 2% dos professores! A VERDADEIRA percentagem dos professores que, sob a tutela deles, estão a ser afectados por este concurso é muito superior! Para não voltarem a cometer erros de matemática básicos, deveriam retirar à equação os mais de 90% dos professores que são de quadro e não foram alvo de qualquer concurso, não podendo entrar nas contas do problema que a incompetência deles causou! Ou seja, a TRAPALHADA do ministério da educação na colocação de professores não deverá fugir muito do extremo oposto nos números que erradamente referem, ou seja 98% ou 99% dos professores a concurso! Uma troca de valores (in)compreensível, como se pode ironicamente perceber!
O mais grave é estes senhores não perceberem que os mais penalizados com todas estas trapalhadas e evidentes sinais de incompetência não são apenas os professores e as suas famílias mas sobretudo as crianças e os jovens deste país que continuam sem muitos professores após mais de uma semana do início oficial do ano lectivo 2014/2015 e, ano após ano, a encontrarem condições para o sucesso escolar mais deficientes!

Professores do Movimento Boicote&Cerco da região de Coimbra


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Professora (mais um(a)) agredia por pais

     Ontem, na Escola Básica n.º 2 de Rossio, uma professora foi agredida, na própria sala de aulas, pelos pais de um aluno, com tal gravidade que acabou por ser encaminhada para o Hospital de Abrantes, para receber tratamento médico.
     O motivo da deslocação dos virtuosos e modelares pais foram queixas relativas a mau comportamento da criancinha e a sua ação ficou a dever-se, de acordo com os relatos da imprensa, ao facto de culparem a agredida de ser a responsável pela postura do aluno.

     Mais logo, vou confirmar se a Lua ainda anda por aqui, ou foi mesmo o Universo que ficou do avesso.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Richard Kiel


     Faleceu aos 74 anos, no passado dia 17, o ator Richard Kiel, famoso por ter encarnado a personagem Jaws em dois filmes da saga James Bond.
     Com os seus dentes de aço e 2,2 metros de altura, o ator estava afastado dos ecrãs há alguns anos, após um acidente de trator que o forçou a locomover-se auxiliado por muletas e, posteriormente, o prendeu a uma cadeira de rodas.

Educação, 'quo vadis'?

«A sociedade em que vivemos encontra-se em acelerado processo de fragmentação, ela perdeu qualquer ideia clara e global de si própria, pelo que tem, naturalmente, a maior dificuldade em definir objectivos para a educação. Dito de outro modo, a crise da escola decorre de fenómenos civilizacionais que a ultrapassam, nomeadamente da destradicionalização e da desinstitucionalização das sociedades contemporâneas, que minam o estatuto não só dos saberes mas também dos professores. Fenómenos que desorientam a escola, cada vez mais transformada numa instituição à qual se pedem soluções para tudo, sem se lhe darem meios para nada. Esta mudança acabou contudo por adoptar novas finalidades, em que a aquisição de conteúdos formadores se subalterniza face a um suposto desenvolvimento mais multifacetado do aluno, que deve simplesmente tornar-se capaz de ir aprendendo... a aprender. Se no ensino tradicional e hierárquico a transmissão de conhecimentos era central, o ensino individualista e democrático aposta numa aprendizagem que se confunde com o desabrochar de uma misteriosa espontaneidade criativa. O que, note-se, faz do professor refém de um paralisante paradoxo, que é o de todos reclamarem mais educação, sem que quase ninguém aceite, na realidade, ser educado. As novas tecnologias foram a cereja em cima do bolo deste processo cheio de equívocos, criando uma miragem de facilitismos em que não caíram nem Bill Gates nem Steve Jobs, que, como há dias Nick Bilton contava no The New York Times, nunca dispensaram sólidas bases convencionais para os seus filhos, certos de que é a partir delas que as novas tecnologias revelam o seu extraordinário potencial. Mas a mutação tecnológica não é a única, nem a principal responsável, pela desorientação em que vive a escola. Como já tenho referido, há mais mutações decisivas a ter em conta: a que ocorreu nas relações entre a família e a escola, a que alterou o estatuto dos saberes e a que decorreu da sua democratização. A cumplicidade entre a família e a escola era um elo tradicional que se volatilizou nas últimas décadas, com a primeira a descartar para a segunda as suas obrigações educativas. E, com esta transformação, aumentou também a erosão das funções mais óbvias da escola, sempre em nome dos valores afectivos de uma infância e de uma adolescência altamente idealizadas, que ignoram tanto a escassez da sua experiência como o empobrecimento do seu actual ambiente simbólico. Por outro lado, a mutação do estatuto dos saberes e do conhecimento foi de cento e oitenta graus. A escola tradicional assentava no reconhecimento do valor intrínseco dos saberes que a escola transmitia e na indiscutível necessidade de os adquirir. Ora, este reconhecimento tornou-se nos nossos dias bem problemático, na medida em que a cultura perdeu o estatuto escolar que tinha, e que colocava a curiosidade e o desejo de saber no cerne de todas as concepções da educação. Agora vivemos numa sociedade que, ao mesmo tempo que pretende assumir-se como uma sociedade do conhecimento, se revela como aquela em que o desejo de saber quase desapareceu. Por fim, a mutação democrática conduziu a que qualquer tipo de autoridade seja quase sempre assimilado a um intolerável autoritarismo, como se a autoridade se tivesse tornado incompatível com a democracia. E, com esta erosão da autoridade, a escola ficou cativa de todos os caprichos dos alunos e de todas as contingências governativas. E é nisto que estamos: numa escola à deriva.»

Manuel Maria Carilho, in Diário de Notícias

O Ensino Especial nos tempos de (C)Rato

A inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais é mera "retórica"

A actual legislação sobre educação especial “deixa desamparado um conjunto considerável de alunos e alunas que manifestam necessidades educativas especiais e para os/as quais não é possível construir respostas educativas ajustadas”, diz o Conselho Nacional de Educação (CNE) numa recomendação tornada pública nesta sexta-feira. Os conselheiros sugerem várias alterações legais e sublinham a necessidade de garantir recursos, que por vezes falham – desde o apetrechamento das escolas até à afectação de profissionais.
A pedido da Assembleia da República, o CNE debruçou-se sobre as respostas dadas aos alunos com necessidades educativas especiais – no ano lectivo de 2012/2013 havia cerca de 62 mil, dos quais quase 61 mil frequentavam escolas do ensino regular.
Das audições e análises feitas resultam algumas preocupações. O CNE diz, por exemplo, que, embora as políticas públicas neste sector adoptem “o princípio da educação inclusiva”, e até sejam objecto de reconhecimento internacional, “a atitude voluntarista do legislador não encontra respaldo” na capacidade de mobilizar recursos. Exemplos: por vezes, os estabelecimentos de ensino só têm técnicos muito depois do ano lectivo começar; há escolas de referência para alunos cegos e de baixa visão que apenas têm acesso aos manuais em Braille no final do ano lectivo; há tecnologias de apoio que só chegam aos alunos quando já não são adequadas...
Em suma: existem escolas que têm na sua população escolar alunos com necessidades especiais mas que não têm, “em tempo útil, os recursos e profissionais que permitam dar resposta apropriada” a essas crianças e jovens.
“Estas situações representam um desperdício de recursos, mas sobretudo de tempo, essencial e irrecuperável num processo de aprendizagem”, lê-se no texto do CNE. “A existência destas respostas, nomeadamente no que concerne aos meios e profissionais que servem na e com a escola, em toda a extensão do ano lectivo, é condição fundamental, sem a qual o princípio da inclusão não passa de mera retórica.”
Por isso, entre as recomendações enumeradas pelos conselheiros, está a de que é preciso clarificar e adequar os critérios de atribuição de recursos e profissionais aos estabelecimentos de ensino.
O CNE acha ainda que o Sistema Nacional de Intervenção Precoce funciona, mas que há zonas do país que não estão abrangidas, o que põe em causa a equidade. Por outro lado, há o risco de meninos com necessidades especiais “transitórias” não terem acesso a “intervenção especializada”, o que pode levar a que essas necessidades se tornem “crónicas”. O CNE entende que a legislação deve ser alterada de forma a que seja possível desenvolver “medidas educativas temporárias”, que contemplem aquelas situações.

Formação duvidosa

A qualidade da formação dos docentes de educação especial que, em anteriores pareceres, já tinha sido apontada como uma fragilidade não está a melhorar, prossegue o CNE. Os conselheiros sugerem que seja desenvolvido, “com urgência”, um plano de formação contínua.
De resto, há cursos de educação especial no mercado com qualidade duvidosa, diz-se. E as próprias motivações dos professores que escolhem esta via nem sempre serão as mais indicadas. “Em alguns casos, a apresentação a concurso em educação especial não decorre da escolha intencional de um percurso profissional, mas antes da possibilidade de obtenção de emprego ou de aproximação à residência.”
Na sua recomendação, o CNE sugere, entre outros, que “sejam desenvolvidos processos urgentes e rigorosos de regulação dos cursos de formação especializada”, que seja dada especial atenção à “qualidade científica” das formações e que se clarifique o “perfil” e as “competências” dos docentes de educação especial. Mais: é preciso definir critérios rigorosos de recrutamento. Recomenda-se ainda que se desenvolvam mecanismos legais que permitam ter professores com estabilidade nas escolas, a trabalhar com estes alunos.

Exames desadequados?

As dúvidas do CNE estendem-se à forma como estes alunos são avaliados. “A existência de avaliação externa das aprendizagens” – exames – “tendo como referência os curricula e as metas de aprendizagem”, sem que estes estejam adaptados às condições especiais dos alunos do ensino especial, “poderá pôr em causa a qualidade e a equidade na possibilidade de obtenção de sucesso”.

Dúvidas são também levantadas em relação à forma como estará a decorrer a transição para a vida activa. O CNE acha que parece não estar a ser garantida uma “plena integração social e laboral depois de concluída a escolaridade obrigatória”. E diz que é preciso “repensar a certificação decorrente deste percurso escolar”.


     O texto acima transcrito está disponível no Público on-line. Com tudo o que as generalizações, mesmo que tendo origem em estudos, possuem de abusivo, o panorama descrito não está muito longe da realidade, pelo menos aquela com que contactamos diariamente.
     Os alunos com necessidades educativas especiais são, frequentemente, um estorvo, que ainda por cima dá trabalho, exige custos superiores, e cuja utilidade se resume à diminuição do número de discentes por turma. Muitos professores, pelo menos muitos mais do que seria desejável ou expectável, pensam assim. No interim, há muitos outros que pensam e agem de forma diferenciada.
     Para o MEC são uma despesa acrescida.
     

domingo, 21 de setembro de 2014

Prémio aos melhores

     O MEC decidiu atribuir um crédito horário suplementar às escolas / aos agrupamentos que apresentassem melhores resultados em sede de exames nacionais.
     Ora, se é verdade, grosso modo, que quem apresenta um bom desempenho deve, eventualmente, ser premiado por isso, no contexto educativo a questão não é tão simples ou linear.
     O mau desempenho não deve ser premiado. Esta é outra verdade, mas, no caso da Educação, esse "mau desempenho" deve ser combatido e não estigmatizado ou penalizado. Pelo contrário, deveria haver uma política de incentivo e de promoção da melhoria do desempenho dessas escolas / desses agrupamentos, estabelecendo, por exemplo, um plano a prazo de melhoramento, de recuperação.
     Ora, deslocar meios para aquelas que apresentam melhores resultados (sendo que os fatores que estão na génese de tal são de ordem diversa e subjetiva) equivale, no atual quadro, a impedir que eles cheguem a quem deles, efetivamente, precisa.
     Se o MEC prosseguir este caminho, a tendência será de as "melhores escolas" serem cada vez melhores e as "piores", piores.
     Para já, a política de Nuno Crato é essa. Aqui fica a lista de escolas premiadas no presente ano pelo desempenho dos seus alunos em exames nacionais.

Estado da Educação 2013

"O Estado de Educação 2013 surge na continuidade dos relatórios anuais sobre esta matéria que o Conselho Nacional de Educação publica desde 2010.

Estado da Educação 2013 apresenta alguns indicadores de referência do sistema educativo que permitem caracterizar a população escolar, o corpo docente, a rede e a organização escolar, o financiamento público da educação, a avaliação e os resultados escolares, dos diferentes níveis e modalidades de ensino. O presente relatório integra igualmente quatro trabalhos académicos que abordam temas como o abandono, a retenção e os resultados escolares.

À semelhança das edições anteriores, o Estado da Educação 2013 mantém-se como uma publicação de referência para todos os que se interessam pela área da educação."




quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Antonomásia

     Antonomásia é a figura de retórica que consiste em substituir um nome próprio por um epíteto que lhe atribua uma qualidade, uma característica inconfundível da pessoa designada pelo nome, ou por outro nome próprio de alguma entidade que se tornou famosa por uma certa propriedade.
  • A Cidade Branca (= Lisboa);
  • A Cidade Eterna (= Roma);
  • A Cidade Luz (= Paris);
  • Dama de Ferro (= Margaret Thatcher);
  • A morte do Poeta é recordada no dia 10 de junho. (Poeta = Camões);
  • A rainha santa (= D. Isabel, esposa de D. Dinis e rainha de Portugal);
  • A Voz (= Frank Sinatra);
  • Cessem do sábio Grego e do Troiano (sábio Grego = Ulisses; Troiano = Eneias);
  • Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro);
  • Esta turma é uma autêntica Babilónia(= enorme confusão);
  • És um Hipócrates. (= médico);
  • És um Tartufo (= és uma pessoa hipócrita - Tartufo era uma personagem de uma obra de Molière caracterizada pela hipocrisia);
  • O filho de Deus (= Jesus Cristo);
  • O Glorioso é o campeão de 2014. (Glorioso = Benfica);
  • O João é um verdadeiro Romeu. (= pessoa apaixonada, à semelhança da personagem de Shakespeare);
  • O Mestre (= Jesus Cristo);
  • O pintor de girassóis (= Van Gogh) - neste exemplo, a antonomásia ocorre em simultâneo com uma perífrase;
  • A Rainha da Pop (= cantora Madonna);
  • O Rei (= cantor brasileiro Roberto Carlos);
  • O Rei da selva (= leão);
  • O rei do futebol (= Pelé).

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Despacho Normativo n.º 13/2014

     Foi publicado no Diário da República o despacho normativo que regulamenta a avaliação e certificação de conhecimentos e capacidades desenvolvidas pelos alunos.
     O documento pode ser consultado aqui.
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