Embora
cada texto seja uma unidade distinta, não deixa de ser agrupável num tipo ou
género, a partir das suas marcas verbais, semânticas, formais e pragmáticas.
Os
tipos textuais são modelos mentais, abstratos, que o leitor, de acordo com os
conhecimentos adquiridos na audição e na leitura, guarda na sua memória e lhe
permitem reconhecer, produzir e classificar textos com marcas específicas. Cada
tipo de texto define-se, pois, por um determinado conjunto de características,
umas constantes e outras variáveis.
Os
textos são constituídos por sequências, estruturalmente organizadas entre si e
em relação ao todo que constituem, configurando assim a organização do texto.
Essas sequências poderão atualizar diferentes tipos textuais, podendo, num
mesmo texto, ocorrer sequências de diferentes tipos. Por exemplo, é frequente
que, num texto narrativo, ocorram sequências descritivas ou dialogais, além das
narrativas.
A
configuração de um texto representa, assim, a sua estrutura global, permitindo classifica-los
em diferentes tipos.
1. Texto
narrativo
O
texto narrativo tem como principal objetivo relatar eventos, factos ou
acontecimentos.
O
texto narrativo possui cinco características específicas: uma ação ou ações, localizada(s) no tempo
e no espaço, protagonizada por uma
pessoa ou personagem, que confere
unidade à ação ou atravessa toda a narrativa, e contada por um narrador, que pode ser, ou não, uma das
personagens.
Por
outro lado, os eventos representados encadeiam-se de forma lógica e orientam-se
para um desenlace, desenvolvendo-se ao longo de três momentos, sobretudo no de
texto de índole literária:
. Situação inicial:
situação de estabilidade, em que se apresentam as personagens, situadas no
tempo e no espaço. Habitualmente, são frequentes as sequências descritivas
neste momento inicial.
. Complicação / problema: é o conjunto de eventos que geram um
conflito, desequilibrando a situação inicial, e que constituem o núcleo da
narração. Frequentemente, há textos narrativos que alternam situações de
equilíbrio e desequilíbrio, correspondendo à ocorrência de vários episódios ou
capítulos de uma obra.
. Resolução: é a solução do conflito e o regresso a uma
situação de equilíbrio.
São
exemplos do protótipo textual
narrativo textos literários, como o romance, a novela, o conto, a fábula, a
lenda, o mito, a parábola, a banda desenhada, a (auto) biografia, e não
literário, como a notícia, a reportagem, a crónica, o relatório, o relato
histórico ou de experiências pessoais, o relato oral, etc.
As
principais marcas linguísticas desta
tipologia textual são as seguintes:
. o uso predominante de verbos de ação;
. o predomínio do pretérito
perfeito do indicativo ou do presente histórico;
. o uso do pretérito
imperfeito para iniciar a narrativa;
. a abundância de
organizadores e conectores temporais e espaciais (“quando”, “depois”, “um dia”,
etc.);
. o recurso a advérbios de
valor locativo e temporal;
. o uso de marcadores
discursivos explicativos e conclusivos (“assim”, “porque”, “por esse motivo”,
etc.).
2. Texto
descritivo
O
texto descritivo constrói-se em torno de um dado assunto ou objeto, ao qual se
atribuem predicados ou características diversos. Por outro lado, esse assunto
ou objeto pode ser descrito de forma genérica / global, ou desdobrado e
descrito nas suas partes constituintes.
Podem
ser objeto de descrição pessoas, personagens (os seus traços físicos e
psicológicos), espaços (físicos, psicológicos ou sociais), fenómenos
atmosféricos e todo o tipo de objetos. As sequências textuais descritivas
surgem frequentemente articuladas com sequências textuais de outros tipos. Por
exemplo, é frequente surgirem, em textos narrativos, sequências descritivas que
permitem caracterizar uma personagem ou um espaço social, por forma a motivar o
desenrolar da ação.
O
texto descritivo pode concretizar-se de diferentes formas:
. num texto corrido (uma enciclopédia,
por exemplo);
. numa introdução seguida de
uma listagem de itens caracterizadores de algo;
. num texto narrativo ou num
texto científico.
As
principais marcas linguísticas deste
protótipo textual são as seguintes:
. verbos de estado para a
descrição estática (“ser”, “estar”, “parecer”, etc.) e verbos de ação para a
descrição dinâmica;
. predomínio do pretérito
imperfeito e do presente do indicativo;
. adjetivos e expressões
caracterizadoras;
. conectores e marcadores
discursivos (aditivos, enumerativos, etc.);
. advérbios com valor
locativo;
. vocabulário expressivo e
figuras de estilo.
3. Texto
argumentativo
O
texto argumentativo tem como objetivo central justificar e / refutar ideias e
opiniões. A sua intenção comunicativa é convencer, persuadir o(s)
interlocutor(es), levando-o(s) a aceitar determinado ponto de vista, ideia ou
produto, etc., obtendo assim a sua aprovação, ou refutar uma opinião alheia,
estabelecendo relações entre factos, hipóteses, provas e refutações. Deste
modo, pode afirmar-se que um texto argumentativo se caracteriza, por um lado,
pela expressão de uma opinião que, sendo controversa, suscita uma defesa e abre
espaço de contestação e, por outro lado, pela apresentação de argumentos a
favor ou contra uma determinada tese.
O
texto argumentativo apresenta, geralmente, a seguinte estrutura:
. Tese:
apresentação da opinião que se se pretende defender.
. Premissa: pode(m) ou não estar expressa(s), representando algo que
é inequivocamente aceite.
. Argumentos: conjunto de provas ou razões que sustentam a tese, que
devem ser fidedignas, autênticas e relevantes. Podem funcionar como argumentos
exemplos, ilustrações, narrações, descrições, estatísticas, comparações,
referências históricas, etc. Normalmente, os argumentos são apresentados de
forma gradativa e crescente, partindo-se dos mais frágeis para os mais fortes e
irrefutáveis.
. Conclusão: é uma demonstração clara da tese defendida.
Como
exemplo do protótipo textual argumentativo, podemos referir os discursos
políticos, a publicidade, os discursos da imprensa escrita e falada, os
debates, a propaganda política, situações informais de interação sobre aspetos
práticos e quotidianos.
As
principais marcas linguísticas são
as seguintes:
. verbos de opinião e crença
(“achar”, “julgar”, “crer”, “dever”, “querer”, “gostar”, “ser preciso”, “concordar”,
etc.);
. verbos declarativos (“afirmar”,
“considerar”, “declarar”, etc.);
. verbos que indicam uma
relação entre a causa e o efeito (“causar”, “motivar”, “originar”, “provocar”, “ocasionar”,
etc.);
. uso frequente do verbo “ser”
ou equivalente na elaboração da tese;
. predomínio do presente,
pretérito perfeito e futuro do indicativo com valor universal;
. frases declarativas e
interrogativas;
. marcadores e conectores
discursivos com valores diversos: aditivo (“mais”, “além disso”), exemplificativo
/ confirmativo (“por exemplo”, “com efeito”), contrastivo (“mas”, “no entanto”,
embora”), explicativo e conclusivo (“porque”, “pois”, “com efeito”, “por
conseguinte”).
4. Texto
expositivo
O
texto expositivo tem como objetivo a análise ou a síntese de ideias, conceitos
e teorias; expor, explicar e informar sobre algo, apresentando problemas e
propostas de resolução dos mesmos, acompanhados, ou não, de justificação.
Constituem
exemplos de atualização deste tipo textual os manuais da área das ciências
naturais (onde abundam textos em que se passa constantemente da exposição –
sucessão de informações com o objetivo de dar a conhecer algo – à explicação –
com o intuito de fazer compreender o porquê do problema e a sua resolução).
Algumas
das marcas linguísticas que caracterizam esta tipologia textual são estas:
. verbos com sentido
expositivo (“ser”, “ter”, “consistir”, etc.) no presente, pretérito perfeito e
futuro do indicativo, normalmente com valor universal e intemporal;
. adjetivos e advérbios para descrever,
precisar e situar;
. uso frequente de analogias e
comparações;
. enunciação objetiva na
terceira pessoa, omitindo as marcas do sujeito enunciador e estruturas que
indicam uma avaliação pessoal (“na minha opinião”, “julgo”, “creio”, “parece-me
que”, etc.), recorrendo antes a estruturas impessoais (“deve-se”) e passivas;
. léxico especializado;
. conectores e marcadores de
causa e consequência, confirmativos e exemplificativos, explicativos e
conclusivos.
5. Texto
conversacional ou dialogal
O
texto conversacional é atualizado em textos em que intervêm, pelo menos, dois
interlocutores que tomam a palavra alternadamente e que produzem um número
variável de trocas verbais, cooperando na produção do texto.
Este
protótipo textual manifesta-se em qualquer interação verbal, como, por exemplo,
numa conversa telefónica, nas interações quotidianas orais, no comentário de
acontecimentos, em debates e nas entrevistas.
As
marcas linguísticas que o enformam
são as que, seguidamente, se enunciam:
. características do
discurso oral (repetições, quebras sintáticas, etc.);
. segmentos de reformulação;
. marcadores conversacionais
(“olha”, “ouve”, etc.);
. formas de tratamento;
. formas verbais do modo
indicativo e do imperativo;
. uso da segunda pessoa de
verbos, pronomes e determinantes;
. modos de localização
espacial que indicam proximidade ou afastamento relativamente aos
interlocutores.
6. Texto
instrucional ou diretivo
Os
textos que atualizam o tipo textual instrucional ou diretivo têm subjacente o
objetivo de controlar o comportamento do(s) seu(s) destinatário(s), de o(s)
ensinar a praticar determinada ação.
São
textos que incitam à ação, estabelecem regras de comportamento ou que fornecem
instruções sobre as etapas e os procedimentos que deverão ser seguidos de modo
a alcançar um determinado objetivo.
Este
protótipo textual é atualizado numa grande diversidade de textos: avisos /
enunciados simples como «Não pisar a relva» ou «Proibido fumar», receitas de
culinária, instruções de montagem, regras de utilização de um programa /
máquina, instruções de montagem de um aparelho, alguns provérbios, manuais de
instruções, a posologia dos medicamentos, “slogans”, etc.
As
principais marcas linguísticas são
as seguintes:
. verbos, em geral, de movimento que
incitam à ação;
. formas verbais no
imperativo, conjuntivo (“insira-se”), infinitivo (“Não fumar”) e futuro do
indicativo;
. frases imperativas;
. marcadores discursivos
predominantemente temporais.
7. Texto
preditivo
O
texto preditivo tem como função informar sobre o futuro, antecipando ou
prevendo acontecimentos / eventos que irão ou poderão acontecer.
A
palavra «preditivo» é um adjetivo formado a partir da forma verbal «predizer»,
que significa «dizer antes», «anunciar com antecedência», «prognosticar»,
«vaticinar» ou «profetizar». Assim, o discurso preditivo afirma algo
antecipadamente, antes de os factos serem observados ou comprovados.
O
protótipo textual preditivo manifesta-se, por exemplo, em boletins
meteorológicos, profecias, horóscopos, alguns provérbios, etc.
Algumas
das marcas linguísticas que o
caracterizam são as seguintes:
. expressões com valor temporal de
futuro;
. predomínio do futuro do
indicativo ou complexos verbais com utilização de auxiliar temporal.
Bibliografia:
. Domínios, de Zacarias Nascimento et alii;
. Gramática da Língua Portuguesa, de Clara Amorim.
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