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domingo, 29 de setembro de 2019

O contexto de produção do Sermão de Santo António aos Peixes


            São Luís do Maranhão foi tomado aos franceses em 1615. O seu território estendia-se pelas duas margens do Amazonas, até às indefinidas fronteiras do Peru. O estado do Maranhão, independente do do Brasil, foi oficialmente criado em 1621. Integrava duas grandes capitanias-gerais: a do Pará, com sede em Belém do Pará, e a de São Luís do Maranhão, que era a capital de todo o estado.
            Ainda em 1662, depois da partida do Padre Vieira, apenas algumas centenas de portugueses, menos de um milhar, povoavam essa imensa região. Todos eles viviam do trabalho dos índios, em grandes fazendas auto-suficientes. Algumas produções, sobretudo o açúcar e o tabaco, constituíam o grosso das exportações para a metrópole, que, em troca, enviava artigos manufacturados. O tecido de algodão era a moeda corrente.
            Exploravam-se os índios como trabalhadores “livres” ou como escravos. No primeiro caso, eles dependiam das autoridades reais; no segundo, eram, na sua maior parte, propriedade privada dos colonos ou moradores. Geravam-se conflitos, por vezes sangrentos, entre os moradores e os funcionários do rei, já que ambos os campos pretendiam apoderar-se do maior número possível de índios. O rei devia arbitrar esses conflitos tendo em conta que o auxílio e a boa vontade dos índios eram indispensáveis à defesa da soberania portuguesa contra os holandeses, que continuavam a dominar ao norte do Brasil, e ainda à expansão em direcção ao Peru.
            Para esta tarefa, o rei contava com o precioso apoio das ordens religiosas. Depois de uma breve experiência dos jesuítas, em 1642 as missões são confiadas, em todo o território, aos franciscanos. Estes deparam, por volta de 1636, com o seu próprio fracasso, em boa parte devido ao facto de, não querendo ou não podendo explorar o trabalho dos índios, terem de se contentar com uma doação real que, além do mais, não lhes era entregue com a devida regularidade. Defrontavam, ainda, como adversários, alguns dos jesuítas que se tinham deixado ficar sob a direcção do Padre Luís Figueira.
            Depois do fracasso dos franciscanos, os jesuítas preparam uma grande investida missionária e obtêm, em 1643, a exclusividade das missões do Maranhão. Segue de Lisboa uma missão, dirigida pelo Padre Figueira, mas a maior parte dos seus elementos perecem num naufrágio na costa da ilha de Morajó.
            No que respeita ao estatuto jurídico dos índios em todo o Brasil, sucediam-se leis contraditórias, num movimento pendular, desde a de 1570, que havia proibido a escravidão dos índios. Mais recentemente, a lei de 30 de junho de 1607 estabelecera a igualdade de direitos entre os índios e os portugueses; mas uma outra, de 10 de setembro de 1611, estabelecera a escravatura dos índios feitos prisioneiros em guerra “justa”, assim como a dos índios encontrados em vias de serem mortos por outros índios (índios de corda), sendo o tempo desta última espécie de escravatura limitado a dez anos. Inspirada pelos jesuítas, a lei de 1609 punha todos os índios sob a administração e protecção dos padres. Em contrapartida, a de 1611 colocava as aldeias de índios “livres” sob o governo de administradores laicos, chamados capitães, que tinham o encargo de repartir pelos colonos a mão-de-obra índia. Tal era a lei quando o novo estado foi criado.
            A lei promulgada, regulando a liberdade dos índios e suas restrições, foi sofismada até sua quase completa inutilidade. O Padre Vieira, reconhecendo-a, ineficaz, enquanto não fosse evitada a intervenção civil na cristianização e civilização dos selvícolas, pela entrega do seu governo exclusivamente aos seus párocos, procurou obter a assinatura de todos os principais da cidade de S. Luís, afetos à Companhia, para uma representação a dirigir ao rei. Logo que os colonos tiveram do caso conhecimento, houve celeuma breve, e é em tal momento que a pugnacidade de Vieira atira do alto do púlpito, contra os inimigos da sua política indígena, os dardos tão brilhantes como percucientes desta sátira. A causticidade da ironia, a expressividade dos símbolos, o poder de observação no descritivo, com trechos de imperecível beleza clássica, o relevo, o brilho, a graça da linguagem, até a própria orgânica do sermão – primeiro a alegoria da vida colonial em conjunto, depois as várias alegorias representando em várias espécies de peixes os vários tipos de colonos mais susceptíveis de caricatura, tudo na peça é de novidade impressionante.
            Em suma, é dentro do contexto das lutas que opõem os jesuítas e os colonos, por causa da exploração desumana dos indígenas, que Vieira , defensor dos seus direitos e da abolição das leis que os tornavam cativos, profere este discurso. Tentou comunicar, por cartas, a D. João IV a situação que se vivia no Brasil, à qual se seguiram outras. Foi por não ver sucesso nesta sua empresa que embarcou para Lisboa a 14 de junho de 1654, para colocar o rei ao corrente de tudo. Aproveitando o facto de 13 de junho ser, no calendário litúrgico, o dia de Santo António, pronunciou o Sermão de Santo António aos Peixes, que deixou enraivecidos os colonos.
            Em Lisboa, após uma viagem atribulada, tentou alterar as leis, de forma a limitar o poder dos colonos sobre a exploração dos índios.
            Finalmente, em abril de 1655, conseguiu que fosse dada a «exclusividade da faina das missões» aos jesuítas. Daí que uma das temáticas do Sermão de Santo António seja a denúncia das atrocidades que os índios sofriam às mãos dos colonos portugueses. Toda a crítica assenta na utilização da alegoria, pois os símbolos simbolizam os vícios dos homens.


A Contrarreforma e o sermão

            A 31 de outubro de 1517, Lutero, «mestre em Filosofia» (1505) pela Universidade de Erfurt, monge agostiniano, professor de Filosofia, de Teologia e de Exegese bíblica, apresenta as 95 Teses na Universidade de Wittenberg sobre e contra a prática das indulgências. Dois anos depois, em junho, em Leipzig, propugna a autoridade individual (isto é, de cada indivíduo) na hermenêutica bíblica, destronizando a papal autoridade exclusiva nesta matéria. É um rombo na infalibilidade do Papa, da Igreja da Roma Católica. A 10 de dezembro, em Wittenberg, Lutero queima, em plena praça pública, a bula pela qual o papa Leão X o excomungou. Imediatamente, multiplicam-se os discípulos à sua volta, mesmo entre homens de Estado, dentro e fora da Alemanha. Na mesma orientação antipapal surgem outros mentores: Melanchthon, que se torna o chefe do Luteranismo depois da morte de Lutero em 1546, Zwingli, Calvino, Henrique VIII, etc. Este movimento não pára. É o movimento da Reforma Protestante. Assiste, assim, o século XVI a uma revolução religioso-cultural, que retira grande parte da Europa à obediência ao Papa romano. E, deste modo, nascem as Igrejas Protestantes.
            A teoria do livre-arbítrio, proposta por Lutero, é agora a autoridade basilar na exegese bíblica, os alicerces do pensamento católico ficaram abalados. Roma tem de reagir. E reage com a Contrarreforma, cujas finalidades principais se podem detectar no restabelecimento espiritual e na reconquista das almas e dos países que se tinham separado do papa. Não passe, porém, esquecido o seguinte facto: quando Lutero chegou, o estado espiritual de Roma já andava muito por baixo, bem longe da elevação exigida pelos fundamentos bíblicos.
            A Contrarreforma estabelece uma estratégia e uma prática: Paulo III reconstitui a Inquisição em 1542, visando com esta o ataque às pessoas e o Índex em 1543 na ofensiva às ideias.
            É necessário criar uma prática contra-reformadora mais incisiva. Urge defender e ensinar. A autêntica ofensiva resulta da convocação de um Concílio: Trento. Este, interrompido várias vezes por razões de ordem política e religiosa, dura de 1545 a 1563. Daqui Roma propõe aos seus fiéis o repensar da vida e da doutrina próprias, por meio da interpretação mais precisa da Tradição e das Escrituras. Fixa o cânone da Bíblia no primeiro Decretum da quarta sessão, de 8 de abril de 1546, ano da morte de Lutero. Fixa o texto bíblico (definitivamente só em 1592) em latim, de que a Vulgata de S. Gerónimo se tornou modelo e aí se prescreve o modo de interpretação das Escrituras, modo que não pode contrariar o sentido que Roma definiu, pois só a esta cabe o verdadeiro sentido e interpretação da Bíblia, em conta se devendo ter o unânime consenso dos padres da Igreja; é o segundo decreto da mesma sessão. Intensificam-se os instrumentos de luta recorrendo à confissão auricular, ao ensino e à pregação para reconquistar os reformados.
            O sermão é o instrumento mais directo de ensino da doutrina e da sua defesa. É o instrumento por excelência da cultura de massas. O púlpito transformou-se verdadeiramente no meio quase exclusivo de catequese e apologética. Proliferam os pregadores, como Filipe de Néri (1515-1595), Bernardino Ochino, fundador da ordem reformada dos Capuchinhos (1564). O sermão será o sismo do cisma da Reforma.
            São as Ordens religiosas que vão ter um papel importante neste combate à Reforma. Os jesuítas, pelo ensino nos seus Colégios de formação profunda e disciplinada e pela pregação, tornar-se-ão num sério e temível adversário dos Reformadores.
            Relativamente ao culto, o acento tónico é posto na exteriorização, no sensível; sentir a religião é o que a Contrarreforma quer do crente. Insiste-se no culto da presença real de Cristo, no da Virgem e dos Santos materializados numa proliferação maciça e universal de imagens, exactamente contra o que os reformadores apregoavam e praticavam na sua iconoclastia. O visível devia predominar no culto: eis a pompa das cerimónias concretizadas na arquitectura barroca das grandes proporções onde a luz penetra larga e abundantemente, onde a exuberância sensorial e/ou sensual e a riqueza de adornos decorativos, multiplicando-se, devem atestar a vitalidade e a jovialidade da religião. A Igreja de Jesus dos jesuítas, em Roma, serviu de modelo para a arquitectura e a pintura barrocas, a ponto de o estilo barroco ter sido designado de «estilo jesuíta». O grande barroco setentrional, Rubens (1577-1640), amigo dos jesuítas, ilustrou este estilo nas suas pinturas – em que o triunfo da religião, da fé e do papado são evidentes. De Bernini (1598-1680), fundador do barroco monumental e decorativo, afamado arquitecto, escultor e pintor ao serviço de Urbano VIII e de outros papas, ainda hoje podemos admirar o gosto e a realização de cenografias animadas e de efeitos monumentais, movimentados e imprevistos. Aqui, de facto, nasce a arte barroca, que se pode considerar a expressão artística essencial da Contrarreforma. Daqui, como as ideias de Trento, embarcou o barroco para os países católicos onde acabou por se impor renovando completamente os temas da iconografia religiosa e proporcionando um novo e grandioso desenvolvimento da arte sacra que, por sua vez, marcou a própria arte profana, bem visível por essa Europa fora. Uma curiosidade: a única vez que Bernini deixou Roma foi a pedido de Luís XIV e de Colbert para construir a fachada principal do Louvre, cujo projecto o monarca francês acabou por rejeitar, tendo, porém, Bernini esculpido o busto de Luís XIV (Museu de Versalhes). A arte profana, influenciada pelo barroco romano, também proliferou, dando lugar à chamada «arte de Corte» em que, à semelhança da papal, a pompa dos monarcas, o fausto dos príncipes, a grandiosidade dos nobres campearam. Era o absolutismo que se manifestava também no exterior, permitindo-nos verificar que, se a arte também expressar (a) verdade, então é a arte, em todas as suas manifestações, que mais verdade fala acerca da época em que o absolutismo triunfou. Ou seja, o barroco é um dado histórico tanto quanto o é artístico, em todas as suas formas realizadas.
            Dentro deste contexto, o sermão acabou por sobrevalorizar o delectare, isto é, o provocar o deleite quer no pregador quer nos ouvintes; assim, ficou prejudicado o docere, isto é, o ensinar a doutrina cristã. Contra esta pecha se insurgiu Vieira, nem sempre com êxito.
            A literatura traduziu com relevo o movimento, concedendo o primado à sensação e à emoção sobre a ideia que de todo não negligencia, evidenciando o gosto do patético violento, a embriaguez e o arrebatamento do espírito na livre criação das formas, recriando uma retórica expressiva, feita de imagens entusiasmantes de ênfase, de hipérboles, de anacolutos, de antíteses, de paradoxos, etc., e alimentada pelo jogo das palavras e dos conceitos. Mesmo que remotamente, o barroco literário foi fruto da Contrarreforma, considerada esta não tanto no seu aspecto fundamentalmente religioso, mas nas consequências prático-artísticas que estão implícitas e explicitadas na busca da manifestação formal, sensível e esplendorosa, que a arquitectura, como primeira, materializou em obediência ao imperativo do fausto que o papado lhe quis imprimir.

O século XVII em Portugal e o sermão

            A situação de instabilidade de um Portugal pós-Restauração (independente mas em crise, pressionado pela constante ameaça estrangeiro aos nossos domínios ultramarinos), e a defesa dos direitos humanos, nomeadamente dos índios do Brasil escravizados pelos colonos, bem como dos Cristãos-Novos perseguidos pela Inquisição, são preocupações a que Vieira se manteve sempre fiel até ao fim da sua vida.
            Ao assumir o poder, D. João IV teve de enfrentar um país moralmente exausto e financeiramente decadente em consequência da longa luta travada com Castela. A monarquia encontrava-se ameaçada e perigosamente vacilante, despojada como estava de órgãos de autoridade capazes de lhe garantir o poder absoluto.
            Os cofres estavam vazios, muito por culta do deslizamento das receitas portuguesas (representadas principalmente pelo ouro que nos vinha de África e pelas especiarias originárias do Oriente) das mãos trémulas de um Portugal periclitante, para as implacáveis presas da Holanda e da Inglaterra, que reclamavam a sua parte de leão.
            Mesmo as minas de ouro descobertas no Brasil, precisamente quando ocorreu a morte do Padre António Vieira, só viriam a servir para alimentar a pobreza moral, como o profetizara já o orador em 1656, no sermão proferido no Grão-Pará, intitulado Sobre as Verdadeiras e as Falsas Riquezas (Sermão da 1.ª Oitava da Páscoa). Em terras brasileiras, o trabalhador comum, possesso pela miragem do vil metal, viria a abandonar as terras, os bens, a família, para enveredar por atalhos, não poucas vezes do crime e da desonra, em demanda do ilusório pássaro azul que obstinadamente porfiava em alcançar. Na Metrópole, a nobreza passaria a dar largas a um fausto desenfreado e efémero, sem cuidar de produzir algo de útil para o bem comum ao utilizar o «maná» que jorrava então do Brasil.
            Recordemos que o século seguinte assistiu ao arrecadar de um milhão de libras esterlinas nos cofres da rapace Inglaterra, pago integralmente por Portugal com o ouro proveniente das minas do Brasil. Deste modo, mais uma vez se veio a verificar a lastimável negligência lusitana, que desprezou uma ocasião ímpar de valer à pátria debilitada.
            Na época de Vieira já Portugal se debatia em desesperada luta para reconverter a economia e caminhar lado a lado com os outros países europeus. estes manifestavam-lhe, porém, uma marcada indiferença, mas opunham-se á sua entrada nos tratados internacionais. Mero peão num jogo de interesses entre nações omnipotentes, Portugal erra arrastado numa torrente de ambições e encontrava-se preso nas malhas tecidas por potências interessadas em lucros rápidos e vantajosos. Por seu lado, a Santa Sé recusava-se teimosamente a reconhecê-lo como nação independente.
            A Restauração só poderia subsistir se fosse financiada pelos «homens de negócios» que orientavam em Portugal as grandes transacções. Foi, com efeito, sobre os recursos económicos dos Cristãos-Novos que o País se apoiou nas horas difíceis do recomeço mediante a isenção do confisco inquisitorial que lhes foi concedida pelo monarca a conselho de Vieira.
            A causa dos Cristãos-Novos advogada por Vieira, para além do incontestável carácter humanitário, do patriotismo e da solidariedade para com a Companhia de Jesus (a qual tomava partido contra a Inquisição, sua eterna rival), tinha também uma finalidade económica, pois visava mitigar a miséria nacional através dos largos proventos dos Hebreus. Contudo, a mentalidade tacanha dos opositores de Vieira, incapaz de assimilar a sede de Infinito do cosmopolita, habituado a vastos espaços e ideias), não se detinha na marcha do seu fanatismo impenitente para considerar um eventual interesse económico. Cuidava somente em velar pela defesa do sangue incorrupto, livre de qualquer contaminação dos hereges.
            Representando uma apreciável parcela da burguesia nacional e o principal suporte financeiro e mercantil da nação, os Cristãos-Novos desempenharam um papel decisivo no comércio externo e contribuíram para uma notável transformação na sociedade portuguesa. Supremo esteio de um Estado financeiramente dependente, este grupo social viu ser contra si movida uma feroz perseguição levada a efeito pelo Santo Ofício, mas instigada pela nobreza em dependência directa da Coroa.
            Foram-se, entretanto, implantando influentes comunidades de cristãos-novos portugueses em Amsterdão, Hamburgo, Ruão e Veneza, dando origem a uma verdadeira rede internacional de comércio. A repressão de que foram vítimas e, sobretudo, os processos diabólicos utilizados pela Inquisição, justificam a incansável defesa dos direitos desta raça segregada feita por Vieira.
            Era, pois, angustioso o clima que se vivia então em Portugal, tanto no aspecto económico, como político, como social. A Nação definhava em consequência das perdas sofridas. Os Holandeses haviam-se apoderado de cinco capitanias do nordeste brasileiro e para as suas mãos resvalara também Angola e São Tomé. Era urgente reconquistar esses territórios, mas impunha-se, igualmente, a celebração de uma aliança entre os dois países para esmagar Castela. Interessava a Portugal a influência da Holanda no xadrez político para a sua admissão no Tratado de Vestefália, pois tal equivaleria ao reconhecimento da independência por parte da Europa.
            Vieira chegou a Haia em abril de 1646, onde projetava negociar a paz com a Holanda através da entrega de Pernambuco. Contava o jesuíta, para realizar os seus planos, com o auxílio de judeus portugueses de Amsterdão. A Inquisição, porém, interveio e prendeu um importante cristão-novo que conduzia os negócios, lançando o descrédito sobre o enviado régio.
            A ideia de entregar Pernambuco aos Holandeses, de que Vieira parece ter sido um dos principais promotores, conheceu pertinaz oposição. Na opinião geral, o «Judas do Brasil» pecava, sobretudo, por falta de patriotismo. No entanto, como se depreende da leitura do «Papel Forte» por ele redigido, a velha raposa matreira ocultava, sob aparente capa de generosidade gratuita, a astuta decisão de se vir a reaver o que por ora se fingira dar de boa mente: «Desta maneira damos Pernambuco aos Holandeses, e não dado, senão vendido pelas conveniências da paz, senão a retro aberto, para a tornarmos a tomar com a mesma facilidade, quando nos virmos em melhor fortuna; que agora, é querer perder isto e o demais.»
            Por atitudes como esta, Vieira tem sido bastas vezes acusado de ter proposto soluções políticas nem sempre isentas de duplicidade; porém, há que considerar o próprio comportamento desleal dos outros países. A Holanda, por exemplo, com quem mantínhamos relações de paz na Europa, não se esquivava a atacar-nos no Brasil, enquanto que a Espanha estava secretamente ligada a essa nação que Vieira descrevia como pátria de anfíbios, composta de «peixe e homem».
            De outras missões diplomáticas se encarregou Vieira. A França foi ajustar o casamento da filha do Duque de Orleães, a vigorosa «Grande Demoiselle», com o jovem e frágil D. Teodósio, príncipe herdeiro. Não foi feliz nessa missão porque a ela se opôs tenazmente o cardeal Mazarino. Provocar em Nápoles um movimento de revolta contra os Castelhanos e promover o casamento de D. Teodósio com a filha de Filipe V eram os propósitos que animavam António Vieira na sua viagem a Itália em janeiro de 1650, numa empresa condenada uma vez mais ao fracasso. Não obstante, o seu espírito combativo não cessava de vibrar.
            Um dos eventos históricos que já vinha recrudescendo ao longo de toda a dominação filipina foi o Sebastianismo, forma de louca ânsia messiânica num rei justo e redentor de uma pátria mergulhada em letargia. As profecias do sapateiro de Trancoso, amálgama insipiente de citações bíblicas e de lendas populares, traduziam o anseio de liberdade e a esperança projectada num herói libertador. Ideal cristalizado na memória de um povo sedento de autonomia, a crença sebastianista no predestinado incitou os espíritos à luta pela independência nos anos sombrios da repressão castelhana. À semelhança dos seus contemporâneos, Vieira não se mostrou insensível ao apelo profético, que ia aliás tão ao encontro do seu marcado pendor, avivado por uma educação escolar propícia a cogitações visionárias. Do alto do púlpito, desafiando corajosamente os algozes da Inquisição, o jesuíta modela um Sebastianismo novo, ajustado ao contexto da Regeneração. É o mito judaico do Quinto Império transferido para o solo português, berço de um rei eleito de Deus que será o Imperador da Terra em serena aliança com o Pontífice de Roma, entidade centralizadora do poder espiritual.
            D. João IV torna-se o Messias que, após sessenta anos de humilhante subordinação a Castela, vem libertar o país e devolver-lhe o estatuto de nação escolhida para os desígnios do Eterno. O monarca é o novo Encoberto capaz de redimir o seu povo e conduzi-lo à Salvação. Resgatada a pátria, urge dilatar a Fé que há-de congregar em torno de si judeus e indígenas, sem distinção de raça ou credo, unidos na condição comum de filhos de Cristo e portadores da centelha divina. Mas o visionarismo em Vieira não se limita a uma mera atitude passiva; antes o conduz de imediato à acção a partir do momento em que deixa de combater o Sebastianismo para se empenhar com toda a fé na crença de um novo Encoberto. Sensível ao fascínio dos mistérios da Bíblia que procura explicar, Vieira consegue, no entanto, conservar intacta a sua atenção à realidade política e social, pronto a denunciar abusos e a condenar prepotências. No seu grito de revolta esconde-se a crítica enérgica a uma sociedade injusta e corrupta.


terça-feira, 24 de setembro de 2019

Coerência textual - Correção (G 58)

1. A
2. D
3. G
4. B
5. E
6. F
7. C
8. H
9. I

2.
a) interveio; esteve
b) emitem
c) imitem

3.
3.1. “controlar” – contornar; “cumprida” – comprida; “germinadas” – geminadas; “aderência” – adesão; “cotas” – quotas; “facilidades” - comodidades

4.
4.1.
a) Estava doente, por isso, não foi para a escola. / Estava doente; no entanto, foi para a escola.




. Ficha

Dêixis / Deíticos II (G 59)


1. Leia o diálogo seguinte, tendo em consideração o contexto.

(Contexto: na feira; diálogo entre o professor de o vendedor de calçado e o professor de Filosofia)

– Bom dia! Quanto custam as galochas que estão ao lado dos chinelos de praia?
– As galochas custam 35 euros, mas as que estão aqui junto de mim são mais baratas.
– Sim? E quanto custam?
– 25. São quase de graça.
– Sei… de graça… E as que estão lá ao fundo da bancada?
– Bom, essas são carotas: 55 euros, já com desconto.
– Ó sr. Eusébio, isso é um roubo! Assim sendo, vou levar as que estão junto de si.
– Hum! Se é uma questão de dinheiro, de preço, talvez devesse levar as botas que estão aos seus pés. Vai bem servido também e poupa dinheiro.

1.1. Substitua as expressões sublinhadas por determinantes e pronomes demonstrativos adequados.

a. ………………………………………….          d. …………………………………………..
b. …………………………………………..         e. …………………………………………..
c. …………………………………………..

2. Leia o texto, tendo em conta o contexto que o rodeia.

(Contexto: transcrição de uma conversa telefónica entre o Ernesto e a Miquelina, que teve lugar no dia 4 de setembro, durante a manhã)

Ernesto – Ontem estive em casa do Eusébio.
Miquelina – O que foste lá fazer?
Ernesto – Fui ver o que se passava. Disseram-me que teve um acidente.
Miquelina – Ah, coitado! Fiquei de falar com ele amanhã por causa do almoço de sábado.
Ernesto – É verdade, temos de acertar isso. Tu estás em casa, hoje?
Miquelina – Não. Agora estou no escritório e só devo regressar ao fim da tarde. Queres passar por lá a essa hora?
Ernesto – Vou verificar a minha agenda e ligo para aí.
Miquelina – Está bem. Fico a aguardar.

2.1. Refira os deíticos que identificam os participantes no discurso.
……………………………………………………………………..
……………………………………………………………………..

2.2. Indique os referentes do deítico «lá» nas duas ocorrências no texto (ll. 2 e 7).
……………………………………………………………………………
……………………………………………………………………………

2.3. Identifique o referente do deítico espacial «aí» (l. 8).
……………………………………………………………………………

2.4. Identifique os referentes dos deíticos «ontem» (l. 1), «amanhã» (l. 4), «hoje» (l. 5) e «agora» (l. 6).
…………………………………………………………………..
…………………………………………………………………..
…………………………………………………………………..
…………………………………………………………………..

2.5. Indica o tipo de dêixis assegurado pelos advérbios indicados em 2.4.
……………………………………………………………………

3. Assinale a alínea que corresponde à afirmação correta.

3.1. No enunciado «Amanhã, almoçarei convosco, a palavra destacada assegura a dêixis
a. temporal.
b. espacial.
c. textual.
d. pessoal.

3.2. No enunciado «Ainda ontem vos pedi que fossem menos barulhentos.», as palavras sublinhadas asseguram a dêixis
a. espacial e temporal.
b. temporal e pessoal.
c. espacial e pessoal.
d. textual e pessoal.

3.3. Na frase «O estojo está ao lado do livro do Ernesto.», a expressão sublinhada assegura a dêixis
a. pessoal.
b. espacial.
c. temporal.
d. espacial, temporal e pessoal.

3.4. No enunciado «Um rei fez a promessa de edificar um convento que, hoje, é muito visitado pelos alunos portugueses.», a palavra sublinhada assegura a dêixis
a. pessoal.
b. espacial.
c. temporal.
d. textual.

3.5. No enunciado «Já o padre Bartolomeu Lourenço regressou de Coimbra, já é doutor em cânones…», as palavras sublinhadas asseguram, respetivamente, a dêixis
a. espacial e temporal.
b. pessoal e espacial.
c. pessoal e temporal.
d. pessoal, espacial e temporal.


. Correção

"O sentimento dum ocidental"

         “O Sentimento dum Ocidental” é a investigação final e definitiva de Cesário Verde sobre a cidade. Tal como “Noite Fechada”, o poema regista as percepções e as impressões de um observador caminhando nas ruas nocturnas da cidade, com a diferença de que o narrador do presente texto passeia sozinho.
         Estamos, assim, na presença de um extenso poema composto por 44 quadras, distribuídas por 4 secções de 11 quadras (Avé-Marias, Noite Fechada, Ao Gás, Horas Mortas), cujo tema é o desespero e protesto de um português atormentado, face à cidade de Lisboa, percorrida desde o anoitecer às "horas mortas". Este é o sentimento que a civilização provoca, e ao mesmo tempo é um produto dela e um protesto contra ela.
         O seu passeio não é apenas um movimento no espaço das ruas da cidade; é também um processo no tempo, uma viagem para dentro da noite durante a qual o narrador penetra e confronta o mundo simbólico de sombras reais que é a cidade nocturna. Noite e cidade, como em “Noite Fechada”, são equivalentes simbólicos.
         A cidade é Lisboa; o “sentimento” do título é o do narrador, natural do extremo ocidental da Europa, um português. Mas a cidade também representa o todo da civilização ocidental a que Portugal pertence; e o sentimento que ela provoca é ao mesmo tempo um produto dessa civilização e um protesto contra ela.
         A progressão da noite, desde o crepúsculo e o acender das luzes até à completa escuridão das “horas mortas”, é acompanhada, num complexo contraponto, por um correspondente aprofundamento dos sentimentos e percepções do caminhante solitário nas ruas da cidade. O melancólico “desejo absurdo de sofrer” despertado pelo anoitecer é justaposto com uma nostálgica evocação visionária do passado; a mórbida exacerbação da angústia ao acender das luzes é justaposta com as alucinações febris de um presente fantasmagórico; a intensificada amargura provocada pela crescente escuridão é justaposta com a presença espectral dos seres reais que se movem na cidade; finalmente na escuridão total das horas mortas, a evocação ansiosa de um futuro gerado pela própria noite, como a sua necessária negação num novo dia, é justaposta com a culminante visão desesperada da dor humana como um sinistro mal de fel em busca dos seus amplos horizontes bloqueados.
         Em termos formais, o poema é constituído por quadras com versos decassílabos e alexandrinos (12 sílabas – conferem maior teor descritivo e analítico à narração). A estrutura estrófica é fragmentada, igual à percepção do real. A estrutura métrica é composta de frases independentes ou coordenadas que ajudam à descrição duma cidade que o deprime e nauseia; para exprimir este sentimento, temos o uso de frases exclamativas, traduzindo espanto, surpresa, prazer, revolta. Notemos também o uso da rima interpolada e a abundância da aliteração.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

"A fim de" e "afim"

     A expressão "a fim de" é uma locução que expressa uma ideia de finalidade e equivale a "para" e "para que":
          . Fui ao estádio a fim de me despedir de Jonas.

     O adjetivo "afim" significa "ter afinidade, parentesco ou semelhança"; "próximo, aderente, comum":
          . A nova loja do Continente vende produtos de cosmética e afins.
          . Eu e o Ernesto temos amigos afins.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

O custo climático dos smartphones

     Todos sabemos que as tecnologias têm um custo pesado para o Ambiente da Terra.
     Um relatório recente do European Environmental Bureau (EEB) veio mostrar isso mesmo e como é urgente agir nessa matéria.
     Atente-se nalgumas das conclusões:
  • a produção dos smartphones da Europa tem o maior impacto climático entre os produtos analisados;
  • o ciclo de vida dos smartphones da Europa é responsável por 14 milhões de toneladas de emissões de CO2eq por ano, o equivalente a 25% das emissões médias em Portugal nos últimos anos. Aumentar um ano da vida útil destes gadgets permitiria economizar mais de 2 milhões de toneladas de emissões.

Encarregada de Educação condenada por injúria agravada e denúncia caluniosa a Professor

     Em determinada aula, certo professor passou uns exercícios no quadro e solicitou aos alunos que os registassem nos seus cadernos diários. À medida que foram acabando a tarefa, o docente foi circulando pela sala no sentido de verificar se a mesma tinha sido efetivada de forma adequada. Durante o périplo, notou que uma das alunas, já de caderno fechado e em amena cavaqueira com o colega de carteira, não tinha cumprido o que lhe havia solicitado.
     Ato contínuo, a aluna foi advertida do seu comportamento incorreto e informada de que seria objeto da marcação de falta, tendo então abandonado a sala de aula sem qualquer interação com o professor.
     Volvidos alguns minutos, a jovem reapareceu à porta da sala acompanhada da sua encarregada de educação, que «exigiu» ao professor que as acompanhasse até à direção, ao que aquele retorquiu que lhe era impossível tal, dado estar a lecionar uma aula. A situação degradou-se ainda mais (nos termos relatados na sentença abaixo transcrita) e só uma assistente operacional terá impedido que a agressão física ao docente se tivesse concretizado.
     É chamada a polícia, que toma conta da ocorrência, e o processo segue para tribunal, o qual emitiu uma sentença que, seguidamente, se reproduz a partir do post do ComRegras [aqui]:


quinta-feira, 12 de setembro de 2019

O teatro de Shakespeare

            No Globe, o teatro de Shakespeare construído em 1599, o palco estava aberto para o céu. O palco foi empurrado para o meio do “fosso” ou “páteo”, onde as pessoas que pagavam um centavo pela entrada ficavam ao redor de três lados do palco. Fornecedores que vendiam comida e álcool andavam pela plateia durante toda a apresentação. Além do palco e do fosso, havia uma área chamada galeria, que continha bancos cobertos. Esses assentos eram caros e reservados para clientes mais ricos. "Os céus" era um teto pintado sustentado por duas colunas que cobriam o palco. Um alçapão no céu permitia que os membros do elenco criassem efeitos especiais, como colocar pétalas de flores no palco durante uma cena do casamento, ou até mesmo abaixar atores em cordas ou fios para entradas “voadoras”. Efeitos sonoros como trovões ou pistas musicais também podiam ser criados nos céus.
            As peças eram realizadas à luz do dia, geralmente à tarde. Quando uma cena acontecia à noite, os atores traziam tochas flamejantes para o palco para sinalizar à plateia que era suposto estar escuro. O acompanhamento musical era providenciado por músicos numa varanda atrás do palco. Essa varanda também era usada quando uma peça de teatro exigia uma localização no andar de cima, como o quarto de Julieta em Romeu e Julieta. Os trajes eram elaborados e caros, geralmente os rejeitos de nobres muito ricos. O público elizabetano apreciava um espetáculo. Durante a produção de Henrique VIII, em 1613, um canhão foi disparado, o que se tornou uma questão de memória pública, porque uma faísca perdida do canhão deu origem a um incêndio que destruiu o teatro por completo, sendo reconstruído no espaço de um ano. No final da carreira de escritor de Shakespeare, em 1608, a sua empresa começou a usar um teatro interno para apresentações de inverno. O Teatro Blackfriars estava organizado como um teatro moderno, com fileiras de assentos em frente ao palco. Os preços das entradas eram mais altos do que no Globe, pelo que provavelmente atraíam um público mais rico.
            Em Hamlet, a personagem que dá nome à peça chama os membros da plateia que só podiam pagar ingressos de “groundlings”. Ele diz que eles só entendem “shows mudos e barulho”. Os groundlings provavelmente tinham pouca semelhança com o público atento e bem-comportado que associamos ao teatro hoje. Os membros da plateia que ficavam em pé no fosso estavam tão perto que podiam tocar nos atores. Estes falavam diretamente com eles, e os groundlings respondiam, torcendo pelas personagens heroicas e vaiando os vilões. Se o público não gostava da peça, irritava-se e até atirava coisas aos atores. O teatro não era uma forma de arte de elite, mas um entretenimento popular, apreciado por todos os níveis da sociedade. Nas suas peças, Shakespeare reflete a diversidade do público, recorrendo à linguagem, ao conhecimento especializado e às ideias de todos os níveis da sociedade. Os fundadores provavelmente não entenderam as referências latinas, gregas e filosóficas nas peças, mas mesmo as tragédias contêm humor físico, jogo sexual de palavras e gírias que os fundadores teriam apreciado. Por exemplo, Henrique IV, Parte 1, usa a terminologia da lei e da diplomacia, mas também inclui a gíria de proprietários, soldados e prostitutas.

A época de Shakespeare: a Bíblia inglesa

            Na Inglaterra católica, era ilegal publicar a Bíblia em qualquer idioma além do latim, mas os protestantes acreditavam que ela deveria estar disponível nos idiomas que todos entendiam. Desde a infância, Shakespeare ouvia a Bíblia lida em inglês todos os domingos. Quando estudante, ele provavelmente traduziu passagens bíblicas do latim para o inglês e vice-versa e estudou-a como adulto também. As suas peças e poemas fazem centenas de referências a várias traduções diferentes da Bíblia, incluindo a oficial dos Bispos e a mais popular Bíblia de Genebra. Shakespeare até faz uma referência ao prefácio dos editores desta última. O Prefácio explica que, para a "edificação" dos seus leitores, os editores "têm anotado nas margens" lugares onde acham que as escrituras apoiam as suas crenças protestantes. Em Hamlet, Horatio zomba de Osric por usar termos tão obscuros que precisam de explicação.
            A influência da Bíblia na escrita de Shakespeare é tão profunda que às vezes é difícil dizer onde termina a linguagem dela e começa a de Shakespeare. Às vezes, o dramaturgo cita diretamente o texto da Bíblia, mas mais frequentemente inclui uma citação parcial, uma alusão ou uma paródia. Um exemplo típico de como Shakespeare se baseia na Bíblia é o título da peça Medida por Medida. Este título não é uma citação direta da Bíblia, mas baseia-se numa passagem bíblica (Lucas 6.38). Quando Iago diz: "Não sou o que sou", a audiência de Shakespeare entenderia que o vilão de Otelo está virando de dentro para fora o que Deus diz a Moisés: "Eu sou o que sou" (Êxodo 3:14).
            É provável que Shakespeare esperasse que o seu público pudesse recordar histórias e episódios inteiros da Bíblia. Em Como você gosta, Orlando sente que seu irmão Oliver o tratou injustamente. Ele pergunta a Oliver: “Que parcela pródiga eu gastei para chegar a tal penúria?” Essa é uma alusão à parábola de Jesus do filho pródigo, sobre o filho mais novo de um homem rico que gasta toda sua herança e acaba sem teto . Na parábola de Jesus, o filho mais novo volta para casa com seu pai, que fica muito feliz em vê-lo, e a alegria do pai deixa seu filho mais velho com ciúmes. Ao se referir a essa história, Orlando sugere algo sobre seu relacionamento com Oliver que nenhum dos irmãos pode dizer diretamente. Um público familiarizado com a história entenderia que, na opinião de Orlando, Oliver está se comportando mal porque está com ciúmes do relacionamento que seu irmão mais novo teve com o pai.
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