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Localização:
- espacial: interior de uma
fábrica, em plena e intensa atividade (o sujeito poético está rodeado de
máquinas, sob a luz forte das “grandes lâmpadas elétricas”;
- temporal: presente em que o
sujeito poético observa a fábrica; noite? (a luz das lâmpadas).
- estado febril, doentio, delirante
(“Tenho febre e escrevo”) – canta o progresso e a modernidade de forma
entusiástica;
- sente dor (“À dolorosa luz…”);
- em fúria (“rangendo os
dentes””.
- engenheiro;
- escritor (“Escrevo”):
. o ambiente inspira-o a escrever
(violentamente) um cântico novo sobre a beleza da civilização moderna;
. a realidade que o cerca
provoca-lhe sensações contraditórias:
- deleita-se a apreciar a beleza
do que o rodeia;
- mas essa beleza/realidade
causa-lhe dor.
- valoriza-se a “beleza” da
civilização moderna, diferente da beleza aristotélica clássica, que assentava
nas noções de Perfeição, Equilíbrio, Agradável, Harmonia, Proporção e Elegância,
porque a realidade moderna não as tem;
Álvaro de Campos, na “Ode Triunfal”,
põe em prática o que havia teorizado nos seus Apontamentos para uma
estética não aristotélica (revista “Athena”, números 3 e 4). De acordo
com a conceção de Aristóteles, a arte/a estética assentava nas ideias de
beleza, de perfeição, de equilíbrio, do agradável comandado pela
inteligência. Na esteira de Walt Whitman, o heterónimo de Pessoa apresenta
uma nova conceção, sustentada nos seguintes princípios:
▪ assenta nas
ideias de força, dinamismo, energia explosiva, volúpia da imaginação; ▪ o sentir
predomina em relação ao pensar, por isso o importante não é a beleza dos
maquinismos em si mesmos, mas as sensações que eles despertam e o modo como
se codificam, ao nível da expressão, essas sensações; ▪ não é a beleza
clássica saída da inteligência que cativa o sujeito poético, mas a força
caótica e explosiva produto de uma emotividade individual desordenada e
caótica, de um subconsciente em convulsão; ▪ daí que Campos
queira transformar-se na realidade excessiva que o cerca e cantar tudo “com
um excesso / De expressão de todas as (…) sensações com um excesso
contemporâneo” das máquinas (vv. 26 a 32). |
• O Sensacionismo é uma
estética criada por Fernando Pessoa e por Mário de Sá-Carneiro e encontramos a
sua marca na poesia de Álvaro de Campos e de Alberto Caeiro.
• Na poesia, privilegia a
representação das sensações (visuais, auditivas, etc.) de que o sujeito poético
teve consciência no seu contacto com o mundo que o rodeia.
• Perpassa a “Ode Triunfal” o
princípio de sentir tudo de todas as maneiras e ser tudo e todos
nesta realidade moderna, urbana e industrial.
• Na “Ode Triunfal”, o
Sensacionismo associa-se ao Futurismo na ideia de sentir em excesso (e
em delírio) o mundo moderno e de representar a forma como os sentidos aprendem
essa realidade.
- onomatopeias: “r-r-r-r-r-r-r
eterno!” (v. 5);
- ritmo rápido e excessivo: “Em
fúria fora e dentro de mim, / Por todos os meus nervos dissecados fora”
(vv. 7-8);
- repetições: “Canto, e canto
o presente” (v. 17);
- enumerações: “(…) e canto o
presente, e também o passado e o futuro” (v. 17);
- aliterações: “Rugindo,
rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando” (v. 24);
- frases exclamativas: “Ah,
poder exprimir-me todo como um motor se exprime!” (v. 26);
- interjeições: “Ah” (v.
26);
- adjetivação: “Desta flora
estupenda, negra, artificial e insaciável!” (v. 32).
- audição:
. “r-r-r-r-r-r-r eterno”
(v. 5);
. “ruídos modernos”;
- visão:
. “e olhando os motores”
(v. 15);
- paladar/gosto:
. “Por todas as papilas fora de
tudo com que eu sinto!” (v. 9);
. “Tenho os lábios secos” (v. 10);
- tato:
. “Fazendo-me um excesso de carícias
ao corpo numa só carícia à alma” (v. 25);
. “calores” (v. 31);
- olfato:
. “perfumes de óleos” (v.
31);
- finalidade/significado:
no seu estado febril, o sujeito poético procura captar as sensações provocadas
pelas máquinas através dos sentidos;
- simultaneidade e exacerbação
sensorial:
. a pluralidade sensorial – “Sentir
tudo de todas as maneiras” – é uma forma/um método de conhecimento da
dinâmica da vida moderna;
. a intensidade e o sincronismo
conferem maior captação de captação sensitiva, já que esta se caracteriza pela
sua fugacidade e fragmentação → o sujeito poético sente
intensamente.
- “E arde-me a cabeça de vos
querer cantar com um excesso / De expressão de todas as minhas sensações / Com
um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!” (vv. 12-14);
- “Ó coisas todas modernas, /
Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima / Do sistema imediato do
Universo / Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!” (vv. 45-48).