Reis tem uma consciência aguda de que a vida é efémera
e transitória, de que o Tempo passa de forma célere e de que qualquer ato
humano é pequeno e infrutífero perante estas realidades. Receia a velhice e a
morte, que é inevitável. Além disso, está consciente de que o Homem é débil
perante forças maiores que o oprimem. Assim, angustiado por tudo isto e pela noção de um Destino
inexorável, procura na sabedoria dos antigos um remédio para os seus males,
nomeadamente para a dor da caducidade e o peso da Moira cruel. Que
remédio é esse? Trata-se da aceitação com altivez do Destino que lhe é
imposto e que lhe proporcione a indiferença face à morte. Reconhecendo que a
vida de cada um, não obstante ser instável e contingente, é o único bem em
que podemos, até certo ponto, firmar-nos, souberam construir a partir dele
uma felicidade relativa, encarando com lucidez o mundo. |
O ser humano é uma vítima indefesa do Destino e
está sujeito à passagem do Tempo, que inevitavelmente traz o envelhecimento,
a doença e a morte a uma vida que é efémera. Consciente de que qualquer
esforço é inútil, renuncia e busca a aceitação calma do Destino. Em suma, a vida é fugaz, a morte é certa, o Destino
comanda-nos, daí que devamos recusar compromissos afetivos (“Desenlacemos as
mãos”) e sociais (“Antes magnólias amo / Que a glória e a virtude”) para
chegar à morte de mãos vazias e sem dor. |
• A vida como
«encenação» da hora fatal (previsão e preparação da morte): despojamento de
bens materiais, negação de sentimentos excessivos e de compromissos.
Reis, consciente do fluir inexorável do tempo,
aceita a efemeridade da vida, bem como a inevitabilidade da morte. Numa
atitude epicurista e estoica do equilíbrio interior pela busca de um prazer
relativo, o poeta sustenta que a própria vida deve ser encarada como encenação
da morte, através da autodisciplina, da abdicação, da renúncia a
compromissos afetivos e sociais, da aceitação calma e serena da vida, da
submissão ao Destino e da aceitação da inevitabilidade da Morte. |
• Intelectualização
de emoções e contenção de impulsos.
A filosofia de Reis resume-se num epicurismo
triste. Para ele, cada indivíduo deve viver a sua própria vida,
isolando-se dos outros e procurando apenas o que lhe agrada e apraz. Deve
renunciar às emoções violentas: o poeta racionaliza as emoções e recusa o seu
valor, face à realidade que descobre, através do pensamento. O Homem deve buscar o mínimo de dor e, sobretudo, a
calma e a tranquilidade, abstendo-se de esforços e da atividade útil. Deve
procurar dar-se a ilusão da calma, da liberdade e da felicidade, coisas
inatingíveis, pois, quanto à liberdade, os próprios deuses – também eles
comandados pelo Destino – não a têm; quanto à felicidade, não a pode viver
quem está exilado da sua fé e do meio onde a sua alma devia viver; e quanto à
calma, quem vive angustiado, sempre à espera da morte, dificilmente pode
fingir-se calmo. A obra de Reis, profundamente triste, é um esforço lúcido
e disciplina para obter uma calma qualquer. Epicurista, o homem de sabedoria conquista a
autonomia interior na estrita área de liberdade que lhe restou. Essa
conquista começa por um ato de abdicação, por uma atitude de autodisciplina.
O primeiro objetivo é submeter-se voluntariamente ao Destino, que deste modo
cumprimos altivamente, sem um queixume. O homem sábio chega mesmo a
antecipar-se ao próprio Destino, aceitando livremente a morte. O segundo
objetivo é depurar a alma de instintos e paixões que nos prendem ao
transitório, alienando a nossa vida. A ataraxia, note-se, não implica para
Epicuro ausência de prazer, mas indiferença perante todo o prazer que nos
compromete, colocando-nos na dependência dos outros ou das coisas. Além
disso, os prazeres epicuristas são tipicamente espirituais, como a leve
recordação melancólica dos bons momentos do passado. |
• Vivência
moderada do momento (o presente como único tempo que nos é concedido).
Na esteira da Antiguidade clássica, Reis confessa a
Lídia que prefere o presente precário a um futuro que teme porque o
desconhece. A sabedoria consiste precisamente em gozar o presente (carpe
diem) de forma moderada, pois o futuro é uma incógnita e a vida é
efémera. |
• Preocupação
excessiva com a passagem do Tempo e com a inelutável Morte (apesar do esforço
empreendido na construção da máscara poética).
Reis é um epicurista triste: faz a apologia do gozo
comedido, do carpe diem e da suprema indiferença, de acordo com o
Epicurismo. Por outro lado, apela à fortaleza de ânimo para enfrentar o
fatalismo da morte e a dor de viver, segundo o Estoicismo. Estes princípios
têm como finalidade atingir a (pouca) felicidade que é permitida aos seres
humanos: viver «sem desassossegos grandes», aceitando as leis do Destino, e
aguardar a morte de forma serena e digna. A efemeridade da vida e a
inevitabilidade da morte são temáticas obsessivas e geradoras de
grande angústia que o poeta procura superar através do domínio da emoção pela
razão, isto é, pela intelectualização das emoções. É uma lição de não-vida: não amar para não sofrer,
não desejar para não ser desiludido, não questionar para não encontra o
vazio. |
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