Português: Análise da "Ode Triunfal" (3.ª parte)

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Análise da "Ode Triunfal" (3.ª parte)

 Forma
 
         O poema é composto por estrofes de extensão variada (vv. 4, 10, 11, 17, etc.) e por versos em que não existe uma regularidade métrica (vv. 23, 6, 16, 24, etc.). Esta irregularidade sugere a exaltação (aparentemente) descontroladora do «eu» lírico e a ideia de que uma nova realidade pede um novo tipo de poesia que seja menos presa à regularidade.

 
Rutura com a lírica tradicional
 
1. Formal:

- irregularidade estrófica, métrica e rítmica;

- uso excessivo de coordenação, em detrimento da subordinação;

- catadupa de recursos expressivos (onomatopeias ousadas, apóstrofes e enumerações exageradas…);

- predomínio de vocabulário técnico, destituído de valor poético.

 
2.▪Conteúdo:

- uso de palavras completamente prosaicas (comuns ou vulgares);

- o canto excessivo da civilização industrial, encarada como matéria épica;

- a ousadia de mencionar os aspetos negativos da sociedade.

 
 
Influências
 

A “Ode” evidencia a presença do futurismo de Marinetti: Campos canta as máquinas, os motores, a velocidade, a civilização mecânica e industrial…

 
Futurismo:

- Movimento italiano de início do século XX (Marinetti);

- Rutura com a vida e a arte do “passado” (a perspetiva aristotélica);

- Criação de uma nova estética para um novo mundo;

- Celebração da modernidade industrial e urbana;

- Culto da máquina e da velocidade;

- Fruição do mundo moderno (ligação ao Sensacionismo de Pessoa), feita através das sensações.4

 
. Em Portugal, o Futurismo é uma das facetas do Modernismo. Derivou do Futurismo de Marinetti, cujo primeiro manifesto saiu no jornal Figaro em 22 de novembro de 1909.

. Tem um cariz agressivo e escandaloso e propõe-se cortar com o passado, exprimindo em arte o dinamismo da vida moderna.

. Desponta, em Portugal como um escândalo, tal como desejado pelos seus iniciadores (Almada Negreiros e Santa-Rita Pintor), apelidados de «malucos» e «loucos» pelos jornais.

. Os textos distinguem-se por uma enorme quantidade de frases exclamativas, de invetivas e de insultos, com o intuito de desmistificar, demolir, acabar com os hábitos culturais esclerosados e retrógrados: criar a pátria portuguesa do século XX (segundo Almada).

 
Por outro lado, o poema evidencia também a presença do sensacionismo de Walt Whitman: Campos canta a civilização moderna industrial, mas, mais do que os objetos – as máquinas, os motores, etc. ‑, o que ele busca são as sensações que lhe despertam, num desejo de sentir tudo de todas as maneiras.
 
Por outro lado, em diversos momentos sente-se a presença do Pessoa ortónimo: a sua inteligência torturada (a denúncia do lado da civilização moderna), a referência à infância…
 
 
Linguagem e estilo
 
A tendência para humanizar as máquinas: “Grandes trópicos humanos de ferro, fogo e forças”; “E há Platão e Virgílio dentro das máquinas”, etc.
 
O uso da ironia, sobretudo para traduzir a face negativa da civilização industrial:

- "escrocs exageradamente bem vestidos": além da ironia, note-se a presença da antítese entre a compostura exterior (o vestuário) dos escrocs e as suas intenções;

- "Chefes de família vagamente felizes": neste caso, o advérbio «vagamente» projeta o cansaço (de viver?) sobre a felicidade dos chefes de família;

- "Banalidade interessante (...) / Das burguesinhas (...) / Que andam na rua com um fim qualquer": notar novamente a presença da antítese, agora entre o aspeto exterior das «burguesinhas» (diminutivo irónico) e as suas obscuras intenções;

- "A maravilhosa beleza das corrupções políticas, / Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos": a adjetivação antitética assume o valor de oximoro.

 
A antítese:

- "tudo o que passa e nunca passa": traduz a concentração do passado no presente, ou a continuidade dos acontecimentos diários;

- "O ruído cruel e delicioso da civilização de hoje": traduz os sentimentos contraditórios do sujeito poético em relação à civilização industrial.

 
Metáforas e imagens:

- "Arde-me a cabeça de vos querer cantar";

- "Grandes trópicos humanos de ferro, fogo e força" (aliteração em «f»);

- "Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável";

- "Nos cafés, oásis de inutilidade ruidosas";

- "Quilhas de chapa de ferro sorrindo".

   Estes recursos estilísticos, nos exemplos apresentados, evidenciam a forma como o sujeito poético vibra com a modernidade, com a civilização industrial (com a fúria do movimento das máquinas, com a excessiva quantidade de carvão...).

 
O ritmo do poema é torrencial, feroz, vivo, onde surgem em catadupa as diferentes realidades captadas pro um «eu» em plena histeria de sensações.
 
Onomatopeias (“r-r-r-r-r-r-r eterno”).
 
Apóstrofes (“Ó rodas, ó engrenagens”).
 
Aliterações: “Rugindo, rangendo […] ferreando”.
 
Empréstimos: «jockey».
 
Grafismos inovadores (“Hup-lá, hup-lá, hup-lá-ô, hup-lá”; “Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!”).
 
Diferentes registos de língua, nomeadamente o recurso ao calão: «putas».
 


Análise da "Ode Triunfal"

     . Apresentação.


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