Português

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

O léxico de O Delfim

    A primeira nota a ter em consideração é o facto de o autor privilegiar o uso do nome em detrimento do adjetivo. Por outro lado, deita mão de diversos empréstimos, isto é,palavras e expressões de línguas estrangeiras, bem como latinas (“Ad usum Delphini”, “naturae vitae delphini”, etc.). O recurso aos latinismos é sinónimo de erudição, um reflexo de uma herança cultural e um traço característico de muita literatura portuguesa: “Como se dissesse: «Quod scripsi, scripsi» – e fosse um imponente eco romano”. No entanto, periodicamente o narrador adultera o seu sentido, transformando-as em humorísticas ou irónicas, como sucede com a seguinte: “Ecce Homo, este é o meu whisky”.
    No que diz respeito aos empréstimos, o maior conjunto pertence ao inglês, com cerca de quinze ocorrências, seguida do francês com doze e do castelhano com seis. Este traço significa que o narrador conhece múltiplos idiomas, o que se concretiza quer no discurso do narrador, quer no diálogo com Palma Bravo. Por outro lado, quer dizer que a personagem do Engenheiro domina o vocabulário básico dessas línguas (inglês, francês, italiano, alemão, castelhano), bem como os lugares comuns da cultura livresca. Em terceiro lugar, relaciona-se com o tema e o clima das conversas, quer as que ocorrem no bodegón, quer na lagoa, com o grau de álcool, com os «bons» ou «maus vinhos» do Engenheiro. Além disso, tenha-se presente que, nas várias conversas que o narrador-personagem recorda, existem modas, isto é, ora se fala inglês, ora francês, ora castelhano.
    Outro recurso utilizado é a chamada polinomásia, ou seja, o mesmo indivíduo ou entidade é designado por vários nomes: o próprio, o apelido, o do seu estatuto social, profissão e situação. É o que acontece, por exemplo, com Palma Bravo, com o Cauteleiro e com a dona da pensão (hospedeira, estalajadeira, patroa, formiga-mestra, Santa hospedeira, Santa Dona Hospedeira.

Narratário de O Delfim

    Uma narrativa implica a existência de um narratário, comummente o leitor, a quem aparentemente o narrador se dirige e que o escuta, mas também participa ativamente. Por exemplo, há momentos em que o narrador se dirige ao leitor, interpelando-o diretamente: “A sério, palavra de senhor escritor”; “Fiz-me entender, leitor benigno?”. Neste último exemplo, encontramos semelhanças com o que sucede nas Viagens na Minha Terra.

Registos de língua de O Delfim


    N’ O Delfim, existem diversos registos de língua.
    O romance constrói-se sobre o discurso do narrador, que dilui a fronteira que separa a escrita da oralidade logo a partir da página inicial da obra: “Cá estou”. A coloquialidade impera ao longo do texto, nomeadamente na interação verbal (isto é, os diálogos) e no discurso do próprio narrador, que explora todas as potencialidades da língua ao nível do léxico, da sintaxe, da semântica e da estilística.
    O narrador privilegia o registo culto, literário, produzindo um discurso literário quando se institui como poeta e ensaísta ou quando combina os registos das várias personagens. Por outro lado, ele socorre-se também da língua culta não literária, faz uso de um registo quase policial sustentado na lógica e valorizador de uma suposta objetividade, deixando a tarefa da pesquisa para o leitor. Outro momento ocorre quando o narrador se apresenta como autor de um texto publicitário ou quando procura imitar o estilo pretensamente documentalista do Abade, ou seja, quando se aproxima da “toada dos doutores da água benta”.
    O registo popular, por seu turno, ocorre nas falas da Estalajadeira, do Cauteleiro, do Batedor e de Tomás, que são exemplificativas da coloquialidade. Assim, o discurso da Estalajadeira é caracterizada por um tom familiar, ora confidente, ora discreto, afetado pelo pudor: «”Ai, ai… cala-te boca.”». Note-se, nesta fala, uma grande vontade de falar e até uma certa fluência. Já nos casos do Cauteleiro, do Batedor e de Palma Bravo, o seu discurso é pautado por meias frases, termos mais ou menos boçais, alusões obscenas, injúrias, anátemas e alguns enunciados com segundos sentidos.
    No romance, encontramos também a gíria dos caçadores de Palma Bravo, no Batedor, no Regedor e no narrador, as suas arteirices e preparativos. No entanto, nalguns passos, este registo dará lugar a outro mais técnico-científico, exemplificado pelas citações do Tratado das Aves. Igualmente técnico-científico é o registo estereotipado do Regedor: o dos autos, porque acima de tudo está a “verdade dos factos”: “Altercaram as partes… envolveram-se em desordem da qual resultaram ofensas morais e corporais…”.
    A personagem-narrador, autor e escritor, possui um fino espírito crítico, bem como um grande poder de observação que se foca em variadíssimas coisas, como, por exemplo, os atos de fala das personagens, traços recorrentes, tiques, em suma, uma idiotice, ou seja, a maneira de falar própria de um indivíduo. O próprio escritor irá imitar vários idioletos através do chamado discurso estilizado. Vejamos exemplos dos mesmos: “Tu é que sabes. Tu é que és escritor. Possivelmente”; “E quanto ao automóvel «não há hipótese», como diria o Engenheiro. Positivamente”; “Absolutamente. Ou antes, positivamente…”; “Positivamente, Engenheiro Anfitrião”; “Duas silhuetas de moeda [Tomás e Maria das Mercês], dois infantes do meio-dia. Dois quê?”; “Sorrio. Infante nunca foi um termo meu. Saltou-me à ponta da frase porque desde que cheguei que o tenho ouvido”.
    Relativamente à imitação do idioleto das personagens, poder-se-á tratar de uma paródia ou de uma contaminação do discurso do narrador, também ele preso ao cosmos da Gafeira.
    Assim, é lícito concluir que, n’ O Delfim, coexistem harmoniosamente diferentes registos linguísticos: ao lado de uma comunicação simples, quotidiana, pautada por frases batidas, bordões linguísticos, provérbios e sentenças populares, encontramos o registo erudito e até poético do narrador.
    Quanto à norma linguística, o romance reflete a língua padrão, dado que o seu vocabulário é corrente e acessível, a construção sintática é relativamente simples, observando-se as regras de correção gramatical. Sucede que, na obra, o complicado não é o texto das linhas, mas o das entrelinhas.

Autorreflexividade em O Delfim


    Exceto no caso da autobiografia, é raro um autor afirmar que ele e o narrador são a mesma pessoa.
    O narrador é a entidade que conta uma narrativa, pelo que só existe no espaço da escrita. Qualquer escritor de ficção precisa dele para poder escrever, salvaguardando-se, assim, a identidade civil do escritor e a sua libertação, visto que o narrador é uma entidade que finge criar. Trata-se de uma invenção que narra uma ficção, isto é, uma «estória» inventada. Ora, o facto de o narrador ser uma entidade fictícia, virtual, poliédrica e múltipla, faz com que a sua figura se torne esquiva, mas ao mesmo tempo muito densa. É o que sucede, por exemplo, com os narradores das Viagens na Minha Terra ou a prosa de Camilo Castelo Branco, os quais dominam totalmente a narrativa, devido precisamente à chamada autorreflexividade, isto é, toda a escrita que não se dirige ao leitor, mas para o interior da identidade que escreve, que se movimenta como que em diálogo consigo própria, observando-se, pensando-se, refletindo sobre a sua própria escrita, o seu conceito de arte, analisando o seu mundo [“(…) meu lado crítico, minha voz independente”].
    Existem diversas formas de um narrador mudar o tom da sua narração. Uma delas é o recurso aos parênteses, que se tornam um «espaço» de onde emerge uma segunda voz, com pendor crítico, que interrompe momentaneamente a narrativa, criando um novo espaço, à laia de mostra de outras áreas do ego, nas quais reflete sobre si próprio e emite juízos de caráter íntimo.
    Por outro lado, esta figura só existe no presente, é ela quem conta a história, todavia, sempre que dialoga consigo própria, o narrador dirige-se indiretamente ao leitor, isto é, sempre que recorre ao presente para falar de si próprio, ele utiliza as suas reflexões para criar um efeito no leitor, o que vai ao encontro do conceito de «obra aberta» de José Cardoso Pires, que torna imprescindível a presença do leitor, já que cabe a este dar sentido à narrativa.
    Em terceiro lugar, algumas referências literárias, certa intertextualidade e até determinada ironia são também autorreflexivas, ao contrário do que sucede com as falas das outras personagens, bem como certas respostas do narrador, que, apesar de revelarem algum do seu mundo pessoal, não contribuem para a autorreflexividade, visto que, nestes casos, o narrador não reflete de si para si.

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Ciência do narrador de O Delfim


    O narrador não se estabelece no plano da posição de focalização zero, ou narrativa não focalizada, que lhe permitiria saber tudo sobre todos – omnisciente, portanto. Pelo contrário, ele sabe tanto quanto as outras personagens. Talvez um pouco mais porque procura a informação, recolhe-a e analisa-a – daí o escritor-furão. Ou seja, estamos perante um caso de focalização interna.
    Não obstante, se o narrador não é omnisciente, como se explica a longa e pormenorizada descrição do espaço íntimo de Maria das Mercês no capítulo XXV? Trata-se de pura imaginação.
    O narrador sabe muitas coisas, mas ignora outras tantas. De facto, os mistérios subsistem n’O Delfim, como, por exemplo, as mortes de Domingos e de Maria das Mercês, e que constituem a intriga mais evidente (ao nível mais superficial). Assim sendo, factos, etc., o que coloca o romance na esfera do romance policial, constituindo o narrador o detetive. Não é por acaso que se fala de «crime perfeito», de enigma da Dama das Unhas de Prata e no diálogo que o narrador e Palma Bravo travam. Frequentemente, aquele invoca, mesmo que ironicamente, o nome de Sherlock Holmes. Também não é por acaso que surge no texto uma transcrição da revista «Merkur» que relata um crime. Em suma, não é por acaso que o ritmo da narrativa se faz com frequentes alternâncias, encaixes e elipses.
    No entanto, os mistérios não ficam por aqui. Maria das Mercês morreu acidentalmente, foi assassinada ou quis, de facto, suicidar-se? Quem é estéril: Maria das Mercês ou Tomás, que sempre se recusou a fazer testes? Ou seriam os dois? Ou seria Tomás um macho orgulhoso, mas impotente? Seria homossexual? O que é que se passou na noite do bar da Shell?
    O narrador não é propriamente um detetive, mas parece sê-lo, tendo em conta que é um escritor-furão, curioso, insaciável, permanentemente em busca de uma verdade. Ele recolhe as versões de todos os informantes, confronta-as e vai formulando hipóteses. Parece aproximar-se da verdade, muda de pista, debruça-se sobre pormenores. Neste contexto, o discurso é modalizado por expressões de dúvida como «talvez», «é de crer», «supõe-se», «conta-se», e várias formas verbais no modo conjuntivo. A sua «investigação» é constantemente dificultada pelo surgimento de boatos, preconceitos e mitos (as versões distorcidas da Estalajadeira, do Batedor e, sobretudo, a do Cauteleiro). Além disso, há a verdade sobre a última noite dos Palma Bravo, guardada pelo zelo do Regedor (que não quer alimentar intrigas) e pelo laconismo do Padre Novo. Apenas eles, juntamente com o médico que fez a autópsia, sabem o que aconteceu (veja-se o capítulo XVIII).
    Mas há outros mistérios, segredos íntimos, informações confidenciais, sobre os quais pouco se sabe em concreto, dado que as provas e os testemunhos ora são omissos, ora inconcludentes. Instaura-se um nível de incerteza a partir dessa realidade polissémica: “Interessa mais a suspensão do facto do que a sua decifração”. Deste modo, o narrador envolve o leitor numa teia de incertezas, sendo frequentemente chamado a participar na decifração. Estaremos na presença de uma estratégia para suscitar a atenção do leitor?
    Basicamente, a estrutura do romance assenta no percurso do caçador que chega à Gafeira e se instala numa hospedaria conhecida. “Cá estou” é a expressão inaugural que institui o tempo da narração: o presente do indicativo, o tempo da pseudo-objetividade. Trata-se de uma narração que ocorre em simultâneo com o percurso do narrador, que frequentemente dá notícia do tempo que corre. A outra parte são excursos, as divagações e as lembranças, que dão densidade à obra. Neste âmbito, desempenha um papel importante a memória, uma memória seletiva que transporta o narrador no espaço e no tempo – e o leitor com ele. A memória ganhará mais relevância ainda quando é instigada pela insónia das personagens: a recapitulação de acontecimentos, a reconstituição de factos, as lembranças espontâneas e as divagações preencherão esse vazio doloroso causado pela insónia.
    Um outro elemento importante na estrutura do romance é o quarto, o espaço onde o narrador passa grande parte do seu tempo e de onde frequentemente se evade por meio do pensamento. Primeiro, do ponto de vista logístico, porque permite um olhar distanciado, sobranceiro. Fica num primeiro andar e tem uma janela («vigia», «postigo») sobre o largo, a rua e o café – espaços de confluência, conhecimento, comunicação. Ao longo, avistam-se os montes e a Lagoa, vê-se o céu.
    Por outro lado, o quarto é, por excelência, um lugar de introspeção, de onde ele parte para reflexões, associações (“De raciocínio em raciocínio irei longe”), evade-se em recordações obsessivas através do seu reflexo nas vidraças espelhadas da janela (como no espelho de Alice?), vendo-se e revendo-se no passado, transfigurando-se noutros. No quarto, existem outros pontos de fuga: o caderno de apontamentos, a Monografia, a aguardente no cantil; as distrações exteriores (passos, vozes, ruídos), o fumo e o nevoeiro (a bruma como fator encantatório). Há, em suma, um acordar e a transição, transformação ou metamorfose é quase impercetível. O narrador sente-a, pressente-a.
    Outro elemento a ter em conta é o jogo, também ele associado à decifração de enigmas, à interpretação de símbolos e metáforas. Todavia, apresenta-se também sob outras formas: os jogos verbais (o “jogo do olho-vivo”), os provérbios e trocadilhos); o jogo de “bridge” no café, protagonizado pela jovem das calças de amazona e os caçadores; a caça, jogo de vida ou morte.
    Em suma, o narrador, deste modo, gere a narrativa de forma artificiosa jogando com o tempo (anacronias: analepses, prolepses, elipses, digressões) e com o espaço (interiores, exteriores, enquadramentos, perspetivas, panorâmicas, pormenores), confundindo até as coordenadas.

O Senhor Ventura, de Miguel Torga


    O Senhor Ventura é um alentejano de Penedono que, aos vinte anos, vai cumprir o serviço militar para Lisboa, onde se distingue pela sua irreverência e pela habilidade para desenrascar pequenas situações ou ocorrências e pelo assassínio de um homem numa taverna, ato que não se consegue provar, mas todos suspeitam de si. Por isso, é enviado para África, onde se envolve, amorosamente, com a filha de um oficial e, descoberto, acaba por desertar e envolve-se no tráfico de ópio por mar. Após assassinar um fiscal britânico quando este se preparava para abordar o barco (mais uma vez sem testemunhas) decide voltar a terra, deslocando-se para a cidade de Pequim, para uma garagem da casa Ford. Aí, encontra outro desertor, um minhoto de nome Pereira, dono de um «local» onde serve refeições, até ao dia em que se envolvem numa rixa com soldados americanos e são obrigados a fechar o «estabelecimento».
    Decidem então ir para a Mongólia entregar duzentos camiões da Ford ao governo chinês. A aventura seguinte é o rapto do velho milionário Chung Lin. O desejo de regressar à pátria é suspenso pela montagem de um arsenal que forneça armamento às várias fações em guerra na China, após umas febres que o afetaram e das quais foi salvo graças aos esforços tenazes de Pereira. Durante um assalto feito pela fação rebelde do exército chinês, o Sr. Ventura perde tudo menos a vida. Menos afortunado é Pereira, que morre e é enterrado no deserto.
    De novo em Pequim, um mês depois, apaixona-se por Tatiana, com quem casa. No entanto, ela é uma mulher rebelde, que não o ama, não é prendada (nem cozinhar sabe), e os dois agridem-se regularmente. Ao amor dele corresponde apenas a atração física dela.
    O nascimento do filho Sérgio leva-o a procurar uma vida economicamente mais estável e menos feita de expedientes, daí que resolva distribuir por vários locais da cidade máquinas de jogo. De seguida, monta uma garagem de táxis e aprende a ler e o dinheiro começa a crescer.
    Intuindo que algo está para mudar na China, vende os carros, pega fogo à garagem, recebe o dinheiro do seguro e monta, num bairro discreto, uma fábrica de heroína. Denunciado o negócio da heroína, o Sr. Ventura é repatriado, deixando na China o filho e a mulher, esta com uma procuração para gerir o que resta da sua fortuna.
    Em Penedono, aluga a herdade do Farrobo por cinco anos com intenções de a fazer render bom dinheiro e descreve à sua mulher, a russa Tatiana, a notícia, mas a resposta demora um ano a chegar. Acumulando graves prejuízos na exploração da herdade durante os primeiros anos, chega a Portugal o filho de oito anos pela mão do Sr. Gomes, que lhe relata o que sucedeu nesses quatro anos na China. Em suma, a mulher levara uma vida de dissipação com amantes, primeiro um turco e depois um inglês.
    A colheita do quinto ano é abundante. O Sr. Ventura paga as dívidas reparte os lucros entrega a herdade, uma chave ao filho, que entretanto colocara num colégio de Lisboa, e retorna à China para se vingar. Passado meio ano de procura obstinada e obsessiva por meio Oriente, encontra finalmente Tatiana em Xunquim, ou melhor, encontra-o ela a morrer num hospital, vitimado por um cancro no fígado.
    Enterrado nessa cidade, o filho é expulso do colégio por falta de quem pague as mensalidades, para o Farrobo, onde o velho Gaudêncio o acolhe e põe a guardar ovelhas. "Pastor, que foi por onde o Senhor Ventura começou."

Séries de animação do meu tempo: "Os Estrumpfes"


    Os Estrumpfes, ou Smurfs, surgiram em 1958, no n.º 1071 da revista Spirou, enquanto personagens secundárias de uma história intitulada "A Flauta de Seis Buracos", da banda desenhada Johan et Pirlouit. Contudo, tornar-se-iam um fenómeno de popularidade sobretudo na década de 1980, quando os estúdios Hanna-Barbera lançaram os desenhos animados.
    Os Estrumpfes foram criados pelo cartunista e roteirista belga Pierre Culliford, mais conhecido por Peyo. Em 23 de outubro de 1958, Johan e Pirlouit são encarregados de recuperar uma flauta mágica, que exigia alguma feitiçaria por parte do assistente de Homicídio. Deste modo, eles encontram uma pequena criatura humanoide e pele azul, vestida com roupas brancas, chamada Schtroumpf, acompanhada por um grupo de figuras parecidas com ele, com um líder idoso que usa roupas vermelhas e tem uma enorme barba branca: é o Grand Schtroumpf.

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Sob a Bandeira da Coragem, de Stephen Crane


    Henry Fleming é um jovem inexperiente e fogoso que se alistou como voluntário no exército da União, ansioso por participar na Guerra da Secessão. No entanto, a monotonia dos primeiros tempos de soldado (sempre a sonhar com batalhas) desilude-o.
    Quando participa na primeira, acaba por fugir do campo de batalha durante uma carga da fação inimiga, pensando que a derrota é inevitável. Porém, qual não é o seu espanto e o sentimento de ter sido traído quando os companheiros que permaneceram em combate conseguem vencer a batalha, que ele considerava já perdida. O contacto com a carnificina, com a morte de amigos e com comportamentos bizarros de outros soldados, faz com que o jovem, por um lado, seja atacado pelo vírus do remorso (por ter fugido enquanto os outros davam a vida na luta) e, por outro, questione as motivações da guerra: "Estavam sob a ilusão de que combatiam por princípios, pela honra, pelo seu lar e por outras coisas. Bom, e de facto combatiam."
    Após nova refrega, depara com uma massa de soldados em debandada e é agredido com uma coronhada na cabeça quando agarra um deles para o questionar sobre o que se está a passar. Auxiliado por outro soldado, acaba por reencontrar o seu regimento. A ferida na cabeça possibilita que seja tratado como um ferido de guerra e não como um cobarde fugitivo, como temia. Pelos relatos que entretanto ouve, conclui que os atos de cobardia não são exclusivo seu no próprio batalhão.
    No dia seguinte, em novo recontro, dá consigo a transformar-se num combatente feroz. No entanto, ao escutar, por acaso, uma conversa entre um general e um oficial, apercebe-se de como a sua vida é insignificante para eles.

Séries de animação do meu tempo: "Os Flintstones"


    "Flintstones" é uma série de animação produzida pela Hanna-Barbera Productions, que teve a duração de seis temporadas, num total de 166 episódios, entre 1960 e 1966.
    A série passa-se na Idade da Pedra. Os protagonistas são as famílias Flintstones e Rubble. Deste modo, o espectador segue a vida de Fred e Wilma Flintstone, do seu dinossauro de estimação Dino e, mais tarde, do seu filhoPebbles. Barney e Betty Rubble são os seus vizinhos e melhores amigos.
    Na prática, a produção configura uma versão cómica da sociedade norte-americana de meados do século XX, aplicada à Idade da Pedra, mais concretamente à fictícia cidade de Bedrock. Essa sociedade inspira-se na explosão suburbana que ocorre nas duas décadas seguintes ao final da Segunda Guerra Mundial.

Memnoch, o Demónio


    Lestat é um vampiro obcecado por Dora, a filha de um barão da droga que será a sua próxima vítima. Ao mesmo tempo, sente-se perseguido por um monstro gigantesco e horrendo. Depois de beber o sangue de Roger e, consequentemente, o matar, Lestat é surpreendido pelo seu fantasma, que lhe pede que proteja a filha. Os dois acabam a falar longamente sobre vários assuntos num bar, nomeadamente de Dora e de teologia, até que o ser que persegue o vampiro vem reclamar o fantasma de Roger. Esse ser é Memnoch, o Demónio, que o convida a acompanhá-lo ao Inferno e ao Céu e a ser o seu braço direito. Pelo meio, ocorre o encontro entre Lestat e Dora, por quem ele sente um misto de atração e ternura e a quem relata a morte do pai e a autoria da mesma. De notar o pormenor da menstruação da mulher e o desejo do vampiro de beber esse «sangue puro».
    Memnoch leva primeiro Lestat ao Céu, onde fala com Deus, um lugar de luz e de almas e de risos (= alegria). Durante um passeio que dão por uma floresta, o Demónio explica ao vampiro as Treze Revelações de Deus: a primeira é a transformação das moléculas inorgânicas em orgânicas; a segunda é a transformação das moléculas em células, enzimas e genes (as algas e os fungos aquáticos, que depois se apropriavam também da terra sob a forma de lodo, mais tarde de fetos, coníferas e, por fim, se converteram naquelas dimensões massivas da floresta); a terceira corresponde ao ciclo da vida: nascimento, vida e morte dos seres vivos, o que revelou aos anjos de Deus as noções de medo, sofrimento, destruição, morte e castigo; a quarta equivale à Cor: a beleza e a profusão de cores das flores, o acasalamento entre os organismos; a quinta é a Encefalização: o desenvolvimento de cabeças (sistemas nervosos e esqueletos), centros da inteligência - entre os anjos de Deus nasce o receio por Ele permitir que a matéria pudesse aceder à inteligência, ao pensamento; a sexta é o nascimento do rosto nas criaturas - o pânico de Memnoch é diluído apenas por um diálogo com Deus, que o designa como o mais atento e sagaz, mas também como o único que não confia Nele; a sétima consiste na povoação da Terra pelos animais vindos do mar (répteis, animais monstruosos de quatro e duas patas, os insetos; as chacinas entre os animais; os nascimentos das crias a partir de ovos e de dentro das mães); a oitava concerne às aves de sangue quentes com asas emplumadas (como os anjos, que protestam em coro); a nona é o surgimento dos mamíferos; a décima, o caminhar ereto dos macacos (brutais, selvagens, batendo, mordendo, matando), criaturas criadas à imagem de Deus e dos anjos, a tentativa de fala, o início de padrões de comportamento - o enterro dos mortos, a proteção e solidariedade dos mais fortes para com os mais fracos, dos sãos para com os doentes ou incapacitados, o enterro com flores; a décima primeira diz respeito ao surgimento do Homem moderno (a afeição, o amor, a dor); a décima segunda refere-se à beleza e sedução da mulher - as semelhanças com os anjos e o próprio Deus; a décima terceira respeita ao acasalamento do homem e da mulher, do qual resulta a grande diversidade de formas, cores, raças... o homem e a mulher são, afinal, Deus dividido em dois (os anjos divididos em dois).
    O orgulho leva Memnoch a questionar Deus sobre o sentido daquela evolução operada na Terra (em hebraico, Satanás significa «aquele que acusa»), mas Ele consegue aplacar sempre a sua ira: «Memnoch, se Eu não me sinto ridicularizado por este ser, se ele é criação Minha, como é que tu te podes sentir assim?»
    Porém, um dia os anjos descobrem que os humanos também têm uma parte espiritual, uma alma. Um grupo de anjos desce, então, à Terra para observar a humanidade e encontra-a organizada e crente num Deus, fazendo-lhe oferendas e sacrifícios. Memnoch acaba sozinho e assume a forma humana. Três dias depois relaciona-se sexualmente com uma mulher. Como castigo, Deus expulsa-o do Céu. Junta-se aos homens e vive como eles, ensinando-lhes tudo o que sabe, insistindo frequentemente no retomar da fala com Deus, inutilmente porém.
    Três meses depois Memnoch é convocado ao Céu por Deus, que lhe propõe a criação de um Inferno para os humanos que ele chefiasse. O Demónio, ainda anjo, pede-lhe que permita que as almas tenham oportunidade de irem para o Céu e a divindade diz-lhe que, se encontrar dez almas dignas de tal, o perdoará e assim fará. Memnoch encontra essas almas e é perdoado por Deus, mas o anjo deseja que todas elas tenham a mesma oportunidade e não apenas alguns deleites, por isso pede-lhe que se humanize, que assuma a forma humana, se misture entre os seres humanos, para os melhor compreender no seu sofrimento e no desejo de ascender à luz divina. Deste modo, Memnoch é expulso pela segunda vez do Céu.
    Um dia, a entidade demoníaca encontra Deus no deserto. Ele fez-se nascer de uma mulher, trinta anos atrás, para melhor conhecer a vida, o sofrimento, a dor e os desejos humanos. Viverá mais três anos, durante os quais levará a Sua palavra e os seus ensinamentos aos homens. Destes, os que o escutarem terão como recompensa a glória divina. Seguidamente, deixar-se-á crucificar e ressuscitará três depois, para que os homens aprendam que Ele se sacrificou por amor a eles. Memnoch, no entanto, declara que esse gesto será um erro, pois «Porque é que o amor tem de exigir sacrifício?», o sofrimento e a morte são o mal do mundo, que têm de ser vencidos para chegar a Deus. Além disso, não foi o sofrimento que ensinou a humanidade a amar, mas, sim, a afeição e o carinho entre ela. Para que Deus compreenda tudo isto, é necessário que se torne humano totalmente, sem qualquer traço ou certeza de ser divindade; então, verá o horror do sofrimento humano.
    Voltando ao presente, encontram Deus, que pede a Lestat que vá a Jerusalém com Memnoch no dia da Sua morte e assista à Sua paixão. Regressam então a um passado três anos posterior ao último diálogo travado entre Deus e o (ainda) anjo. Segue-se a descrição do trajeto de Cristo com a cruz e do encontro com Lestat e Memnoch. Deus desafia o vampiro a provar o seu sangue e, soluçando, Lestat fá-lo.
    Segue-se o episódio da Verónica e do seu véu, que Deus entrega ao vampiro, que, seguidamente, experimenta os horrores da Quarta Cruzada -cristãos (romanos) contra cristãos (gregos) → a destruição, a morte, o  horror, o sofrimento... em nome de Deus.
    Lestat é, então, arrastado até a um novo confronto entre a divindade e Memnoch. Este questiona Deus sobre as almas perdidas, pedindo-lhe que, em vida, lhes mostre o caminho da luz. Este acaba por lhe atribuir o reino de Sheol, onde o demónio cuidará dessas almas perdidas, os seus seguidores, condenando-o a ser o seu adversário e a passar um terço da sua existência na Terra e outro no Sheol ou Inferno. Condena-o ainda a ser visto entre os humanos como o Demónio, a Besta, que desafiou Deus.
    Na sequência, Lestat visita o Inferno, um local de dor, sofrimento e horror, por isso procura a fuga desse espaço, que Memnoch tenta evitar a todo o custo. E é cansado, sofrendo e sem um olho que o vampiro regressa à Terra, decidido a não optar nem por Deus nem pelo Demónio. Ele relata a Dora, Armand e David as suas andanças pelo Céu e pelo Inferno e mostra-lhes o véu de Verónica, que fica na posse de Dora. Esta vê ali uma prova da vitória de Deus e corre a anunciá-la. Armand deixa-se consumir pelo fogo / luz do Sol para provar aos homens o milagre apregoado pela mulher. Os sacrifícios sucedem-se diariamente, Dora entra numa nova fase da sua existência, divulgando a fé. O Véu opera curas milagrosas. Enquanto isso, Maharet, a «mãe» dos vampiros, entrega a Lestat um pergaminho que contém o olho que o Diabo, acidentalmente, lhe arrancara e um escrito de Memnoch: «Para o... 417».

O novo género do Pai Natal - Peter Schrank


Peter Schrank

Alves & C.ª


    Godofredo da Conceição Alves, dono de uma firma comercial, no dia do seu aniversário de casamento, surpreende a mulher, em sua própria casa, traindo-o com o seu sócio, sr. Machado. Em consequência, expulsa-a para casa de seu pai, atribuindo-lhe uma determinada quantia em dinheiro para suportar o seu estilo de vida e custeia também as despesas de umas férias para iludir a vizinhança quanto aos motivos da separação do casal. Relativamente ao sócio, propõe-lhe um desenlace sui generis: tirar à sorte qual dos dois se há de matar, pois, naquela época, os duelos tradicionais tinham caído no ridículo. Machado recusa esta proposta, considerando-a absurda, preferindo um duelo tradicional.
    No entanto, as testemunhas de ambos acabam por convencer Godofredo da desnecessidade do duelo: tudo não passou de mero namoro e foi a primeira vez. Este concorda, bem como com a ideia de continuar sócio de Machado, embora sem terem relações íntimas.
    Inicia então uma existência abominável (solidão, desmazelo por parte das criadas no amanho da casa e da roupa, saudade de Ludovina). Vê-a esporadicamente até que um dia chega à fala com ela. A pretexto de um candeeiro que não sabe acender, leva-a a casa e a reconciliação acontece. O reencontro de ambos com Machado sucede um dia depois em S. Carlos e, na manhã seguinte, Godofredo e o sócio retomam a velha amizade.
    Um dia, surpreende Margarida a entregar às escondidas uma carta a Ludovina. Furioso e ciumento, questiona a esposa e acaba por encontrar outra missiva que fala de uma esmolas feitas a uma pobre mulher. Entretanto, Machado anuncia-lhe que a mãe está muito doente. A mulher morre e Godofredo convida-o para jantar em sua casa.
    Passam trinta anos, durante as quais morre Neto, o pai de Ludovina; Teresa, a irmã, casa; Machado casa uma vez, enviuva, casa de novo e as famílias passam a viver lado a lado, enquanto o escritório floresceu. Afinal, «Que coisa prudente é a prudência!», pois tudo poderia ter sido estragado com o tal duelo «Por causa de uma tolice, amigo Machado!» Ironia...

Desafio à Polícia, de Carter Dickson


   O Inspetor-Chefe da New Scotland Yard Masters recebe um bilhete, escrito à máquina, onde a polícia é convocada para estar numa determinada morada às cinco horas da tarde, na qual serão encontradas dez chávenas de chá. Este bilhete é em tudo idêntico a outro, enviado dois anos antes, do qual resultou o assassínio de um homem chamado Dartley, não solucionado até ao presente.
    A polícia cerca a casa, mas ainda assim é assassinado, à hora indicada, Phillip Keating com dois tiros. Ninguém entrou ou saiu do quarto onde tivera lugar o crime. Para aumentar o mistério, alguns objetos curiosos são aí encontrados: além das dez chávenas (duas partidas durante o crime), o pano da mesa com desenhos de penas de pavão e uma cigarreira com as inicias J.D., de Jeremy Derwent, que, juntamente com a mulher, tinha sido o último inquilino daquela moradia e também o último inquilino do n.º 18 de Pendragon Gardens, o local onde tivera lugar o assassinato de Dartley. Por outro lado, no rosto de Keating está estampada uma expressão de terror. Na cigarreira, existem as impressões digitais do morto e de uma mulher desconhecida.
    Frances Gale, namorada de Keating, revela que o seu namorado foi alvo de ameaças de morte por parte de um amigo, Ronald Gardner, e acrescenta que o revólver que serviu para o assassinar fazia parte da coleção de armas de Gardner. Revela ainda que Derwent era o advogado de Vance e que, dois dias antes, organizara um «jogo de assassínio» onde o revólver foi usado, entre outras armas. Nesse jogo, marcaram presença o casal Derwent, Frances, Phillip Keating, Gardner e Benjamin Soar (um negociante de arte). Por outro lado, Frances nega ter passado, nesse dia, em frente da casa onde ocorrera o crime, bem como ter tido na sua posse as chaves da mesma.
    Henry Merrivale acredita que a mentira de Frances relativa a esse dia se fica a dever a ciúmes da Sr.ª Derwent e afirma que o mistério que envolve o caso é a razão por que Keating se recusou a participar no jogo. Henry Merrivale e Pollard vão falar com Jeremy Derwent: as mudanças sucessivas de casa têm como causa o aborrecimento da mulher; Vance Keating fez um testamento a favor do primo Phillip e de Frances, que serão herdeiros em partes iguais; Vance, posteriormente, fez um novo testamento há menos de uma semana totalmente a favor da Sr.ª Derwent, a quem ele fazia a corte, mas sem ser correspondido; a Sr.ª Derwent passou toda a tarde do crime na companhia de dois tios.
    Depoimento de Phillip Keating: teve uma discussão com o primo; pensa que o crime foi cometido pela sociedade secreta As Dez Chávenas, de que a Sr.ª Derwent faz parte e onde Vance iria ser iniciado (uma das leis é a que todo o filiado pode tomar como sua noiva a mulher que preferir dentre as que fazem parte do grupo); foi Vance quem ameaçou Ron de morte, tendo mesmo disparado sobre ele, e não o contrário, após uma discussão sobre Frances; Ron levou a arma consigo após o jogo do assassínio, uma opinião contrária à de Frances; Vance tem grande medo de armas de fogo.
    Depoimento da Sr.ª Derwent: a cigarreira é sua (embora as impressões digitais nela encontradas não sejam suas) e emprestou-a a Vance, que se esqueceu de a devolver; ao receber a notícia da morte de Vance, grita e chora; passou, de facto, a tarde com as tias e outras pessoas no teatro.
    Segundo informações recolhidas por Masters, Jeremy Derwent anda a tentar reabrir o inquérito referente ao assassínio de Dartley. Porque terá Phillip «assassinado» a Sr.ª Derwent durante o jogo do assassínio, sendo que, segundo Merrivale, nesse jogo são assassinadas geralmente as pessoas de quem se gosta ou com quem se tem intimidade? Por outro lado, são destacados o cano de gás e uma queimadura de pólvora precisamente por baixo do cano.
    Segundo depoimento de Frances Gale: as segundas impressões digitais na cigarreira são suas, porque Vance lha emprestara para servir de espelho; passou, de facto, em frente de Berwick Terrace, porque estava a espiá-lo e à Sr.ª Derwent; confirma também ter obtido as chaves e visitado a casa há meses, mas diz tê-lo feito a pedido da desta, para ir buscar a esse local onde tinha morado umas cartas de amor, guardadas num esconderijo secreto, algumas das quais de Vance; esse esconderijo secreto situava-se num divã velho, no sótão, parcialmente oco; reafirma que não foi Ron que levou o revólver da casa de Derwent.
    Acareação de Phillip e Framces: o primeiro afirma que foi Soar quem lhe garantiu ter sido Ron a levar o revólver, pois ele não viu; na hora do crime, estava numa cocktail-party; o chapéu encontrado no local do crime não lhe pertence, apesar de nele estar inscrito o seu nome.
    Entretanto, a Sr.ª Derwent anda a espalhar boatos sobre a conduta que Masters adotou para consigo quando a «entrevistou», a sós, na limusine.
    Depoimento de Ronald Gardner: o tiro disparado contra si por Vance Keating foi acidental; o revólver, embora tendo um gatilho muito sensível, precisa de ser engatilhado antes de poder ser disparado; essa cena do tiro foi uma espécie de ensaio para o jogo do assassínio.
    As pistas materiais do assassínio de Vance Keating resumem-se a três: a cigarreira, o chapéu e a renda de Milão com penas de pavão bordadas a ouro (comprada por Derwent, na véspera do crime, a Soar).
    Declarações de Soar: foi alguém que disse chamar-se Vance Keating quem fez a encomenda da renda e a mandou entregar em casa de Jeremy Derwent; no entanto, ao telefonar a Vance para confirmar a entrega do produto, este nega a encomenda; não tem alibi; conta uma «história fantasmagórica» ocorrida durante o jogo; o Sr. Derwent estava nas salas do Comissariado à hora do crime.
    Sir Henry Merrivale recebe um bilhete onde é convidado a assistir a uma reunião, às 9 e 30 de 1 de agosto, em determinado local, no qual serão encontradas dez chávenas de chá.
    Depoimento do criado Alfred Edward: no dia do assassinato, o patrão, Vance, recebeu de manhã uma carta contendo duas chaves, um evento que o deixou preocupado. Além disso, afirma que, ao sair de casa, Vance não levava nenhum chapéu, enquanto o guarda-portão afirma o contrário. Quem está a mentir e quem está a dizer a verdade?
    Entretanto, a Scotland Yard coloca a nova casa sob vigilância. A determinada altura entram nela três homens: um é Jeremy Derwent, que assume ter escrito esta última missiva como forma de convocar para ali a polícia e solucionar definitivamente o crime Dartley, algo que intenta há bastante tempo. Seguidamente, chega Soar, a quem a casa pertence e para onde se está a mudar. Jeremy Derwent afirma, então, que foi o pai de Soar que assassinou Morris Dartley, pois este conseguiu elaborar um esquema de chantagem sobre o velho Soar, através da qual conseguiu obter peças de antiguidade a um preço irrisório, obtendo com elas um enorme lucro.
    A terceira pessoa na casa, entrada pelas oito e quinze, deverá ser o assassino que, ao saber do bilhete e como foi ele a escrevê-lo, terá curiosidade em saber do que se trata. Entrementes, bate à porta a Sr.ª Derwent. Quanto a Gardner, deu conta que estava a ser perseguido pela polícia e, depois de fazer o agente dar meia volta a Londres, senta-se com ele a fumar e a conversar sobre armas de fogo em cima de um muro. Já no que se refere a Phillip Keating, nada se sabe sobre o seu paradeiro.
    Entretanto, ao fazer uma busca à casa, dois polícias encontram uma pistola automática, um par de luvas masculinas com manchas e um punhal com sinais de sangue, usado na última hora. No entanto, quanto a pessoas, não encontram ninguém. Afinal, Phillip Keating está a beber uísque num bar, a dez minutos dali.
    Henry Merrivale começa a revelar algumas conclusões obtidas a partir das suas investigações e deduções: a 15 de julho, Vance Keating casou-se com Frances Gale; o testamento de Vance a favor de Janet Derwent foi uma brincadeira, para se vingar das brincadeiras amorosas a que ela o sujeitava (quando finalmente acedesse a casar com ele, Vance mostrar-lhe-ia já ser casado e mandá-la-ia para o diabo). Na cadeira onde está sentado Soar, encontra-se disfarçado um cadáver, a do criado Alfred Edward Bartlett, morto à punhalada pelas costas e quem o escondeu ali foi Soar. Bartlett era o terceiro homem na casa.
    Afinal, o autor dos dois últimos crimes é Ronald Gardner, que entra na sala intempestivamente, tentando agarrar o punhal, mas é detido por Pollard.
    Relatório final de Henry Merrivale: a inspiradora dos crimes foi Janet Derwent, pois Gardner cometeu-os, sozinho, por amor. Bartlett mentiu sobre o tiro de pólvora seca, dado que, se tivesse ocorrido como ele disse, a sua mão teria sido ferida, o que não sucedeu. Gardner é que disparou o cartucho de pólvora seca à cabeça de Vance, queimando-lha e fazendo-lhe um galo, daí o chapéu demasiadamente grande e a não participação no jogo do assassínio. Só uma coisa o faria sair de casa: um apelo das Dez Chávenas de Chá, a cuja reunião compareceria para se vingar de Janet Derwent. O primeiro disparo à cabeça foi feito do quarto do sótão do prédio defronte e a queimadura feita na véspera serviu para fazer crer que o tiro tinha sido feito à queima-roupa. Depois Gardner lançou o revólver para o quarto onde estava Vance e, como tinha o gatilho muito sensível, ao cair no chão disparou-se, daí a queimadura no chão, atingindo outra vez Vance, na coluna.
    A Sr.ª Derwent colaborou na invenção da rede das Chávenas de Chá e foi ela quem surripiou o revólver da sua própria casa. Quem telefonou a encomendar a renda foi Gardner e enviou-a à amante para a implicar no crime, pois percebeu que, caso o crime corresse mal, ela não hesitaria em o trair. Assim, Janet perceberia que estava tão envolvida quanto ele e não tentaria enganá-lo.
    Bartlett mentiu para confirmar a história da cabeça queimada de Vance. Gardner matou Bartlett para que este não contasse a verdade do que se passou entre Vance e Gardner.

domingo, 27 de agosto de 2023

Séries de animação do meu tempo: "Pantera Cor-de-Rosa"


    A Pantera Cor-de-Rosa é uma personagem animada que surgiu pela primeira vez em 1963, na abertura do filme The Pink Panther. Alcançou tanto sucesso que acabou por ser criada uma série de animação, constituída por 120 episódios, com a duração média de seis minutos, criada por Blake Edwards, Friz Freleng, Hawley Pratt e Manu Kumar.
    Em Portugal, a série ficou conhecida graças a Vasco Granja, um apresentador, cineclubista e professor português, mais conhecido por ser o rosto de programas de animação da RTP entre 1974 e 1990. O seu papel na divulgação da popular personagem granjeou-lhe a alcunha de «O Pai da Pantera Cor-de-Rosa».

Exemplo de texto de opinião sobre o poder das palavras


 Planificação

- Título: O poder das palavras.

- Introdução:

. Apresentação da situação / tema: o poder das palavras.

. Apresentação da opinião / posição pessoal: as palavras que constroem e as que destroem.

- Desenvolvimento:

1.º argumento: há palavras boas, que fazem bem.

Exemplos: gastronomia e plano amoroso.

2.º argumento: há palavras más, que magoam e destroem.

Exemplo: exame médico.

- Conclusão: retoma da posição inicial.

 

O poder das palavras
 
    Ricardo Araújo Pereira deu-me a honra de prefaciar um livro meu. Nas primeiras linhas do seu prefácio, ele escreveu: “Faço com palavras tudo o que é importante. Por exemplo, se quero que uma pessoa saiba que gosto dela, recorro mais depressa a palavras do que, digamos, a beijos.” Meditei nestas suas palavras e adicionei a sua moral a esta equação: bom uso das palavras x uso bom das palavras ao quadrado = felicidade.
    As palavras têm um poder tremendo. Repito com assertividade: as palavras têm um poder tremendo. Há palavras que edificam, outras que destroem; umas trazem bênção, outras, maldição. E é entre estas duas balizas que a comunicação vai moldando a nossa vida.
    Comecemos pela gastronomia. Na hora da refeição, quem é que não saliva ao ler um crispy de peito de frango com emulsão de gengibre e limão? Ou um bacalhau lascado com puré de batata doce e goiaba confit? Antes de estes apetecíveis pratos chegarem à nossa mesa, já os pré-saboreamos mentalmente. E quantas vezes a sedutora descrição dos pratos é bem mais aprazível que o repasto propriamente dito?
    Há dias, num restaurante tradicional, um dos pratos da ementa era bife raspado. Soou-me bem e pedi. O que era? Um simples hambúrguer no prato. Estava apetitoso, sem dúvida, mas o prazer que senti ao degustar as sílabas bi-fe-ras-pa-do antes de o dito prato pousar na mesa foi infinitamente superior.
    No plano amoroso, as palavras têm também um poder incrível. Outrora, nas cartas de amor, as palavras voavam distâncias, marcadas pela saudade dos namorados; hoje, o impacto das palavras nas relações amorosas é tão ou mais forte porque é imediato, à distância de um clique. Casais apaixonados são unânimes em assumir que muitas vezes o flirt verbal é tão poderoso quanto o próprio beijo ou toque. Nuns casos, as palavras trocadas virtualmente são autênticos preliminares; noutros, conseguem ter ainda mais impacto do que o toque real.
    E o poder da palavra silenciosa? O silêncio é ouro, já ouviram dizer? Há palavras que deviam ser escondias num baú fechado a sete chaves. Porque não edificam, porque magoam, porque destroem… Há uns tempos fui fazer um exame médico. Após o questionário clínico habitual, a médica prosseguiu: “Agora, vou fazer-lhe umas maldades”. Nesse instante, o meu corpo sucumbiu e o desmaio tornou-se iminente. Ora, a palavra maldade magoou-me mais do que o próprio exame. Teria sido muito sensato ter escondido tal palavra num quarto escuro. Não teria magoado tanto.
    Se queremos relações pessoais e profissionais mais saudáveis e felizes, usemos e abusemos das palavras positivas na nossa vida. E não nos cansemos de elogiar. Palavras de louvor e honra trazem felicidade não só a quem as recebe mas também, e sobretudo, a quem as oferece.

 
Sandra Duarte Tavares, in Visão do dia 17/02/2017
 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...