A primeira nota a ter em
consideração é o facto de o autor privilegiar o uso do nome em detrimento do
adjetivo. Por outro lado, deita mão de diversos empréstimos, isto é,palavras e
expressões de línguas estrangeiras, bem como latinas (“Ad usum Delphini”,
“naturae vitae delphini”, etc.). O recurso aos latinismos é sinónimo de
erudição, um reflexo de uma herança cultural e um traço característico de muita
literatura portuguesa: “Como se dissesse: «Quod scripsi, scripsi» – e fosse um
imponente eco romano”. No entanto, periodicamente o narrador adultera o seu
sentido, transformando-as em humorísticas ou irónicas, como sucede com a
seguinte: “Ecce Homo, este é o meu whisky”.
No que diz respeito aos empréstimos,
o maior conjunto pertence ao inglês, com cerca de quinze ocorrências, seguida
do francês com doze e do castelhano com seis. Este traço significa que o
narrador conhece múltiplos idiomas, o que se concretiza quer no discurso do
narrador, quer no diálogo com Palma Bravo. Por outro lado, quer dizer que a
personagem do Engenheiro domina o vocabulário básico dessas línguas (inglês,
francês, italiano, alemão, castelhano), bem como os lugares comuns da cultura
livresca. Em terceiro lugar, relaciona-se com o tema e o clima das conversas,
quer as que ocorrem no bodegón, quer na lagoa, com o grau de álcool, com
os «bons» ou «maus vinhos» do Engenheiro. Além disso, tenha-se presente que,
nas várias conversas que o narrador-personagem recorda, existem modas, isto é,
ora se fala inglês, ora francês, ora castelhano.
Outro recurso utilizado é a chamada polinomásia,
ou seja, o mesmo indivíduo ou entidade é designado por vários nomes: o próprio,
o apelido, o do seu estatuto social, profissão e situação. É o que acontece, por
exemplo, com Palma Bravo, com o Cauteleiro e com a dona da pensão (hospedeira,
estalajadeira, patroa, formiga-mestra, Santa hospedeira, Santa Dona Hospedeira.
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