1990
sábado, 4 de janeiro de 2020
Análise da Cena XI do Ato I de Frei Luís de Sousa
● Retrato
de Manuel de Sousa
Este monólogo de Manuel de Sousa exemplifica a sua
determinação, coragem e patriotismo.
De facto, “como homem de honra e coração”, o seu
foco está no afrontar os governadores: se for caso disso, está disposto a
perder os seus haveres e até a sacrificar a própria vida, que considera efémera
(“vida miserável que um sopro pode apagar em menos tempo ainda!”), para se opor
à tirania.
Por outro lado, a cena enfatiza os valores que
Manuel de Sousa representa e que já conhecemos: a honra, o amor à pátria e à
liberdade, o despojamento dos bens materiais.
● Função da cena: só nesta cena se compreende cabalmente o plano de
Manuel de Sousa e, por conseguinte, a necessidade de abandonar a sua casa.
● Presságio
A evocação por Manuel de Sousa da morte desastrosa
do pai (caiu sobre a própria espada) associa esta morte a uma morte provável,
no meio das “chamas ateadas por suas mãos”. É mais uma prolepse da desgraça que
irá suceder. Por outro lado, esta passagem chama a atenção para a ideia de que
é o homem que constrói o seu destino e de que todas as ações acarretam consequências.
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Análise da Cena X do Ato I de Frei Luís de Sousa
● Assunto: saída precipitada
das personagens da casa
a) Jorge e Telmo
acompanham as senhoras;
b) Manuel de Sousa fica sozinho em cena e seguirá depois.
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Análise da Cena IX do Ato I de Frei Luís de Sousa
● Assunto:
a) Telmo traz a notícia da súbita chegada dos governadores de Lisboa (à
exceção do arcebispo, que ficou hospedado n convento de Almada);
b) Manuel de Sousa sente-se enganado por eles, mas não o apanharam desprevenido.
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sexta-feira, 3 de janeiro de 2020
Vida de Manuel de Sousa Coutinho
Antes de ser frade,
chamava-se Manuel de Sousa Coutinho, nascido em Santarém cerca de 1555.
Cavaleiro da Ordem Militar de Malta, Manuel de Sousa foi aprisionado por
piratas e esteve algum tempo cativo em Argel (1576-77?), onde teria conhecido
outro cativo ilustre, Cervantes. Por volta de 1584-86, de regresso a Portugal
depois de dois anos passados em Valência, casou com D. Madalena de Vilhena,
viúva de D. João de Portugal, desaparecido com D. Sebastião em Alcácer Quibir.
Em 1599, foi nomeado capitão-mor de Almada. Em 1600, lançou fogo a uma das suas
casas, para impedir que ali se hospedassem os governadores do Reino em nome do
rei Filipe de Espanha, fugidos da peste que grassava em Lisboa. A causa do
incêndio assenta em razões pessoais e não em hostilidade ao rei castelhano, de
quem até recebera, em 1592, uma recompensa de 200$000.
Em 1613, quando já
lhes falecera a única filha, Manuel e D. Madalena seguiram o exemplo recente
dos Condes de Vimioso, professando ambos, ele no convento de S. Domingos de
Benfica e ela no convento, dominicano também, do Sacramento. Sobre esta sua
decisão de professar, entre várias opiniões que corriam, o primeiro biógrafo de
Frei Luís de Sousa, Frei António da Encarnação, elegeu a seguinte e pouco verosímil
versão: um peregrino trouxera a nova inesperada de que D. João de Portugal,
desaparecido trinta e cinco anos atrás, vivia ainda na Terra Santa; assim, a
vida em comum de Manuel e D. Madalena tornara-se impossível, pois este segundo
casamento era nulo e insustentável. Foi esta versão que constituiu o ponto de
partida do Frei Luís de Sousa.
No convento, levou
uma vida austera e dedicou-se à escrita, tendo desempenhado também a função de
enfermeiro – ele que fora guarda-mor da Saúde de Lisboa. Da sua pena saiu a
obra Vida de Frei Bartolomeu dos Mártires, arcebispo de Braga. Ainda se
dedicou à ordenação e redação da História de S. Domingos particular do Reino
e Conquistas de Portugal, um conjunto de monografias sobre os conventos
dominicanos do país. Finalmente, escreveu por incumbência de Filipe III uns Anais
de D. João III, publicados por Alexandre Herculano em 1844. Consta que terá
escrito ainda outras obras, que se perderam.
Faleceu em 1632.
Análise da Cena VIII do Ato I de Frei Luís de Sousa
● Assunto: diálogo entre Madalena e Manuel de Sousa, durante o
qual aquela o tenta demover da decisão de se mudarem para o palácio de D. João
e este se mostra inabalável.
● Caracterização
das personagens
▪ Manuel
de Sousa:
- sempre respeitou D. João de Portugal;
- não teme o passado;
- sereno e decidido (observe-se a sua linguagem);
- forte;
- patriota: “Há de
saber-se no mundo que ainda há um português em Portugal.” (pleonasmo);
- amor à pátria e à
liberdade;
- desrespeito pelos
argumentos da esposa, que considera “caprichos”, “agouros”, “vãs quimeras de
crianças”, preferindo magoá-la a esquecer os seus princípios;
- inabalável e
firme nas suas decisões;
- crente em Deus: “Não
há senão o temor a Deus”;
- ironia das
repetições dos pronomes num discurso duplo para o espectador: “E o presente, esse
é meu, meu só, todo meu…”;
- é o modelo do
herói clássico:
. age segundo a razão;
. orienta-se por valores aceites como universais:
- a honra cavalheiresca;
- o culto do dever;
- a lealdade;
- o patriotismo;
- a liberdade.
▪ D.
Madalena:
- obediente ao
marido: “eu nunca me opus ao teu querer, nunca soube que coisa era ter outra
vontade diferente da tua; estou pronta a obedecer-te sempre, cegamente, em tudo”;
- amargurada e
angustiada;
- aterrorizada por
constantes agouros e pelo passado: “… que vou achar ali a sombra despeitosa de
D. João, que me está ameaçando com uma espada de dous gumes… que a atravessa no
meio de nós, entre mim e ti e a nossa filha, que nos vai separar para sempre…”;
- gradação
crescente e hipérbole dos seus temores – menciona todas as preocupações e
profetiza mesmo a morte: “(…) a violência, o constrangimento de alma, o terror
(…) viu ser infeliz, que vou morrer (…) sem que todas as calamidades do mundo
venham sobre nós.”;
- convicta, até ao
final, de que consegue demover o marido;
- é o modelo da
heroína romântica:
. vive obcecada pelos fantasmas do passado;
. age pelo coração, pelo sentimento.
Concretiza-se nestas cenas a ideia de que, em Madalena,
a contradição entre a felicidade aparente e a desgraça íntima revela uma
consciência moral atormentada pela imagem sempre obsessivamente presente de D.
João, mordida pelo remorso proveniente da consciência de pecado. Motivações de
ordem psicológica e moral profundamente enraizadas na psicologia desta
personagem, movimentada dentro do quadro de uma sociedade cristã, onde o
matrimónio é um vínculo indissociável que só a morte poderá quebrar, conduzem a
reações e ao comportamento desta figura, cheia de ambiguidades, tão rica, tão
modelada, “mulher e muito mulher”, forte no amor, na paixão por Manuel de
Sousa, fraca perante os agouros, os presságios, os indícios de “uma grande
desgraça” iminente, terna, lutando até ao fim pela felicidade, procurada mas
nunca alcançada plenamente, rendida contra vontade perante o irremediável
Destino que a destrói, liquidando todos os sonhos de felicidade neste Mundo,
junto do homem que amou. As reticências são uma abertura pela qual os
espectadores observam o seu íntimo conflito de consciência.
NOTAS:
|
1.ª) Existe um contraste nesta cena entre a linguagem
serena, decidida, de Manuel de Sousa e a de D. Madalena, hesitante, titubeante,
emotiva e excitada. Estão frente a frente dois mundos: o universal e o
individual; estão frente a frente dois tempos: o presente e o passado; um terá
de vencer. Ela tem um discurso sentimental, marcado por emoções violentas. De
acordo com a época em que vive, é submissa ao marido, apelando ao seu coração
para o dissuadir, mas ele tem um discurso racional, mostrando-se forte e
seguro, impondo a sua decisão, baseado em argumentos sólidos.
2.ª) As duas personagens vivem, pois, um conflito
dominado pelo tempo. Neste campo, a palavra caprichos tem um significado
diferente para ambos. Para Manuel de Sousa, trata-se de uma teimosia
incompreensível; para D. Madalena, trata-se de uma questão de vida ou de morte,
um dilema fatal. Um minimiza a situação, o outro empola-a.
3.ª) Manuel de Sousa desvaloriza os argumentos da
esposa. De facto, D. Madalena argumenta com base na emoção, condicionada pelo
medo e pelo terror de que a figura de D. João interfira na felicidade da
família. Os seus argumentos são óbvios: pressente que não vai ser feliz e
pressente que irá encontrar, na outra casa, a sombra despeitosa de D. João. O
marido considera que esta argumentação não é razoável, tratando-se de um mero
capricho, causado pela “fraqueza de acreditar em agouros”. Pelo contrário, ele
mostra ser racional e pragmático. No final, chama D. Madalena à razão e
lembra-lhe a sua condição e as responsabilidades que tem, o que implica que
tenha um comportamento digno e firme, visto que a situação assim o exige.
4.ª) Os argumentos de Manuel de Sousa para contraditar a
esposa e afastar os seus receios são os seguintes:
- não há outro
lugar para onde ir, de repente;
- não lhe custa
viver onde viveu D. João com D. Madalena;
- ela não deve
acreditar em agouros; a única crença que deve ter é em Deus;
- nada tem a temer
porque nunca pecou;
- não deve recear a
perseguição por parte da alma de D. João.
5.ª) A afirmação de Manuel de Sousa de que “não há
espectros que nos possam aparecer senão os das más ações que fazemos” significa
que apenas se devem temer os erros que se cometem conscientemente e mostra que
desconhece a motivação profunda de D. Madalena para recusar mudar para o
palácio de D. João.
6.ª) A alternância de tratamento de D. Madalena (senhora
/ tu) explica-se assim: no primeiro caso, realça-se a sua condição social –
Manuel de Sousa pretende mostrar severidade para chamar a sua mulher à razão e
aos seus deveres de membro da aristocracia; no segundo, a sua situação de
esposa – ele manifesta ternura e compaixão pelo sofrimento da mulher (“Minha
querida”).
7.ª) Na sua fala final, Manuel de Sousa reitera a sua
intenção de dar uma lição aos tiranos e um exemplo ao povo, afirmando que se
tratará de algo que os há de «alumiar». Este verbo pode ser interpretado
de duas formas: por um lado, com o sentido de “dar luz”, revelando a decisão de
incendiar o próprio palácio (cena XI); por outro, com o sentido conotativo de “esclarecer”,
como um incentivo à oposição e à recusa da submissão e tirania.
8.ª) A frase “Há de saber-se no mundo que ainda há um
português em Portugal” significa que nem todos os portugueses aceitaram o
domínio filipino e explica a insurreição de Manuel de Sousa, bem como o seu
gesto de rebeldia e desobediência.
9.ª As figuras dos esposos apresentam traços
psicológicos que se opõem claramente:
Manuel
|
Madalena
|
|
- Razão
- Honra
- Fidelidade ás suas ideias
- Firmeza
- Patriotismo
- Luta pela liberdade
e pela independência
|
- Coração
- Temores e
agouros permanentes
- Pressentimentos
fatais
- Fragilidade
- Descontrolo emocional
|
● Elementos
trágicos (cenas 7 e 8)
▪ Agón
de D. Madalena:
- com Manuel de Sousa:
Manuel de Sousa, no regresso de Lisboa, resolve
incendiar o seu palácio, para não hospedar os governadores Luís de Moura, o conde
do Sabugal, o conde de Santa Cruz, “que tomaram este incargo odioso… e vil, de
oprimir os seus naturais em nome dum rei estrangeiro”. O arcebispo já estava
alojado no convento dos domínicos de Almada.
Tomando esta atitude dos governadores como opressão,
prepara-se para dar “uma lição aos nossos tiranos que lhes há de lembrar,… um
exemplo a este povo que os há de alumiar”, numa frase ambígua e profética. Para
não “sofrer esta afronta”, diz, “é preciso sair desta casa”.
D. Madalena interroga-se, aterrada, diante do
inevitável (voltar de novo para o palácio onde vivera com D. João), acerca do
novo local de habitação. É a partir desta premente necessidade de mudar de
residência que se manifesta o conflito de D. Madalena com Manuel de Sousa. As
razões de D. Madalena são óbvias:
1.ª) “a violência,
o constrangimento de alma, o terror com que eu penso em ter de entrar naquela
casa”;
2.ª) “parece-me que
é voltar ao poder dele, que é tirar-me dos teus braços, que o vou encontrar ali”;
3.ª) “vou achar ali
a sombra despeitosa de D. João, que me está ameaçando com uma espada de dous
gumes… que a atravessa no meio de nós, entre mim e ti e a nossa filha, que nos
vai separar para sempre”;
4.ª) “sei decerto
que vou morrer naquela casa funesta, que não estou ali três dias, três horas,
sem que todas as calamidades do mundo venham sobre nós”.
Por fim, um pedido ansioso:
5.ª) “Meu esposo,
Manuel, marido da minha alma, pelo nosso amor to peço, pela nossa filha… vamos
seja para onde for, para a cabana de algum pobre pescador desses contornos, mas
para ali não, oh, não!...”.
Ouvem-se as lágrimas, sente-se o sofrimento íntimo e
atroz nestas palavras proféticas, dolorosas e ambíguas, carregadas de duplo
sentido, cheias de motivações profundas, claras apenas para D. Madalena, só
obscuras para Manuel de Sousa, desconhecedor do mistério e do segredo nelas
contido.
Por isso, Manuel de Sousa, a princípio, interpreta
esta repugnância como «capricho» bem feminino, e leva-a à conta de «fraqueza de
acreditar em agouros». Se o coração e as mãos de D. Madalena «estão puras»,
colo ele crê, em sua boa fé, então «não há espectros que nos possam aparecer».
Espectros só os das «más ações». Tudo isso são «quimeras de criança». Por fim,
chama-a à razão e lembra-lhe as responsabilidades que ela tem, por si e pelos
antepassados: «Vamos, D. Madalena de Vilhena, lembrai-vos de quem sois e de
quem vindes, senhora…».
Vencida, mas não convencida, nada mais adiantará
para D. Madalena perante o irremediável: incendiado o palácio de Manuel de
Sousa, vê-se forçada, muito a contragosto, a mudar de residência, a regressar a
casa de D. João de Portugal.
- com D. João de
Portugal: manifesta-se na relutância de voltar a viver sob o mesmo teto em que
fora (não o era ainda?) esposa de D. João, e nas razões que apresenta (I, 7 e
8).
▪ A presença do Destino, que estabelece um clima de fatalidade que paira sobre as personagens.
▪ Os agouros e pressentimentos de destruição e morte, como o da espada, que
sufocam D. Madalena.
▪ O pathos de D. Madalena
● Características
românticas
. crença em Deus;
. nacionalismo e patriotismo;
. interioridade / sensibilidade;
. adequação da linguagem às personagens:
coloquialidade e emotividade – reticências, pausas, exclamações, interjeições,
repetições;
. Manuel de Sousa representa o herói romântico que
luta pela liberdade e pela pátria, contra a tirania;
. D. Madalena é a figura romântica da mulher dominada
pelo sentimento (medo, culpa, agouros, terror…).
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Análise da Cena VII do Ato I de Frei Luís de Sousa
● Assunto: chegada de Manuel de Sousa com a decisão de partir,
com a família, para o palácio de D. João, em virtude de os governadores castelhanos
quererem hospedar-se no seu palácio.
● Estrutura
interna da cena
▪ 1.ª parte – Chegada de Manuel de Sousa decidido a abandonar
o seu palácio.
A chegada de Manuel de Sousa não seria, só por si,
um acontecimento imprevisto, se não fossem certas circunstâncias presentes (as
desta cena até ao final do ato) e passadas, como, por exemplo, a sua demora em
Lisboa para além do que prometera a D. Madalena: «prometeu de vir antes de
véspera e não veio; que é quási noite, e que já não estou contente com a
tardança” (I, 3). A hora de véspera correspondia às seis horas da tarde; “quási
noite”, em agosto, seria pelas nove. D. Madalena presume a ocorrência de
impedimentos graves, para Manuel de Sousa faltar à palavra dada. Manda, por
isso, chamar Frei Jorge, o qual a põe ao corrente do que lhe “mandaram dizer em
muito segredo de Lisboa”: os governadores, para fugirem à peste, resolveram vir
para Almada e escolheram o palácio de Manuel de Sousa para “aposentadoria”.
▪ Caracterização
de Manuel de Sousa:
. nobre;
. agitado e nervoso: mover-se em várias direções e dá
ordens a diferentes personagens;
. autoritário: “Façam o que lhes disse”;
. decidido e determinado: “nós forçosamente havemos
de sair antes de eles entrarem”;
. caráter inflexível;
. precipitado;
. audaz e corajoso;
. culto, de acordo com o seu estatuto social: o uso
do latim «mea culpa» e «pecavi»;
. belo e nobre, qualidades que, aliadas à
inteligência e à cultura universitária, o tornam invejado pelos poderosos.
Manuel de Sousa informa as outras personagens da sua
decisão de saírem daquela casa, naquela mesma noite, antes da chegada dos
governadores. Tenso e inquieto, mostra-se revoltado e indignado porque os
governadores ao serviço de Espanha querem hospedar-se no seu palácio e ele,
como patriota, opõe-se a esse propósito. A resolução imperativa e irremediável está
presente nesta fala: «É preciso sair desta casa, Madalena”. Ora, a
expressão «é preciso» marca a fatalidade, combinada com a irreversível
imediatez do advérbio: «sair já».
Por outro lado, a casa é o edifício, mas também o símbolo da família, a
própria família. Parece que o Destino fala pela boca de Manuel de Sousa, que
lhe vai pegar na palavra, a ele que pensa agir apenas pelo patriotismo e na
qualidade de senhor da sua própria casa, para o empurrar, numa autêntica
reviravolta da Fortuna, para uma situação equívoca, em casa alheia.
▪ Tempo
Partindo das informações contidas na cena, podemos
concluir que a ação decorre pelas oito horas do dia 28 de julho de 1599, de
noite: “É noite fechada.”; “são oito horas”.
A mudança do «fim da tarde» para «noite fechada»
está de acordo com o que vai acontecer, quer na família, quer no palácio;
neste, permite um final espetacular e simbólico.
▪ 2.ª parte – Reações das personagens à decisão de Manuel de
Sousa.
. Madalena:
- inquieta;
- receosa;
- preocupada;
- pressente desgraças;
- procura chamar o
marido à razão e demovê-lo, temendo a vingança dos governadores.
. Maria:
- orgulhosa;
- contente;
- vibrante;
- apoia totalmente o pai.
. Frei Jorge:
- mediador de
conflito (concordando com D. Madalena, aconselha prudência; concordando com
Manuel, aceita a mudança de morada;
- assume a função
de coro, aconselhando as personagens.
▪ 3.ª parte – Decisão de mudar a família para o palácio de
D. João de Portugal.
Esta mudança é absolutamente necessária ao
desenrolar dos acontecimentos, dadas as circunstâncias. A Fatalidade parece
falar pela boca de Manuel (“… a única parte para onde poderemos ir…”): aquela
era, de facto, a única saída, a única alternativa, perante o aperto em que as
personagens parecem encurraladas.
▪ Postura
e retrato de Manuel de Sousa
Ao longo da cena, a postura e o estado emocional de Manuel de Sousa alteram-se. Inicialmente,
mostra-se agitado e nervoso, mas, à medida que a cena se desenrola, vai ganhando
tranquilidade, para não assustar a mulher e a filha, mas mantém a decisão e a
determinação de agir e com rapidez.
Manuel de Sousa, quer no discurso quer nas ações,
mostra-se um homem honrado, patriota, valente e corajoso, ao enfrentar e
insurgir-se contra o poder espanhol, pretendendo dar-lhe uma lição exemplar (a
eles e a “este escravo deste povo que os sofre”), pois essa rebeldia poderia
acarretar uma punição severa. Assim sendo, essa coragem vive de mãos dadas com
o patriotismo e a defesa da liberdade. De facto, quando se recusa a acatar as
ordens dos governadores, mostra que não aceita o domínio filipino e a união com
Espanha. Como não pode agir a nível nacional, decide fazê-lo a título
particular, a nível da sua casa.
▪ Reação
das personagens
A reação das personagens é novamente diferenciada:
- Maria: exulta com
a decisão do pai, que apoia, elogiando o seu patriotismo;
- Frei Jorge: apoia
também a decisão, mas aconselha o irmão a ser prudente;
- D. Madalena: a
reação desta personagem varia ao longo da cena. Assim, no início mostra-se
inquieta com a decisão do marido, alertando-o para as consequências de atos
imoderados, temendo a reação dos governadores. Porém, quando fica a saber que
Manuel de Sousa quer mudar a família para o palácio de D. João, fica apavorada,
como se pode constatar pela sua linguagem repleta de reticências, pausas,
interrupções, hesitações, repetições (“Ouve… ouve…”) e no pedido para ficar só
com o marido na tentativa de o demover. De facto, inicialmente, controla o
pânico, com dificuldade, para não atemorizar a filha, por isso espera que esta
saia para reagir. As razões dos eu terror são óbvias e plenamente justificadas.
▪ Dimensão simbólica da atitude de Manuel
de Sousa
As atitudes de Manuel de Sousa são de antipoder.
Tendo em conta que, em 1844, ano da publicação de Frei Luís de Sousa,
Portugal era governado pela ditadura de Costa Cabral, o gesto de revolta da
personagem pode simbolizar (e assim foi entendido na época, por isso o poder
vigente proibiu a representação da peça) a revolta contra esse governo
cabralista.
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Análise da Cena VI do Ato I de Frei Luís de Sousa
● Nesta cena, de
extensão muito reduzida, Miranda anuncia a chegada de Manuel de Sousa.
● Por outro lado,
nela é revelada a doença de Maria, que manifesta mais um sintoma de
tuberculose, a acuidade auditiva e visual: “É extraordinária esta criança; vê e
ouve em tais distâncias…”. Os tuberculosos possuem uma acuidade especial ao
nível da visão e da audição.
● Papel
de Frei Jorge
Nesta cena, Frei Jorge é o mensageiro portador de
notícias: é por ele que D. Madalena sabe que os governadores que representam o
rei espanhol se pretendem alojar no palácio de Manuel de Sousa.
Ocasionalmente, Frei Jorge cumpre a função/o papel semelhante
à do Coro da tragédia clássica, enquanto conselheiro (revelando moderação e
sensatez), portador de notícias, veículo de expressão de temores e sinais
(indícios) do que o futuro poderá trazer.
● Elementos
trágicos da cena
▪ Agón de Maria:
- com o pai: a
hipótese de falta de patriotismo do pai aventada na cena 3 não tem fundamento;
- com os governantes
de Lisboa (I, cena 5):
1. a razão de Maria
é simples e sábia: os governantes ilegítimos, no momento das desgraças
provocadas pela peste, fogem do meio do povo; o rei natural, «pai comum de
todos», fica junto do seu povo, «onde a miséria fosse mais e o perigo maior,
para atender com remédio e amparo aos necessitados». E acrescenta: «Eu
entendia, se governasse, que o serviço de Deus e do rei me mandava ficar…»;
2. por isso, no
momento em que o pai resolve lutar, à sua maneira, contra os tiranos, também
ela resiste à tirania e lança a ideia de lutar e organizar a defesa, para que
os governadores não entrem no seu palácio: «Fechamos-lhes as portas. Metemos a
nossa gente dentro; o terço de meu pai tem mais de seiscentos homens, e
defendemo-nos. Pois não é uma tirania?... E há de ser bonito! Tomara eu ver
seja o que for que se pareça com uma batalha».
▪ Presságio/indício: na sua última fala, Frei Jorge expressa a sua
preocupação com a saúde de Maria, podendo presumir-se que ela não irá resistir
à tuberculose.
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Análise da Cena V do Ato I de Frei Luís de Sousa
● Surgimento das personagens em cena
As personagens não surgem todas em cena em conjunto,
mas de forma gradual. Primeiro, Madalena e Telmo; depois, Maria; nesta cena,
Frei Jorge; a seguir, Manuel de Sousa. Esta sucessão corresponde ao que se
deveria passar no primeiro ato de uma tragédia – prólogo –, em que se
apresentam as personagens e se mostra o conflito latente entre elas.
● Assunto
da cena – notícias trazidas por Frei
Jorge:
. saída dos governadores de Lisboa;
. intenção de se hospedarem na casa de Manuel de
Sousa e D. Madalena.
Entre 1598 e 1602, houve peste em Lisboa. As
notícias trazidas por Frei Jorge contribuem diretamente para o desenvolvimento
do conflito. De facto, os governadores tencionam sair de Lisboa, para fugirem à
peste, e instalar-se em Almada, na casa de Manuel de Sousa.
● Reações
das personagens
a) Maria
Maria, graças ao seu temperamento juvenil e gosto
pela aventura, manifesta todo o seu patriotismo e considera a intenção dos
governadores um ato de cobardia, visto que abandonam o povo, deixando-o
entregue à peste e à miséria, e um ato de tirania que deve ser combatido pelo
exército do seu pai.
Por outro lado, revela um grande sentido cívico e
grande sensibilidade para com as injustiças: ela não aceita que os
governadores, que deveriam zelar e cuidar do povo e do seu bem-estar, o
abandonem à sua sorte, para se protegerem.
Relativamente a recebê-los em casa, rejeita
impetuosamente essa hipótese, defendendo que se deve pegar em armas para os
combater. Esta é uma visão romântica do poder e das reais forças das partes em
conflito.
b) D. Madalena
D. Madalena reage à notícia de forma mais comedida,
mas não deixa de se mostrar indignada com a situação, que considera uma
desconsideração pelas senhoras da sua casa.
Por outro lado, perante o sebastianismo da filha,
que defende o regresso de D. Sebastião, no qual acredita convictamente,
fundamentando a sua posição com a crença do povo, mostra a sua descrença,
apoiando-se em elementos mais concretos, isto é, nos relatos dos tios Frei
Jorge e Lopo de Sousa, e defende que as crenças do povo são ilusões.
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quinta-feira, 2 de janeiro de 2020
Missa do galo
Primitivamente,
havia apenas uma missa, que se celebrava no dia 25 de dezembro, na igreja de S.
Pedro. Em meados do século V, começou a rezar-se uma outra missa, numa capela
em Roma, chamada Santa Maria do Presépio, construída à imagem da gruta de Belém,
e que se celebrava ainda de noite, mas quase ao romper do dia 25, quando os
galos começavam a cantar. Daí surgiu a designação missa do galo.
Mais tarde, surgiu
uma terceira missa, chamada missa da aurora, dedicada à mártir Santa
Anastácia de Sírmio, cujo aniversário ocorria a 25 de dezembro. Esta missa foi
intercalada entre a da noite (a missa do galo) e a do dia (a missa em S.
Pedro), sendo a missa do galo progressivamente antecipada até à meia-noite. No
século VIII, espalhou-se o uso das três missas no dia de Natal.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2020
Acupunctura (origem e significado)
A palavra «acupunctura”
provém da junção de dois termos latinos: acu (agulha) e punctura
(picada). Ela designa um método de origem chinesa que consiste na introdução de
agulhas muito finas em pontos específicos do corpo humano com vista ao
tratamento de doenças.
TAVARES, Sandra Duarte, 500 Erros mais Comuns da Língua
Portuguesa
"Acerca de", "cerca de", ou "há cerca de"?
Ambas as expressões
existem na língua portuguesa, só que com significados e usos diferentes.
A expressão “acerca
de” é uma locução prepositiva que significado «sobre», «a respeito de»,
«quanto a», «na opinião de»:
. Na aula, falámos
acerca das nossas vidas.
Existe também a
expressão “(a) cerca de”, que quer dizer «perto de», «cerca de», «próximo
de», «junto de», «aproximadamente»:
. O navio naufragou a
cerca de 200 milhas do Cabo Espichel.
. Cerca de 10 alunos
invadiram o parque de merendas.
Por sua vez, a
expressão “há cerca de” é constituída pela 3.ª pessoa do singular do
presente do indicativo do verbo «haver» e pela locução «cerca de», que
significa «aproximadamente», «perto de». Ela pode assumir dois valores
semânticos:
1.º) um valor temporal,
podendo ser substituída pela forma verbal «faz»:
. O desastre da
Supertaça ocorreu há cerca de uma semana.
2.º) um valor especial,
podendo ser substituída pela forma verbal «existem»:
. Há cerca de quarenta
adeptos do Sporting em prisão domiciliária.
A datação das décadas e dos séculos
Afinal, hoje, 1 de
janeiro de 2020, estamos ainda na segunda década do século XXI ou entrámos na
terceira? Esta questão estende-se também à delimitação dos séculos.
Os séculos começam
em 01 e terminam em 00, inclusive. Assim sendo, o século atual teve início a 1
de janeiro de 2001 e terminará no dia 31 de dezembro de 2100.
Quanto às décadas,
se dividirmos os séculos em 10, a lógica é a mesma daqueles: o período de 2001
a 2010 constitui a primeira década do século XXI; o de 2011 a 2020 corresponde
à segunda; o de 2021 a 2030 refere-se à terceira. Deste modo, atualmente ainda
vivemos na segunda década do século XXI.
No entanto, se
falarmos em anos, a questão é ligeiramente diferente. Assim, se nos referirmos
aos anos 20 deste século, estaremos a falar de 2020 a 2029. O mesmo sucede, por
exemplo, quando falamos da época de quinhentos: o século é o XVI (1501 a 1600),
a época é a de quinhentos (de 1500 a 1599).
A razão que explica
tudo isto reside no facto de não ter existido um ano 0, e o cálculo dos séculos
parte desse princípio. De facto, grande parte do mundo ocidental utiliza o
calendário gregoriano, que foi estabelecido pelo Papa Gregório XII em 1582 e
que coloca o nascimento de Jesus Cristo como ano 1. Isto significa que saltamos
do ano 1 antes de Cristo diretamente para o ano 1 depois de Cristo.
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