Antes de ser frade,
chamava-se Manuel de Sousa Coutinho, nascido em Santarém cerca de 1555.
Cavaleiro da Ordem Militar de Malta, Manuel de Sousa foi aprisionado por
piratas e esteve algum tempo cativo em Argel (1576-77?), onde teria conhecido
outro cativo ilustre, Cervantes. Por volta de 1584-86, de regresso a Portugal
depois de dois anos passados em Valência, casou com D. Madalena de Vilhena,
viúva de D. João de Portugal, desaparecido com D. Sebastião em Alcácer Quibir.
Em 1599, foi nomeado capitão-mor de Almada. Em 1600, lançou fogo a uma das suas
casas, para impedir que ali se hospedassem os governadores do Reino em nome do
rei Filipe de Espanha, fugidos da peste que grassava em Lisboa. A causa do
incêndio assenta em razões pessoais e não em hostilidade ao rei castelhano, de
quem até recebera, em 1592, uma recompensa de 200$000.
Em 1613, quando já
lhes falecera a única filha, Manuel e D. Madalena seguiram o exemplo recente
dos Condes de Vimioso, professando ambos, ele no convento de S. Domingos de
Benfica e ela no convento, dominicano também, do Sacramento. Sobre esta sua
decisão de professar, entre várias opiniões que corriam, o primeiro biógrafo de
Frei Luís de Sousa, Frei António da Encarnação, elegeu a seguinte e pouco verosímil
versão: um peregrino trouxera a nova inesperada de que D. João de Portugal,
desaparecido trinta e cinco anos atrás, vivia ainda na Terra Santa; assim, a
vida em comum de Manuel e D. Madalena tornara-se impossível, pois este segundo
casamento era nulo e insustentável. Foi esta versão que constituiu o ponto de
partida do Frei Luís de Sousa.
No convento, levou
uma vida austera e dedicou-se à escrita, tendo desempenhado também a função de
enfermeiro – ele que fora guarda-mor da Saúde de Lisboa. Da sua pena saiu a
obra Vida de Frei Bartolomeu dos Mártires, arcebispo de Braga. Ainda se
dedicou à ordenação e redação da História de S. Domingos particular do Reino
e Conquistas de Portugal, um conjunto de monografias sobre os conventos
dominicanos do país. Finalmente, escreveu por incumbência de Filipe III uns Anais
de D. João III, publicados por Alexandre Herculano em 1844. Consta que terá
escrito ainda outras obras, que se perderam.
Faleceu em 1632.
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