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sábado, 1 de junho de 2024

As Aventuras de Pinóquio (Collodi, 2004 [1883])

    Um pedaço de madeira que falava foi dado a Gepeto. Com ele construiu um boneco atrevido e impertinente que logo no primeiro dia fugiu de casa, levando seu “pai” a ser preso. Surgiu o Grilo Falante que lhe deu algumas lições de moral, mas Pinóquio se recusou a escutá-las e disse que iria fugir para não ter que ir à escola. O grilo lhe respondeu que assim ele se tornaria um burro e que o seu destino seria o hospital ou a cadeia. Pinóquio matou o grilo, depois se viu sozinho e com fome e se arrependeu, saindo a pedir pelas ruas e voltando ainda com fome e encharcado, queimando os pés em seguida enquanto se secava em um braseiro. Gepeto ao voltar da prisão deu a sua comida a Pinóquio, que prometeu que iria estudar e se comportar. Gepeto lhe fez novos pés e uma roupa de papel, e vendeu o seu casaco para comprar-lhe uma cartilha nova. Pinóquio, no caminho para a escola, vendeu sua cartilha para ir ao teatro de marionetes, onde foi reconhecido pelos outros bonecos de madeira. Come-fogo, o diretor do teatro, ameaçou queimar Pinóquio, mas, compadecido por ele ter um pai, deu-lhe cinco moedas de ouro para que ele levasse para Gepeto. Pinóquio, ao regressar com a intenção de comprar um novo casaco para o pai e uma nova cartilha para si, foi enganado por uma raposa que fingia ser manca e por um gato que se fazia de cego. Eles se disfarçaram e tentaram roubar Pinóquio, que fugiu para a casa de uma menina de cabelos azuis, mas foi alcançado e enforcado pelos assassinos, que voltariam no dia seguinte para pegar as moedas na sua boca quando ele finalmente estivesse morto. Mas, antes que ele morresse, a menina (na verdade uma fada) o conduziu para um quarto onde animais médicos o atenderam, entre eles um Grilo Falante, que apontou os defeitos do boneco. Este chorou arrependido, mas recusou-se a tomar o remédio amargo que lhe traria a cura, pedindo açúcar à fada e prometendo, em vão, que tomaria o remédio. Continuou mentindo para a Fada e o seu nariz cresceu, mas depois, por ordem da Fada, pica-paus bicaram até o seu nariz voltar ao normal. Pinóquio depois de curado seguiu ao encontro de Gepeto, mas no caminho encontrou a Raposa e o Gato, que lhe convenceram a plantar as moedas para que nascesse uma árvore de dinheiro. Ele enterrou as moedas na cidade dos Pega-Trouxas e os dois as roubaram, mas ao protestar, Pinóquio foi preso na cidade. No caminho ele viu uma lápide que anunciava a morte da Fada, Pinóquio chorou e uma pomba apareceu dizendo que Gepeto havia construído uma barca para procurá-lo no mar. Ao chegar à praia, Gepeto já estava em alto mar e desapareceu em meio às ondas. Pinóquio lançou-se ao mar, nadando por toda a noite até chegar a uma praia e caminhar até a Cidade das Abelhas Trabalhadoras, onde todos trabalhavam. Ele não gostou do lugar por não gostar de trabalhar e pediu dinheiro às pessoas, que lhe ofereceram moedas em troca de trabalho, mas ele se recusou inventando desculpas. Até que uma mulher lhe deu água e prometeu que se ele a ajudasse ganharia comida e doces. Ele, a contragosto, a ajudou, percebendo, ao chegar a sua casa, que a ela era a Fada. Ela o adotou como seu filho e ele foi para a escola, aplicou-se nos estudos, mas se envolveu com colegas pouco dedicados que o convidaram para faltar aula e irem juntos à praia para que vissem a grande baleia que, como suspeitava Pinóquio, poderia ter engolido seu pai. Mas na praia não havia baleia nenhuma e os meninos, sete no total, ameaçaram e investiram contra Pinóquio. Como era difícil vencer o boneco, eles lançaram nele seus livros, acertando um livro enorme e pesado em um dos meninos que quase morreu. Pinóquio se arrependeu de ter seguido os colegas que fugiram deixando o garoto que estava ferido com Pinóquio. Chegaram dois policiais e levaram Pinóquio preso, deixando o menino ferido aos cuidados dos pescadores. Em um breve descuido dos guardas o boneco fugiu e foi para a casa da Fada, que o perdoou mais uma vez. Ele jurou que iria estudar e se comportar e tornou-se o melhor aluno de sua turma, mas quando faltava apenas um dia para que fosse transformado em um menino de verdade, partiu escondido com seu amigo Pavio para o País dos Brinquedos, um lugar sem escolas, sem professores, sem livros, sem dias letivos e com férias eternas onde as crianças passavam o dia brincando e se divertindo, e escreviam com erros grama- ticais. Pinóquio foi levado para esse lugar com outros meninos em uma carroça conduzida por um homem e puxada por burros que calçavam botas. Um dos burros tentou alertá-lo, mas mesmo assim ele prosseguiu. Depois de cinco meses de diversão, cresceram nele ore- lhas de burro e ele se arrependeu, buscando Pavio por considerá-lo culpado por tudo, mas ambos, ao se encontrarem, transformaram-se em burros dos pés à cabeça. Pavio foi vendido para um lavrador e Pinóquio para uma companhia de palhaços, na qual lhe ensinaram a dançar e saltar. Na sua primeira apresentação ele viu a Fada na plateia, mas ao chamar por ela, soltou um zurro e foi chicoteado pelo treinador. Quando a procurou novamente, ela havia desaparecido e a plateia aguardava o seu número de saltar por entre argolas, mas ele tropeçou e ficou manco, sendo revendido para um homem que usaria a sua pele para fazer um tambor. O homem amarrou uma pedra ao pescoço do burro e o lançou ao mar para que ele morresse, mas ao puxá-lo encontrou um boneco em seu lugar, pois os peixes, ao comerem suas orelhas, seu rabo, sua pele e sua carne, o libertaram. Pinóquio saltou pelo mar e nadou até ser engolido pela Baleia, embora uma cabritinha azul (a Fada) tenha tentado salvá-lo, estendendo-lhes patas de cima de um rochedo. Dentro da Baleia Pinóquio encontrou seu pai, que havia sido engolido dois anos antes e, juntos, fugiram pela boca da Baleia quando esta adormeceu. Pinóquio lançou-se na água e nadou com Gepeto agarrado aos seus ombros. Já em terra firme, encontraram o Gato, que tinha ficado cego, e a Raposa, que ficou com um lado paralisado, pedindo esmolas. Pinóquio se recusou a ajudá-los, dizendo que se estavam pobres mereciam isso. Chegaram a uma cabana e foram recebidos pelo Grilo Falante, que havia ganhado a casa da cabra azul (a Fada, que havia partido pensando que nunca mais encontraria o boneco). Pinóquio saiu em busca de um copo de leite para o seu pai, que estava muito fraco, aceitando trabalhar na cisterna da horta de um lavrador em troca do leite, pois o burrinho que fazia o serviço para o homem estava morrendo. Pinóquio quis ver o burrinho e constatou que se tratava de Pavio, que morreu minutos depois. O boneco levou o leite para o seu pai e a partir daquele dia trabalhou por cinco meses em troca de um copo de leite por dia para Gepeto. Aprendeu a fazer cestos e aumentou seu ordenado, exercitando também a leitura e a escrita. Um dia, ao sair para comprar roupas novas, encontrou-se com uma lesma que disse que a Fada estava hospitalizada e sem dinheiro para se alimentar. Pinóquio deu todo o dinheiro que possuía para que fosse levado à Fada e em seguida aumentou o ritmo de trabalho diário para que pudesse mantê-la.
    Depois de trabalhar bastante e até muito tarde, ele adormeceu e sonhou com a Fada a beijá-lo. Quando acordou, viu que havia se transformado em um menino de verdade, com roupas novas e com dinheiro no bolso (o dinheiro restituído pela Fada). Gepeto estava curado e tudo isso se devia aos méritos e às virtudes de Pinóquio. Este, depois de se transformar em menino, viu um boneco de madeira apoiado em uma cadeira e fez o seguinte comentário, com que se encerra a história: “Como eu era ridículo quando eu era um boneco! E como eu estou contente de ter me tornado agora um bom menino!” (COLLODI, 2004, p. 201).

Fabiano de Oliveira Moraes, A representação da infância em Pinóquio: a propagação
e a perpetuação do discurso hegemônico por meio da literatura infantil e da escola

Pinóquio na literatura infantil moderna

    Se a literatura infantil do século XVII caracterizou-se, como afirmam Coelho (1985), em Panorama histórico da literatura infantil/juvenil, e Góes (1984), em Introdução à literatura infantil e juvenil, pela adaptação de obras clássicas e de contos populares, sendo seus títulos de maior vulto os escritos por franceses: La Fontaine, Perrault, Mme. D’Aulnoy e Fénelon, o século XVIII foi marcado pelo predomínio de romances de viagens extraordinárias e de aventuras de energia vital, que seriam lidos por crianças e jovens, tendo na Inglaterra dois dos seus maiores representantes: Robinson Crusoé (1719), de Daniel Deföe, e Viagens de Gulliver (1726), de Jonathan Swift, o primeiro deles foi considerado um símbolo da civilização europeia enfrentando e sobrepujando a selvagem natureza americana.
    Entre o período clássico e a Modernidade, na divisão proposta por Foucault (1968) [Foucault (1968), em sua arqueologia das ciências humanas, propõe uma divisão histórica em três períodos: até a Renascença (anterior ao século XVI), período clássico (séculos XVII e XVIII) e Modernidade (a partir do século XIX), destacando uma fase de transição ou descontinuidade entre o período clássico e a Modernidade de 1875 a 1825.]em As palavras e as coisas, (de 1775, quando finda o clássico e ocorre um período de transição, ao início da Modernidade em 1825), temos, por um lado, dando prosseguimento às novelas de aventuras, o “[...] representante anedótico desta [linha temática] [...] o Barão de Munchhausen, (que realmente foi um oficial alemão) [...]” (GÓES, 1984, p. 85), com duas primeiras versões distintas, uma escrita em 1785 por Rudolf Erich Raspe, e outra em 1786 por Gottfried August Bürger. No entanto, a partir de 1800, conforme observa Coelho (1985), as novelas de aventura se subdividem em três linhas (aventuras de fundo histórico, aventuras de energia vital e novelas de cavalaria). Ivanhoé (1820), de Walter Scott, destaca-se entre as narrativas de aventura. A linha dos contos maravilhosos tem como maior representante, nessa fase, a coletânea dos contos de Grimm, lançada entre 1812 e 1822.
    A partir de 1825, ano que para Foucault (1968) marca o início do período moderno, no âmbito da novelística de aventuras, teríamos, segundo Coelho (1985), a continuidade das três linhas surgidas no período de transição, uma de fundo histórico (seguindo a tendência de Ivanhoé, em 1820, de Walter Scott), representada por títulos como: Notre-Dame de Paris (1831), de Vitor Hugo; e Os três mosqueteiros (1844), de Alexandre Dumas. A segunda linha, seguindo o espírito aventureiro da energia vital e da força de vontade, se destaca em obras tais quais O último dos moicanos (1826), de Fenimore Cooper; Cinco semanas em balão (1861), Viagem ao centro da Terra (1864), Vinte mil milhas submarinas (1869), A volta ao mundo em oitenta dias (1873), entre outros, de Jules Verne (Júlio Verne); O livro da Jangal (1894) e Mowgli, o menino lobo (1895), de Rudyard Kipling; O lobo do mar (1904), de Jack London; e Tarzã dos macacos (1914), de Edgard Rice Burroughs. A terceira linha representa, na forma de literatura de cordel, uma retomada das novelas de cavalaria medievais.
    Surgem ainda, nesse contexto, as narrativas policiais, que foram muito bem recebidas pelo público jovem e das quais Edgar Allan Poe é considerado precursor, destacando-se sua obra Os crimes da rua Morgue, escrita em 1841.
    Ainda no século XIX vêm à tona as narrativas do realismo-maravilhoso que, como define Coelho (1985, p. 126), “[...] decorrem no mundo real, que nos é familiar ou bem conhecido, e no qual irrompe, de repente, algo de mágico ou de maravilhoso […] e passam a acontecer coisas que alteram por completo as leis ou regras vigentes no mundo real.” (grifos nossos). Os maiores representantes dessa tendência são Lewis Carrol, com Alice no país das maravilhas (1865) e Alice através do espelho e o que Alice encontrou por lá (1872); Carlo Collodi, com As aventuras de Pinóquio (1883); e James Barrie, com Peter Pan (1904). O livro As aventuras de Pinóquio (Le avventure di Pinocchio), da autoria de Carlo Collodi, foi publicado pela primeira vez em 1883, na Itália. Utilizamos como fonte textual de nossa análise a tradução de Áurea Marin Burocchi publicada pela editora Paulinas (COLLODI, 2004[1883]) feita a partir do trabalho de revisão e organização de Ornella Castellani Polidori que, em 1983, publicou uma edição crítica com base em vários manuscritos revisados pelo próprio Collodi desde a primeira publicação em 1883 até o ano de sua morte: 1890. Para efeito de conferência com o original em italiano, consultamos inúmeras vezes, para o resumo a seguir delineado e para o nosso procedimento de análise, a reedição da primeira publicação de 1883 (COLLODI, 2001[1883]).
    Com a intenção de favorecermos a compreensão, por parte do leitor, da análise por nós procedida, apresentamos um largo resumo no qual destacamos os pontos por nós considerados relevantes, sabedores de que o livro, em suas 201 páginas, relata uma quantidade enormemente maior de detalhes e passagens.

Fabiano de Oliveira Moraes, A representação da infância em Pinóquio: a propagação
e a perpetuação do discurso hegemônico por meio da literatura infantil e da escola 

ESCOLA E LITERATURA INFANTIL ENQUANTO FERRAMENTAS DE CONTROLE DA INFÂNCIA

    Para Zilberman (2003), no contexto anteriormente destacado, a literatura infantil, reproduzindo o mundo adulto, transmite a norma vigente de acordo com a visão adulta, ocupando exatamente os espaços nos quais os maiores estão impedidos de interferir, tais como os momentos de lazer e fantasia das crianças. A obra, prestando-se a essa tarefa, veicula padrões de comportamento e valores por meio da censura, por parte do narrador, às ações dos personagens infantis. Dessa forma,
[...] os fatores estruturais de um texto de ficção – narrador, visão de mundo, linguagem – podem-se converter no meio por intermédio do qual o adulto intervém na realidade imaginária, usando-a para incutir sua ideologia. […] o texto se revela um manual de instruções, tomando o lugar da emissão adulta, mas não ocultando o sentido pedagógico. (ZILBERMAN, 2003, p. 23-24)
    Escola e literatura infantil, portanto, servem ao sistema disciplinar em voga desde então. “Para definir esse sistema, distinguiremos suas três características principais: a vigilância constante, a delação erigida em princípio de governo e em instituição, e a aplicação ampla de castigos corporais.” (ARIÈS, 1981, p. 180). A principal diferença entre a criança e o adulto é acentuada justamente na sua fraqueza, faz com que a primeira seja “[...] rebaixada ao nível das camadas sociais mais inferiores.” (ARIÈS, 1981, p. 181).
    Para Zilberman (2003), é justamente quando a literatura infantil torna-se instrumento de doutrinação ideológica utilizado no contexto escolar que as forças de ambas as instituições se assomam no sentido de envolver a criança (colocada em uma situação de dependência e fragilidade) com os comportamentos e normas sociais que esta deve assumir e cumprir.

Fabiano de Oliveira Moraes, A representação da infância em Pinóquio: a propagação
e a perpetuação do discurso hegemônico por meio da literatura infantil e da escola

INFÂNCIA, ESCOLA E LITERATURA INFANTIL: CONEXÕES, RELAÇÕES E IMBRICAÇÕES

    O gênero literatura infantil é considerado um dos mais recentes gêneros literários existentes, afirma Zilberman (2003) em sua obra A literatura infantil na escola. As primeiras obras destinadas ao público infantil foram publicadas no fim do século XVII e durante o século XVIII, no período clássico. A inexistência desse gênero antes de tal período deve-se ao fato de que, até então, não havia uma preocupação especial com a infância. “A nova valorização da infância gerou maior união familiar, mas igualmente meios de controle do desenvolvimento intelectual da criança e manipulação de suas emoções. Literatura infantil e escola [...] são convocadas para cumprir essa missão.” (ZILBERMAN, 2003, p. 15).
    No período clássico, o núcleo familiar burguês, estimulado ideologicamente em um primeiro momento pelo Estado absolutista e em um segundo momento pelo liberalismo burguês, oferece o sustentáculo ideal para a centralização do poder político, estabelecendo-se dentro de valores herdados da nobreza feudal — fato que contrabalançou a rivalidade entre a burguesia e esta última — sejam eles: “[…] a primazia da vida doméstica, fundada no casamento e na educação dos herdeiros; a importância do afeto e da solidariedade de seus membros; a privacidade e o intimismo como condição de uma identidade familiar.” (ZILBERMAN, 2003, p. 17). Tais valores elevam a infância ao patamar de baluarte do modelo familiar. A criança, doravante, converte-se em eixo ao redor do qual a família se organiza, tendo, esta última, como missão a responsabilidade de conduzir os infantes com saúde e prepará-los intelectualmente para a vida adulta. Ariès (1981, p. 210), em História social da criança e da família, afirma a esse respeito: “O sentimento de família, que emerge assim nos séculos XVI-XVII, é inseparável do sentimento da infância. O interesse pela infância […] não é senão uma forma, uma expressão particular desse sentimento mais geral, o sentimento da família.”. Acerca da família, e em conformidade com o que Zilberman (2003) defende, o autor francês nos assegura: “Ela torna-se a célula social, a base dos Estados, o fundamento do poder monárquico.” (ARIÈS, 1981, p. 214). O autor, no prefácio da segunda edição de sua obra, utiliza os seguintes termos para apontar para a configuração familiar que então se delineava:
Foi no fim do século XVII e início do XVIII que situei, partindo de fontes principalmente francesas, o recolhimento da família longe da rua, da praça, da vida coletiva, e sua retração dentro de uma casa melhor defendida contra intrusos e melhor preparada para a intimidade. […] É normal que num espaço tão privatizado tenha surgido um sentimento novo entre a mãe e a criança: o sentimento de família […] (ARIÈS, 1981, p. 23-25)
    Surge, nesse contexto, a idealização da infância, fundada em teorias que postulam: a dependência da criança, em virtude dos aspectos fisiológico e transitório dessa faixa etária; e sua inocência natural, enquanto inexperiência, que tanto precisa ser preservada idealmente quanto gradativamente destruída pela prática pedagógica que visa preparar o infante para a vida adulta. Segundo Ariès (1981, p. 180) “Duas idéias novas surgem ao mesmo tempo: a noção de fraqueza da infância e o sentimento da responsabilidade moral dos mestres.”.
    Desde o final do século XVII, as crianças são isoladas e distanciadas dos adultos antes de serem lançadas ao mundo, essa espécie de quarentena a que são submetidos os pequenos, compara Ariès (1981, p. 11) no prefácio à segunda edição de sua obra, não é, senão, a própria escola: “Começou então um longo processo de enclausuramento das crianças (como dos loucos, dos pobres e das prostitutas) que se estenderia até nossos dias, e ao qual se dá o nome de escolarização.”. Zilberman (2003, p. 21-23) acrescenta a esse respeito a afirmação de que a escola, instituição imbuída da tarefa de preparar a criança para o mundo adulto e de protegê-la das violências desse mundo exterior,
[...] acentua a divisão entre o indivíduo e a sociedade, ao retirar o aluno da família e da coletividade, encerrando-o numa sala de aula em que tudo contraria a experiência que até então tivera. Em vez de uma hierarquia social, vive uma comunidade em que todos são igualados na impotência: perante a autoridade do mestre e, mais adiante, da própria instituição educacional, todos estão despojados de qualquer poder. Em vez de um convívio social múltiplo, com pessoas de variada procedência, reúne um grupo homogeneizado porque compartilha a mesma idade […] O sistema de clausura coroa o processo: a escola fecha as portas para o mundo exterior […] As relações da escola com a vida são, portanto, de contrariedade: ela nega o social, para introduzir, em seu lugar, o normativo. […] é por omitir o social que a escola pode-se converter num dos veículos mais bem-sucedidos da educação burguesa […] Neste momento, a educação perde sua inocência, e a escola, sua neutralidade, comportando-se como uma das instituições encarregadas da conquista de todo jovem para a ideologia que a sustenta, por ser a que suporta o funcionamento do Estado e da sociedade. […] Desarmada, a criança não reage; e sua impassibilidade é tomada como sinal de aceitação da engrenagem.
    Ainda durante o século XVII, ressalta Ariès (1981), o sentido da imposição do conceito de inocência infantil desembocou numa atitude moral de caráter duplo com relação à faixa etária infantil: “[...] preservá-la da sujeira da vida [...] e fortalecê-la, desenvolvendo o caráter e a razão.” (ARIÈS, 1981, p. 146). Nesse âmbito surge a preocupação crescente com a decência tanto na escolha das leituras adequadas às crianças como no nível das conversas que se pode ter diante delas. “Ensinai-os a ler em livros onde a pureza de linguagem coincida com a seleção de bons temas.” (VARET, 1666 apud ARIÈS, 1981, p. 143).

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e a perpetuação do discurso hegemônico por meio da literatura infantil e da escola

O Contrato Social Moderno e o Fascismo Social Emergente

    Para Sousa Santos (2008, p. 317), “O contrato social é a grande narrativa em que se funda a obrigação política moderna ocidental, uma obrigação complexa porque foi estabelecida entre homens livres [...] para maximizar e não para minimizar esta liberdade.”. No entanto, a exclusão e a desigualdade, embora aparentemente incompatíveis com os ideais de igualdade, liberdade, fraternidade e cidadania, propagados pelo contrato social moderno, estiveram presentes nas colônias, permeando o tratamento destinado ao “Outro” do Ocidente (Oriente, selvagem e natureza). A contradição fundamental do contrato social moderno está presente no fato de os seus princípios universais de emancipação igualitária e inclusiva destinarem-se às metrópoles, enquanto a regulação excludente e desigual é destinada às colônias.
    O contrato social, pois, ao fundar-se no princípio de abandono do estado natural para que se constitua a sociedade civil e o Estado Moderno, assentou-se em critérios de exclusão que identificaram e mantiveram os espaços coloniais no estado de natureza, justificando assim a regulação destas em contraposição à emancipação nas metrópoles. O limite da inclusão é, portanto, aquilo que é excluído, ou seja, as ilhas de inclusão metropolitanas definem-se a partir da instituição dos arquipélagos de exclusão coloniais. Sousa Santos (2008) destaca ainda que a situação complexa em que vivemos na atualidade com- porta muitos riscos, os quais podem ser resumidos em um só:

A emergência do fascismo social. Não se trata do regresso ao fascismo dos anos trinta e quarenta do século passado. Ao contrário deste último, não se trata de um regime político mas antes de um regime social e civilizacional. Em vez de sacrificar as democracias às exigências do capitalismo, promove a democracia até ao ponto de não ser necessário, nem sequer conveniente, sacrificar a democracia para desenvolver o capitalismo. Trata-se, pois, de um fascismo pluralista e, por isso, de uma forma de fascismo que nunca

existiu. (SOUSA SANTOS, 2008, p. 333 – grifos no original)
    Entre as várias formas assumidas pelo fascismo social, destacamos o fascismo do apartheid social, que promove a segregação dos excluídos por intermédio da divisão da cartografia urbana em zonas selvagens e zonas civilizadas. Se as primeiras aproximam-se do estado de natureza, as segundas definem-se pelo contrato social, sendo constantemente ameaçadas pelas zonas selvagens das quais se defendem por meio da segregação delas. Cabe ao Estado a função de assegurar por duas formas de ação distintas essa exclusão, agindo democraticamente enquanto Estado protetor nas zonas civilizadas e agindo de maneira fascista enquanto Estado predador nas zonas selvagens. “O polícia que ajuda o menino das zonas civilizadas a atravessar a rua é o mesmo que persegue e eventualmente mata o menino das zonas selvagens.” (SOUSA SANTOS, 2008, p. 334).
            Vejamos como se enquadram a infância, a escola e a literatura infantil em seus aspectos histórico e ideológico para que, mais adiante, de posse dos elementos apresentados, possamos proceder à análise do conto de Collodi, que também será devidamente contextualizado historicamente.

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A Alteridade do Ocidente: Aspetos Conceituais

    Com o intuito de iniciarmos a fundamentação da análise do conto “As aventuras de Pinóquio”, partimos das considerações de Sousa Santos (2008) acerca da alteridade do Ocidente, em A gramática do tempo: para uma nova cultura política. O autor afirma que o Ocidente, enquanto mais destacado descobridor imperial do segundo milênio, instituiu o seu “Outro”, o seu descoberto, sob “[...] três formas principais: o Oriente, o selvagem e a natureza.” (SOUSA SANTOS, 2008, p. 181).
    No entanto, no mecanismo de descoberta imperial, o nível conceitual precede o empírico, de modo que a ideia ocidental preconcebida daquilo que é descoberto comanda o processo de descoberta e os atos que se seguem a este, fundamentando-se tal ideia na afirmação e reiteração da inferioridade do outro, de forma que este último se reduza a um objeto de violência física e epistêmica: “[...] o descoberto não tem saberes, ou se os tem, estes apenas têm valor enquanto recurso.” (SOUSA SANTOS, 2008, p. 182). Entre os três lugares da alteridade do Ocidente apontados por Sousa Santos (2008), focamos em nosso artigo em dois deles: o selvagem e a natureza, intencionando identificar o quanto à infância são relegados tais espaços de alteridade com relação ao paradigma moderno ocidental. O selvagem, para Sousa Santos (2008, p. 185-186), “[...] é o lugar da inferioridade [...] a diferença incapaz de se constituir em alteridade. Não é o outro porque não é sequer plenamente humano [...]”, constituindo uma ameaça irracional mais do que uma ameaça civilizacional. Tal inferiorização conceitual efetivou-se a partir da identificação dos descobertos com os seres irracionais e da natureza, considerando-se suas culturas inferiores à racionalidade científica. A natureza, por sua vez, é o lugar da exterioridade, tanto ameaçando o homem quanto servindo-lhe de recurso. Entretanto, a natureza e o selvagem, enquanto ameaças irracionais constituídas, podem ser domina- das e utilizadas por intermédio do conhecimento que os transforma em recurso. “O selvagem e a natureza são, de fato, as duas faces do mesmo desígnio: domesticar a ‘natureza selvagem’, convertendo-a num recurso natural.” (SOUSA SANTOS, 2008, p. 188 – grifos no original). O autor considera que as três descobertas do Ocidente — o Oriente, o selvagem e a natureza — “[...] permanecem intactas na sua capacidade para alimentar o modo como o Ocidente vê a si próprio e tudo o que não identifica consigo.” (SOUSA SANTOS, 2008, p. 190).

Fabiano de Oliveira Moraes, A representação da infância em Pinóquio: a propagação
e a perpetuação do discurso hegemônico por meio da literatura infantil e da escola

Introdução ao estudo de "As Aventuras de Pinóquio"

    Visando identificar a representação da infância enquanto um dos lugares da alteridade do paradigma moderno ocidental presente na literatura infantil canônica propagada e perpetuada em âmbito escolar, apresentamos neste artigo uma análise do conto “As aventuras de Pinóquio”, de Carlo Collodi. O levantamento das categorias de análise procedeu-se com fundamento: na definição do “Outro” do Ocidente e nos processos de exclusão desse “Outro”, assim como no anúncio da crise do contrato social e da emergência do fascismo social, delineados por Sousa Santos (2008); nos procedimentos de exclusão presentes nos mecanismos de poder e nos campos de saber modernos, apontados por Foucault (1968, 1987); e nos aspectos históricos relacionados ao surgimento da infância, da escola e da literatura infantil, com base em Zilberman (2003) e Ariès (1981). Buscamos, por meio da nossa análise, respostas para as seguintes questões: de que maneira a educação, a literatura infantil e o conceito moderno de infância perpetuam a exclusão da infância enquanto “Outro” com relação ao saber ocidental? De que modo a teoria social de Sousa Santos e a crítica moderna de Foucault podem nos ajudar a compreender melhor os mecanismos pelos quais são efetivadas as segregações do fascismo social?

Fabiano de Oliveira Moraes, A representação da infância em Pinóquio: a propagação
e a perpetuação do discurso hegemônico por meio da literatura infantil e da escola

Análise de "As Aventuras de Pinóquio"

 I. Introdução

II. A alteridade do ocidente: aspetos conceituais

III. O contrato social moderno e o fascismo social emergente

IV. Infância, escola e literatura infantil: conexões, relações e imbricações

V. Escola e literatura infantil enquanto ferramentas  de controle da infância

VI. Pinóquio na literatura infantil moderna

VII. As Aventuras de Pinóquio

VIII. Pinóquio: da natureza selvagem ao homem civilizado

sexta-feira, 31 de maio de 2024

A ganância e os ideais norte-americanos em Assassinos da Lua Cheia

    Deste os primórdios dos Estados Unidos, os norte-americanos valorizam histórias que se centram em indivíduos que se fizeram a si mesmos (“self made men”), admirando a sua ambição, tenacidade e a fluidez social que permitiram às pessoas fugir da miséria e alcançar a riqueza. Porém, como Assassinos da Luz Cheia deixa claro, estas qualidades nunca foram inalienáveis e, no caso dos acontecimentos que aborda, deram origem a um sentimento de que era direito do indivíduo cometer assassínios se esses fossem do seu interesse. Além disso, deparamos com uma ganância tóxica que teve consequências mais do que nefastas para os nativos indígenas e outros grupos não europeus. O exemplo mais evidente disto é a figura de William Hale, que sugeriu, após a sua condenação, que o seu comportamento era meramente profissional. A sua infância constitui uma prova da sua ética, mas os mesmos princípios conduziram-no aparentemente a crer que tinha o direito de fazer o que quer que fosse para promover os seus interesses particulares. J. Edgar Hoover evidencia traços semelhantes e as duas personagens possuem aspetos paralelos entre si. De facto, tal como Hale, Hoover começou por ter ambições louváveis, porém, com o tempo, foi-se tornando-o um indivíduo cada vez mais egoísta, acabando por usar a sua posição para cometer uma série de crimes bárbaros. O fim do mandato de Hoover à frente do FBI é brevemente mencionado na obra de Graan, mas as características que os dois homens partilhavam indicam a complexidade do problema.
    Por outro lado, a obra de Graan contém referência a relatos de jornais da época, através dos quais os leitores podem constatar que a crença de que a riqueza dos Osage não era merecida – e, portanto, problemática – era amplamente partilhada. Outra crença construída em torno da tribo é a de que ela não sabe gerir a sua riqueza e que é perdulária, o que sustenta o argumento egoísta a favor dos acordos de tutela. Em toda a tragédia, está presente o ciúme de alguns indivíduos por essa riqueza, bem como o racismo, que alimenta uma ideia supostamente partilhada por todo o país de que é necessário fazer algo para controlar essa riqueza. Nas queixas respeitantes à sorte dos Osage, não é mencionada a forma como foram anteriormente defraudados, nem a pobreza e as dificuldades que suportaram antes de ter sido descoberto nas terras que escolheram para se instalarem e escaparem à ganância do homem branco. Com a história da apropriação de terras no Cherokee Outlet, tal como na história dos Osage, Graan revela como o direito e a ambição desmedida moldaram a relação entre os nativos e os americanos brancos.

Personagens associadas aos acontecimentos do condado de Osage

 William K.Hale
 
    Hale foi o cérebro que esteve por trás de muitos dos assassinatos que vitimaram os Osage. Era um pecuarista popular, cuja história de vida constitui uma estrada da pobreza à riqueza. Apresentava um rosto gentil, o que lhe facilitou ser confiável junto dos Osage; no entanto, como provou a investigação, dirigiu uma rede criminosa dedicada a enganar e a matar o povo Osage por causa dos seus direitos a terras que continham petróleo. Acabou por ser julgado e condenado por ter estado por trás de múltiplos assassinatos e passou duas décadas na prisão.
 
Ernest Burkhart
 
    Ernest era o marido branco de Mollie e sobrinho de William Hale. Nascido no seio de uma família pobre do Texas, veio para Oklahoma para fazer fortuna. Apesar de se casar com Mollie e ter três filhos com ela, participou nas conspirações para matar a família dela, conspirações que incluíram a sua esposa e os seus próprios filhos. Acabou por confessar os seus crimes, aparentemente atormentado pela culpa, mas as décadas passadas atrás das grades não o regeneram.

Bill Smith
 
    Bill Smith era o marido de Rita, que morreu após a explosão da sua casa em 1923. Bill casou-se pela primeira vez com Minnie e, depois de esta ter morrido, desposou a irmã dela. Por vezes, era violento com Rita, mas também estava entre os primeiros a suspeitar que os seus parentes estão a ser assassinados.

Bryan Burkhart
 
    Trata-se do sobrinho de Hale e do irmão mais novo de Ernest. Esteve envolvido no assassinato de Anna Brown e mais tarde fingiu lamentar a sua morte e procurar o seu assassino. Mais tarde, Bryan testemunhou contra Kelsie Morrison para obter imunidade durante o julgamento.
 
Kelsie Morrison

    Kelsie era um contrabandista e traficante de droga com um extenso cadastro criminal. Um importante capanga de Hale, trabalhou como informante para a investigação de Tom White, mas mais tarde descobriu-se que disparou sobre Anna. Grann supõe que ele também possa ter cometido outros assassinatos.

John Ramsey

    Ramsey era um ladrão de vacas, capanga de Hale e sócio de Henry Grammer. Foi responsável pelo assassinato de Henry Roan, e acabou por ser condenado por assassinato em primeiro grau.
 
Asa Kirby

    Asa foi um fora-da-lei com dentes de ouro e sócio de Henry Grammer. Era um especialista em explosivos. Durante uma operação gizada Em por Hale, foi baleado ao assaltar uma joalheria.

W. W. Vaughan

    Vaughan era um ex-promotor que foi assassinado por tentar ajudar os Osage. Justo e decente, Vaughan correu para o leito do seu cliente doente, George Bigheart, mas não antes de fornecer à sua esposa, Rosa, detalhes para o apoio da sua família caso algo acontecesse com ele. Desapareceu do interior de um comboio antes de poder compartilhar o que Bigheart lhe contara. O seu assassinato nunca foi resolvido, mas Grann reúne um caso tardio e convincente contra o guarda-costas de Bigheart, HG Burt.

James Shoun

    Shoun foi o médico que realizou a autópsia de Anna e ex-proprietário da casa destruída de Bill Smith. James e seu irmão David, que eram próximos de Hale, estavam ativamente envolvidos na conspiração contra a tribo Osage, falsificando informações e até administrando veneno. James foi nomeado guardião dos filhos sobreviventes de Bill Smith.

David Shoun

    Este foi o médico que realizou a autópsia de Anna. Tal como o seu irmão James, participou ativamente na conspiração contra os Osage, administrando veneno sob o pretexto de prestar cuidados de saúde. Esteve envolvido na conspiração contra a vida de Mollie e provavelmente de muitos outros, incluindo Bill Smith.

HG Burt

    Burt foi o presidente do Osage County Bank e guardião de vários membros da tribo Osage. As investigações de Grann revelam que Burt foi provavelmente responsável por vários assassinatos, incluindo o de W. W. Vaughan.

Oda Brown

    Oda Brown foi o ex-marido branco de Anna, suspeito de assassinar a sua ex-mulher no início da investigação.

Irvin “Blackie” Thompson

    De ascendência Cherokee, era um gangster conhecido como “Blackie”. Em 1923, foi libertado da prisão para trabalhar disfarçado no Bureau of Investigation, para encontrar os assassinos dos Osage. Ele escapou da vigilância e cometeu outros crimes, para desgosto do Bureau. White interrogou-o em 1925, e ele admitiu que foi abordado por Ernest sobre o assassinato de Bill e Rita.

Al Spencer

    Um gangster notório e violento, também conhecido como Terror Fantasma. Ele se torna uma figura criminosa proeminente no imaginário popular e foi supostamente contatado por Hale para cometer os assassinatos de Bill e Rita Smith. 

Dick Gregg

    Gregg era um jovem assaltante que pertencia ao gangue de Spencer que, enquanto estava preso por roubo, se tornou um informante importante no contexto da investigação de White.

Frank “Jelly” Nash

    “JellY” era um membro do gangue de Spencer e foi um dos condenados que acabou por ser transportado durante o Massacre de Kansas City.

Xerife Harve M. Freas

    Era o xerife do condado de Osage em 1921. Embora tivesse a reputação de ser duro com o crime, Freas também era conhecido por permitir que contrabandistas e jogadores operassem na sua jurisdição.

Scott Mathis
 
    Mathis era o proprietário da Bill Hill Trading Company e empresário local. Foi o gerente financeiro de Anna Brown.

William J. Burns

    Burns foi um detetive particular proeminente, conhecido pela sua predisposição para violar a lei. Os detetives que trabalhavam para si investigaram o assassinato de Anna. Em 1921, foi nomeado diretor do Bureau of Investigation, mas seu mandato corrupto foi breve.

A. W. Comstock

    Comstock era um advogado local e guardião de vários membros da tribo Osage. Ele teve um bulldog inglês branco. Inseriu-se na investigação, mas Necia Kenny acusou-o de estar envolvido na conspiração.

Necia Kenny

    Necia Kenny era uma mulher branca casada com um membro da tribo Osage. Kenny destacou que o advogado A. W. Comstock, guardião de vários osages, provavelmente estava envolvido na conspiração. Apesar do seu histórico de doença mental, Hoover sentiu que podia ter a chave do caso como informante para obter pistas e possivelmente como testemunha.

Curley Johnson

    Curley era um homem que Gregg acreditava ter informações sobre o assassinato dos Smiths.

Sargent Prentiss Freeling

    Freeling foi o advogado de Hale e ex-procurador-geral de Oklahoma.

Jim Springer

    Advogado de John Ramsey, foi contratado por Hale. Springer era um “consertador”, um advogado com influência interna no sistema jurídico.

Burt Lawson

    Lawson foi um prisioneiro da prisão estadual de McAlester, que confessou falsamente ter estado envolvido na conspiração para assassinar Bill e Rita Smith.

George Getty

    Advogado de Minneapolis, alugou o lote 50 no território Osage. O seu filho, Jean Paul Getty, fundará a Getty Oil Company.

Boxcar

    Boxcar foi o preso de Leavenworth que disparou sobre White durante uma tentativa de fuga de prisioneiros da penitenciária.

Clyde Tolson

    Tolson foi o diretor associado do FBI e companheiro de Hoover.

LeRoy Smitherman
 
    Este foi o segundo marido de Hattie Whitehorn. Grann encontra evidências de que o homem pode ter conspirado com Hattie e outra mulher para matar Charles Whitehorn.

JJ Faulkner

    Faulkner foi uma personagem sem escrúpulos, que tentou chantagear Hattie Whitehorn. Grann encontra evidências convincentes de que ele também a tentou envenenar, porém a mulher sobreviveu.

Dennis McAuliffe Jr.

    Editor de jornal que pesquisou a morte da sua avó, Sybil Bolton, publicou um livro de memórias, The Deaths of Sybil Bolton (1994), sobre o caso.

Governador Walton

    Walton foi governador do estado de Oklahoma e acabou por sofrer um impeachment em 1923 por ter abusado do sistema de perdão e aceitado contribuições ilícitas de petróleo.

Horace Burkhart

    Irmão de Ernest e Bryan, era o bom irmão. Horace não esteve envolvido nos crimes.

Ernie Pyle

    Pyle foi um repórter famoso que entrevistou White em 1939.

Fred Grove

    Fred Grove foi um escritor de faroestes que trabalhou com White para escrever um livro sobre o caso Osage.

Personagens ligadas ao Bureau of Investigation e/ou Washington DC

 J. Edgar Hoover
 
    J. Edgar Hoover é o diretor do Bureau of Investigation. Hoover usa o caso Osage para estabelecer a necessidade de uma agência mais poderosa e influente e, através dela, acumula um vasto poder em Washington, DC. Figura enigmática e a quem é difícil agradar, nem sempre apoia os seus agentes, especialmente quando decide que eles pode acarretar uma imagem negativa para si enquanto diretor ou para a agência.
 
Charles Curtis
 
    Estamos na presença de um senador dos EUA, eleito pelo estado do Kansas, com ascendência Osage e Kaw. Hoover teme a sua influência.
 
William B. Pine

    William Pine é outro senador dos EUA, neste caso eleito pelo estado do Oklahoma, defensor do sistema de tutela.
 
JC “Doc” White
 
    JC é o irmão mais novo de Tom. Mais rude e ousado do que o mano mais velho, também havia sido Texas Ranger antes de ingressar no Bureau. Ambos faziam parte de um grupo de agentes conhecido como Cowboys.
 
Harlan Fiske Stone
 
    Harlan Stone é nomeado procurador-geral em 1924 e acaba por selecionar J. Edgar Hoover para dirigir o Bureau, primeiro com caráter temporário e depois permanentemente.
 
John Burger
 
    Burger é um agente que participou na investigação inicial de 1923, tendo sido mantido por White na equipa que tomou conta do caso em 1925.
 
Frank Smith
 
    Frank Smith é um Texas Ranger, incluído na equipa de White. O agente foi ferido no Massacre de Kansas City, mas sobreviveu.
 
John Wren

    Wren é um agente com ascendência nativa americana (Ute) que foi reintegrado como investigador para trabalhar na equipa de White.

John Leahy

    Leahy é promotor no julgamento de Ernest, contratado pelo Conselho Tribal Osage.
 
Flint Moss
 
    Moss é o advogado de Ernest Burkheart.
 
Dudley White
 
    Dudley é o irmão mais velho de Tom, que também acaba por se tornar Ranger. Morreu no cumprimento do dever em 1918.
 
Coley White
 
    É o terceiro irmão de Tom, que se torna xerife do condado de Travis.
 
Bessie Patterson
 
    É a esposa de Tom White.
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