Português: As Aventuras de Pinóquio (Collodi, 2004 [1883])

sábado, 1 de junho de 2024

As Aventuras de Pinóquio (Collodi, 2004 [1883])

    Um pedaço de madeira que falava foi dado a Gepeto. Com ele construiu um boneco atrevido e impertinente que logo no primeiro dia fugiu de casa, levando seu “pai” a ser preso. Surgiu o Grilo Falante que lhe deu algumas lições de moral, mas Pinóquio se recusou a escutá-las e disse que iria fugir para não ter que ir à escola. O grilo lhe respondeu que assim ele se tornaria um burro e que o seu destino seria o hospital ou a cadeia. Pinóquio matou o grilo, depois se viu sozinho e com fome e se arrependeu, saindo a pedir pelas ruas e voltando ainda com fome e encharcado, queimando os pés em seguida enquanto se secava em um braseiro. Gepeto ao voltar da prisão deu a sua comida a Pinóquio, que prometeu que iria estudar e se comportar. Gepeto lhe fez novos pés e uma roupa de papel, e vendeu o seu casaco para comprar-lhe uma cartilha nova. Pinóquio, no caminho para a escola, vendeu sua cartilha para ir ao teatro de marionetes, onde foi reconhecido pelos outros bonecos de madeira. Come-fogo, o diretor do teatro, ameaçou queimar Pinóquio, mas, compadecido por ele ter um pai, deu-lhe cinco moedas de ouro para que ele levasse para Gepeto. Pinóquio, ao regressar com a intenção de comprar um novo casaco para o pai e uma nova cartilha para si, foi enganado por uma raposa que fingia ser manca e por um gato que se fazia de cego. Eles se disfarçaram e tentaram roubar Pinóquio, que fugiu para a casa de uma menina de cabelos azuis, mas foi alcançado e enforcado pelos assassinos, que voltariam no dia seguinte para pegar as moedas na sua boca quando ele finalmente estivesse morto. Mas, antes que ele morresse, a menina (na verdade uma fada) o conduziu para um quarto onde animais médicos o atenderam, entre eles um Grilo Falante, que apontou os defeitos do boneco. Este chorou arrependido, mas recusou-se a tomar o remédio amargo que lhe traria a cura, pedindo açúcar à fada e prometendo, em vão, que tomaria o remédio. Continuou mentindo para a Fada e o seu nariz cresceu, mas depois, por ordem da Fada, pica-paus bicaram até o seu nariz voltar ao normal. Pinóquio depois de curado seguiu ao encontro de Gepeto, mas no caminho encontrou a Raposa e o Gato, que lhe convenceram a plantar as moedas para que nascesse uma árvore de dinheiro. Ele enterrou as moedas na cidade dos Pega-Trouxas e os dois as roubaram, mas ao protestar, Pinóquio foi preso na cidade. No caminho ele viu uma lápide que anunciava a morte da Fada, Pinóquio chorou e uma pomba apareceu dizendo que Gepeto havia construído uma barca para procurá-lo no mar. Ao chegar à praia, Gepeto já estava em alto mar e desapareceu em meio às ondas. Pinóquio lançou-se ao mar, nadando por toda a noite até chegar a uma praia e caminhar até a Cidade das Abelhas Trabalhadoras, onde todos trabalhavam. Ele não gostou do lugar por não gostar de trabalhar e pediu dinheiro às pessoas, que lhe ofereceram moedas em troca de trabalho, mas ele se recusou inventando desculpas. Até que uma mulher lhe deu água e prometeu que se ele a ajudasse ganharia comida e doces. Ele, a contragosto, a ajudou, percebendo, ao chegar a sua casa, que a ela era a Fada. Ela o adotou como seu filho e ele foi para a escola, aplicou-se nos estudos, mas se envolveu com colegas pouco dedicados que o convidaram para faltar aula e irem juntos à praia para que vissem a grande baleia que, como suspeitava Pinóquio, poderia ter engolido seu pai. Mas na praia não havia baleia nenhuma e os meninos, sete no total, ameaçaram e investiram contra Pinóquio. Como era difícil vencer o boneco, eles lançaram nele seus livros, acertando um livro enorme e pesado em um dos meninos que quase morreu. Pinóquio se arrependeu de ter seguido os colegas que fugiram deixando o garoto que estava ferido com Pinóquio. Chegaram dois policiais e levaram Pinóquio preso, deixando o menino ferido aos cuidados dos pescadores. Em um breve descuido dos guardas o boneco fugiu e foi para a casa da Fada, que o perdoou mais uma vez. Ele jurou que iria estudar e se comportar e tornou-se o melhor aluno de sua turma, mas quando faltava apenas um dia para que fosse transformado em um menino de verdade, partiu escondido com seu amigo Pavio para o País dos Brinquedos, um lugar sem escolas, sem professores, sem livros, sem dias letivos e com férias eternas onde as crianças passavam o dia brincando e se divertindo, e escreviam com erros grama- ticais. Pinóquio foi levado para esse lugar com outros meninos em uma carroça conduzida por um homem e puxada por burros que calçavam botas. Um dos burros tentou alertá-lo, mas mesmo assim ele prosseguiu. Depois de cinco meses de diversão, cresceram nele ore- lhas de burro e ele se arrependeu, buscando Pavio por considerá-lo culpado por tudo, mas ambos, ao se encontrarem, transformaram-se em burros dos pés à cabeça. Pavio foi vendido para um lavrador e Pinóquio para uma companhia de palhaços, na qual lhe ensinaram a dançar e saltar. Na sua primeira apresentação ele viu a Fada na plateia, mas ao chamar por ela, soltou um zurro e foi chicoteado pelo treinador. Quando a procurou novamente, ela havia desaparecido e a plateia aguardava o seu número de saltar por entre argolas, mas ele tropeçou e ficou manco, sendo revendido para um homem que usaria a sua pele para fazer um tambor. O homem amarrou uma pedra ao pescoço do burro e o lançou ao mar para que ele morresse, mas ao puxá-lo encontrou um boneco em seu lugar, pois os peixes, ao comerem suas orelhas, seu rabo, sua pele e sua carne, o libertaram. Pinóquio saltou pelo mar e nadou até ser engolido pela Baleia, embora uma cabritinha azul (a Fada) tenha tentado salvá-lo, estendendo-lhes patas de cima de um rochedo. Dentro da Baleia Pinóquio encontrou seu pai, que havia sido engolido dois anos antes e, juntos, fugiram pela boca da Baleia quando esta adormeceu. Pinóquio lançou-se na água e nadou com Gepeto agarrado aos seus ombros. Já em terra firme, encontraram o Gato, que tinha ficado cego, e a Raposa, que ficou com um lado paralisado, pedindo esmolas. Pinóquio se recusou a ajudá-los, dizendo que se estavam pobres mereciam isso. Chegaram a uma cabana e foram recebidos pelo Grilo Falante, que havia ganhado a casa da cabra azul (a Fada, que havia partido pensando que nunca mais encontraria o boneco). Pinóquio saiu em busca de um copo de leite para o seu pai, que estava muito fraco, aceitando trabalhar na cisterna da horta de um lavrador em troca do leite, pois o burrinho que fazia o serviço para o homem estava morrendo. Pinóquio quis ver o burrinho e constatou que se tratava de Pavio, que morreu minutos depois. O boneco levou o leite para o seu pai e a partir daquele dia trabalhou por cinco meses em troca de um copo de leite por dia para Gepeto. Aprendeu a fazer cestos e aumentou seu ordenado, exercitando também a leitura e a escrita. Um dia, ao sair para comprar roupas novas, encontrou-se com uma lesma que disse que a Fada estava hospitalizada e sem dinheiro para se alimentar. Pinóquio deu todo o dinheiro que possuía para que fosse levado à Fada e em seguida aumentou o ritmo de trabalho diário para que pudesse mantê-la.
    Depois de trabalhar bastante e até muito tarde, ele adormeceu e sonhou com a Fada a beijá-lo. Quando acordou, viu que havia se transformado em um menino de verdade, com roupas novas e com dinheiro no bolso (o dinheiro restituído pela Fada). Gepeto estava curado e tudo isso se devia aos méritos e às virtudes de Pinóquio. Este, depois de se transformar em menino, viu um boneco de madeira apoiado em uma cadeira e fez o seguinte comentário, com que se encerra a história: “Como eu era ridículo quando eu era um boneco! E como eu estou contente de ter me tornado agora um bom menino!” (COLLODI, 2004, p. 201).

Fabiano de Oliveira Moraes, A representação da infância em Pinóquio: a propagação
e a perpetuação do discurso hegemônico por meio da literatura infantil e da escola

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