Português: O Contrato Social Moderno e o Fascismo Social Emergente

sábado, 1 de junho de 2024

O Contrato Social Moderno e o Fascismo Social Emergente

    Para Sousa Santos (2008, p. 317), “O contrato social é a grande narrativa em que se funda a obrigação política moderna ocidental, uma obrigação complexa porque foi estabelecida entre homens livres [...] para maximizar e não para minimizar esta liberdade.”. No entanto, a exclusão e a desigualdade, embora aparentemente incompatíveis com os ideais de igualdade, liberdade, fraternidade e cidadania, propagados pelo contrato social moderno, estiveram presentes nas colônias, permeando o tratamento destinado ao “Outro” do Ocidente (Oriente, selvagem e natureza). A contradição fundamental do contrato social moderno está presente no fato de os seus princípios universais de emancipação igualitária e inclusiva destinarem-se às metrópoles, enquanto a regulação excludente e desigual é destinada às colônias.
    O contrato social, pois, ao fundar-se no princípio de abandono do estado natural para que se constitua a sociedade civil e o Estado Moderno, assentou-se em critérios de exclusão que identificaram e mantiveram os espaços coloniais no estado de natureza, justificando assim a regulação destas em contraposição à emancipação nas metrópoles. O limite da inclusão é, portanto, aquilo que é excluído, ou seja, as ilhas de inclusão metropolitanas definem-se a partir da instituição dos arquipélagos de exclusão coloniais. Sousa Santos (2008) destaca ainda que a situação complexa em que vivemos na atualidade com- porta muitos riscos, os quais podem ser resumidos em um só:

A emergência do fascismo social. Não se trata do regresso ao fascismo dos anos trinta e quarenta do século passado. Ao contrário deste último, não se trata de um regime político mas antes de um regime social e civilizacional. Em vez de sacrificar as democracias às exigências do capitalismo, promove a democracia até ao ponto de não ser necessário, nem sequer conveniente, sacrificar a democracia para desenvolver o capitalismo. Trata-se, pois, de um fascismo pluralista e, por isso, de uma forma de fascismo que nunca

existiu. (SOUSA SANTOS, 2008, p. 333 – grifos no original)
    Entre as várias formas assumidas pelo fascismo social, destacamos o fascismo do apartheid social, que promove a segregação dos excluídos por intermédio da divisão da cartografia urbana em zonas selvagens e zonas civilizadas. Se as primeiras aproximam-se do estado de natureza, as segundas definem-se pelo contrato social, sendo constantemente ameaçadas pelas zonas selvagens das quais se defendem por meio da segregação delas. Cabe ao Estado a função de assegurar por duas formas de ação distintas essa exclusão, agindo democraticamente enquanto Estado protetor nas zonas civilizadas e agindo de maneira fascista enquanto Estado predador nas zonas selvagens. “O polícia que ajuda o menino das zonas civilizadas a atravessar a rua é o mesmo que persegue e eventualmente mata o menino das zonas selvagens.” (SOUSA SANTOS, 2008, p. 334).
            Vejamos como se enquadram a infância, a escola e a literatura infantil em seus aspectos histórico e ideológico para que, mais adiante, de posse dos elementos apresentados, possamos proceder à análise do conto de Collodi, que também será devidamente contextualizado historicamente.

Fabiano de Oliveira Moraes, A representação da infância em Pinóquio: a propagação
e a perpetuação do discurso hegemônico por meio da literatura infantil e da escola

Sem comentários :

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...