Nos
finais do século XVIII, os europeus que começaram a contactar com a literatura
tradicional da Índia deram conta que o sânscrito,
língua clássica daquele país longínquo, era semelhante ao latim e ao grego a tal
ponto que deveria ter uma origem comum. Nas décadas seguintes, compreendeu-se
que também as línguas germânicas, celtas e eslavas, bem como o persa, língua
falada no Irão, pertenciam à mesma família, a que se passou a chamar indo-europeu por a ela pertencerem
quase todas as línguas da Europa, da Índia e de grande parte das regiões entre
uma e outra.
Foi Sir
William Jones, jurista, filólogo e humanista inglês, quem demonstrou, em 1786,
que o sânscrito, uma língua antiga da Índia, era inequivocamente próxima do
grego, do latim e das demais línguas já referidas. No discurso dirigido à
Sociedade Asiática, publicado em 1788, considerado o início da Linguística
Histórico-Comparativa, afirmou o seguinte:
O sânscrito, sem levar
em conta a sua antiguidade, possui uma estrutura maravilhosa: é mais perfeito
que o grego, mais rico que o latim e mais extraordinariamente refinado do que
ambos. Mantém, todavia, com estas duas línguas tão grande afinidade, tanto nas
raízes verbais quanto nas formas gramaticais, que não é possível tratar-se do
produto do acaso. É tão forte essa afinidade que qualquer filólogo que examine
o sânscrito, o grego e o latim não pode deixar de acreditar que os três
provieram de uma fonte comum, a qual talvez já não exista. Razão idêntica,
embora menos evidente, há para supor que o gótico e o celta tiveram a mesma origem
que o sânscrito. (ROBINS, 1983, p.107)
O termo
indo-europeu acabou por ser cunhado,
em 1813, pelo polímata inglês Thomas Young.
Em
suma, dos diversos estudos dos filólogos, cientistas, gramáticos comparativos e
humanistas, foi possível descobrir que o latim e o sânscrito eram aparentados o
suficiente para terem uma origem comum, nos moldes em que dizemos que o francês
e o português têm origem no latim. A suposta língua que deu origem ao latim, ao
grego, ao sânscrito, ao protogermânico, etc., foi chamada protoindo-europeu (PIE). No entanto, não há praticamente nenhum
resquício escrito da passagem do PIE para as línguas da família indo-europeia e
a sua reconstituição é feita com base na comparação entre as diversas línguas
indo-europeias e nas mudanças linguísticas atestadas historicamente.
As
línguas dos povos indo-europeus (que terão vivido cerca de 5000 a.C.) foram-se
diferenciando e dando origem a diversos grupos de línguas:
. o anatólio (que se desenvolveu
provavelmente por volta de 2000 a.C.);
. o indo-iraniano (cerca de 1400 a.C.);
. o balto-eslavo;
. o tocariano;
. o arménio;
. o albanês;
. o helénico (cerca de 1300 a.C.);
. o germânico;
. o céltico;
. o itálico (o latim era uma das
línguas do grupo itálico).
Assim,
pode supor-se que o PIE terá sido falado provavelmente antes de 2500 a.C., mas as
datações são todas muito difíceis de estabelecer e muito hipotéticas. Para
termos ideia da extensão cronológica envolvida nas transformações entre as
línguas indo-europeias, é lícito dizer-se que o latim teve origem em
torno do século XI a.C. (as inscrições
mais antigas encontradas datam do século VII, embora Roma tenha sido fundada
por Rómulo, segundo a lenda, em 753 a.C.) e o sânscrito entre 1500 e 1000 a.C.
O
quadro seguinte ilustra as principais famílias linguísticas que tiveram origem
no protoindo-europeu:
O símbolo (†) indica que se trata de uma língua que não tem mais falantes nativos, ou
seja, trata-se de uma língua morta.
No quadro, estão representadas famílias de línguas que não
pertencem ao indo-europeu.
O
indo-europeu não é, obviamente, a única família de línguas do planeta. Idiomas como
o árabe, o chinês e o turco não são indo-europeus e cada um pertence a uma
família linguística, respetivamente, o semítico, o sino-tibetano e o altaico (a
inclusão deste último é incerta, mas esta família inclui também o coreano e o
japonês, entre outras).
Fontes:
. Gramática de Português, Maria Regina
Rocha (pág. 14);
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