Para Zilberman (2003), no
contexto anteriormente destacado, a literatura infantil, reproduzindo o mundo
adulto, transmite a norma vigente de acordo com a visão adulta, ocupando
exatamente os espaços nos quais os maiores estão impedidos de interferir, tais
como os momentos de lazer e fantasia das crianças. A obra, prestando-se a essa
tarefa, veicula padrões de comportamento e valores por meio da censura, por
parte do narrador, às ações dos personagens infantis. Dessa forma,
[...] os fatores estruturais de um texto de ficção –
narrador, visão de mundo, linguagem – podem-se converter no meio por intermédio
do qual o adulto intervém na realidade imaginária, usando-a para incutir sua
ideologia. […] o texto se revela um manual de instruções, tomando o lugar da
emissão adulta, mas não ocultando o sentido pedagógico. (ZILBERMAN, 2003, p.
23-24)
Escola e literatura
infantil, portanto, servem ao sistema disciplinar em voga desde então. “Para
definir esse sistema, distinguiremos suas três características principais: a
vigilância constante, a delação erigida em princípio de governo e em
instituição, e a aplicação ampla de castigos corporais.” (ARIÈS, 1981, p. 180).
A principal diferença entre a criança e o adulto é acentuada justamente na sua
fraqueza, faz com que a primeira seja “[...] rebaixada ao nível das camadas
sociais mais inferiores.” (ARIÈS, 1981, p. 181).
Para Zilberman (2003), é
justamente quando a literatura infantil torna-se instrumento de doutrinação
ideológica utilizado no contexto escolar que as forças de ambas as instituições
se assomam no sentido de envolver a criança (colocada em uma situação de dependência
e fragilidade) com os comportamentos e normas sociais que esta deve assumir e cumprir.
Fabiano de Oliveira Moraes, A representação da infância em Pinóquio: a propagação
e a perpetuação do discurso hegemônico por meio da literatura infantil e da escola
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