Português: 15/06/24

sábado, 15 de junho de 2024

Símbolos em Assassinos da Lua das Flores

 
1. Cobertores
 
    Mollie Burkhart costumava usar um cobertor tradicional em volta dos ombros. Embora a maioria dos membros da tribo dos Osage tenha abraçado os estilos e os valores norte-americanos que permearam a sua cultura, o facto de a personagem envergar essa peça de vestuário tradicional da tribo liga-a simbolicamente à herança cultural. Mollie evita a cultura americana de outras formas, como, por exemplo, não mudar o seu longo penteado para algo mais moderno e de acordo com o estilo dos anos 1920. A escola que foi obrigada a frequentar tenta tirar-lhe o cobertor, o que indicia uma intolerância relativamente à tradição e à identidade Osage. No início da obra, quando Mollie escolhe um cobertor que combine com a sua roupa moderna, estamos perante um aspeto que equilibra as culturas osage e norte-americana.

2. Recursos naturais
 
    Os recursos naturais proporcionam aos Osage os meios de sobrevivência, tanto antes da chegada dos colonos europeus, como após o estabelecimento dos Estados Unidos da América. A obra centra-se em três recursos concretos: o búfalo, o petróleo e o vento. Além disso, documenta o modo como os colonos, mais tarde norte-americanos, trabalham para negar aos Osage os legítimos benefícios que a natureza lhes pode proporcionar. A obra detalha pormenorizadamente como os habitantes brancos do estado do Oklahoma empregaram a violência física e a adulteração da Lei para roubar aos nativos norte-americanos os seus direitos naturais, o acesso ao reservatório mineral sob as suas terras, que os tornaram ricos e alvos da ambição desmedida. A inclusão de uma batalha legal sobre moinhos de vento na terceira crónica mostra que, embora os búfalos tenham regressado parcialmente ao território, a batalha do povo Osage para proteger os seus recursos e direitos naturais continua.

3. Tóxicos
 
    O veneno é a arma usada para levar a cabo muitas das mortes misteriosa que atingem os Osage e por uma série de doenças devastadores sem designação. Tal como a vasta conspiração que aterroriza a comunidade tribal, o veneno é difícil de detetar, especialmente quando é administrado gradualmente ao longe de muitas semanas ou meses. O uso de veneno e o facto de qualquer pessoa poder ser a próxima vítima criam um clima de terror entre os Osage.
    Neste contexto, a ironia está bem presente. Por exemplo, no caso de Mollie, o veneno está dissimulado num medicamento – a insulina – que deveria salvar a sua vida. Pelo contrário, quase a mata. Por outro lado, frequentemente, o álcool é o veículo que leva o veneno à vítima pretendida, como sucede no caso da morte de Joe Bates. Esta ligação entre o álcool e o veneno ganha contornos irónicos a partir da associação histórica do álcool com os esforços europeus para enganar as populações nativas relativamente às suas terras e direitos.

Preconceito e racismo em Assassinos da Lua das Flores

    O preconceito e o racismo perpassam toda a obra. As personagens brancas desconsideram a capacidade, e até mesmo a humanidade, dos nativo norte-americanos, o que constitui uma tendência que remonta à fundação da nação. O preconceito interfere na justiça e molda lendas nacionais, como sucede com o mito do Velho Oeste, que se baseia em larga medida na glorificação do massacre rotineiro de «selvagens», os índios.
    O livro também reflete questões como a riqueza e a propriedade, visto que determina o significado de fazer uso de coisas como o dinheiro de forma adequada, bem como pressupostos sobre normas culturais. Porém, o racismo não é a única forma de preconceito que podemos encontrar em Assassinos da Lua Cheia. Por exemplo, há diversas comparações desfavoráveis que são estabelecidas entre agentes profissionais e os homens da lei mais rudes que operam na fronteira. Não só existe discriminação de classe nesta diferença, mas também se baseia em visões preconceituosas dos modos de vida urbanos e rurais. Outra forma de discriminação é a de género, como se pode comprovar pelo facto de as mulheres possuírem menos direitos e privilégios do que os homens.

A corrupção da confiança em Assassinos da Lua das Flores

Os conspiradores manipulam as provas e evidências dos seus crimes e mentem sistematicamente, corroendo, assim, a confiança no sistema e obstaculizando a distinção entre o que é verdade e o que não passa de mera ficção. É esta situação que os Osage têm de enfrentar nos anos 20 do século passado, o que os leva a desconfiar de tudo e de todos, nomeadamente do governo norte-americano, bem como a sentir-se inseguros relativamente aos seus relacionamentos anteriores. Exemplificativa deste quadro é a crença que Mollie deposita em Hale, isto é, de que este é amigo da família e do seu povo, crença essa que advém do facto de ele ter prometido ajudar a encontrar o assassino de Anna. Pura ilusão e falsidade, como sabemos. Hale confronta-se também a questão da confiança e com a distinção entre factos e boatos para conseguir resolver os crimes que vitimam os nativos.
    Note-se, por outro lado, que a conspiração criminosa se torna mais devastadora, porque faz uso da confiança como ferramenta de controlo. Mollie demora a perceber o envolvimento de Ernest nos assassinatos, antes de mais porque o ama e também porque confia nas suas palavras e ações. Mesmo quando as evidências são claras ao apontar para a cumplicidade e a culpabilidade do esposo, Mollie tenta sempre justificar ou desculpar os seus atos. Tal como White necessita de separar os factos da ficção, a figura feminina de que se fala precisa de interiorizar o modo como a confiança que depositou no marido, entre outros, foi usada contra si. Além disso, a terceira parte da obra demonstra como tudo isto tem implicações duradouras na tribo Osage. De facto, os netos e os bisnetos das pessoas assassinadas ainda se sentem inseguros relativamente ao modo como se devem movimentar num mundo que lhes é hostil.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...