Português: A ganância e os ideais norte-americanos em Assassinos da Lua Cheia

sexta-feira, 31 de maio de 2024

A ganância e os ideais norte-americanos em Assassinos da Lua Cheia

    Deste os primórdios dos Estados Unidos, os norte-americanos valorizam histórias que se centram em indivíduos que se fizeram a si mesmos (“self made men”), admirando a sua ambição, tenacidade e a fluidez social que permitiram às pessoas fugir da miséria e alcançar a riqueza. Porém, como Assassinos da Luz Cheia deixa claro, estas qualidades nunca foram inalienáveis e, no caso dos acontecimentos que aborda, deram origem a um sentimento de que era direito do indivíduo cometer assassínios se esses fossem do seu interesse. Além disso, deparamos com uma ganância tóxica que teve consequências mais do que nefastas para os nativos indígenas e outros grupos não europeus. O exemplo mais evidente disto é a figura de William Hale, que sugeriu, após a sua condenação, que o seu comportamento era meramente profissional. A sua infância constitui uma prova da sua ética, mas os mesmos princípios conduziram-no aparentemente a crer que tinha o direito de fazer o que quer que fosse para promover os seus interesses particulares. J. Edgar Hoover evidencia traços semelhantes e as duas personagens possuem aspetos paralelos entre si. De facto, tal como Hale, Hoover começou por ter ambições louváveis, porém, com o tempo, foi-se tornando-o um indivíduo cada vez mais egoísta, acabando por usar a sua posição para cometer uma série de crimes bárbaros. O fim do mandato de Hoover à frente do FBI é brevemente mencionado na obra de Graan, mas as características que os dois homens partilhavam indicam a complexidade do problema.
    Por outro lado, a obra de Graan contém referência a relatos de jornais da época, através dos quais os leitores podem constatar que a crença de que a riqueza dos Osage não era merecida – e, portanto, problemática – era amplamente partilhada. Outra crença construída em torno da tribo é a de que ela não sabe gerir a sua riqueza e que é perdulária, o que sustenta o argumento egoísta a favor dos acordos de tutela. Em toda a tragédia, está presente o ciúme de alguns indivíduos por essa riqueza, bem como o racismo, que alimenta uma ideia supostamente partilhada por todo o país de que é necessário fazer algo para controlar essa riqueza. Nas queixas respeitantes à sorte dos Osage, não é mencionada a forma como foram anteriormente defraudados, nem a pobreza e as dificuldades que suportaram antes de ter sido descoberto nas terras que escolheram para se instalarem e escaparem à ganância do homem branco. Com a história da apropriação de terras no Cherokee Outlet, tal como na história dos Osage, Graan revela como o direito e a ambição desmedida moldaram a relação entre os nativos e os americanos brancos.

Sem comentários :

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...