Deste
os primórdios dos Estados Unidos, os norte-americanos valorizam histórias que
se centram em indivíduos que se fizeram a si mesmos (“self made men”),
admirando a sua ambição, tenacidade e a fluidez social que permitiram às
pessoas fugir da miséria e alcançar a riqueza. Porém, como Assassinos da Luz
Cheia deixa claro, estas qualidades nunca foram inalienáveis e, no caso dos
acontecimentos que aborda, deram origem a um sentimento de que era direito do
indivíduo cometer assassínios se esses fossem do seu interesse. Além disso,
deparamos com uma ganância tóxica que teve consequências mais do que nefastas
para os nativos indígenas e outros grupos não europeus. O exemplo mais evidente
disto é a figura de William Hale, que sugeriu, após a sua condenação, que o seu
comportamento era meramente profissional. A sua infância constitui uma prova da
sua ética, mas os mesmos princípios conduziram-no aparentemente a crer que
tinha o direito de fazer o que quer que fosse para promover os seus interesses
particulares. J. Edgar Hoover evidencia traços semelhantes e as duas personagens
possuem aspetos paralelos entre si. De facto, tal como Hale, Hoover começou por
ter ambições louváveis, porém, com o tempo, foi-se tornando-o um indivíduo cada
vez mais egoísta, acabando por usar a sua posição para cometer uma série de
crimes bárbaros. O fim do mandato de Hoover à frente do FBI é brevemente mencionado
na obra de Graan, mas as características que os dois homens partilhavam indicam
a complexidade do problema.
Por
outro lado, a obra de Graan contém referência a relatos de jornais da época,
através dos quais os leitores podem constatar que a crença de que a riqueza dos
Osage não era merecida – e, portanto, problemática – era amplamente partilhada.
Outra crença construída em torno da tribo é a de que ela não sabe gerir a sua
riqueza e que é perdulária, o que sustenta o argumento egoísta a favor dos
acordos de tutela. Em toda a tragédia, está presente o ciúme de alguns indivíduos
por essa riqueza, bem como o racismo, que alimenta uma ideia supostamente
partilhada por todo o país de que é necessário fazer algo para controlar essa
riqueza. Nas queixas respeitantes à sorte dos Osage, não é mencionada a forma
como foram anteriormente defraudados, nem a pobreza e as dificuldades que
suportaram antes de ter sido descoberto nas terras que escolheram para se
instalarem e escaparem à ganância do homem branco. Com a história da
apropriação de terras no Cherokee Outlet, tal como na história dos
Osage, Graan revela como o direito e a ambição desmedida moldaram a relação
entre os nativos e os americanos brancos.
Sem comentários :
Enviar um comentário