Se a literatura infantil
do século XVII caracterizou-se, como afirmam Coelho (1985), em Panorama
histórico da literatura infantil/juvenil, e Góes (1984), em Introdução à
literatura infantil e juvenil, pela adaptação de obras clássicas e de
contos populares, sendo seus títulos de maior vulto os escritos por franceses:
La Fontaine, Perrault, Mme. D’Aulnoy e Fénelon, o século XVIII foi marcado pelo
predomínio de romances de viagens extraordinárias e de aventuras de energia
vital, que seriam lidos por crianças e jovens, tendo na Inglaterra dois dos seus
maiores representantes: Robinson Crusoé (1719), de Daniel Deföe, e Viagens
de Gulliver (1726), de Jonathan Swift, o primeiro deles foi considerado um
símbolo da civilização europeia enfrentando e sobrepujando a selvagem natureza
americana.
Entre o período clássico e
a Modernidade, na divisão proposta por Foucault (1968) [Foucault (1968), em sua
arqueologia das ciências humanas, propõe uma divisão histórica em três
períodos: até a Renascença (anterior ao século XVI), período clássico (séculos
XVII e XVIII) e Modernidade (a partir do século XIX), destacando uma fase de
transição ou descontinuidade entre o período clássico e a Modernidade de 1875 a
1825.]em As palavras e as coisas, (de 1775, quando finda o clássico e
ocorre um período de transição, ao início da Modernidade em 1825), temos, por
um lado, dando prosseguimento às novelas de aventuras, o “[...] representante
anedótico desta [linha temática] [...] o Barão de Munchhausen, (que realmente
foi um oficial alemão) [...]” (GÓES, 1984, p. 85), com duas primeiras versões
distintas, uma escrita em 1785 por Rudolf Erich Raspe, e outra em 1786 por
Gottfried August Bürger. No entanto, a partir de 1800, conforme observa Coelho
(1985), as novelas de aventura se subdividem em três linhas (aventuras de fundo
histórico, aventuras de energia vital e novelas de cavalaria). Ivanhoé (1820),
de Walter Scott, destaca-se entre as narrativas de aventura. A linha dos contos
maravilhosos tem como maior representante, nessa fase, a coletânea dos contos
de Grimm, lançada entre 1812 e 1822.
A partir de 1825, ano que
para Foucault (1968) marca o início do período moderno, no âmbito da
novelística de aventuras, teríamos, segundo Coelho (1985), a continuidade das
três linhas surgidas no período de transição, uma de fundo histórico (seguindo
a tendência de Ivanhoé, em 1820, de Walter Scott), representada por
títulos como: Notre-Dame de Paris (1831), de Vitor Hugo; e Os três
mosqueteiros (1844), de Alexandre Dumas. A segunda linha, seguindo o espírito
aventureiro da energia vital e da força de vontade, se destaca em obras tais
quais O último dos moicanos (1826), de Fenimore Cooper; Cinco semanas
em balão (1861), Viagem ao centro da Terra (1864), Vinte mil
milhas submarinas (1869), A volta ao mundo em oitenta dias (1873),
entre outros, de Jules Verne (Júlio Verne); O livro da Jangal (1894) e Mowgli,
o menino lobo (1895), de Rudyard Kipling; O lobo do mar (1904), de
Jack London; e Tarzã dos macacos (1914), de Edgard Rice Burroughs. A
terceira linha representa, na forma de literatura de cordel, uma retomada das
novelas de cavalaria medievais.
Surgem ainda, nesse
contexto, as narrativas policiais, que foram muito bem recebidas pelo público
jovem e das quais Edgar Allan Poe é considerado precursor, destacando-se sua
obra Os crimes da rua Morgue, escrita em 1841.
Ainda no século XIX vêm à
tona as narrativas do realismo-maravilhoso que, como define Coelho (1985, p.
126), “[...] decorrem no mundo real, que nos é familiar ou bem conhecido, e no
qual irrompe, de repente, algo de mágico ou de maravilhoso […] e passam a
acontecer coisas que alteram por completo as leis ou regras vigentes no mundo real.”
(grifos nossos). Os maiores representantes dessa tendência são Lewis Carrol,
com Alice no país das maravilhas (1865) e Alice através do espelho e
o que Alice encontrou por lá (1872); Carlo Collodi, com As aventuras de
Pinóquio (1883); e James Barrie, com Peter Pan (1904). O livro As
aventuras de Pinóquio (Le avventure di Pinocchio), da autoria de
Carlo Collodi, foi publicado pela primeira vez em 1883, na Itália. Utilizamos
como fonte textual de nossa análise a tradução de Áurea Marin Burocchi
publicada pela editora Paulinas (COLLODI, 2004[1883]) feita a partir do
trabalho de revisão e organização de Ornella Castellani Polidori que, em 1983,
publicou uma edição crítica com base em vários manuscritos revisados pelo
próprio Collodi desde a primeira publicação em 1883 até o ano de sua morte:
1890. Para efeito de conferência com o original em italiano, consultamos inúmeras
vezes, para o resumo a seguir delineado e para o nosso procedimento de análise,
a reedição da primeira publicação de 1883 (COLLODI, 2001[1883]).
Com a intenção de
favorecermos a compreensão, por parte do leitor, da análise por nós procedida,
apresentamos um largo resumo no qual destacamos os pontos por nós considerados
relevantes, sabedores de que o livro, em suas 201 páginas, relata uma
quantidade enormemente maior de detalhes e passagens.
Fabiano de Oliveira Moraes, A representação da infância em Pinóquio: a propagação
Sem comentários :
Enviar um comentário