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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Análise do poema "Vozes-mulheres", de Conceição Evaristo

     Conceição Evaristo nasceu em Belo Horizonte, em 1946. Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorada pela Universidade Federal Fluminense, iniciou a publicação da sua obra poética em 1990, no número 13 do Cadernos Negros, uma antologia editada anualmente pelo Grupo Quilombhoje, de São Paulo.

    Este poema narra a trajetória de mulheres negras no Brasil, nomeadamente a consciência de ser negra e mulher. Desde logo, o título da composição poética evoca a questão das vozes e da sua pertença: as mulheres. Sob o olhar da sociedade patriarcal, vozes caladas ecoam no poema. O uso do plural representa o coletivo, o sujeito poético a percorrer a memória. A voz que é destacada logo no início é a da bisavó, ou seja, trata-se de uma voz que não é exterior ao que é “narrado”; pelo contrário, é a de alguém que viveu por dentro as situações, um passado marcado pelo sofrimento que não se pode esquecer. Por outro lado, o início do poema sugere, desde logo, a diáspora e a desumanidade e crueldade do tráfico negreiro. A voz da bisavó do sujeito lírico ecoa através do tempo – “criança”, símbolo da inocência, da fragilidade e da vulnerabilidade – e remete-nos para os “porões do navio”, uma referência evidente aos navios que faziam o transporte de escravos entre o continente africano e o Brasil e que nos coloca perante o horror do sofrimento e da desumanização. A forma verbal “ecoou”, que marca o passado, que se presentifica na leitura do poema, repete-se no verso quatro, reforçando a ideia de que as experiências da bisavó ainda ressoam no presente, nomeadamente a dor e o sofrimento, que permanecem vivos através da memória, percorrendo a distância do tempo e tornando-se presente. O lamento remete para a imagem inicial do poema, para a questão da voz, que se faz presente no texto, mas sem possibilidade de alterar o destino, pois constitui um mero lamento de “uma infância perdida”.

    A primeira estrofe, em suma, remete para o campo da memória coletiva, dado que o sujeito poético não viveu o que relembra, porém o ecoar do passado ainda está presente na sua ação atual, dá sentido à vida. Assim sendo, estes versos iniciais colocam o leitor face à figura da mulher que dá origem a uma linhagem e cuja voz ainda ecoa no presente familiar.

    Na segunda estrofe, a voz da bisavó é substituída pela da avó, que “ecoou obediência / aos brancos-donos de tudo” e que representa a geração seguinte, aquela que viveu sob condições adversas experimentadas já em terras brasileiras. Atente-se, desde logo, na união por meio de hífen entre os nomes “brancos” e “donos”, como se representassem uma única coisa. A obediência forçada de que “falam” os versos levam-nos até aos escravos recém-libertados que debandaram das lavouras e das senzalas e que, seduzidos pelas oportunidades nas cidades que estavam em processo de transformação, anunciando novos tempos, e que os poderiam absorver como mão de obra, se viram confrontados com a discriminação que provinha da cor da sua pele.

    A terceira estrofe centra-se na geração seguinte: a da mãe. Deste modo, a “narrativa” vai-se aproximando do presente e afastando do passado. A voz da mãe traduz uma resistência silenciosa, uma revolta que é mantida em segredo ou expressa subtilmente. Na época, procurava-se que o Rio de Janeiro se afastasse da condição arcaica de vila (uma designação toponímica que remetia para o período de colonização) e se alcandore ao estatuto de urbe. Para tal, procede-se a uma renovação e modernização da cidade, através de demolições (metáfora do apagamento: desmemoriando-se, o Brasil segue em direção ao “progresso”). Tenha-se presente que a poeta nasceu numa favela situada no alto da Avenida Afonso Pena, uma das áreas mais valorizadas da Zona Sul de Belo Horizonte. Com a passagem do tempo, barracas e respetivos moradores foram sendo progressivamente removidos, a avenida foi prolongada, ergueram-se novos prédios e os becos e as vielas desapareceram fisicamente, existindo apenas na memória de Conceição Evaristo. Este processo de urbanização de múltiplas localidades conduzirá, com alguma frequência, à formação das tristemente famosas favelas.

    Voltando ao poema, a voz da mãe ecoa baixinho, o que significa que não foi silenciada, embora se exprima de forma quase impercetível. Seja como for, o relevante destes versos prende-se com a sugestão da existência já de ecos de revolta, o que quer dizer que os oprimidos começam a ganhar consciência da exploração a que foram sujeitos ao longo do tempo. As condições do e o local de trabalho (“no fundo das cozinhas alheias”) indiciam a posição social da mãe, relegada para o trabalho doméstico na casa dos “colonizadores” e que não tem como esconder os disfarçar a cor da pele no contexto da cidade que os rejeita por não se enquadrarem no projeto de modernização das cidades. Se as “trouxas” podem simbolizar a pobreza e a opressão, as “roupagens sujas dos brancos” constituem uma metáfora da injustiça e da opressão a que os homens brancos sujeitam as mulheres negras. Por outro lado, a referência à favela representa a marginalização e a segregação socioespacial a que são submetidas.

    A quarta estrofe traduz a voz do próprio sujeito poético, chegando-se assim ao presente. Essa voz exprime a sua perplexidade, expressa através dos versos, da poesia, “com rimas de sangue”, uma metáfora que exprime a violência, a dor e o sofrimento experimentados, e “fome”, nome que pode ser interpretado de forma literal ou enquanto metáfora da injustiça. Por outro lado, a sua voz tem na origem o som que provém da bisavó, que passa pela avó e pela mãe e se torna presente na sua fala. O advérbio “ainda” reforça a ideia da repetição, de um fazer ancestral.

    Já a voz da quinta estrofe tem o seu quê de profética: ao apresentar a filha, o “eu” poético “narra” não apenas o presente, mas também o porvir, o futuro. A filha é apresentada como uma colecionadora e guardiã das vozes das mulheres que viveram antes dela; a sua voz guarda em sim todas as vozes. A filha recolhe em si as “vozes mudas caladas”, isto é, as que foram oprimidas, silenciadas ou ignoradas, bem como as que se queriam fazer ouvir, mas ficavam “engasgadas nas gargantas”.

    Se houver um tempo em que a voz foi lamento, silêncio, sussurro, imagem poética, agora ela não é apenas fala, mas faz-se ato, representando a consciência de si e um fazer que se quer cidadão, visto que fala e age, representa um coletivo de mulheres que a antecedeu. A voz do sujeito poético “recolhe em si” (reiteração) “a fala e o ato” (a união da palavra e do agir, simbolizando um movimento em direção à mudança e à liberdade), “O ontem – o hoje – o agora” – esta sucessão de advérbios representa a continuidade do tempo e da experiência. A reiteração da expressão “Na voz de minha filha” reforça a importância da voz da filha, que olha para o presente como sequência do passado e a preparação do futuro. A filha será portadora da ressonância das gerações passadas e a sua voz transporta em si a promessa de uma “vida-liberdade” (novamente o hífen a ligar intimamente dois conceitos). A condição para se ter, de facto, liberdade é a de agregar às vozes do passado, lembrar a sua ascendência.

    O poema é construído em torno das vozes de várias gerações sucessivas de mulheres da mesma família, começando com a bisavó e terminando com a filha do sujeito lírico. Cada voz carrega em si as memórias e experiências de cada época, criando, assim, um mosaico da história e da resistência da mulher negra.

    A voz da bisavó e a referência aos “porões do navio” remetem para a dolorosa história do tráfico negreiro entre África e o Brasil. Por outro lado, os ecos dos “lamentos / de uma infância perdida” que veicula sugerem a brutalidade da escravidão que lhe roubou (e a tantas outras crianças) uma existência normal de criança.

    A voz da avó representa a geração de mulheres que esteve sujeita ao domínio e à opressão dos “brancos donos-de-tudo” e ecoa “obediência, indiciando a subjugação e a falta de controlo sobre a própria vida. Ela trabalha como empregada doméstica, leva uma existência dura e marginalizada, mas começa a ecoar alguma revolta.

A voz do “eu” lírico ecoa sangue, violência, dor, provações, e reflete a luta contínua contra a injustiça e a opressão. Por outro lado, a poesia constitui um meio para expressar a dor e a luta da comunidade a que pertence.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Análise do poema "Os sonhos não podem ser", de Cláudia Dias Chéu

 
Os sonhos não podem ser
experimentados em conjunto.
Vamos sozinhos durante o sono.
Dormir é a prova irrevogável
de que somos individuais.
A viagem que fazemos de noite
ausculta bem o batimento
da solidão.

 
Os sonhos são “fenómenos” individuais e intransferíveis. Trata-se, pois, de uma experiência claramente solitário e não compartilhável com as outras pessoas no que respeita à sua experimentação. O sono é um estado fundamental para qualquer pessoa, pois possibilita a restauração do corpo e da mente. Por outro lado, é um momento em que o indivíduo se volta para o seu mundo interior, constituindo, portanto, um símbolo da individualidade humana.
O sono é também apresentado como uma evidência incontestável da individualidade de cada ser humano. O adjetivo “irrevogável” sugere a ideia de que essa espécie de verdade é imutável, constituindo um traço característico da condição humana.
Os três últimos versos do poema descrevem, metaforicamente, o sonho como uma viagem noturna que revela a solidão e que sugere a viagem que é a vida, que cada pessoa percorre, trilhando caminhos pessoais e inexplorados. Claramente, o “eu” poético recorre à linguagem da área da Medicina (“ausculta”, “batimento”), para nos sugerir a ideia de uma introspeção profunda que o ser humano faz sempre que se entrega ao sono, como se este permitisse um encontro íntimo com a nossa solidão quando dormimos e quando sonhamos.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Análise do poema "As mães", de Cláudia Dias Chéu

 
As mães dormem
de olhos abertos
caçam à dentada
os medos dos filhos
e iluminam a noite
com fogo do coração.

 
Cláudia Dias Chéu é uma escritora portuguesa nascida em Lisboa, em 1978. Neste poema, exalta a figura materna e o seu papel em relação aos filhos, consequentemente o amor materno.
O verso inicial coloca logo a mãe no centro da composição poética, neste caso dormindo, um momento eminentemente de paz, sossego e tranquilidade. No entanto, o segundo entra, aparentemente, em contradição com o anterior, pois a mãe – qualquer mãe – dorme “de olhos abertos”. O que significa essa aparente contradição? Significa que, mesmo em repouso, permanece vigilante relativamente aos filhos, atitude que revela a constante atenção e preocupação com o seu bem-estar e a sua segurança.
Além disso, elas “caçam à dentada”, o que configura uma imagem que remete para uma certa agressividade e ferocidade. De facto, as mães são apresentadas como caçadores que buscam e destroem ativa e determinadamente os medos dos filhos. O recurso ao nome “dentada” implica uma ação direta e poderosa que tem como finalidade remover as ameaças que rondam os filhos. Deste modo, relacionando os versos 3 e , o papel materno visa enfrentar e afastar as inseguranças e ansiedades daqueles que elas deram à luz.
No penúltimo verso, as mães são retratadas como fontes de luz e esperança, dispersando a escuridão e trazendo proteção e conforto. A noite, associada à escuridão, logo ao desconhecido e ao medo, é derrotada pela presença e pela ação maternais. E tudo isso tem uma razão, uma motivação, um fundamento: o amor. Assim, através de uma metáfora reconhecida – a do fogo –, atribui ao amor maternal a razão da atitude protetora e do cuidado das mães, uma chama fortíssima que nunca se extingue.

domingo, 21 de abril de 2024

Resumo da 23.ª parte - 3.ª crónica: Um caso não encerrado

    A pesquisa de Graan mostra que a investigação do Bureau contém lacunas, e o autor questiona-se se Hale foi mesmo o responsável por todas as mortes que ocorreram durante o período conhecido como o Reinado do Terror. De facto, o escritor não encontra quaisquer evidências de que os assassinos que trabalharam para Hale tenham liquidado McBride ou Vaughan, por exemplo. Investigando o caso deste último, Graan encontra-se com Martha e Melville Vaughan, que possuem informações sobre a sua morte. Há que atender ao facto de William Hale já se encontrar atrás das grades no momento em que Vaughan foi morto; contudo, Marta e Melville acreditam que o homem deseja Vaughan morto e sugerem que Grann investigue H. G. Burt, o presidente do banco, que desviou dinheiro das contas de Rose.
    Deste modo, Graan visita os Arquivos Nacionais dos EUA no Texas no sentido de pesquisar informações sobre Burt e descobre o processo que Rose moveu ao diretor do banco em 1923 no valor de dez mil dólares, o qual foi inicialmente rejeitado (a mulher ganha eventualmente cinco mil). O escritor encontra conexões entre Vaughan, Burt e George Bigheart. Nos documentos analisados nos Arquivos Nacionais e noutros locais, Grann descobre que Burt concedeu empréstimos aos Osage a taxas exorbitantes e que se envolveu em fraudes de seguros e outras transações financeiras ilegais. Como é que o indivíduo conseguiu tal? Relativamente aos nativos, socorreu-se de um meio legal – a tutela – para cometer fraude contra eles. Grann descobre ainda que Burt era o tutor da filha de Bigheart, o que lhe permitiu ter acesso à fortuna do pai da rapariga. Antes de deixar os Arquivos, Graan encontra uma última pista importante. Um informador secreto disse a um agente do Bureau of Investigation que Burt era o responsável pelo assassinato de Vaughan. Na posse dessas e de outras evidências, o escritor comunica a Martha que talvez tenha solucionado o assassinato do seu avô. Ela chora, mas fica agradecimento pelo caso ter encontrado finalmente uma solução.

Resumo da 22.ª parte - 3.ª crónica: Terras fantasmas

    Na terceira parte, David Graan desvela que a memória dos acontecimentos dos anos 20 do século XX se foram dissipando ao longo do tempo. Como parte da sua pesquisa sobre os assassinatos dos Osage, em 2012, visita o Osage Nation Museum para se encontrar com Kathryn Red Corn, a sua diretora. A mulher mostra-lhe as exposições disponíveis no museu, que retratam a tribo Osage na época da onda de crimes, nas quais se destaca uma fotografia que ostenta um buraco no centro onde outrora figurava William Hale, o «diabo». A diretora admite que a dor resultante dos acontecimentos de há quase um século ainda é muito real para vários nativos. Durante uma visita subsequente, Graan participa em danças cerimoniais da tribo, conhecidas por I’n-Lon-Schka. O escritor encontra-se com Margie Burkhart, neta de Mollie e Ernest e filha de James Cowboy Burkhart, que lhe revela as memórias afetuosas que o pai possuía sobre a sua mãe. Porém, as lembranças de James sobre o pai são marcadas pela melancolia. Margie revela que, após ter sido agraciado com a liberdade em 1937, Ernest regressara ao condado de Osage, porém o seu estado de homem livre é efémero, dado que foi novamente capturado em razão de um furto que praticara, motivo por que lhe foi negado o regresso a Oklahoma.

    Por sua vez, em 1947, vinte anos após o encarceramento, William Hale é libertado por causa da sua idade avançada – 72 anos – e pelo comportamento exemplar enquanto detido no cárcere. Quando a Ernest, após conhecer de novo a liberdade, suplica o perdão de Oklahoma e, apesar das inúmeras vozes que se fazem ouvir contra essa possibilidade, o seu apelo é atendido e o homem regressa ao condado de Osage. Após o seu falecimento em 1986, James Burkhart não atende ao último desejo do pai, o de ter as suas cinzas espalhadas pelo condado, descartando-as a partir da ponte.

    Na infância de Margie, a riqueza do petróleo esvai-se e tempos árduos  aproximam-se. No entanto, surgem novas fontes de renda, nomeadamente casinos e reparações financeiras que o governo federal é compelido a restituir à tribo. Guiando o escritor pelas vastidões da pradaria, Margie leva-o até ao local onde Anna foi alvejada. Além disso, a mulher revela a Graan que Mollie e os seus filhos deveriam ter estado na residência de Rita e Bill na fatídica noite em que se deu a explosão, porém uma dor de ouvido de James Cowboy Burkhart, forçou-os a ficar em casa, salvando-os inadvertidamente da morte. Deste modo, o pai de Margie cresceu sabendo que o seu próprio pai havia conspirado conta a sua vida.

Análise das 20.ª e 21.ª partes da crónica 2 de Assassinos da Lua das Flores

    William White, John Ramsey e Bryan Burkhart não são condenados à primeira, mas tal não se deve a falta de provas. De facto, a equipa liderada por White construiu um caso convincente porque sustentado em evidências, nomeadamente a confissão de Ernest, mas a questão a questão racial interfere em todo o processo. Desde o início do julgamento, os agentes receiam que jurados caucasianos não condenem um homem branco por matar uma pessoa nativa americana e, de facto, os seus temores concretizam-se. Com efeito, seja por puro e simples racismo, seja por causa da forte influência de Hale, o primeiro julgamento termina num impasse, com um júri indeciso. A realidade da época era chocante: assassinar uma pessoa não brancanão era considerado um crime muito grave, daí que Ramsey tivesse conseguido assassinar membros da tribo Osage enquanto sob a proteção das consequências e da punição resultantes desse ato. De facto, a surpresa que o homem evidencia a propósito da sua eventual condenação exemplifica a sensação de segurança que ele sentia possuir.

    A presença de Mollie no tribunal pode ter desempenhado um papel importante na imposição de limites ao poder da discriminação e do racismo. Embora não existam testemunhos diretos que possam esclarecer como a mulher se sentiu na ocasião, isto é, enquanto ouvia as evidências apresentadas contra pessoas em quem confiava e amava, Graan observa que ela se envolveu numa teia de silêncio, especialmente quando Ernest, o seu marido, admitiu em tribunal que toda a sua família havia sido morta, deixando-a sozinha, sem ninguém para a confortar ou partilhar do seu sofrimento. Por outro lado, se é verdade que Mollie influenciou os jurados que estavam dispostos a condenar as pessoas que mataram os seus familiares, também não o deixa de ser que a sua postura oferece um poderoso testemunho de como as ações de um indivíduo podem moldar o mundo.

    O desfecho da lamentável história leva White de regresso à prisão. De facto, o ex-agente tinha vivido na penitenciária do condado de Travis enquanto criança e, no final do caso Osage, aceita o cargo de diretor da penitenciária federal de Leavenworth, o que acarreta diversas questões à sua esposa, nomeadamente no que toca ao facto de criar os filhos naquele ambiente, porém o caráter e a determinação do marido parecem afastar esses receios. As suas inúmeras qualidades enquanto investigador adequam-se perfeitamente ao seu novo papel, pois trata todos com respeito e em igualdade, incluindo Hale e Ramsey, que chegam àquela prisão alguns meses após ter iniciado o seu novo cargo enquanto diretor prisional. Grann socorre-se das palavras de ex-presos, segundo os quais White, no papel de diretor, considerava a reabilitação dos prisioneiros o fulcro da sua ação. Embora fosse contrário à pena de morte, cumpria igualmente essa feição da sua atividade profissional, supervisionando execuções conforme exigido pela lei.

    Não obstante ter abandonado o FBI, White continua preocupado com a sorte da equipa de agentes que o assistiu durante as investigações no condado de Osage, procurando que sejam tratados de forma justa e recebam o crédito que merecem. Todavia, esse desejo conflitua com o investimento de Hoover na questão da sua própria reputação, que é descrito pelo autor da obra como um homem que se foi tornando um ditador ao longo das cinco décadas em que foi diretor do FBI. Avarento, ambicioso e calculista, não agradece aos agentes e recusa a White o acesso a materiais que lhe permitiriam escrever uma história dos assassinatos de Osage. Até ao fim da sua vida, White permaneceu um defensor do coletivo, mostrando-se sempre disposto a defender aqueles que eram ignorados e esquecidos, em suma, para aqueles que não tinham voz.

Resumo da 21.ª parte - 2.ª crónica: A casa quente

    Na penitenciária de Leavenworth, entre muros que testemunham segredos e silêncios, a família de White vive nas instalações da prisão, o que deixa a esposa de White bastante incomodada. As instalações estão sobrelotadas e, no calor abrasivo de agosto de 1929, eclode um motim, que o próprio recém-diretor aplaca. Com diligência, ele semeia a esperança de redenção, trabalhando com afinco no sentido de melhorar as condições de vida e oferecer aos presos oportunidades de se reabilitarem. No desempenho da sua função, tem pouco contacto com Hale, que trabalha na fazenda do estabelecimento prisional, e recusa-se apassar informações aos repórteres que continuam a manter interesse no caso. Apesar de julgado, condenado e encarcerado, o prisioneiro nunca admite a participação na onda de crimes, mas afirma ironicamente que tudo o que fez foi uma simples oportunidade de negócio.

    No Condado de Osage, a vida, como um rio após a tempestade, procura o seu curso: as pessoas procuram reconstruir as suas vidas, incluindo Mollie, mulher resiliente que se volta a casar, desta vez com um homem chamado John Cobb e, com a força de uma guerreira, reclama o direito de ser senhora do seu destino financeiro.

    Em 1931, desenrola-se novo drama: membros do gangue Spencer, num ato de desespero, fazem White refém e fogem da prisão. Um detido chamado Boxcar dispara sobre White, atingindo-o no peito, mas o destino, caprichoso, permite que ele sobreviva e, mesmo gravemente ferido, salva a vida dos outros reféns. Os fugitivos são contidos e White decide assumir uma função menos extenuante e perigosa da prisão de La Tuna, no Texas.

    A segunda crónica termina como começou, isto é, com Hoover e o Bureau, afora designado como Federam Bureau of Investigation – FBI. Hoover, ansioso por garantir queo seu nome seja diretamente associado ao sucesso do FBI, tece a sua narrativa e nega a White e aos seus agentes o reconhecimento merecido por toda a investigação a que procederam. Assim, limita-se a redigir um conjunto de notas educadas, mas frias e distantes. Quando White o procura em busca de informações destinadas à escrita de um livro sobre o caso Osage, o diretor do FBI mostra-se pouco cooperante e prestativo. Fred Grove, a pena que se oferece para auxiliar White, escreve uma obra ficcionada sobre os eventos, mas o texto histórico que este planeara nunca é acabado.

    White passa os seus últimos anos no rancho da família no Texas, sobrevivendo a todos os seus irmãos. Despede-se da vida em dezembro de 1971, aos 90 anos, deixando atrás de si um legado de coragem e resiliência.

Resumo da 20.ª parte - 2.ª crónica: Assim Deus o ajude

    Chegados a julho de 1926, o tribunal prepara-se para decidir o destilo de William Hale e Ramsey. As provas, aparentemente inequívocas e esmagadoras, levantam uma questão: será que o júri estará disposto a condenar homens brancos pelos assassinos de nativos americanos?

    O primeiro ato deste drama judicial prende-se com o julgamento de Hale. E chamamos-lhe drama, porque o evento chega a um impasse, o que leva White e os promotores a optarem por uma nova abordagem no que diz respeito às acusações contra Hale e Ramsey, procurando blindar os jurados contra as garras do suborno e as presas das ameaças. Por outro lado, a entrada de Mollie no tribunal assemelha-se a um sussurro do vento que acalma a tempestade, quando Ernest confessa que, além dos dois filhos, ela não possui mais ninguém.

    Para espanto de Hale e Ramsey, o júri, qual coro grego, profere o veredicto de culpados. Os meses passam e Bryan é novamente julgado pelo homicídio de Anna e, desta vez, a justiça marca-o com o ferrete da culpa. Mollie, a testemunha silenciosa desta tragédia, terminado o julgamento, desfaz os laços matrimoniais com Ernest.

    O desfecho de todo o processo deixa J. Edgar Hoover bastante contente e contribuem para tecer a tapeçaria da reputação do Bureau. White, navegando em mares nunca dantes navegados, como diria Luís de Camões, decide abandonar o Bureau e aceita o leme da prisão de Leavenworth, exatamente o presídio que se prepara para acolher dois prisioneiros seus conhecidos: Hale e Ramsey.

sábado, 13 de abril de 2024

Análise da 19.ª parte da crónica 2 de Assassinos da Lua das Flores

O ritmo narrativo da seção mediana da obra intensifica-se, desviando-se da investigação — marcada pelos seus inúmeros impasses e arranques ilusórios — em direção ao processo judicial. Tal condensação narrativa salvaguarda a centralidade de Tom White, ainda que figuras como os promotores judiciais assumam, porventura, um papel preponderante na dinâmica subsequente. A representação de White, imune ao racismo endémico daquela era e devotado ao ideal de justiça, é posta à prova quando Ernest, Hale e Ramsey o incriminam, bem como à sua equipa, acusando-os de recorrer à tortura para extrair a sua confissão. O leitor é instigado a questionar tais acusações, contudo, a magnitude da influência de Hale manifesta-se quando um senador dos Estados Unidos por Oklahoma pleiteia a sua exoneração do Bureau. Estas acusações infundadas delineiam, com maior acuidade, o contraste entre o inescrupuloso Hale, disposto a propagar difamações abjetas, e o íntegro White.

    A problemática das jurisdições, que determina os locais onde os julgamentos transcorrerão, reincorpora à narrativa a histórica valoração e subversão da soberania indígena americana. A soberania tribal, essência e razão pela qual as tribos indígenas americanas são denominadas nações, radica no direito ao autogoverno. Embora os Estados Unidos nem sempre tenham honrado este princípio com a devida veemência, tal direito implica que delitos perpetrados em terras tribais sejam julgados em cortes federais, em detrimento das estaduais. Em Assassinos da Lua das Flores, os limites da soberania tribal são delineados à medida que tanto o governo estadunidense quanto o estado de Oklahoma intentam manter sua ascendência sobre a nação Osage.

    As vicissitudes em torno da figura de Ernest são o motor da trama deste capítulo, visto que ele, primeiramente, abjura a sua confissão para, posteriormente, a reafirmar, alterando a sua declaração de inocência para culpa. No capítulo antecedente, Ernest emergira como o elo mais frágil da conspiração — e essa fragilidade coloca-o como o primeiro a ser submetido a julgamento. No entanto, quando o julgamento já está em andamento, Hale logra exercer uma influência indevida sobre o sobrinho, mas, após o óbito do seu filho caçula, algo se altera em Ernest. Ele dispensa o advogado contratado por Hale e reconhece a sua culpabilidade. A mudança do lado da lealdade surpreende, talvez até mesmo Hale, mas revela-se tardia para Mollie, que começa a conceber o inconcebível: a possibilidade de que o esposo almejasse sua morte. Ernest é o único dentre os conspiradores que voluntariamente assume responsabilidade por seus atos, ansiando por confessá-los publicamente. Com tal ato, ele parece experimentar um despertar moral, embora atitudes subsequentes venham a demonstrar as limitações de tal transformação. Não obstante, se uma conspiração se nutre do sigilo e da falsidade, a decisão de confessar em juízo aberto sugere o declínio do seu poder. Considerando a ênfase inicial no papel da imprensa na divulgação dos julgamentos, a confissão de Ernest não se restringe ao tribunal, mas estende-se à nação inteira.

Resumo da 19.ª parte - 2.ª crónica: Um traidor do seu próprio sangue

    A cobertura sensacionalista da imprensa das prisões e do julgamento dos acusados inflama o imaginário dos leitores caucasianos, que se deleitam com episódios que remetem para as narrativas melodramáticas do Oeste americano. Essa cobertura mediática não obstrui a diligência dos Osage na busca por justiça, nem tampouco obscurece a perceção de White acerca da inumerável série de homicídios não elucidados que marcaram o período conhecido como o Reinado do Terror. Com efeito, o líder da investigação, plenamente consciente da corrupção que infesta o sistema judiciário, acata as apreensões do promotor público quanto à impossibilidade de um julgamento imparcial para Hale em instâncias estaduais. O caso Roan emerge como uma via potencial para fazer com que o julgamento transponha o âmbito federal, dado que o homicídio ocorrera numa reserva indígena. A meio dos preparativos para o julgamento, a trama de conspirações persiste, como é demonstrado pelo plano frustrado de assassinar Katherine Cole, testemunha da acusação. Ernest, alvo primordial de Hale, permanece oculto sob a proteção da equipe de White. A despeito das evidências acumuladas, Mollie mantém-se hesitante em acreditar na culpabilidade do marido, Ernest.

    Em março de 1926, o juiz, alinhando-se com a defesa, decreta que o julgamento se desenrole sob a égide do tribunal estadual. O xerife Freas, num gesto de prudência, recaptura Hale e Ramsey, prevenindo assim a sua liberdade condicional enquanto o recurso jurídico percorre os meandros do sistema de justiça. Durante a audiência preliminar subsequente, um dos defensores de Hale proclama Ernest como seu constituinte e manifesta o desejo de entabular diálogo com o mesmo. A despeito dos veementes protestos da parte da promotoria, é permitido a Ernest que conferencie com os seus advogados.

    No alvorecer do dia seguinte, Ernest renega integralmente a sua confissão. À medida que o alicerce da sua argumentação se desmorona, a promotoria opta por submeter Ernest a julgamento em primeiro instância, almejando consolidar a sua posição. Com o início do julgamento no mês de maio, Hale, Ernest e Ramsey declaram unanimemente ter sido submetidos a torturas pelos agentes do Bureau como meio de extrair a sua colaboração e confissão; contudo, tais alegações são prontamente refutadas. A promotoria convoca, então, Kelsie Morrison, cujo depoimento, embora egocêntrico, se revela devastador, implicando Hale, Ramsey e os irmãos Burkhart nos crimes. No decorrer do julgamento, Mollie é assolada pela notícia da enfermidade grave da sua filha mais nova, Anna, que acaba por falecer por causas naturais. O luto da mãe é profundo e avassalador.

    Dias após o infausto passamento da filha, Ernest solicita um encontro com o advogado da acusação, John Leahy. Durante o encontro, declara estar exausto da tessitura de falsidades e roga ao causídico que providencie a representação legal de Flint Moss. Na sessão judicial subsequente, Ernest altera novamente a sua declaração de inocente para culpado, procedimento este desprovido de qualquer expectativa de clemência ou imunidade. Mais do que isso, ele expressa ao tribunal o seu desejo de confessar. O juiz, após certificar-se de que Ernest jamais fora submetido a torturas pelos agentes do Bureau, acolhe a alteração da declaração. No vigésimo primeiro dia do mês de junho do ano de 1926, Ernest é condenado à pena de prisão perpétua, a ser cumprida em regime de trabalhos forçados.

Análise da 18.ª parte da crónica 2 de Assassinos da Lua das Flores

    Este é um capítulo crucial, pois é nele que White desvenda o caso ao penetrar a fachada de Ernest Burkhart. Ironicamente, é uma inverdade que lhe permite tal desenlace. De facto, como é recorrente ao longo da investigação, White e a sua equipa são desviados do caminho da verdade por alguém que apresenta uma confissão falsa. Embora o método da equipa se baseie na distinção entre realidade e ilusão, é uma ilusão que, em última instância, revela a verdade do caso. A declaração de Lawson — de que Ernest lhe solicitou que instalasse o explosivo — concede a White provas suficientes que lhe permitem deter os irmãos Burkhart, Bryan e Ernest, bem como o tio deles. Entre os três, White deduz que Ernest é o mais suscetível a quebrar durante um interrogatório, tendo em conta a sua ligação afetiva a Mollie. É digno de nota que, mesmo estando Ernest implicado na contratação de indivíduos para perpetrar homicídios, ele jamais seja mencionado como um executor. Isso proporciona um vislumbre de esperança a White de que ele possa ser persuadido a revelar a verdade. Para triunfar, um detetive deve ser capaz de investigar não somente os fatos, mas também as psiques.

    O interrogatório de Ernest desvela a imensa influência que o tio exerce sobre o sobrinho. White e Smith conseguem suscitar no homem um sentimento de pesar pelas mortes dos familiares de Mollie, emoções que se esvaecem sempre que a conversa se direciona para William Hale. Claramente, Ernest encontra-se num dilema entre as obrigações para com sua família caucasiana, Bryan e Hale, e a família indígena americana à qual se uniu ao casar-se com Mollie. Os leitores podem ter dificuldade em compreender por que a última é menos preponderante para Ernest do que a primeira — afinal, Mollie é a mãe dos seus filhos —, mas uma observação de um dos asseclas de Hale, John Ramsey, elucida a postura de Ernest. Com efeito,Ramsey aponta que não há grande discrepância entre 1724 e 1924, pois, a despeito do avanço temporal, ainda é fácil para um homem caucasiano assassinar um nativo americano. As premissas sobre barbárie e civilização que nortearam os primeiros colonizadores europeus permanecem vigentes no Condado de Osage. Contudo, Ramsey desumaniza as suas vítimas ao não se lhes referir pelos nomes próprios.

    A decisão de Ernest em colaborar salva a vida de Mollie. Com os direitos de propriedade da família concentrados nela, o passo subsequente dos conspiradores seria o seu assassinato, um desfecho que eles logravam alcançar através da insulina envenenada fornecida pelos Shouns que lhe administravam. Caso ela viesse a falecer, seus filhos herdariam os direitos de propriedade e Ernest, como progenitor, controlaria o capital. Considerando a influência que Hale detinha sobre seu sobrinho, isso significaria, na prática, que ele administraria a fortuna de Mollie. Mesmo que Ernest admita a sua culpa e Mollie comece a recuperar-se assim que é afastada dos cuidados dos Shouns, a dificuldade da mulher em aceitar que o seu esposo poderia estar envolvido em acontecimentos tão macabros demonstra o quão intensas podem ser os sentimentos. Em suma, ao longo do capítulo, a narrativa de Grann explora o modo complexo como a lealdade pessoal molda o comportamento, em escalas variadas.

Resumo da 18.ª parte - 2.ª crónica: A situação do jogo

    Em outubro de 1925, White recebe uma notícia surpreendente e que lhe permite avançar na investigação: Burt Lawson, um sujeito preso na prisão McAlester, afirma possuir informações sobre o caso. Lawson apresenta-se como um ex-funcionário de Bill Smith que abandonou o emprego quando soube que o patrão estava a manter um caso com a sua esposa. Passado aproximadamente um ano, Ernest questionou-o sobre a sua disponibilidade para assassinar Smith. Perante a recusa deste, foi o próprio Hale a procurá-lo, tendo sido confrontado com nova nega. Entretanto, Lawson acabou por ser detido por assassinato, porém, ainda assim, Hale voltou a contactá-lo, prometendo-lhe livrá-lo das acusações. Deste modo, o homem acabou por ser libertado e, na sequência, colocou a bomba em casa dos Smith.

    A 24 de outubro, White telegrafa a Hoover, informando-o de que tinha resolvido o caso. A sua preocupação e da restante equipa centra-se em retirar os irmãos Burkhart e Hale das ruas. A preocupação do agente está centrada especialmente em Mollie, que, entrementes, deixara de frequentar a igreja. Um facto curioso parece estar a afastá-la da morte: enquanto diabética, não pode beber álcool, que costumava ser o meio usado para envenenar as vítimas. No entanto, a insulina usada para manter a doença sob controle não funciona e a mulher fica cada vez mais doente.

    Embora haja pontas soltas na investigação, White não tem tempo a perder e, munido de mandados de prisão, prender os Burkhart e Hale no início de janeiro de 1926. Quando são interrogados, Hale mostra-se confiante e irredutível, o que leva White a concluir que Ernest será o elo mais fraco na cadeia da conspiração. White, Frank Smith e Ernest passam horas numa sala claustrofóbica de interrogatório. Este último por vezes parece demonstrar remorsos, todavia qualquer referência a Hale altera o seu comportamento. Exaustos, os agentes recorrem, em desespero, a Blackie Thompson, o homem que antes havia envergonhado o Bureau, e que agora confessa que Ernest lhe havia pedido para assassinar Bill e Rita. O triunfo de White parece claro, pois conseguiu que ele repetisse a confissão na presença de Ernest. Algumas horas mais tarde, o estratagema revela-se frutuoso: Ernest está pronto para falar.

    Assim, o homem expõe toda a operação, explicando que seguira o tio em todas as decisões e denuncia a mentira de Lawson acerca do seu papel. Como uma fonte ininterrupta, acrescenta que Asa Kirby fora o responsável pela explosão da casa e envolve também John Ramsey no caso Smith e no assassinato de Henry Roan. Quando Ramsey recebe a confissão assinada de Ernest, procura justificar-se, afirmando que Hale ordenara que ele assassinasse, e defende-se suas, dizendo que matar um nativo americano não era mais significativo na década de 1920 do que em 1724. Ernest identifica ainda o informante do escritório, Kelsie Morrison, como o terceiro envolvido no caso de Anna e como o autor do assassinato.

    White envia os seus homens para deter Morrison e para verificar o estado de saúde de Mollie, que se encontra muito doente, mas a sua saúde melhora assim que deixa de ser tratada pelos Shouns. Em entrevistas com os promotores, Mollie tem dificuldades em compreender o envolvimento de Ernest na conspiração, ressaltando que ama o marido. Ao concluir a sua investigação, White descobre mais um detalhe perturbador: Hale tivera um caso com Anna e provavelmente era o pai do filho dela, ainda não nascido. Contudo, nada altera o comportamento calmo e até alegre de Hale. Independentemente das provas, este mantém-se confiante de que sairá imune de toda a situação.

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Luís Montenegro ainda agora chegou e já aldrabou

    A redução de IRS que Luís Montenegro anunciou, isto é, a redução de impostos que andou na campanha eleitoral a defender, é, afinal, falsa. Na verdade, estamos perante meros ajustes à redução já anunciada por António Costa no Orçamento para este ano. Os 1500 milhões de euros são, efetivamente, «simples» €170 milhões, porque 1330 foram já implementados pelo anterior governo.

    A nova governação começa em grande e diz, com toda a clareza, ao que vem. Mais do mesmo.

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