A vírgula
usa-se para separar:
1. Elementos
coordenados numa enumeração que desempenham a mesma função sintática, quando
não são ligados por «e», «ou» ou «nem»:
a) Sujeito:
» A Maria, o João, o Ernesto e a Miquelina
foram à feira.
b) Complemento direto:
» O professor trouxe castanhas, um assador,
uma tenaz, uma caixa de fósforos e um fogareiro.
c) Predicativo do sujeito:
» O meu pai foi o meu herói, o meu guia, o meu farol, a minha referência.
2. Para separar, na mesma frase, mais de
dois elementos de uma enumeração, antes das conjunções «e», «ou» ou «nem» quando estas aparecem repetidas
numa enumeração:
» Nem tu, nem eu, nem a Maria, nem o João
iremos à visita de estudo.
» E sois feios, e porcos, e mal-educados, e
sujos…
Por vezes, a vírgula surge em frases
contendo apenas dois elementos coordenados pela conjunção «nem» quando se pretende realçar um dos elementos:
» Ninguém é feliz sozinho, nem mesmo na eternidade. (Miguel Torga, Bichos)
3. Para separar orações coordenadas
assindéticas (isto é, sem
conjunção expressa):
» Levantou-se, arrastou a perna pela sala,
debruçou-se sobre o parapeito, forçou os braços e saltou para o vazio.
4. Para separar orações coordenadas
sindéticas, exceto quando ligadas pelas conjunções «e» ou «ou»:
» O Antunes estudou imenso, mas o seu esforço
não foi premiado.
Estas
conjunções (adversativas, conclusivas e explicativas) e os advérbios e as
locuções adverbiais com valor conetivo:
i) São precedidos de vírgula no
início de uma oração:
» Brinque, porém não abuse.
» Estudou, portanto foi recompensado.
ii) São
seguidos de vírgula quando surgem no início da frase ou após um ponto e
vírgula:
» O João chegou; contudo, ninguém o foi
esperar ao aeroporto.
» Contudo, tu não estavas à minha espera.
iii) Colocam-se
entre vírgulas quando inseridos depois de um termo da frase a que pertencem:
» O João chegou, contudo, ninguém o foi
esperar ao aeroporto.
Note-se, porém,
que a conjunção «mas» pode não ser
antecedida de vírgula se o emissor não quiser quebrar a sequência da frase.
5. Para separar orações coordenadas
sindéticas, ligadas pela conjunção coordenativa copulativa «e»:
5.1. Quando os sujeitos destas orações são diferentes:
» Ouve-se um trovão ao longe, e um
cão desata a ladrar. (Mário Cláudio, Camilo Broca)
5.2. Quando as orações coordenadas por «e» se repetem:
» E quero que estudem, e trabalhem, e se
apliquem, e se esforcem…
5.3. Quando as orações coordenadas por «e» tem um valor de contraste, consequência,
surpresa:
» Adorei o teu texto, e por isso te elogio.
6. Para separar orações coordenadas pela
repetição das conjunções «ou» ou «nem»:
» O João não foi à viagem, ou porque não tinha
dinheiro, ou porque os pais não deixaram, ou porque adormeceu e não acordou a
tempo.
7. Para separar orações subordinadas
adverbiais, sobretudo quando colocadas antes
ou intercaladas na subordinante:
» O Manuel faltou à aula de Português, porque
não ouviu o despertador.
» Quando tu chegaste, eu já tinha adormecido.
» A Joana, mal chega a casa, faz os trabalhos
de casa.
» Silenciados os alunos, a aula começou.
8. Para separar uma oração intercalada:
» Estudaste, dizes tu, toda a noite.
» O cancro, disse o médico, entrou em
remissão.
9. Para separar a oração subordinada
adjetiva relativa explicativa:
» Teresa Guilherme, que se julga uma grande
apresentadora, soa a velha de soalheiro.
10. Para isolar o vocativo, quer ele
surja no início, no meio ou no final da frase:
» Maria, leva o livro à D. Lídia.
» Alunas como tu, Maria, são raras.
» Leva o livro à D. Lídia, Maria.
11. Para separar o modificador do grupo
verbal ou da frase, quando surgem no início ou no meio da frase:
» Naquele sábado, cometi um erro terrível.
» Hoje, poucos valorizam a escola.
» Irei, no próximo domingo, homenagear o meu
pai.
12. Para separar o modificador apositivo do
nome:
» D. Afonso Henriques, primeiro rei de
Portugal, era um doce de pessoa.
13. Para separar o nome do lugar na datação
de um texto:
» S. Domingos do Norte, 26 de outubro de 2013.
14. Para assinalar a elisão (omissão) de uma palavra ou expressão:
» O meu pai era alto; o teu, baixo.
15. Para separar, ou isolar, os conetores
discursivos:
» O teu texto, em suma, é muito fraquinho.
Alguns dos conetores que se isolam
através de vírgula são os seguintes:
a. aditivos ou sumativos: igualmente, além disso, ainda por cima, do
mesmo modo…;
b. de
síntese: em suma, em resumo, em
síntese, em poucas palavras…;
c. contrastivos
ou contra-argumentativos: porém,
todavia, contudo, em todo o caso, de qualquer modo, não obstante, sem embargo…;
d. conclusivos
e explicativos: por isso, por fim,
logo, portanto, por consequência, isto é, ou seja…
16. Para separar uma interjeição:
» Oh, que grande emoção!
17. Para separar os advérbios «sim» e «não», quando ocorrem com elementos enfáticos, ou, quando se
encontram no início de uma frase e retomam a anterior:
» Comprei o livro, sim, que eu gosto de ler.
» Ah, sim, foi essa chave que perdi.
18. Para separar um constituinte anteposto
ou topicalizado:
» Ser ou não ser, eis a questão.
» Desse calibre, já não há mais homens.
* * * * * * * * * * *
* * * * * * * * *
Não se usa a vírgula nos seguintes casos:
a. Entre o sujeito e o verbo / predicado.
b. Entre o verbo e o complemento direto.
c. Entre o verbo e o complemento indireto.
d. Entre o verbo e o predicativo do sujeito.
e. Entre o complemento direto e o
predicativo do complemento direto.
Bibliografia:
- Dicionário
Terminológico;
- Gramática da Língua
Portuguesa;
- Gramática Prática de Português;
- Domínios.