Esta cena,
também conhecida como “A cena do cemitério”, apresenta dois coveiros (também
designados como palhaços ou rústicos) a cavar a sepultura de Ofélia e a
discutir se uma mulher que se tenha suicidado poderá ter um funeral cristão. De
facto, de acordo com os preceitos religiosos cristãos, um suicida não o poderia
ter, pois o suicídio era considerado um pecado capital. O segundo coveiro
responde afirmativamente e insta o outro a cavar mais depressa. Ele considera
que Ofélia se suicidou e terá um enterro cristão exclusivamente por se nobre, o
que suscita a concordância do companheiro, que aproveita o ensejo e expressa o
seu descontentamento relativamente às diferenças de tratamento de que são
vítimas as classes sociais mais baixas. Este último coveiro propõe uma charada
ao colega, perguntando-lhe quem é que faz construções mais fortes do que o
pedreiro, o construtor naval ou o carpinteiro. O outro coveiro alvitra que
deverá ser o fabricante de forcas, visto que a sua construção dura mais do que
mil inquilinos, mas é corrigido pelo parceiro, que lhe diz que é o coveiro,
pois são as construções durarão até o Juízo Final.
Enquanto os
dois homens trabalham, Hamlet e Horácio observam à distância e o primeiro não
percebe que estão a preparar a sepultura de Ofélia. Os coveiros, fazendo uso de
humor negro, como atrás foi exemplificado, e brincam sobre o trabalho de abrir
sepulturas e conversam sobre a inevitabilidade da morte, o que constitui um
nítido contraste com o momento trágico que o passamento de Ofélia constitui:
Hamlet, curioso sobre o crânio que um deles desenterra, pergunta a quem
pertencia e o coveiro esclarece que é Yorick, o bobo da corte do rei, que o
príncipe conheceu na infância. O homem acrescenta que exerce a sua profissão
desde que o rei Hamlet derrotou o velho Fortinbras numa batalha, no mesmo dia
em que o príncipe Hamlet nasceu. Este pega, horrorizado, no crânio e reflete
sobre a mortalidade e a transitoriedade da vida, lamentando o facto de todos os
seres humanos acabarem transformados em pó, independentemente da classe social
a que pertencem ou da riqueza que possuem, mesmo homens como Alexandre, o
Grande, ou Júlio César.
Subitamente,
chega o cortejo fúnebre de Ofélias, liderado por Laertes, seu irmão, e por
Cláudio, a rainha Gertrudes e outros membros da corte. Ao observar a
simplicidade da procissão, Hamlet declara que o falecido, quem quer que seja,
deve ter tirado a própria vida, mas ainda conserva o seu estado de nobre. De
seguida, pede a Horácio que se escondam e observem o desenrolar dos
acontecimentos.
Laertes
questiona o padre sobre as cerimónias a realizar e o religioso responde que
incluiu o máximo que pôde, tendo em conta que o defunto se suicidou. Dado que
era uma nobre, garantiu que fosse sepultada como uma virgem com flores no seu
túmulo. Finalmente, Hamlet percebe que a sepultura é para Ofélia, no mesmo
instante em que Laertes se enfurece com o padre, que acaba de lhe dizer que dar
à morte um funeral cristão adequado profanaria os mortos, lhe diz que espera
que as violetas brotem do túmulo da irmã enquanto o religioso arde no inferno,
e salta para dentro da cova de Ofélia, dominado pela dor, dizendo que gostaria
de ser enterrado com ela.
Aflito e
indignado, Hamlet sai do esconderijo e aproxima-se do cortejo, proclamando o
seu amor pela defunta e que o seu amor e a sua dor são maiores e mais
profundos. De seguida, imita Laertes e salta para dentro da cova. O filho de
Polónio amaldiçoa-o e dos dois começam a lutar, mas são separados. O rei e a
rainha declaram que Hamlet está louco. Este sai furioso e Horácio segue-o.
Cláudio pede a Laertes que seja paciente e recorda-lhe o plano que gizaram para
matar Hamlet, dizendo-lhe que a sua oportunidade de vingança chegará em breve.