Português: 08/08/24

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Resumo da cena 1 do ato V de Hamlet

    Esta cena, também conhecida como “A cena do cemitério”, apresenta dois coveiros (também designados como palhaços ou rústicos) a cavar a sepultura de Ofélia e a discutir se uma mulher que se tenha suicidado poderá ter um funeral cristão. De facto, de acordo com os preceitos religiosos cristãos, um suicida não o poderia ter, pois o suicídio era considerado um pecado capital. O segundo coveiro responde afirmativamente e insta o outro a cavar mais depressa. Ele considera que Ofélia se suicidou e terá um enterro cristão exclusivamente por se nobre, o que suscita a concordância do companheiro, que aproveita o ensejo e expressa o seu descontentamento relativamente às diferenças de tratamento de que são vítimas as classes sociais mais baixas. Este último coveiro propõe uma charada ao colega, perguntando-lhe quem é que faz construções mais fortes do que o pedreiro, o construtor naval ou o carpinteiro. O outro coveiro alvitra que deverá ser o fabricante de forcas, visto que a sua construção dura mais do que mil inquilinos, mas é corrigido pelo parceiro, que lhe diz que é o coveiro, pois são as construções durarão até o Juízo Final.
    Enquanto os dois homens trabalham, Hamlet e Horácio observam à distância e o primeiro não percebe que estão a preparar a sepultura de Ofélia. Os coveiros, fazendo uso de humor negro, como atrás foi exemplificado, e brincam sobre o trabalho de abrir sepulturas e conversam sobre a inevitabilidade da morte, o que constitui um nítido contraste com o momento trágico que o passamento de Ofélia constitui: Hamlet, curioso sobre o crânio que um deles desenterra, pergunta a quem pertencia e o coveiro esclarece que é Yorick, o bobo da corte do rei, que o príncipe conheceu na infância. O homem acrescenta que exerce a sua profissão desde que o rei Hamlet derrotou o velho Fortinbras numa batalha, no mesmo dia em que o príncipe Hamlet nasceu. Este pega, horrorizado, no crânio e reflete sobre a mortalidade e a transitoriedade da vida, lamentando o facto de todos os seres humanos acabarem transformados em pó, independentemente da classe social a que pertencem ou da riqueza que possuem, mesmo homens como Alexandre, o Grande, ou Júlio César.
    Subitamente, chega o cortejo fúnebre de Ofélias, liderado por Laertes, seu irmão, e por Cláudio, a rainha Gertrudes e outros membros da corte. Ao observar a simplicidade da procissão, Hamlet declara que o falecido, quem quer que seja, deve ter tirado a própria vida, mas ainda conserva o seu estado de nobre. De seguida, pede a Horácio que se escondam e observem o desenrolar dos acontecimentos.
    Laertes questiona o padre sobre as cerimónias a realizar e o religioso responde que incluiu o máximo que pôde, tendo em conta que o defunto se suicidou. Dado que era uma nobre, garantiu que fosse sepultada como uma virgem com flores no seu túmulo. Finalmente, Hamlet percebe que a sepultura é para Ofélia, no mesmo instante em que Laertes se enfurece com o padre, que acaba de lhe dizer que dar à morte um funeral cristão adequado profanaria os mortos, lhe diz que espera que as violetas brotem do túmulo da irmã enquanto o religioso arde no inferno, e salta para dentro da cova de Ofélia, dominado pela dor, dizendo que gostaria de ser enterrado com ela.
    Aflito e indignado, Hamlet sai do esconderijo e aproxima-se do cortejo, proclamando o seu amor pela defunta e que o seu amor e a sua dor são maiores e mais profundos. De seguida, imita Laertes e salta para dentro da cova. O filho de Polónio amaldiçoa-o e dos dois começam a lutar, mas são separados. O rei e a rainha declaram que Hamlet está louco. Este sai furioso e Horácio segue-o. Cláudio pede a Laertes que seja paciente e recorda-lhe o plano que gizaram para matar Hamlet, dizendo-lhe que a sua oportunidade de vingança chegará em breve.

Análise da cena 7 do ato IV de Hamlet

    Não há tempo a perder: os acontecimentos encaminham-se velozmente para o clímax da peça, por isso o ritmo da ação acelera. Algo muito importante está prestes a acontecer; o leitor apercebe-se disso, apenas não sabe integralmente o quê, onde e quando.
    No início da cena, encontramos Cláudio e Laertes juntos quando a carta de Hamlet chega, discutindo a inocência do rei na morte de Polónio, na qual o segundo agora acredita. No entanto, este último quer saber o motivo por que o soberano não castigou o sobrinho pelo seu crime. Nestas circunstâncias, as duas personagens tornam-se aliadas por um objetivo comum, embora por razões diferentes: a morte de Hamlet. Cláudio age de forma astuta, manipuladora, calculista e tortuosa, trabalhando minuciosamente para despertar em Laertes a raiva que conduzirá ao confronto com o jovem príncipe e à sua morte. No seu plano, embora inocente e inconscientemente, colabora a própria rainha, quando confirma a inocência do marido na morte de Polónio. Além disso, aproveita-se do temperamento impulsivo do seu aliado.
    O plano que ambos traçam para eliminar Hamlet é pensado e estruturado de modo a parecer que a morte do príncipe será acidental: partindo de um confronto de esgrima amigável, os dois conseguirão matar Hamlet sem levantar suspeitas sobre si. Todavia, o plano apresenta evidentes falhas de conceção. Por exemplo, ninguém suspeitaria do facto de tal morte ocorrer por envenenamento, a técnica preferencial de Cláudio e um recurso tradicionalmente associado às mulheres assassinas? Este facto pode explicar-se de duas formas: por um lado, é possível que o desejo e a ansiedade em assassinar Hamlet sejam tão grandes que não tenham refletido ou preocupado com isso; por outro, se alguém suspeitasse de um crime, seria relativamente fácil para o monarca atribuir todas as culpas a Laertes. Além disso, é interessante notar que o tema da vingança alcança novos patamares: os dois aliados engendram não um, mas três formas de eliminar Hamlet. Em todo o processo, o papel dos dois fica bem claro: Cláudio é o cérebro da trama, enquanto Laertes é o músculo. Note-se ainda que ambos parecem conhecer bem a personalidade de Hamlet, contando que a sua vaidade e o seu sentido de honra não lhe permitirão recusar a partida de esgrima. Em todo o plano, como de costume, Cláudio age de forma que, mesmo que aquele falhe, nada o afete.
    Todavia, a morte trágica de Ofélia, conhecida após a elaboração do plano, não estava nas contas de Cláudio e pode constituir o grão de areia na engrenagem que poderá fazê-lo descarrilar. Desde logo, esse evento adia a colocação do plano em prática, pois terá que esperar que Laertes faça o luto pela irmã, como o próprio anuncia de imediato. Além disso, o rei, que não sente qualquer tristeza ou preocupação relativamente a Ofélia e ao seu destino, receia o impacto imprevisível que a raiva de Laertes possa vir a ter nos acontecimentos seguintes e, por consequência, no plano para matar Hamlet.
    O passamento de Ofélia, embora não relacionado com a morte do rei Hamlet, parece sustentar a tese segundo a qual a violência gera mais violência e a morte mais morte. No fundo, a jovem é uma vítima inocente apanhada no fogo cruzado trocado entre Cláudio e o seu sobrinho. A responsabilidade deste vai mais longe, porém, dado que o seu comportamento imprevisível e errático a levou ao limite da sua sanidade, culminando no facto de ele ter assassinado Polónio, seu pai. Todos estes aspetos enfatizam o modo como o comportamento insensível de Hamlet impacta terrivelmente na vida das outras personagens, nomeadamente nas femininas. Quando a peça tem início, Ofélia e o príncipe parecem caminhar no sentido de uma relação amorosa frutuosa – no mínimo, de uma amizade saudável –, no entanto rapidamente o pai e o irmão começam a interferir no relacionamento de ambos, e o próprio Hamlet principia a usá-la como um peão no seu projeto de vingança. As consequências de todos estes jogos macabros tornam-se agora visíveis.
    A imagem de Ofélia a afogar-se no meio das suas flores é fortíssima, tanto que foi sendo representada inúmeras vezes ao longo dos séculos. Convém notar que a associação da personagem às flores é recorrente ao longo da peça. Ma sua primeira cena, por exemplo, o pai oferece-lhe uma violeta; à medida que começa a enlouquecer, entoa canções sobre flores. A beleza e a fragilidade de Ofélia são bem simbolizadas pela beleza frágil das flores, bem como a sua sexualidade emergente e a sua inocência.
    Ofélia morre, de facto, de forma trágica. As circunstâncias exatas são descritas por Gertrudes: a jovem estava a tentar pendurar coroas de flores numa árvore próxima de um riacho, quando um galho se partiu, fazendo com que ela caísse na água. Aparentemente perturbada e incapaz de reagir, flutuou durante alguns momentos na água e depois afogou-se. A presença das flores parece representar a sua incapacidade de processar a dor causada pela morte do pai e, possivelmente, também a confusão que sentia por causa do comportamento de Hamlet para consigo.
    Em suma, a morte de Ofélia é rodeada de grande simbolismo e pode ser interpretada de diferentes maneiras, incluindo como um acidente ou como um possível suicídio, motivado pelo seu estado de loucura e confusão mental.
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