Português: Aluísio de Azevedo
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quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Análise da obra O Cortiço, de Aluísio de Azevedo

 I. Biografia de Aluísio de Azevedo


II. Obras de Aluísio de Azevedo


III. Período literário


IV. Ação

        . Resumo

        . Capítulos

            . Capítulo I

            . Capítulo II

            . Capítulo III

Análise do capítulo II de O Cortiço

     Apresentação de Miranda e sua família, caracterizados sempre pela negativa.

         Miranda: referência à sua relação com a mulher e com Romão. Sente inveja de Romão, porque o vê crescer à força do trabalho, enquanto ele enriquecera à custa de um casamento de uma mulher que o trai. No final do capítulo, mostra que tem ambições diferentes de Romão e que são o fulcro da sua vida: ascensão ao baronato.

        D. Estela: caracterização explícita e implícita, quando é encontrada no jardim com Henrique.

        Henrique: hóspede da família.

        Criados: Valentim, Isaura, Leonor.

        Zulmira: filha de Miranda e de D. Estela.

        Botelho: é visto como um parasita que não pertence à família, mas que se integra na sordidez resultante da caracterização das personagens. São importantes as metáforas, que visam a sua caracterização. É importante a relação que estabelece com as outras personagens. Miranda vê-o como amigo e a ele confia as suas misérias e o mesmo acontece com os outros. Ele conhece as fraquezas de todos. O seu retrato é ainda mais negativo, pois partilha a sordidez de todas as outras personagens. Tem, por isso, um papel importante no romance.

Análise do capítulo I de O Cortiço

     Apresentação de três personagens importantes:

        => João Romão: é a esta personagem que se deve o aparecimento do cortiço. Descreve-se a sua ascensão, que se pauta pela ambição com vista a uma situação futura. Todas as suas privações visam o seu enriquecimento futuro. Mas a sua atitude é dinâmica e evolutiva, porque o conduz a uma produção acelerada de riqueza.
    A descrição do espaço e suas ações visam a sua caracterização, surgindo assim um retrato bastante completo e individualizado.
    Ele leva Bertoleza a confinar em si e a sua ligação intensifica-se, sobretudo a partir da cena da alforria. Mas a ajuda à escrava não é desinteressada; ele faz uma burla, cujo objetivo é sacar-lhe o dinheiro. Este facto vai ser fundamental no final. Todos os factos referidos, por mais insignificante que pareçam, têm sempre uma função.
    A economia, o trabalho e a esperteza são aspetos positivos, mas que em Romão são negativos e fundamentais na sua caracterização. Este primeiro capítulo é uma iniciação à sua caracterização, que irá ser constante ao longo da obra.

        => Bertoleza: tem uma caracterização mais positiva, pois foi enganada e tem atitudes mais altruístas.
    É típico de Aluísio de Azevedo o recurso a um certo tipo de vocabulário e comparações com animais, o que dá a ideia de sordidez.
    Mesmo antes de se ligar a João Romão, era muito trabalhadeira, pois tinha que pagar a renda ao seu senhor e queria pagar a sua liberdade. Mas o seu trabalho forçado vai continuar após se ligar a Romão: "Bertoleza representava agora ao lado de João Romão o papel tríplice de caixeiro, de criada e de amante." Agora trabalha por dedicação e em função do homem a quem se sente agradecida e ligada. Este par (Romão e Bertoleza), em que o trabalho sem descanso é a marca fundamental, é bem o exemplo desse mundo sórdido. Mas o caráter de Bertoleza é diferente do de Romão, que faz tudo por interesse económico, enquanto ela age por dedicação.
    Esta caracterização positiva de Bertoleza mantém-se inalterada. Ainda em relação a Bertoleza, há um outro elemento fundamental e que abrange quase todas as mulatas e negras do romance: veem o branco como forma de ascensão social; o negro ainda era sinónimo de escravo: "Ele propôs-lhe morarem juntos e ela concordou de braços abertos, feliz em meter-se de novo com um português, porque, como toda a cafuza, Bertoleza não queria sujeitar-se a negros e procurava instintivamente o homem numa raça superior à sua."

        => Miranda e D. Estela: embora pertençam a um estatuto diferente de João Romão, a personalidade básica é a mesma. Romão ascende pelo trabalho; Miranda ascende através do casamento.
    Toda a caracterização deste par passa por aspetos do foro íntimo, de caráter sexual, onde se manifesta a sordidez de caráter, pelo desvio à norma.
    Há um dado novo que aparece na literatura brasileira e que não é comum em Machado de Assis (onde aparece o adultério de modo subtil): o comportamento sexual e o adultério são expostos de modo explícito e de forma sórdida. Daí a frequente comparação com animais.
    Temos, assim, de um lado Romão e Bertoleza e, do outro, Miranda e D. Estela, que pertencem a classes diferentes, mas com a mesma caracterização sórdida.
    A caracterização individual é acompanhada por uma caracterização de relação. Por exemplo, o modo como Romão se relaciona com Bertoleza pauta-se pelo desvio. Temos também a relação entre Miranda e Romão e a relação de Romão com as pessoas que habitam o cortiço e de quem ele se aproveita e explora. São relações que se pautam sempre pela negatividade.
    A visão do cortiço, além de provocar uma relação de causa-efeito, é uma visão sórdida. Todos os elementos têm uma função explícita. A descrição é um processo usado para a caracterização dos espaços e dos ambientes.

Contexto literário de O Cortiço

     O Cortiço é uma obra que se insere já no Naturalismo, que é uma corrente que procura cultivar a cientificidade.
    Machado de Assis fugia já ao Realismo, por causa da sua personalidade e referências ao leitor. Mas mais se afasta do Naturalismo, que tinha objetivos ainda mais científicos. O Naturalismo acaba por mostrar uma vertente diferente do Realismo. Os seus princípios não eram muito digferentes; ambos procuravam a objetividade. Mas tirando isto, há vários aspetos que os separam. O Naturalismo é como que uma mutação do Realismo:
        => O Realismo mostra uma visão neutra do homem; o Naturalismo traz consigo o romance experimental, que mostra o homem como o resultado de três elementos fundamentais: raça, meio e momento (Taine).
            => O alto grau de perfeição da ficção em Machado de Assis, vai ser substituído no Naturalismo por outros aspetos, como a necessidade de provar as teses apresentadas. Temos, assim, o drama de tese que aparece no Naturalismo devido à necessidade de explicar as causas e os porquês de determinadas atitudes e comportamentos.
    Paul Alexis, em relação ao Naturalismo, diz: "O Naturalismo é um método de pensar, ver, refletir, estudar, experimentar; uma necessidade de analisar para saber, mas não uma maneira especial de escrever."
    A qualidade ficcional é sacrificada a outros elementos fundamentais no Naturalismo.
            => O Realismo pautava-se por uma escrita económica, onde a personalidade das personagens estava implícita, insinuava-se; no romance experimental, não há essa economia. Há uma explicação explícita dos comportamentos, que se tornam mais evidentes quanto menor é o freio da educação, o condicionamento.
            => Personagens e sua classe social:
                    * O Realismo trata personagens da classe bueguesa.
                    * No Romantismo, privilegiam-se personagens da alta burguesia e da 
                        aristocracia.
                    * No Naturalismo, temos a escolha das classes mais baixas, porque estas
                        estão mais sujeitas às influências da raça, do meio e do momento. Há,
                        ainda, personagens pertencentes à burguesia, sobretudo mulheres, a
                        respeito das quais se fala em casamento por conveniência e adultério. A
                        sujeição ao casamento e à religião conduze-as à traição. Já em Machado
                        de Assis temos esta temática, mas aqui com maior incidência.
    Dentro das características do drama de tese, do romance experimental, temos O Cortiço, onde as personagens passam por um processo de transformação.

Obras de Aluísio de Azevedo

 
  • Uma Lágrima de Mulher, romance, 1879
  • Os Doidos, teatro, 1879
  • O Mulato, romance, 1881
  • Memórias de um Condenado, romance, 1882
  • Mistérios da Tijuca, romance, 1882
  • A Flor de Lis, teatro, 1882
  • A Casa de Orates, teatro, 1882
  • Casa de Pensão, romance, 1884
  • Filomena Borges, romance, 1884
  • O Coruja, romance, 1885
  • Venenos Que Curam, teatro, 1886
  • O Caboclo, teatro, 1886
  • O Homem, romance, 1887
  • O Cortiço, romance, 1890
  • A República, teatro, 1890
  • Um Caso de Adultério, teatro, 1891
  • Em Flagrante, teatro, 1891
  • Demónios, contos, 1893
  • A Mortalha de Alzira, romance, 1894
  • O Livro de uma Sogra, romance, 1895
  • Pegadas, contos, 1897
  • O Touro Negro, teatro, 1898

Biografia de Aluísio de Azevedo

    Aluísio de Azevedo (Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo), caricaturista, jornalista, romancista e diplomata, nasceu em São Luís do Maranhão, a 14 de abril de 1857, e faleceu em Buenos Aires, Argentina, em 21 de janeiro de 1913.
    Aluísio de Azevedo era filho do vice-cônsul português, David Gonçalves de Azevedo, e de D. Emília Amália Pinto de Magalhães e o irmão mais novo do comediógrafo Artur Azevedo. A sua mãe havia casado, aos 17 anos, com um comerciante português, porém o temperamento brutal do marido determinou o fim do casamento. A seguir à separação, D. Emília refugiou-se em casa de amigos, até conhecer o vice-cônsul de Portugal, o jovem viúvo David. Os dois passaram a viver juntos, sem contraírem segundas núpcias, o que à época foi considerado um escândalo pela sociedade maranhense.
    Da infância à adolescência, Aluísio estudou em São Luís e trabalhou como caixeiro e guarda-livros. Desde cedo, revelou grande interesse pelo desenho e pela pintura, o que certamente o auxiliou na aquisição da técnica que empregará mais tarde ao caracterizar as personagens dos seus romances. Em 1876, embarcou para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o irmão mais velho, Artur, e matriculou-se na Imperial Academia de Belas Artes, hoje Escola Nacional de Belas Artes. Passou a ganhar a vida fazendo caricaturas para os jornais da época, como, por exemplo, O FígaroO MequetrefeZig-Zag e A Semana Ilustrada. A partir desses “bonecos”, que conservava sobre a mesa de trabalho, escrevia cenas de romances.
    A morte do pai, em 1878, obrigou-o a voltar a São Luís, para tomar conta da família. Aí, começou a carreira de escritor, com a publicação, em 1879, do romance Uma lágrima de mulher, típico dramalhão romântico. Ajudou a lançar e colaborou com o jornal anticlerical O Pensador, que defendia a abolição da escravatura, enquanto os padres se mostravam contrários a ela. Em 1881, Aluísio lançou O mulato, um romance que causou escândalo entre a sociedade maranhense pela crua linguagem naturalista e pelo assunto tratado: o preconceito racial. Todavia, a obra teve grande sucesso, foi bem recebida na Corte como exemplo de Naturalismo, e Aluísio pôde regressar ao Rio de Janeiro, para onde embarcou em 7 de setembro de 1881, decidido a triunfar como escritor.
    Quase todos os jornais da época tinham folhetins, e foi num deles que Aluísio passou a publicar os seus romances. A princípio, eram obras menores, escritas apenas para garantir a sua sobrevivência. Depois, surgiu uma nova preocupação no universo do escritor: a observação e análise dos agrupamentos humanos, a degradação das casas de pensão e a sua exploração pelos imigrantes, principalmente os portugueses. Dessa preocupação resultariam duas das suas melhores obras: Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890). De 1882 a 1895, escreveu, sem interrupção, romances, contos e crónicas, além de peças de teatro em colaboração com Artur de Azevedo e Emílio Rouède.
    Em 1895, ingressou na carreira diplomática, momento em que praticamente encerra a sua atividade literária. Inicialmente, foi colocado em Vigo, na Espanha, seguindo-se o Japão, a Argentina, a Inglaterra e, por último, a Itália. Nesse período de tempo, passou a coabitar com D. Pastora Luquez, uma senhora de nacionalidade argentina, juntamente com os dois filhos, Pastor e Zulema, por ele adotados. Em 1910, foi nomeado cônsul de 1. classe, sendo transferido para Assunção. A capital da Argentina, Buenos Aires, foi o seu último posto, e nela faleceu aos 56 anos, tendo sido aí sepultado. Seis anos depois, graças a uma iniciativa de Coelho Neto, o seu corpo foi transferido para S. Luís do Maranhão, onde lhe foi dada a sua última morada.
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