A crítica é
conseguida de diversas formas, nomeadamente através da denúncia dos vícios dos
homens, simbolizados nos peixes e nas suas características físicas, as famosas
alegorias.
            Assim,
quando tece os seus louvores, o padre António Vieira está, por contraste, a
denunciar a ausência das virtudes equivalentes nos homens:
|  | 
Virtudes dos peixes | 
Vícios dos homens | |
| 
Em geral | 
. São bons ouvintes. 
. Escutaram
  Santo António com obediência, ordem, tranquilidade e atenção. | 
. Falta de
  devoção relativamente à palavra de Deus. | |
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Em 
particular | 
Peixe de Tobias | 
. As suas
  entranhas curam a cegueira e o coração expulsa os demónios. | 
. Heresia /
  ausência de conversão. | 
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Rémora | 
. É pequena no
  corpo, mas grande na força e no poder. | 
. Fraqueza humana. 
. Apatia,
  ausência de força de vontade. | |
| 
Torpedo | 
. Produz
  descargas elétricas, fazendo tremer o braço do pescador e evitando ser
  pescado. | 
. Exploração do próximo. 
. Corrupção. 
. Ambição desmedida. | |
| 
Quatro-Olhos | 
. Tem
  quatro-olhos, dois que olham para cima e dois que olham para baixo. | 
. Vaidade. 
. Incapacidade de discernimento. | |
            Por outro
lado, quando, nos capítulos IV e V, expõe os vícios dos peixes, o pregador
está, por analogia, a criticar os defeitos equivalentes dos homens:
|  | 
Vícios dos peixes/homens | 
Excertos textuais | |
| 
Em geral | 
. A corrupção e a
  irracionalidade (cap. I, II, III). 
. A exploração
  do homem pelo homem e a exploração dos mais fracos, a antropofagia social
  (cap. IV). 
. A ignorância, vaidade
  e cegueira (cap. IV). | 
. “a terra se vê
  tão corrupta” 
.
  “vos comeis uns aos outros” 
. “notável
  ignorância e cegueira” | |
| 
Em 
particular | 
Roncador | 
. A presunção, a
  gabarolice e a arrogância. | 
. “É possível
  que, sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?” | 
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Pegador | 
. O parasitismo. | 
. “Não só se
  chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados que
  jamais os desferram”. | |
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Torpedo | 
. A ambição e a
  vaidade. | 
. “Não contente com ser peixe, quiseste ser ave” | |
| 
Polvo | 
. A falsidade e
  a traição. | 
. “um monstro
  tão dissimulado, tão fingido, tão astuto, tão enganoso e tão conhecidamente
  traidor”. | |
Bibliografia:
.
Noémia Jorge et alii, Encontros 11;
.
Auxília Ramos e Zaida Braga, Sermão de Santo António aos Peixes;
.
Francisco Martins, Para Compreender Padre António Vieira;
.
Hernâni Cidade, Padre António Vieira.
 
 
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