Após
a morte de Polónio, o estado mental de Ofélia deteriora-se drasticamente e a
jovem começa a agir como louca (ato IV, cena V). A partir daí, sem ter ninguém
com quem confiar e sentindo-se atacado por aquele que amava, vagueia por
Elsinore, entoando canções que oscilam entre temáticas infantis e outras de
forte cariz sexual e sombrio e distribuindo flores (reais ou imaginárias) a
quem encontra, nomeadamente a Cláudio, a Gertrudes e a Laertes, guardando
algumas para si. Essas flores são variadas e têm um significado específico: a
Gertrudes, oferece erva-doce e aquilégias, que representam o seu suposto adultério,
a afeição partilhada entre os amantes; a Cláudio, dá margaridas e arruda (esta
última flor é oferecida também a si mesma), que simbolizam respetivamente a
inocência e o amor e o arrependimento; oferece ainda alecrim (uma flor presente
frequentemente em funerais), amores-perfeitos (lembranças, pensamentos). Em
determinado momento, declara que também queria oferecer violetas, porém todas
tinham murchado quando pau morrera. As violetas são símbolo de fidelidade (o
que indicia que a fé ou a bondade da Dinamarca foram corrompidas com o
assassinato de Polónio), da humildade, da virtude e da modéstia, implicando que
a morte do pai a levou a desligar-se do cumprimento das normas sociais da
época.
Esta
variedade de flores e, consequentemente, dos sentimentos que simbolizam,
associa-se aos seus desejos vários que possui e que foram reprimidos pela sociedade
e suas normas. Esta noção é ecoada pelo afogamento de Ofélia, rodeada de grinaldas
de flores que mostram que, nos seus derradeiros momentos de vida, a jovem
escolheu cercar-se de símbolos de tudo o que ela era e poderia ter sido, caso
não tivesse sido impedida. Ou sejam as flores são uma espécie de lembrete de
tudo o que lhe foi roubado.