André-Henri Dargelas, – A Volta do Mundo (c. 1860) |
André Henri Dargelas foi um pintor francês que se dedicou a representar, dentro dos cânones de um realismo académico avesso a rasgos vanguardistas, a infância. Aplicou-se a retratar com sensibilidade e mestria o quotidiano das crianças em casa, na escola ou na rua, em brincadeiras infantis. Mas o pendor realista da sua arte não o impediu de recorrer à subtileza, à ironia e à imaginação nas suas representações.
É o caso desta pintura, que já foi apropriadamente descrita como uma feliz metáfora da infância cavalgando o mundo. Ela recorda-nos que a irrequietude e a irreverência das crianças não são, como muitas vezes se tenta crer, um mal desta ou daquela geração mas, pelo contrário, uma característica da própria humanidade. Aproveitando a ausência do professor na sala de aula, os miúdos dão azo à sua imaginação, inventando novas utilidades para instrumentos pedagógicos como este avantajado globo terrestre que, transformado em brinquedo, surge destacado no centro da pintura.
É uma brincadeira, na verdade, prestes a ser interrompida pelo adulto, provavelmente o professor da turma, assomando à porta da sala. Mas brincar é, como dizem os psicólogos, das coisas mais sérias que as crianças fazem, pois é também, e acima de tudo, uma forma natural de aprendizagem. Há um fascínio infantil em fazer descobertas e inventar desafios. Em explorar o mundo com uma curiosidade insaciável, ainda que de forma simbólica, pois não se chega a sair da sala de aula. E é esse simbolismo que, de forma especialmente feliz, a pintura de Dargelas nos procura transmitir.