Português: 07/08/24

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Resumo da cena 7 do ato IV de Hamlet

    Cláudio explica a Laertes as circunstâncias da morte de Polónio, vincando a sua inocência, na qual o interlocutor acredita. No entanto, o jovem questiona por que motivo o rei não tinha procurado vingança contra Hamlet, o assassino. O monarca retorque, apresentando duas razões: o amor de Gertrudes pelo filho e a popularidade deste na Dinamarca. Enquanto marido e rei, Cláudio não queria aborrecer nenhum deles. Laertes comenta que a reputação de Hamlet não o preocupa e acrescenta que em breve se vingará.
    Nesse instante, entra um mensageiro com uma missiva de Hamlet para Cláudio e outra para a rainha. O monarca lê-as em voz alta para Laertes: o príncipe revela que regressou à Dinamarca sem quaisquer pertences e que deseja encontrar-se com ele no dia seguinte, para lhe explicar o seu regresso. Laertes mostra-se satisfeito pelo retorno do príncipe, pois tal significa que poderá executar a sua vingança. Os dois gizam, então, um plano para a consumar. Cláudio, desejoso de se ver livre de Hamlet, pois este constitui uma ameaça à sua pessoa e ao seu reinado, relembra a Laertes que, no passado, o príncipe sentiu ciúmes da destreza de Laertes na arte da esgrima, o que foi elogiado na corte por um francês que o viu em ação. O rei alvitra que, se o filho de Polónio desafiasse Hamlet para um duelo, teria aí a oportunidade para se vingar. Todo o diálogo revela a astúcia e a mente tortuosa de Cláudio, que conduz o diálogo e a ação no sentido de tudo ser feito de modo a deixar a sua pessoa imaculada em todo o processo. O plano final é estabelecido: Laertes usará uma espada afiada, em vez da tradicional lâmina cega característica da esgrima. O filho de Polónio concorda e acrescenta um extra: ele untará a ponta da espada com veneno, para garantir a morte do rival, mesmo que só o consiga arranhar. Astutamente, Cláudio traça um plano B: se Hamlet sair vitorioso do duelo, oferecer-lhe-á uma taça de vinho envenenada para celebrar a vitória.
    Logo após, Gertrudes entra em cena para dar uma notícia horrível: Ofélia, louca de dor, afogou-se num riacho próximo. Desesperado com o falecimento da irmã, ocorrido logo após o do pai, Laertes declara que, quando terminar o luto, está pronto para a vingança e sair da sala.

Análise da cena 6 do ato IV de Hamlet

    Esta cena constitui uma reviravolta súbita dos acontecimentos: Hamlet vai regressar à Dinamarca, após ter sido capturado por piratas que, no entanto, o trataram bem. Este inusitado evento é curioso, pois um ato contrário à lei – o ataque pirata e a captura de Hamlet –, em vez de ser punido, é recompensado, pois o príncipe pretende retribuir os piratas por o terem trazido de volta ao seu país.
    Um outro aspeto interessante prende-se com as palavras escritas por Hamlet a Horácio, nomeadamente quando refere que tem palavras para lhe dizer ao ouvido que o deixarão mudo. Pode ver-se aqui uma alusão ao modo como o velho rei Hamlet foi assassinado: Cláudio derramou-lhe veneno no ouvido (ato IV, cena 6).

Resumo da cena 6 do ato IV de Hamlet

    Noutra parte do castelo, Horácio é abordado por um par de marinheiros que lhe entregam uma carta de Hamlet. Na missiva, o príncipe diz-lhe que o seu navio tinha sido capturado por piratas dois dias apenas após o início da viagem e ele tinha sido feito prisioneiro. Além disso, pede-lhe que conduza os marinheiros à presença do rei e da rainha, pois eles têm outras cartas para lhes entregar, e depois deve ir busca-lo imediatamente. Hamlet acrescenta que tem muito que contar-lhe, nomeadamente acerca de Ronsencrantz e Guildenstern, que estão a viajar para Inglaterra. Horácio leva os marinheiros até o rei e, posteriormente, segue-os ao encontro do jovem príncipe.

Análise da cena 5 do ato IV de Hamlet

    Há algo muito podre no reino da Dinamarca: Polónio morreu e foi sepultado em segredo; Hamlet prepara-se para partir, forçado, para Inglaterra; Ofélia parece cada vez mais ensandecida; o povo está perturbado e murmurando entre si. Para compor o ramalhete, Laertes está de volta à Dinamarca e possui a legitimidade moral que falta a Cláudio por vários motivos e a que Hamlet perdeu ao assassinar Polónio.
    O regresso de Laertes é muito significativo. Desde logo, intui que Cláudio é um assassino, embora pelo ângulo errado, ou seja, supõe que o rei assassinou Polónio, o que não é verdade, pois a sua vítima foi o velho rei Hamlet. Por outro lado, é nítido o contraste que existe a sua figura e a do príncipe dinamarquês. De facto, este é muito reflexivo e hesitante, daí as enormes dificuldades que manifesta em agir, enquanto Laertes é ativo e menos reflexivo. Além disso, não é atormentado pelas questões morais que inundam o jovem príncipe, daí que o seu único pensamento seja o de vingar a morte do seu pai. Por outro lado, Laertes parece uma figura desequilibrada e irrefletida, daí que o desejo de vingar o pai a todo o custo será a sua ruína, arrastando consigo outras personagens para o precipício. Ele só pensa em vingar o pai o mais rápido possível e considera tal um dever e uma questão de honra, daí que se precipite, por exemplo, quando tira conclusões apressadas sobre quem terá sido o homicida. Seja como for, é quase certo que a sociedade dinamarquesa da época prefira a postura de Laertes à de Hamlet, pois acreditava no castigar das injustiças.
    Cláudio, astuto, aproveita as circunstâncias para o manipular e cativar, tendo na mente a possibilidade de o aproveitar para a sua trama com Hamlet, por isso comporta-se como um amigo solidário e sensato de Laertes, procurando que este seja seu aliado e um oponente do príncipe. Quando, mais tarde, o rei o questiona, querendo saber até onde está disposto a ir para vingar o pai, o filho de Polónio é claro e decidido, afirmando que está disposto a cortar a garganta de Hamlet na igreja (ato IV, cena 7), o que contrasta com a postura do príncipe, que se recusou a matar Cláudio enquanto este estava ajoelhado em oração. A questão da religião e da religiosidade é muito importante na época.
    Outro dos temas que perpassa a peça, nomeadamente esta cena, é a loucura, nomeadamente a de Ofélia, marcada pela perda do pai e do amor de Hamlet. Essa sua instabilidade emocional manifesta-se de várias formas, concretamente da distribuição de flores e das canções que entoa. Nesta cena, a jovem distribui flores a várias pessoas, atribuindo-lhes vários significados: o alecrim representa lembrança e os amores-perfeitos pensamentos. Dito isto, a representatividade das flores é mais profunda, visto que se associam a várias ideias e conflitos que atravessam a sua mente e o seu progressivo afastamento da realidade e da razão. Por outro lado, como as suas canções estão conectadas com amores e morte, as flores podem ser associadas à morte, concretamente à de Polónio.
    As canções de Ofélia, embora possam parecer aos outros não ter sentido, na verdade traduzem a sua obsessão com a morte do pai e do amor de Hamlet, bem como com um desejo sexual algo ambíguo, com o qual ela parece lutar, depois de ter sido desencorajada do desejo sexual pelo pai, pelo irmão e pela sociedade de forma genérica. A temática das canções centra-se em homens infiéis: no início da peça, parecia haver a possibilidade de se desenvolver uma relação amorosa entre a jovem e Hamlet, no entanto a partir de certo momento vê-se confrontada com um príncipe manipulador, desconcertante, aparentemente dominado pela loucura e cruel. Quase em simultâneo, ela perde a figura paterna, sempre presente, e um irmão preocupado e amoroso. Isto é tão mais importante quanto as mulheres, na época, tinham pouca importância e valor, estando sistematicamente dependentes dos homens. É também o caso de Ofélia. Todavia, neste momento, todas as figuras masculinas morreram ou estão distantes, daí que ela esteja sem balizas e apoios.
    Por outro lado, a temática das canções pode associar-se à decadência, não só dos corpos, mas da situação política. Numa delas, refere-se a um homem que é levado para o túmulo num caixão aberto, o que representa a ideia de que violência gera mais violência, depravação moral gera mais depravação moral. Convém sempre recordar as palavras de Marcelo, quando afirma que algo está podre no reino da Dinamarca. Ora, a canção da jovem retoma esse tópico, visto que a letra fala da morte como se esta estivesse em exposição em Elsinore. Assim sendo, é lícito concluir que o desejo e a busca de vingança apodrecem a monarquia dinamarquesa, acelerando a decadência moral já existente há muito.
    Voltando à loucura, é curioso observar que este tema faz contrastar Hamlet com outra personagem: Ofélia. Com efeito, o príncipe tem fingido estar louco como estratégia para atingir os seus objetivos, ao passo que a jovem é levada a esse estado por um conjunto de circunstâncias externas.

Resumo da cena 5 do ato IV de Hamlet

    A ação retorna ao castelo de Elsinore. Ofélia solicitou uma audiência a Gertrudes, porém a rainha está relutante em a receber, pois teve conhecimento de que a jovem tem agido estranhamente desde a morte do pai. No entanto, Horácio diz-lhe que Ofélia é merecedora de pena, explicando-lhe que a sua dor a deixou enlouquecida e incoerente. A rainha consente, embora comente que a deterioração da filha de Polónio poderá constituir o prenúncio de uma grande calamidade.
    Ofélia entra, entoando uma canção de amor e adornada de flores. Educadamente, a rainha questiona-a sobre o significado da canção, porém a jovem prossegue cantando sobre um homem falecido, enterrado e adornado com flores doces. Entrementes, chega Cláudio e, ao ouvir a cantoria e o discurso desconexo de Ofélia, comenta que a sua dor decorre da morte do pai. De facto, tudo em torno da jovem sugere a sua loucura. Por exemplo, quando a cumprimenta e lhe pergunta como está, ela refere-se a uma história enigmática sobre a filha de um padeiro que foi transformada em coruja, querendo significar que as pessoas sabem quem são, mas não necessariamente aquilo em que se tornam.
    Ofélia prossegue, interpretando músicas sobre amor não correspondido e mulheres derrotadas por homens desleais. Subitamente, interrompe a canção para afirmar que não consegue parar de pensar no seu pai, deitado no chão frio, e declara que irá informar o irmão sobre estes acontecimentos. Seguidamente, despede-se do casal real e sai do salão. Cláudio pede a Horácio que olhe pela jovem e o homem sai também.
    A sós, Cláudio informa Gertrudes que Laertes regressou secretamente da França após ter tomado conhecimento do passamento do pai. Enquanto dialogam, ouve-se uma grande comoção no exterior, seguida da entrada de um mensageiro no salão. Este dá conta que Laertes, acompanhado por uma multidão de plebeus, pegou em armas contra Cláudio e que o povo está do seu lado, gritando pelas ruas que o filho de Polónio deve ser rei. Gertrudes fica chocado com a notícia. Logo de seguida, Laertes entra, furioso, no salão e declara que quer vingar a morte de seu pai. O rei e a rainha procuram acalmá-lo: Cláudio reconhece que Polónio está morto, enquanto a esposa, nervosa, esclarece que o marido não tem nada a ver com essa morte. Entretanto, Ofélia retorna, cantado uma canção sobre um homem levado para o túmulo num caixão exposto e oferecendo flores imaginárias (alecrim, amores-perfeitos, erva-doce, margaridas), num estado claro de insanidade. Ao observar o estado da irmã, Laertes, triste e enraivecido, jura vingança. O rei aproveita o momento e convence-o a ouvir a sua versão dos factos e promete que lhe entregará a sua coroa e o reino se se provar que ele ou a esposa tiveram culpa na morte de Polónio. Uma vez provada a sua inocência, promete ajudar Laertes a vingar-se do responsável pelo crime.
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