Português: 12/09/24

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Correção do questionário sobre o conto "A chama obstinada da sorte" - 1.ª parte


1. Numa entrevista dada ao Diário de Notícias, publicada a 25 de outubro de 2008, Luís Sepúlveda explica a origem deste conto e a razão da epígrafe que o acompanha: “Na América do Sul quando conhecemos alguém dizemos o nosso apelido. E um dia, na Patagónia, cheguei a uma cabana onde viveram os famosos bandidos Butch Cassidy e Sundance Kid e vejo um homem muito velho, que me estende a mão e diz «Sepúlveda». Não porque me conhecesse, mas porque era o seu nome. Era óbvio que tínhamos o mesmo nome. Eu digo-lhe: «Devemos ser parentes, qual é o seu primeiro nome?» E ele diz: «Aladino.» Aladino Sepúlveda. Isto é uma maravilha. Isto dá um conto.”
 
2.1. O velho tinha oitenta e alguns anos e era o sustento de uma numerosa família que recorria a ele sempre que surgiam dificuldades.

 
2.2. As expressões que evidenciam a dimensão da família são as seguintes: “filhos, filhas, noras e genros”; “caterva indeterminada de netos”.

 
2.3.

a. Na expressão “erráticos como o vento da estepe”, está presente uma comparação, a qual evidencia o movimento constante das pessoas. A aproximação semântica ao “vento da estepe”, o segundo termo da comparação, procura transmitir a ideia de movimentação constante.

b. Na expressão “quando os ventos (…) faziam soar as tripas”, encontramos uma perífrase que denuncia a fome (“soar as tripas”) que, quando é muita, provoca ruídos no sistema digestivo. A perífrase surge ainda associada aos ventos do inverno, como se estes fossem a sua causa direta.

 
3.1. A outra personagem é Cachupín, o cão do velho. O canino é um animal preguiçoso e que dormia “com um olho aberto”, “sempre atento aos movimentos do dono”. Apesar de ser preguiçoso e pachorrento, era também um animal que, incitado pelo dono, assumia comportamentos de ferocidade.

 
3.2. A função do cão era acordar todos os membros da família que se encontravam em casa e expulsá-los.

 
4. A expressão “vacas magras” tem origem na história bíblica de José do Egito, presente no Génesis. Oriundo de uma família numerosa, José era o preferido do pai, por isso os irmãos decidiram livrar-se dele, vendendo-o como escravo a uns mercadores a caminho do Egito. Preso mais tarde, dedicou-se, na prisão, à interpretação de sonhos, atividade que o tornou famoso e o levou à presença do faraó, para interpretar um dos seus sonhos, no qual previu sete anos de abundância, simbolizados em sete vacas gordas, e sete outros de fome, simbolizados em sete vacas magras. Satisfeito, o faraó nomeou-o seu ministro. Quando a sua previsão de fome se concretizou, José perdoou aos irmãos.

 
5. A sua intenção era ficar apenas acompanhado de Cachupín.

 
5.1. O velho esperava que a família se afastasse bastante, ao ponto de as pessoas serem apenas “referências incertas no horizonte plano”, para entrar novamente na cabana e esperar pacientemente, enquanto Cachupín guardava o lugar.

 
5.2. O diminutivo “familória” tem um valor pejorativo.


5.3. A expressão “esperava pela chegada das sombras” pode remeter para a noite ou a escuridão.


6. O tipo textual predominante é o descritivo. De facto, o narrador descreve personagens, situações e ambientes, normalmente de forma dinâmica. Os recursos característicos do texto descritivo presentes são o pretérito imperfeito (“tinha”, “agarrava”, “faziam”), os adjetivos (“atento”, “colado”, “comprida e fina”) e expressões caracterizadoras, muitas vezes expressivas (“erráticos como o vento da estepe”, “que se agarrava a ele quando os ventos ainda mais frios…”).

 
6.1. No oitavo parágrafo, inicia-se uma sequência de tipo textual narrativo, apresentando eventos que configuram o desenvolvimento da ação global (“acendeu”, “levou”, “tirou”).


7. Dentro da cabana, o velho acendeu um candeeiro de azeite e fez o que “vinha fazendo há mais de trinta anos” (apesar de não se saber neste momento do que se trata). Cortou um pedaço de charque e, depois de o mastigar, deu-o ao cão para ele engolir. Saiu da cabana e foi-se afastando. Os seus familiares regressavam então ao abrigo. Já distante, o velho, seguro de que ninguém o seguia, apagou o candeeiro.

 
8. A ação do excerto decorre na Patagónia argentina (“Cholila”; “Patagónia”), durante a noite (“luminosidade cinzenta da estepe”); “vastidão da noite”).


Questionário 1: questionário.

Análise da cantiga "A dona de Bagüin"

    Esta cantiga de escárnio e maldizer de mestria (isto é, sem refrão), em cobras singulares, da autoria de Lopo Lias, é dedicada à dona do Soveral. Em concreto, trata-se da segunda que tem essa figura como destinatário; a outra é “A dona fremosa do Soveral”. A composição poética apresenta uma curiosidade no que diz respeito à métrica da primeira cobla, visto que os dois versos iniciais apresentam sete sílabas métricas, enquanto os correspondentes na segunda têm oito. Além disso, existe igualmente irregularidade no que toca à rima dos primeiros quatro versos da primeira cobra, que apresentam rima cruzada, ao passo que os correspondentes da segunda são monorrimáticos.
    O poema visa, pois, uma figura feminina designada por “dona de Bagüin”, um topónimo que se refere a um lugar do concelho de Marim, junto a Pontevedra, na Galiza. O verso seguinte esclarece que vive concretamente numa localidade chamada Soveral, pertencente à freguesia de Mogor, concelho de Marim, situada imediatamente a seguir a Bagüin. O trovador deu à mulher dezasseis soldos, em troca de um compromisso, um pacto, no entanto ela não cumpriu o prometido nem lhe devolveu o dinheiro, como combinado entre ambos, se “ond’al non fezesse”, expressão que constitui uma referência possivelmente erótica, aludindo a uma eventual troca de dinheiro por favores sexuais. O combinado era que, em troca do dinheiro adiantado, ela se fosse encontrar com o trovador a casa de D. Corral, um burguês galego, provavelmente pertencente a uma família natural do lugar homónimo, em Nóia.
    O arranjo entre o «eu» poético e a mulher é conhecido em diversos locais, como Morraz (ou Morrazo), uma península situada nas rias baixas galegas, entre Vigo e Pontevedra) e Salnês ou Salnés, na mesma zona, um topónimo cuja raiz é «sal», um produto aí produzido há bastante tempo. Isto significa que o assunto é público, conhecido por muita gente. O sujeito poético acrescenta que já passou mais de um mês e a mulher ainda não lhe restituiu os dezasseis soldos que ele lhe emprestou, continuando, portanto, a desrespeitar o acordo. O incumprimento ganha foros de maior escândalo, em virtude de a dona ter prometido devolver-lhe a quantia referida no terceiro dia após o empréstimo. O saldo da dívida seria consumado em casa de Dom Corral, o tal burguês referido no último verso da primeira estrofe, uma figura provavelmente prestigiada, cuja habitação seria o local que servia de cenário para a resolução de questões daquele género.
    Em suma, estamos perante uma composição satírica que denuncia uma mulher por causa de não pagar uma dívida contraída junto do sujeito poético, mesmo depois de várias promessas repetidas. A mulher é, portanto, alguém que não é confiável nem séria, pois não cumpre o seu compromisso. Por outro lado, tratar-se-á de uma figura que tem problemas financeiros, ou, em alternativa, que sobrevive graças ao dinheiro que obtém em razão de favores sexuais que presta.
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