Cláudio é o
atual rei da Dinamarca, casado com Gertrudes, anteriormente sua cunhada, após o
falecimento do sei primeiro marido, o rei Hamlet, tendo-se tornado, depois do
matrimónio, padrasto do jovem príncipe Hamlet, além de tio. No contexto da
peça, representa o antagonista, o vilão, do sobrinho.
Quando a
obra tem início, Cláudio tinha acabado de ascender ao trono, ocupando o posto que
pertencera ao seu falecido irmão, que morrera recentemente. Para grande
constrangimento do jovem Hamlet, ele também desposou a viúva do mano, sua mãe.
O aparecimento do fantasma do velho rei ao próprio filho, revelando que Cláudio
o assassinou para obter o trono e incitando-o a vingá-lo, faz disparar a
desconfiança e o ódio do sobrinho pelo tio e estabelece definitivamente o
antagonismo entre ambos.
Por outro
lado, Cláudio é um político calculista, ambicioso, lascivo e dominado pela
luxúria, mas, em simultâneo, astuto e inteligente, contrastando com a maioria
das outras personagens masculinas da peça. De facto, as demais figuras
preocupam-se com questões como a justiça, a moralidade ou a vingança, ao passo
que o rei tem como única preocupação a conservação do poder que alcançou por
meio do crime, tornando-se um assassino ao envenenar o irmão. De facto, movido
pela ambição e pela ganância desmedidas, o soberano visa unicamente manter o
que conquistou por todos os meios necessários, não importando o custo. Assim,
fica extremamente preocupado quando as suas suspeitas de que o sobrinho conhece
os seus crimes se conformam, após a encenação de uma peça de teatro que espelha
o modo como assassinou o irmão. A partir daí, o seu único objetivo passa por se
livrar de Hamlet. Primeiro, envia-o para Inglaterra, dando instruções a quem o
acompanha que o assassine. Como o plano não funciona, cria um duelo entre Laertes
e Hamlet, envenenando a espada do primeiro, de modo a que, quando atingir o
adversário, o fira mortalmente. Prevendo a possibilidade de o plano não se
concretizar como imagina, engendra uma alternativa: envenena vinho que pretende
oferecer a Hamlet, caso este derrote Laertes. Tudo isto permite caracterizá-lo
como um homem falso, maquiavélico, moralmente corrupto, não obstante no início
da obra se apresentar como alguém cordial, educado e preocupado com o sobrinho,
mas esta postura é forçada, é fingida. Gradualmente, à medida que a ação se vai
desenrolando, a sua verdadeira natureza revela-se como o algodão: frio,
implacável, calculista, egoísta, etc. Para atingir o seu desiderato, usa
habilmente a linguagem para manipular outras personagens, bem exemplificado
pelo diálogo, já no final da peça, que trava com Laertes. Curiosamente – ou não
–, Shakespeare compara o seu discurso a veneno a ser derramado nos ouvidos dos
seus interlocutores – o método que ele usou para se livrar do irmão.
A relação
matrimonial com Gertrudes parece ser sincera, mas, tendo em conta as
características já elencadas, é cabível que se tenha casado com a cunhada como
forma estratégica para o auxiliar a obter o trono da Dinamarca após a morte do
anterior monarca. O medo crescente que tem do sobrinho faz com que se preocupe
apenas consigo, daí, por exemplo, que, quando Gertrudes o informa de que o
filho assassinou Polónio, Cláudio não questiona se a esposa poderia ter corrido
perigo, mas apenas comenta que ele teria estado em perigo se estivesse na sala.
Na cena 2 do
quinto ato, insiste num terceiro método para liquidar Hamlet (o cálice de vinho
envenenado), além dos dois já estabelecidos: a espada afiada e o veneno na sua
lâmina, a acrescentar à tentativa falhada de o enviar para Inglaterra para o
matar. Os seus planos fracassam graças a um acidente – a troca das espadas por
parte de Hamlet e Laertes – tudo corre mal a partir daí: Gertrudes bebe
inadvertidamente o vinho envenenado e morre; Laertes e Hamlet morrem também,
mas antes o segundo fere o tio mortalmente e obriga-o a beber o resto do vinho
envenenado. Deste modo, é lícito concluir que Cláudio é derrubado pela sua
própria ambição, maquinação assassina e cobardia.