Português: Machado de Assis
Mostrar mensagens com a etiqueta Machado de Assis. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Machado de Assis. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Análise do conto «Missa do Galo», de Machado de Assis

     Este conto foi escrito cerca de dez anos depois de «Noite de Almirante» e «A Cartomante», daí que a técnica deescrita seja diferente. O discurso de Machado de Assis ganha maior perfeição.
    Este conto tem características específicas que resultam da quase inexistência de ação; relata apenas as impressões de um momento, sentidas pelo narrador, que é também personagem. Por isso,é homodiegético e autodiegético e tem uma relação mais estreita com a gistória do que nos contos anteriores.
    Aquilo que o narrador conta passou-se em 1861-62, numa noite de Natal, quando ele tinha 17 anos. Não nos é dado o tempo que medeia entre o facto acontecido e a sua narração. Mas em 1861, o «eu» personagem era um estudante vindo da província para continuar os seus estudos na grande cidade. Era ingénuo e sem qualquer experiência de vida. O «eu-narrador», pelo contrário, é mais maduro e experiente. É esta oposição que marca o conto e torna difícil para nós percebermos se estamos a ver as coisas pela visão dapersonagem ou do narrador. Fica-nos a dúvida de saber se esta visão é uma visão ingénua da personagem de 17 anos ou umavisão irónica do narrador. Isto resulta sobretudo da sobreposição de dois tempos ao mesmo narrador. A duplicidade nunca é resolvida e o conto oscila sempre entre a ingenuidade e a ironia. Muitas vezes, o lembrar-se do que se passou é do narrador, mas a forma como se lembra é da personagem de 17 anos.

    Linguagem

    Machado de Assis é muito influenciado pelo Impressionismo: nunca nos dá os contornos muito claros daquilo que escreve e da linguagem que usa.
    O Impressionismo, no seu início, tendia para um certo cientificismo e racionalismo. Depois é que se começou a tornar mais subjetivista.
    Assis, ao não dar os contornos nítidos do que narra, é fiel à sensação que tem das coisas. O próprio tempo surge-nos como impressão e, por isso, os factos e as personagens não nos aparecem muito nítidos, tal como a impressão não é clara.
    O Impressionismo tinha um objetivo realista e hoje estamos muito longe do que era esse Impressionismo nas suas origens, quando era uma técnica usada na literatura, pintura e escultura.
    Alguns aspetos que resultam desse Impressionismo são:
  • relação texto-tempo-narrador;
  • o foco / núcleo não está no objeto, mas na forma como o objeto é recebido (ex.: descrição de Conceição é feita a partir da forma como foi apreciada naquela noite);
  • relação objeto-sujeito;
  • caracterização do narrador.
    Estes são os elementos que concorrem para o Impressionismo no discurso de Machado de Assis.

    Tempo

    O tempo é uma categoria muito importante. Temos vários tipos de tempo:
  • tempo histórico: muito curto (cerca de 30 minutos);
  • tempo narrativo: ocupado pelo diálogo entre Conceição e o eu-personagem, que é o núcleo do conto. É muito alongado, porque é movido pela dimensão psicológica, pelo ritmo da vida interior das personagens.
    O final do conto é rápido e frio. O contraste é importante, porque corresponde ao objetivo do narrador: alongar a cena que, para ele, é mais importante e referir o resto apenas de passagem. O diálogo é também muito importante e leva-nos a tirar algumas conclusões sobre Conceição, que desaparecem no dia seguinte.

    Personagens

        => Nogueira: veio do interior para o Rio de Janeiro; é um provinciano ingénuo, o que podemos deduzir do seu comportamento e discurso. Era ainda muito jovem, pois ainda lia Dumas, e romântico, pois gostava de romances como Moreninha.
    A atitude para com Conceição é de respeito, mas o que principalmente o caracteriza é a sua forte sugestibilidade, ou seja, tem uma personalidade facilmente impressionável.
    Há uma constante dualidade entre o narrador e o eu-personagem e esta manifesta-se quando se levantam hipóteses em relação a Conceição. É difícil saber se são do narrador ou do eu-personagem. Estas hipóteses são geralmente seguidas de refutação.
    A ligação entre as atitudes de Conceição e o estado de Nogueira é fundamental no conto. Ele vai passar por uma evolução gradativa em relação a Conceição:
  • "Sendo magra, tinha um ar de visão romântica...";
  • "Assim, com o desalinho honesto que trazia, dava-me uma impressão singular.";
  • "... naquele momento, porém, a impressão que tive foi grande.";
  • "E não saía daquela posição que me enchia de gosto...";
  • "... em certa ocasião, ela, que era apenas simpática, ficou linda, ficou lindíssima.";
  • "Concordei... para sair da espécie de sono magnético, ou o que quer que era que me tolhia a língua e os sentidos".
    As atitudes de Conceição surgem como elemento que vai causar a modificação psicológica de Nogueira. Mas a personalidade desta figura acaba por se apagar perante Conceição.
    
        => Conceição: há um contraste entre uma situação e um comportamento inicial de Conceição e o seu comportamento naquela noite. Sofre uma total reviravolta.
    O seu aparecimento passa por algumas fases: rumor, passos e aparecimento. Dela são focados os comportamentos e atitudes que surpreendem, pelo hábito que Conceição tinha imposto. São também focados os elementos que intensificam a impressão que Nogueira tinha dela.
    O discurso dileto livre é um processo realista que Machado de Assis explorou ao máximo.
    No ambiente criado por ambos, o Impressionismo é fundamental. Só nos são dadas as impressões e daí da ideia de vazio que fica do diálogo de ambos. Ao momento de exaltação, segue-se um ambiente calmo, de "sono magnético", que é significativo.
    O que se passa na manhã seguinte mostra que o comportamento dele fora condicionado pelas atitudes dela. O final é contrastante, quer pelo tempo que ocupa, quer pela situação. O tempo psicológico que alongou a narrativa é encurtado no final.
    O próprio narrador não consegue explicar o que se passou naquela noite. São narrados de modo minucioso o diálogo e as impressões, mas as causas e as consequências nunca são explícitas.
    Em relação a Conceição, mostra-se que a sua passividade é diferente de incapacidade. Durante uma escassa meia hora, ela revelou a capacidade de sedução que uma mulher tem quando quer. Há, nesta personagem, o contraste entre um íntimo sedutor e insinuante e um exterior passivo.
    O conto pode resumir-se a isto: instante de intimidade entre duas pessoas, onde o comportamento novo de uma tem reflexos na atitude da outra.

        => Conclusões:

            1. Ironia e desconcerto: processos muito usados por Machado de Assis.

            2. Possibilidade de mutabilidade da pessoa humana (ex.: Genoveva).

            3. Sobreposição de personalidades.

            4. Insegurança moral e angústia que dela resultam (ex.: Cartomante, Camilo).

            5. Falsa sensação de perenidade em relação ao amor: o amor é tratado não na fase da
                 paixão, nem na fase calma, mas no meio termo. Para ele, a paixão é muito negativa.

            6. Gosto do que resta, da cinza. O próprio Impressionismo mostra o gosto por tudo o
                que fica: o amor passa, ficando apenas a angústia de quem foi magoado.

            7. Redução de valores: não há o jogo ou a exceção, mas aquilo que existe de facto. O
                diálogo, algo tão banal no conto "Missa do Galo", é bem aproveitado e nele se
                chega a encontrar uma certa singularidade. É a procura da valorização do que é 
                mínimo, que caracteriza Machado de Assis e o seu microrrealismo, que é precisa-
                mente o gosto pelo mínimo, pelo que está escondido. É a busca de essências no
                comum. Machado de Assis tirou o maior partido estético deste processo. O tempo psi-
                cológico, tão importante no conto, resulta precisamente da associação tempo-micro-
                realismo.

            8. Maleabilidade do tempo (tempo psicológico). As próprias reflexões sobre o tempo são
                o leit-motiv da sua obra; o tratamento do tempo influi de forma decisiva na estrutura
                dos seus contos.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Análise do conto «A Cartomante»

     Tema: traição / adultério, temas comuns em Machado de Assis e preferidos do Realismo.

    Espaço: Machado de Assis é um autor essencialmente urbano e a referência às ruas do Rio de Janeiro é importante, pela relação que se estabelece entre o espaço e as personagens:
        => Bota-Fogo, bairro rico onde habitam Vilela e Rita;
        => Largo da Carioca, onde ficam as repartições públicas;
        => Rua dos Barbonos, onde se davam os encontros de Camilo e Rita;
        => Outras ruas com altos índices de prostituição. As ruas e os ambientes ajudam a definir
              as personagens.

    Tempo: é uma categoria que tem grande importância. O tempo da narrativa apresenta-se em fragmentos.
    Quando o conto começa, estamos "numa sexta-feira de novembro de 1869", temos depois uma analepse rápida e a seguir retoma-se a história, que tem como centro o desfecho, importante pelo inesperado e pelo contraste que se estabelece, sobretudo em relação a Camilo: ao sair da casa da cartomante, ele vai confiante e esperançoso de que tudo acabará bem, mas o final é bem diferente e trágico:
            "Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror, ao fundo sobre o canapé,
            estava Rita morta e ensanguentada. Vilela pegou-o pela gola e, com dos tiros de
            revólver estoirou-o morto no chão."
    O tempo pode ser cronológico: sucessão de eventos, que é possível inserir num tempo real e datar; ou psicológico, tempo filtrado pela vivência subjetiva das personagens.O tempo psicológico acaba por alongar o tempo narrativo. De facto, o tempo da história será mais longo se for condicionado por um tempo psicológico, quando os eventos são filtrados pela subjetividade das personagens. O tempo do discurso pode estar sujeito a mecanismos de analepses ou prolepses, escolhidos pelo autor, de acordo com as suas intenções.

    Ação: esta é uma categoria fundamental nos contos de Machado de Assis. Neste conto, a ação é mínima e muito simples; resume-se a pequenos passos:
                    - encontros de Camilo e Rita;
                    - ida de Camilo à cartomante;
                    - morte de Rita e Camilo.

    Personagens:
        => Rita: caracterizada indiretamente ou diretamente, de foma sintética. A descrição física não e muito pormenorizada: "dama formosa e tonta"; "era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa" (caracterização direta sintética).
    A caracterização é dada pelos comentários do narrador ou através de factos e atitudes:
  • é supersticiosa e talvez não muito culta;
  • comparada a uma serpente que envolve e não deixa escapar a presa. Isto coloca-a numa situação ambígua e podemos perguntar se não será ela a culpada de tudo que perdeu Camilo.
        => Camilo: a sua caracterização é feita ao longo do conto, envolvido por uma longa ironia: é uma pessoa sem crenças, ingénua que se deixa envolver e acomodar e não acredita em nada. Todas as características são enunciadas com grande ironia e é este facto que o leva a seguir as pisadas de Rita, consultando também a cartomante. É o medo que o leva a isto e depois sente o sossego. Há uma contradição só possível no espírito fraco e ingénuo de Camilo.

        => Vilela: praticamente não é retratado, mas é da maior importância, pois é a sua ação que marca o final do conto. Resolve as coisas de modo prático e frio: mata os dois amantes.

        => Cartomante: é a personagem mais enigmática e nela está a maior ironia: Rita e Camilo não estavam sossegados em relação à sua ligação. Então, Rita resolve ir à cartomante e fica sossegada e segura. O mesmo se passa com Camilo, mas a sua segurança élogo confrontada com a morte de ambos. Tudo o que Machado de Assis pensa do amor está representado nesta mulher: oposição entre segurança e morte. Ela é a síntese da crençaque constitui a crítica do autor.

    Machado de Assis é muito cético em relação à religião e ao amor: o amor faz as pessoas perderem totalmente a razão. Assim se integram no Realismo. O seu realismo resulta ainda de:
  • uso de frases curtas e frias;
  • objetividade no uso do vocabulário;
  • linguagem filosófica e sentenciosa, sobretudo no campo amoroso;
  • linguagem também irónica: destrói todos os mitos do amor com a ironia, que se acentua no final do conto, marcado pelo inesperado e ironia, aspetos fundamentais em Machado de Assis.
    Há também crítica social à instituição das cartomantes, mas sobretudo crítica à segurança resultante da ida à cartomante. O objetivo mais eminente de Machado de Assis não parece ser a crítica, mas antes mostrar um sentimento pessoal perante as situações.

Análise do conto «Noite de Almirante»

     O discurso de Machado de Assis pauta-se pela ironia, pela coloquialidade na linguagem e, em relação ao enredo, há um clima de desconcerto. Este desconcerto vive de uma sucessão de contrastes. Deolindo e os colegas criam uma série de expectativas, que geram uma certa esperança, devido à jura de fidelidade. O clima de expectativa é aumentado pelo juramento.
    As expectativas criadas, o clima de segurança são radicalmente alterados. A primeira mudança revela-se com o anúncio que faz a velha Inácia, de que Genoveva tinha ido viver com José Diogo, logo todas as expectativas são goradas.
    Outro contraste apresenta-se no seguinte: quando recebe esta notícia, surge nele um desejo de vingança. Este desaba quando encontra Genoveva e ela o recebe, facto que cria de novo esperanças.
    O tema é a traição a um sentimento, a uma jura / um juramento, que aparece filtrada por um desconcerto. O tema da traição não é novo, mas torna-se invulgar pelos termos em que é abordado. Isto faz do conto um conto invulgar - aqui reside a sua especificidade.
    De que resulta o desencanto?
        = contraste
        = ironia
        = comentários do próprio narrador, que vêm do seu próprio estatuto.

    Qual o tipo de narrador?

    É difícil caracterizá-lo. Usa a primeira pessoa e participa do discurso, conhecendo a história. Mantém-se, no entanto, a um nível exterior, o que lhe confere uma certa objetividade perante aquilo que narra. Mas esta objetividade perde-se quando fala na primeira pessoa. Temos sempre dúvidas quanto ao tipo de narrador. Mas o tipo de narrador e o seu discurso são causas do desconcerto.
    A ironia é subtil, nomeadamente quanto ao comportamento de Genoveva: "Qualquer mestre de física lhe explicaria a queda das pedras." Ela não se apercebe de que está a provocar Deolindo. O seu comportamento é comparado às pedras.

    Estrutura do conto

    Grande parte do conto é ocupada com a criação de expectativas. De que modo se criam? Com o juramento, com os comentários dos colegas, com a esperança de Deolindo em relação à jura. Isto cria um clima de expectativas, que são ocupadas com uma analepse, que mostra como o relacionamento de Genoveva e Deolindo anteriormente era intenso. É de notar a distância que aparece entre convenções e atitudes e expectativas (agente: Deolindo) e quebras (agente: Genoveva).
    Há uma grande diferença entre Deolindo e Genoveva: um simboliza as convenções, outro as atitudes. O principal fator na criação de expectativas é o juramento, que dá uma certa dimensão em relação aos dois.
    A noção de juramento no contexto acaba por ser o núcleo do conto. Neste domínio, o juramento é o conjunto de convenções que se sobrepõem a sentimentos pré-existentes. Exige-se através do juramento algo que não existe.
    Será que se pode exigir o juramento de uma coisa como o amor? Existirá, em matéria afetiva, a exigência de cumprir algo?
    Esta questão provoca um certo clima de desconcerto entre uma pessoa que faz a jura e espera tudo (Deolindo) e outra que ignora totalmente (Genoveva). Há, pois, um desencontro de valores.
    O núcleo do conto é a validade do juramento num campo amoroso / afetivo.
    Machado de Assis é negativo em relação ao amor: não acredita em matéria afetiva, na relação amorosa entre duas pessoas.
    De certo modo, o conto acaba por ser uma alegoria. Recorre-se a convenções que, a todo o momento, são destituídas pela própria evolução e pela impossibilidade de exigências no campo afetivo. O conto representa uma história que tem como objetivo definir a inutilidade de recorrer a convenções num campo sujeito a modificações.
    Há, no conto, momentos determinados:
  1. Criação de expectativas, com as motivações de Deolindo.
  2. Quebra que começa com o diálogo de Deolindo com a velha Inácia. Daqui nasce o sentimento de vingança.
  3. No diálogo com Genoveva, há o reativar de esperanças que caem novamente por terra.
    Não há, em Machado de Assis, o amor-paixão: o que fica são cinzas, desilusão, indiferença, algo que não vale a nada.
    O conto vive quando há uma quebra de expectativas. O momento do conto em que há mais vivência é quando Deolindo recebe a notícia acerca de Genoveva por Inácia.

1.º momento:
    Deolindo surge confiante, facto que lhe confere uma caracterização positiva: na página 179, descreve-se Deolindo confiante; na página 185, Deolindo surge na praia cabisbaixo e triste.
    Há um contraste entre a imagem de Deolindo e Genoveva. Ela está inatingível: passa pelos acontecimentos e não os sente. Não há propriamente uma caracterização física, nem descrições, pois não são necessárias para a economia da história. A analepse é necessária à criação de expectativas. É o juramento que dá uma certa segurança e que justifica a atitude confiante de Deolindo.

2.º momento:
    Representa o primeiro desconcerto causado pela revelação da velha Inácia. Na sua descrição, há uma economia de meios. Inácia é importante, porque representa o bom senso (que Deolindo também partilha), a norma e a convenção.

3. º momento:
    Se o segundo momento representa o primeiro desconcerto, o 3.º é a totalidade do desconcerto. São as atitudes de Genoveva que funcionam como núcleo de desconcerto, opondo-se ao valor da convenção.
    Deolindo deixa a velha Inácia, que se sente culpada pela notícia que lhe deu. Apesar de tudo, o autor utiliza uma certa imagética romântica, com um objetivo irónico.
    Note-se a importância do acaso, que coloca Genoveva à janela no momento em que Deolindo passa e faz com que ela um dia acorde a gostar de outro. A calma e simplicidade de Genoveva desarmam Deolindo quando se encontram. Os comentários do narrador são objetivos. Há um crescer de esperança e emitir de raiva.

4.º momento:
    O último momento do conto corresponde ao crescer da esperança e ao diminuir da raiva. Mas cai novamente e o que fica é a desilusão. Isto advém da análise psicológica, característica fundamental de Machado de Assis. A análise psicológica é subtil, fundamental e não é explícita como na Senhora, de Alencar; é dada pelas atitudes e palavras das personagens. O desenvolvimento psicológico de Deolindo resulta da mistura do pensamento do narrador com os de Deolindo. Esta mistura é um processo inovador em Machado de Assis, constituindo o chamado discurso indireto livre (não se sabe quando são os pensamentos do narrador e da personagem). Este discurso está ao serviço da análise psicológica.
    A personagem que marca mais o desconcerto é Genoveva. A base de Deolindo é a convenção. A atitude frontal de Genoveva desarma Deolindo e o seu desejo de vingança.
    O narrador caracteriza Genoveva: pela simplicidade, pelo cinismo, insolência e pela leviandade. Estes são os seus predicados. É caracterizada de forma negativa. É realista em matéria de convenções e sentimentos; tem o valor verdadeiro das coisas: as coisas são o que são e não o que pensamos. Assume uma posição de descrédito em relação às convenções. Machado de Assis é um realista sobre as convenções.
    A única vitória que Deolindo tem é a sensação de ter dado um presente a Genoveva: os brincos. A outra verifica-se quando conta as suas histórias a Genoveva, que aos olhos da vizinha faz dele um pequeno herói. O seu último argumento é a chantagem emocional: matar-se. Pas perante a frontalidade de Genoveva nem isso tem efeito.

    Conclusões do conto:

    1. Inutilidade de convenções e palavras, perante um campo em que tudo é inconstante.

    2. Inocência de ambos: agem em coerência com o que sentem, com os valores que enformam a sua mentalidade. Deolindo acredita na convenção e espera que ela se cumpra. Genoveva não acredita na possibilidade de se exigir algo dessa convenção. Deolindo está mais próximo da convenção social, representada pelo juramento, pela mentira (final do conto). Genoveva representa a impossibilidade de obedecer a convenções. Ela não obedece a uma moral. Ela é amoral e não imoral, já que não reconhece a moral. Está perto da natureza, obedece a circunstâncias. Natureza opõe-se a convenção e não abdica dos seus sentimentos a favor das convenções.
    Uma característica de Machado de Assis em relação ao amor é a inutilidade de convenções e o tom cinza que fica.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...