Português: 06/08/24

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Análise da cena 4 do ato IV de Hamlet

    Esta cena recupera a personagem de Fortinbras, para o fazer contrastar com Hamlet, fornecendo a este um exemplo da vontade de ação que lhe escasseia. De facto, mostra-se espantado e impressionado com a obstinação com que o príncipe norueguês mobiliza um exército, correndo o risco de condenar centenas ou milhares de vidas e arriscando até a sua, para conquistar um pedaço de terra sem valor. Esta constatação faz com que Hamlet se sinta fraco e inútil, porém a mesma estimula-o a agir na sua busca de vingança contra Cláudio, encontrando inspiração, portanto, na figura contrastante de Fortinbras, um homem decidido, confiante e agressivo. Curiosamente, a sua situação presente parece a oposta da que lhe possibilitaria tal desiderato, visto que ele está prestes a partir para Inglaterra.
    Interiormente, Hamlet sempre pareceu relutar relativamente ao uso da violência, daí o constante adiamento da vingança, todavia a sociedade em que vive celebra os jovens ambiciosos e determinados como Fortinbras. Nada disto é novo ou surpreendente, pois são inúmeros os exemplos da História que celebram a ambição, o poder, o desejo de conquista. Assim sendo, a determinação do príncipe norueguês e a consciência de que a sua postura é amplamente celebrada constituem uma pressão extra para Hamlet, para vingar o assassinato do seu pai.
    À medida que a peça se vai desenrolando, o jovem príncipe ganha consciência da sua fraqueza e incapacidade de agir, e o solilóquio que finaliza esta cena mostra-o claramente, quando constata que todos os acontecimentos da sua vida enfatizam a sua indecisão e inação. Deste modo, não há grande distinção relativamente aos animais, pois a linha que os separa prende-se com o sentido de propósito e motivação. Por outro lado, Deus deu ao ser humano o uso da razão, que lhe permite viver de forma elevada.
    Estas reflexões são, obviamente, espoletadas pelo encontro com o emissário de Fortinbras, que reuniu vinte mil homens para conquistar a Polónia, um território sem valor, porém ele, que tem razões para agir (o pai assassinado e a mãe desrespeitada), nada fez, não obstante toda a sua ira e ressentimento. O seu único ato foi o assassinato de Polónio, um alvo fácil e não intencional.

Resumo da cena 4 do ato IV de Hamlet

    Fortinbras marcha à frente do seu exército a caminho da Polónia, perto de Elsinore. Chegado aí, envia um emissário ao castelo para transmitir os seus cumprimentos ao rei da Dinamarca e lhe pedir permissão para atravessar as suas terras, relembrando-lhe o acordo que permitia às suas tropas atravessar território dinamarquês. No caminho, o emissário encontra Hamlet, Rosencrantz e Guildenstern a caminho do navio com destino a Inglaterra. Questionado pelo príncipe, o capitão informa-o que estão a caminho da Polónia sob o comando de Fortinbras e acrescenta que o território que pretendem conquistar é insignificante e seu valor. Hamlet evidencia o seu espanto com a possibilidade de se travar uma guerra sangrenta por algo insignificante, de que se percam vidas humanas por questões fúteis ou triviais. O enviado despede-se de Hamlet e segue em direção a Elsinore.
    Num solilóquio, Hamlet reflete que, ao contrário de Fortinbras, ele tem muito a ganhar com a sua vingança sangrenta contra Cláudio e, não obstante, passa o tempo a adiar a sua execução. Dito de outra forma, ele falhou até ao momento na procura de vingança por o seu pai ter sido assassinado, enquanto Fortinbras, que perdeu igualmente o progenitor, está decidido à guerra por motivos de honra por causa de um pedaço de terra sem valor. A encerrar este solilóquio, compromete-se de novo com o ato de que o fantasma o incumbiu.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...