Português

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

A escola do século XIX em imagens – II


Albert Anker, Escola Rural (1894)
 

    Este quadro do pintor suíço Albert Anker pretende representar uma sala de aula de meados do século XIX. Ao contrário do que sucedia em épocas mais antigas, o espaço físico da aula é aqui mais organizado, embora o mobiliário e os materiais pedagógicos disponíveis sejam exíguos. Trata-se de uma escola em meio rural, frequentada por crianças de origem modesta, como se vê pela roupa e calçado que usam.

    A turma é numerosa – na área visível da sala contam-se, sem dificuldade, perto de 40 alunos – e heterogénea, incluindo rapazes e raparigas de diversas idades. Repare-se na separação de sexos e na desigualdade de acesso à educação, mesmo na Suíça, um dos países económica e socialmente mais evoluídos da Europa oitocentista: os rapazes, em muito maior número, ocupam as filas de carteiras ao centro; as raparigas sentam-se em bancos laterais, onde não dispõem sequer de uma superfície para pousar o caderno. Um misto de “sala em U” e “modelo do autocarro” que demonstra como, ao longo da história da Educação, estes conceitos, que se pretendem simplificadores e unificadores, assumiram e assumem diversas nuances…

Fonte: Escolapt

sábado, 13 de agosto de 2022

2022: Portugal arde a vapor

 

    O que se aprendeu com 2017? Nada!

    O que se fez para preparar o futuro? Nada!

    O que se fez a sério? Nada!

Os iletrados continuam a mostrar-se na imprensa


     A falta de preparação dos jornaleiros em Portugal continua a manifestar-se insistentemente. Qualquer pessoa frequenta um curso e sai de lá escritora, mesmo que desconheça as regras mais básicas da língua.
    No caso deste excerto, o que mais se destaca é o facto de o escriba não saber que, quando inserido numa oração subordinada substantiva completa, o pronome pessoal se coloca ANTES da forma verbal. Assim sendo, deveria ter escrito «que [...] se encontravam numa festa».
    Verdade seja dita, porém, que nada disto importa, não é, senhor ministro João Costa?

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

A escola do século XIX em imagens – I

    O primeiro quadro da série faz-nos recuar até ao século XVII e a uma sala de aula que eventualmente faria as delícias de alguns pedagogos pós-modernos. Mas também por aqui se percebe que as ideias destes pouco ou nada nos trazem de novo.


Jan Steen, A escola da vila (c. 1670)

    O ambiente na sala é caótico ou, numa leitura mais moderna e otimista do que aqui se observa, cada um aprende ao seu ritmo: uns estudam atentamente, outros põem a conversa em dia; este dorme, outros brincam, aquele lá ao fundo faz palhaçadas empoleirado em cima de uma mesa.

    Existem não um mas dois professores na sala, o que demonstra que o par pedagógico não é uma invenção contemporânea. A pedagogia não é diretiva: os professores não dão aula, esclarecem dúvidas aos alunos que querem aprender. Mas a divisão do trabalho deixa algo a desejar: enquanto a professora cumpre a sua tarefa, o seu parceiro entretém-se com alguma coisa que tem entre mãos…

    No século XVII, eram raras as escolas que não pertencessem a instituições religiosas. Haveria escolas laicas, geridas por particulares ou comunidades locais, mas a noção de escola pública era inexistente. A sala de aula era um espaço desorganizado, sem mobiliário específico, onde se misturavam crianças e jovens de diversas idades e níveis de conhecimento: dificilmente reconheceríamos nesta imagem os conceitos atuais de turma ou de sala de aula. Não havia qualquer controlo sobre a formação académica dos docentes, as matérias lecionadas ou as práticas pedagógicas usadas.
    Eram os filhos das classes trabalhadoras que frequentavam escolas como esta: antes de se afirmar a moda dos colégios internos de elite, alta nobreza e alta burguesia recorriam geralmente a aulas particulares para o ensino dos seus rebentos. Nada que surpreenda: também nos dias de hoje, os mais ativos propagandistas da escola do século XXI raramente a escolhem para a educação dos seus próprios filhos…
Fonte: escolapt

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Morreu Ana Luísa Amaral


1956 - 05.08.2022

 

Google anuncia alternativas mais baratas aos diplomas universitários

    Esta iniciativa da Google é só o início de um caminho de uma estrada que já vem sendo construída há muito. Começou a ser construída com Bolonha. A intenção de levar o maior número possível de pessoas para as universidades obrigou a baixar o nível dos conhecimentos, naturalmente. As universidades tornaram-se empresas, algumas internacionais, com o fito do lucro. Impuseram propinas obscenas que obrigam a contrair empréstimos que endividam os jovens para a vida. Com isso, afastaram todos os alunos que não têm dinheiro, ao contrário do que diziam ir fazer. Reduziram o número de professores de contrato permanente e contrataram tarefeiros, para os administradores poderem ter vidas de grande fausto - lucrar o máximo com o mínimo de custos. As universidades começaram a separar-se, não pela qualidade e mérito dos que lá entram, mas pela riqueza das suas famílias. Esse sistema aplicou-se em seguida às escolas: se as universidades já não podem ensinar certos conhecimentos porque os cursos têm menos anos e menos cadeiras, passa-se o conhecimento em falta para as escolas. Sobrecarrega-se o ensino básico e secundário. O sistema escolar começa a abrir brechas o que obriga a baixar-lhe o nível para que não seja um falhanço. Aposta-se nas soft skills: as emoções, os trabalhos de grupo, os consensos, o optimismo tóxico, a amizade, a inclusão em versão, não emancipadora, mas miserabilista. Os alunos já não querem seguir cursos de ciências que obrigam a trabalho metódico, esforço e desenvolvimento de skills, não-soft. Os políticos, coniventes com estas manobras mercantilistas, habituam-se a servir-se da ciência como garante das suas políticas: arranjam postos em universidades, encomendam teses de mestrado e doutoramento, contratam especialistas por amizade e não por mérito - no caso das energias e do ambiente, é mato. Na saúde, as farmacêuticas também. Descredibilizam o estudo universitário e o valor de um curso. Tal como os que estão nas empresas que controlam as universidades, não têm respeito nenhum pelo conhecimento: afinal, uns e outros estão nos cargos tendo estudado nas universidades dos pais, tios, amigos dos pais e tendo feito o percurso sempre amparados por cunhas e não por mérito e saíram-se muito bem na vida. São bajulados pelos jornalistas e pelos parasitas. Acham-se excecionais e acima dos outros em esperteza. E assim corre a vida. Entretanto, são cada vez menos os que são capazes, ou sequer querem, seguir um curso universitário. Se é das humanidades, esses indivíduos que gerem a política e as universidades há muito que os convenceram que são cursos sem sentido para os problemas do mundo e se são de ciências, os estudantes já não os valorizam porque dão trabalho, são caros, ganha-se mal para o investimento que se fez e na prática acreditam cada vez mais que a ciência é um conhecimento sem verdade por estar nas mãos de interesses políticos e económicos (o que não é mentira) , de maneira que a opinião do cientista não tem mais valor que a de outro qualquer. As universidades, entretanto, são locais de censura de ideias e proliferação de opiniões do google e, como se lê neste artigo, amanhã um diploma de uma universidade ou um diploma do Google valem exatamente o mesmo, só que o do Google é muito mais barato. Tudo isto -a decadência da universidade e com ela, a decadência pela busca do conhecimento- por causa da cegueira de uns e da ganância de outros. Portanto, temos que nos preparar para o fim do progresso científico-tecnológico como o conhecemos e para a ascensão da superstição e crendice como há séculos não se via e se pensava ter ultrapassado.

    Daqui a umas dezenas de anos voltamos à situação de ninguém ser capaz de ler os hieróglifos egípcios ou os textos gregos antigos ou construir matemática complexa ou outro conhecimento qualquer complexo.


    O seu programa de certificados poderia mudar o que os empregadores procuram nos futuros trabalhadores.

    Em 2019, o salário anual médio de um trabalhador a tempo inteiro com mais de 25 anos de idade era de cerca de 66.000 dólares, se tivessem uma licenciatura. Com apenas um diploma de liceu, desceu para cerca de $39.000. Mas esse aumento de salário não sai barato.

    Desde 1985, o preço de um diploma de licenciatura mais do que duplicou (ajustando-se à inflação) e em 2019, mais de 50% dos estudantes declararam ter contraído dívidas para financiar os seus estudos universitários, sendo o montante médio a norte de 35.000 dólares. Um em três com mais de 50.000 dólares de dívida.

    Pagar isto já é difícil para os licenciados, mas para os milhões de ex-alunos que desistem antes de obterem um diploma, é quase impossível.

    A Google anunciou recentemente planos para lançar um trio de programas de certificados alternativos aos diplomas universitários. Estes programas são inteiramente online, levam seis meses a concluir e são concebidos e ensinados por funcionários da Google.

    Os inscritos podem optar por formação para um trabalho como analista de dados, gestor de projecto, ou designer de experiência de utilizador. Todos os três postos são muito procurados, de acordo com a Google e as pessoas que os ocupam ganham um salário médio de pelo menos 66.000 dólares por ano.

 

Fonte: ipbeatrizja

Morreu Jô Soares


 1938-05/08/2022

domingo, 31 de julho de 2022

Jornalismo labrego

    A labreguice continua a fazer caminho por todo o lado, nomeadamente entre a classe jornalística. 

    Senhor jornaleiro, na construção que usou o pronome pessoal antecede a forma verbal: depois de se ter.

 

sexta-feira, 15 de julho de 2022

A descoberta da Pedra da Roseta

     A escrita hieroglífica morreu no Egipto no século IV d.C. e com o tempo perdeu-se o conhecimento de como ler hieróglifos, até que a Pedra de Roseta foi descoberta, a 15 de julho de 1799. Com a mesma mensagem tanto em hieróglifos como em grego, a Pedra de Roseta foi a chave para decifrar hieróglifos anteriormente não traduzidos. De repente, três mil anos de escrita indecifrável tornaram-se legível.

    Em 1798, Napoleão zarpou rumo ao Egito com cerca de quatro centenas de navios: queria expulsar os ingleses do Mediterrâneo oriental e bloquear o seu lucrativo comércio com a Índia. Mas também estava fascinado com o próprio Egito, que o seu ídolo, Alexandre, o Grande, tinha conquistado 2000 mil anos antes. Porém, desiludiu-se, pois o Egito já não era a joia que tinha sido para Alexandre. Era um remanso de água quente, seco e pobre. "Nas aldeias", disse Napoleão, "eles nem sequer têm ideia do que são tesouras". Ainda assim, viam, a partir dos seus espantosos monumentos antigos – pirâmides e obeliscos perfurando as nuvens – e da sua estranha, indecifrável e bela língua-figurada, chamada hieróglifos, que esta tinha sido em tempos uma civilização formidável. Napoleão levou consigo cerca de cento e sessenta savants-cientistas, como lhes chamavam: estudiosos, e artistas, com as suas bússolas, réguas, lápis e canetas – para descrever o que podiam deste antigo reino lendário.


Vivant Denon, por Robert Lefevre
(1809)

    Entre eles encontrava-se Dominique Vivant Denon, que pode ser considerado o primeiro egiptólogo, embora fosse mais um artista. Um homem do mundo que frequentava os salões das diversas cortes europeias, juntou-se a Napoleão, já passava dos 50 anos de idade, para inventariar e desenhar os monumentos faraónicos descritos até então de forma fantasiosa.

    "Ao longo da campanha, Denon, indiferente aos perigos, madrugava para explorar monumentos e desenhar. Desenhava a cavalo, enquanto descansava, enquanto comia, no meio de uma batalha... registava tudo. O desenho de Denon é escrupulosamente fiel ao seu modelo, sem deformações poéticas. Fez um registo completo do que viu. Estima-se que gastou umas 40.000 folhas durante a viagem.

    Hoje algumas delas são de valor inestimável, porque são o único vestígio que resta de monumentos destruídos após a fuga de Napoleão – um exemplo disso é o desenho da capela de Amenhotep III em Elefantina." (Denon) A obra pioneira de Denon será completada, com o trabalho de eruditos de outras áreas na monumental Description de l'Egypte (1809-1822).



Frontispício da 1.ª edição de
Description de l'Egypte

    Os 1000 desenhos de Denon estão na origem da Egiptomania que tomou conta dos europeus nos séculos XIX e XX.

    Napoleão nomeou-o Diretor-Geral dos Museus e ele criou o Museu – mais tarde chamado Museu do Louvre – com as obras arrebanhadas pelo Império no Egito, Itália, Países Baixos, Alemanha e Espanha.

    "Em 1799, uma equipa a trabalhar sob um oficial francês para reconstruir um forte perto da cidade portuária de Rosetta – agora conhecida como Rashid – descobriu uma pedra tão grande que não a podia mover. Pierre-François Bouchard, um dos savants de Napoleão, treinado como cientista e como soldado, mandou que a retirassem inteira. Assim que a limparam, ele percebeu imediatamente a sua importância.

    Quando, dois anos mais tarde, os franceses finalmente se renderam aos britânicos, estes roubaram os roubos dos franceses como despojos de guerra – incluindo a Pedra de Roseta, que foi para o Museu Britânico."


A Porta Denon, do Louvre
    Vários estudiosos tentaram decifrar os hieróglifos da Pedra, mas foi Jean-François Champollion quem o conseguiu. Champollion cresceu no sudoeste de França, o mais novo de sete. O seu pai era livreiro; a sua mão não sabia ler nem escrever. Ele tinha pouco dinheiro. Já ia na meia-idade, já tinha, mais ou menos, fundado a Egyptologia, mas não tinha dinheiro para ir ao Egito. Foi mais tarde, depois da fama. desde muito cedo, tinha mostrado um dom extraordinário para as línguas. Ainda na adolescência, aprendeu não só grego e latim, mas também hebraico, árabe, amárico, sânscrito, siríaco, persa e caldeu. Começou a aprender Coptic, a língua da Igreja Ortodoxa Egípcia, que se pensava (corretamente, como se veio a verificar) ser descendente do Antigo Egito." [Pedra de Roseta]

Champollion encontrou alguma correspondência entre as imagens hieroglíficas e a representação gráfica dos sons, semelhante, mas não igual, ao que chamamos de letras. No seu estudo da Pedra de Roseta, descobriu grupos de sinais dentro de anéis chamados cartuchos. Teorizou que este relevo tipográfico era digno dos nomes de reis e descobriu que correspondia aproximadamente à altura em que estes foram citados no texto grego. Os dois nomes de reis que lhe deram a chave foram os de Ptolomeu e Cleópatra.

    Afinal o que diz a Pedra de Roseta? Nada de excitante.

    "Diz-nos que a pedra deveria ser instalada num muro do templo em honra do governante Ptolomeu V Epifanes Eucharistos e o seu propósito cerimonial é, presumivelmente, responsável pelo seu tom. O texto foi inscrito em 196 a.C., para celebrar a coroação de Ptolomeu. (Ele tinha-se tornado faraó cerca de nove anos antes, mas, como na altura tinha apenas cinco anos, uma série de regentes tratou inicialmente dos assuntos de Estado). Começa com uma longa invocação do rei:

    «O senhor do sagrado uraeus-cobras cujo poder é grande, que assegurou o Egito e o fez prosperar, cujo coração é piedoso para com os deuses, aquele que prevalece sobre o seu inimigo, que enriqueceu a vida do seu povo, senhor de jubileus como Ptah-Tanen [o deus de Memphis], rei como Pre [o deus Sol], governante das províncias superiores e inferiores, o filho dos deuses que amam o seu pai, que Ptah escolheu e a quem o Sol deu a vitória, a imagem viva de Amon, o filho do Sol, Ptolomeu, que vive para sempre, amado de Ptah, o deus cuja beneficência é perfeita.»


Fonte: IP AZUL

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...