A
escrita hieroglífica morreu no Egipto no século IV d.C. e com o tempo perdeu-se
o conhecimento de como ler hieróglifos, até que a Pedra de Roseta foi
descoberta, a 15 de julho de 1799. Com a mesma mensagem tanto em hieróglifos
como em grego, a Pedra de Roseta foi a chave para decifrar hieróglifos
anteriormente não traduzidos. De repente, três mil anos de escrita indecifrável
tornaram-se legível.
Em 1798, Napoleão zarpou
rumo ao Egito com cerca de quatro centenas de navios: queria expulsar os
ingleses do Mediterrâneo oriental e bloquear o seu lucrativo comércio com a
Índia. Mas também estava fascinado com o próprio Egito, que o seu ídolo,
Alexandre, o Grande, tinha conquistado 2000 mil anos antes. Porém, desiludiu-se,
pois o Egito já não era a joia que tinha sido para Alexandre. Era um remanso de
água quente, seco e pobre. "Nas aldeias", disse Napoleão, "eles
nem sequer têm ideia do que são tesouras". Ainda assim, viam, a
partir dos seus espantosos monumentos antigos – pirâmides e obeliscos
perfurando as nuvens – e da sua estranha, indecifrável e bela língua-figurada,
chamada hieróglifos, que esta tinha sido em tempos uma civilização formidável. Napoleão levou consigo cerca
de cento e sessenta savants-cientistas, como lhes chamavam: estudiosos,
e artistas, com as suas bússolas, réguas, lápis e canetas – para descrever o
que podiam deste antigo reino lendário.
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Vivant Denon, por Robert Lefevre (1809) |
Entre eles encontrava-se
Dominique Vivant Denon, que pode ser considerado o primeiro egiptólogo, embora
fosse mais um artista. Um homem do mundo que frequentava os salões das diversas
cortes europeias, juntou-se a Napoleão, já passava dos 50 anos de idade, para
inventariar e desenhar os monumentos faraónicos descritos até então de forma
fantasiosa.
"Ao longo da
campanha, Denon, indiferente aos perigos, madrugava para explorar monumentos e
desenhar. Desenhava a cavalo, enquanto descansava, enquanto comia, no meio de
uma batalha... registava tudo. O desenho de Denon é escrupulosamente fiel ao
seu modelo, sem deformações poéticas. Fez um registo completo do que viu.
Estima-se que gastou umas 40.000 folhas durante a viagem.
Hoje algumas delas são de
valor inestimável, porque são o único vestígio que resta de monumentos
destruídos após a fuga de Napoleão – um exemplo disso é o desenho da capela de
Amenhotep III em Elefantina." (Denon) A obra pioneira de Denon será
completada, com o trabalho de eruditos de outras áreas na monumental Description
de l'Egypte (1809-1822).
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Frontispício da 1.ª edição de Description de l'Egypte |
Os 1000 desenhos de Denon estão na origem da Egiptomania que tomou conta dos europeus nos séculos XIX e XX.
Napoleão nomeou-o Diretor-Geral
dos Museus e ele criou o Museu – mais tarde chamado Museu do Louvre –
com as obras arrebanhadas pelo Império no Egito, Itália, Países Baixos,
Alemanha e Espanha.
"Em 1799, uma equipa
a trabalhar sob um oficial francês para reconstruir um forte perto da cidade
portuária de Rosetta – agora conhecida como Rashid – descobriu uma pedra tão
grande que não a podia mover. Pierre-François Bouchard, um dos savants
de Napoleão, treinado como cientista e como soldado, mandou que a retirassem
inteira. Assim que a limparam, ele percebeu imediatamente a sua importância.
Quando, dois anos mais
tarde, os franceses finalmente se renderam aos britânicos, estes roubaram os
roubos dos franceses como despojos de guerra – incluindo a Pedra de Roseta, que
foi para o Museu Britânico."
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A Porta Denon, do Louvre |
Vários estudiosos tentaram decifrar os hieróglifos da Pedra, mas foi Jean-François Champollion quem o conseguiu. Champollion cresceu no sudoeste de França, o mais novo de sete. O seu pai era livreiro; a sua mão não sabia ler nem escrever. Ele tinha pouco dinheiro. Já ia na meia-idade, já tinha, mais ou menos, fundado a Egyptologia, mas não tinha dinheiro para ir ao Egito. Foi mais tarde, depois da fama. desde muito cedo, tinha mostrado um dom extraordinário para as línguas. Ainda na adolescência, aprendeu não só grego e latim, mas também hebraico, árabe, amárico, sânscrito, siríaco, persa e caldeu. Começou a aprender Coptic, a língua da Igreja Ortodoxa Egípcia, que se pensava (corretamente, como se veio a verificar) ser descendente do Antigo Egito." [Pedra de Roseta]Champollion encontrou alguma
correspondência entre as imagens hieroglíficas e a representação gráfica dos
sons, semelhante, mas não igual, ao que chamamos de letras. No seu estudo da
Pedra de Roseta, descobriu grupos de sinais dentro de anéis chamados cartuchos.
Teorizou que este relevo tipográfico era digno dos nomes de reis e descobriu
que correspondia aproximadamente à altura em que estes foram citados no texto
grego. Os dois nomes de reis que lhe deram a chave foram os de Ptolomeu e
Cleópatra.
Afinal o que diz a Pedra
de Roseta? Nada de excitante.
"Diz-nos que a pedra
deveria ser instalada num muro do templo em honra do governante Ptolomeu V
Epifanes Eucharistos e o seu propósito cerimonial é, presumivelmente,
responsável pelo seu tom. O texto foi inscrito em 196 a.C., para celebrar a
coroação de Ptolomeu. (Ele tinha-se tornado faraó cerca de nove anos antes,
mas, como na altura tinha apenas cinco anos, uma série de regentes tratou
inicialmente dos assuntos de Estado). Começa com uma longa invocação do rei:
«O senhor do sagrado
uraeus-cobras cujo poder é grande, que assegurou o Egito e o fez prosperar,
cujo coração é piedoso para com os deuses, aquele que prevalece sobre o seu
inimigo, que enriqueceu a vida do seu povo, senhor de jubileus como Ptah-Tanen
[o deus de Memphis], rei como Pre [o deus Sol], governante das províncias
superiores e inferiores, o filho dos deuses que amam o seu pai, que Ptah
escolheu e a quem o Sol deu a vitória, a imagem viva de Amon, o filho do Sol,
Ptolomeu, que vive para sempre, amado de Ptah, o deus cuja beneficência é
perfeita.»
Fonte: IP AZUL