Português

domingo, 1 de maio de 2011

Símbolos

1. Símbolos religiosos

          1.1. Gomes Freire - > Cristo:
  • o general morre às mãos de um poder opressivo que se sente ameaçado, de um poder militar estrangeiro (Beresford - > Pôncio Pilatos) e de um poder religioso reaccionário (principal Sousa - > fariseus);
  • ambos são sujeitos a um julgamento fictício e condenados por razões de Estado;
  • ambos sofrem uma morte indigna: Cristo é crucificado, castigo próprio dos ladrões; Gomes Freire é enforcado (a morte adequada a um militar era um fuzilamento) e não tem direito a uma sepultura (o corpo é queimado e os restos atirados ao mar - p. 135).

          1.2. Principal Sousa - > Judas:
  • "... vende Cristo todos os dias, a todas as horas, para o conservar num poder que ele nunca quis..." (p. 123);
  • Matilde acusa-o de ser pior do que Judas, porque nem sequer se arrepende: "Judas, que traiu Cristo uma vez, acabou enforcado numa figueira, mas Vossa Reverência, que O trai todos os dias, vai acabar entre os seus com todas as honras que neste Reino se concedem a hipócritas e se negam aos justos..." (pp. 128-129);
  • o gesto de desprezo de Matilde (atira-lhe a moeda aos pés) simboliza o pagamento da traição, ou seja, os 30 dinheiros que Judas recebeu por denunciar Cristo.

          1.3. A prisão de Gomes Freire com mais doze homens:
  • este número - 13 (= 1 + 12) - simboliza as figuras de Jesus Cristo (isto é, Gomes Freire) e os 12 apóstolos, excluindo Judas (p. 112);
  • o número 12 representa o ciclo completo (por exemplo, os doze meses do ano);
  • o número 13, que se segue ao 12 (La Palisse dixit), representa a ideia de renovação, isto é, completo um ciclo, tudo se renova e um novo ciclo se iniciará. No fundo, estamos perante a esperança de que os treze prisioneiros, a sua prisão e condenação, sirvam como ponto de partida para uma mudança na situação vivida em Portugal.


2. Símbolos cromáticos

          2.1. Verde:
  • associado à saia de Matilde, oferta de Gomes Freire, representa o amor e a afectividade entre ambos;
  • tratando-se de uma saia que ela nunca usou, pode querer dizer que o amor de ambos, até ao momento, ainda não foi posto à prova;
  • simboliza ainda a esperança: primeiro, de Matilde, que espera que o companheiro seja libertado; posteriormente, de que a morte do General seja a semente da revolta e da libertação, de um dia se reponha a justiça.

          2.2. Vermelho:
  • é o símbolo do princípio fundamental da vida, mas sendo, paralelamente, a cor do sangue e do fogo, representa a vida e a morte. Representa ainda o sagrado e o secreto, daí que principal Sousa se vista de vermelho. Sendo a cor do fogo, partilha com o sol a capacidade de dar vida e destruir.

          2.3. Preto:
  • é a cor do desespero e do luto antecipado de Matilde pela morte do general (ela aparece em palco vestida de negro;
  • já o luto de Sousa Falcão é por si mesmo, não pelo general, pois não foi capaz de manter as suas convicções e morre, juntamente com Gomes Freire, em defesa das mesmas ("É por mim que estou de luto, Matilde! Por mim..." - pág. 137).


3. Outros símbolos

          3.1. Tambores

          Os tambores simbolizam a opressão / a repressão. Provocam medo nos populares que, mal ouvem o seu som, se põem em fuga (pp. 18 e 139). Afinal, eles são o «símbolo de uma autoridade sempre presente e sempre pronta a interferir".


          3.2. As três cadeiras (dos governadores)

          Na página 47, os três governadores surgem em cena sentados em «três cadeiras pesadas e ricas com aparência de tronos», as quais simbolizam:
                    - riqueza, poder e autoridade;
                    - as três faces do Poder:
                              . D. Miguel → o poder civil;
                              . Principal Sousa → o poder religioso;
                              . Beresford → o poder militar.


          3.3. Saia verde de Matilde:
  • associa-se, pela cor, à renovação anual da Natureza e à cor da esperança (conferir simbolismo da cor verde);
  • associa-se, por outro lado, a momentos de felicidade e amor vividos pelo casal (a saia foi comprada pelo General em Paris, uma terra de liberdade, no Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas); 
  • representa a esperança do reencontro depois da morte ou a crença em que aquele amor é imortal;
  • simboliza a regeneração e o renascimento: "Matilde - Foi para o receber que eu vesti a minha saia verde!" (p. 137);
  • simboliza o despertar da vida (p. 114);
  • simboliza, no fundo, a própria VIDA: "Matilde - Olha, meu amor, vesti a saia verde que me compraste em Paris!" (p. 138);
  • é, em suma, o símbolo do amor verdadeiro e transformador, dado que Matilde, após vencer os momentos iniciais de dor, desespero e revolta, que se seguem à prisão do General, comunica aos outros a esperança através da saia verde, que constitui uma espécie de aliança matrimonial.

          3.4. Moeda de cinco réis: é o símbolo do desrespeito com que os poderosos tratavam o seu semelhante, o que contraia os mandamentos de Deus, tornando-se mais grave, por motivos óbvios, no caso do principal Sousa.
          De acordo com José de Oliveira Barata (in História do Teatro Português), «A moeda de cinco réis que Matilde pede a Rita assume, assim, um valor simbólico, teatralmente simbólico. Assinala o reencontro de personagens em busca da História, por um lado, e, por outro, é penhor de honra que Matilde, emblematicamente, usará ao peito, como "uma medalha".»


          3.5. Lua:
  • simboliza a noite, a infelicidade, o mal, o sofrimento, a morte e o castigo;
  • para Manuel, representa uma esperança de uma claridade que teima em fugir-lhe (p. 78);
  • para D. Miguel, o luar é um adjuvante, pois permite ver as fogueiras em que ardem os condenados, ou seja, permite visualizar o horror e instalar o medo entre os populares que assistem à execução;
  • representa o tempo que passa e a passagem da vida à morte e da morte à vida (todos os meses, a lua «morre» três dias). É esta noção de renascimento que Matilde encontra na lua: ela permite ver o fim de um ciclo, o fim da noite, o fim das trevas. O seu homem está a morrer, mas essa morte é somente a passagem para um outro estádio da existência (p. 140).

          3.6. Noite: associada ao mal, ao castigo, à morte, ela simboliza o obscurantismo.


          3.7. Luz:
  • está ligada à fogueira e ao fogo, elemento destruidor e purificador, bem como ao luar e à noite;
  • constitui a metáfora do conhecimento que permite o progresso, o futuro, logo a neutralização da noite, entendida como símbolo da falta de liberdade, do poder absoluto e opressivo, da injustiça, da ausência de esclarecimento;
  • assim sendo, a luz remete para os valores do futuro: a LIBERDADE, a IGUALDADE, a JUSTIÇA e a FRATERNIDADE;
  • a luz da fogueira se, por um lado, destrói o corpo de Gomes Freire, por outro, permite que o seu exemplo de coragem, de determinação, de liberdade seja visto por todos que assistem à execução, permitindo que o Bem acabe por triunfar.

          3.8. Fogueira:
  • simboliza a purificação, a morte da velha ordem, um novo mundo;
  • por outro lado, na boca do Antigo Soldado e de Manuel, simboliza a opressão e o terror (pp. 80, 109), ideia comungada por D. Miguel Forjaz: "Lisboa há-de cheirar toda a noite a carne assada, Excelência, e o cheiro há-de-lhes ficar na memória durante anos... Sempre que pensarem em discutir as nossas ordens, lembrar-se-ão do cheiro..." (p. 131);
  • para Matilde, a fogueira possibilitará a tomada de consciência da repressão e transformar-se-á em fonte de revolta e mudança. Assim, Gomes Freire, qual fénix, renascerá das cinzas e será uma lição para o mundo.

          3.9. Título:

          Sendo o título da peça uma frase exclamativa, remete para a possibilidade de ter sido pronunciada por alguém. De facto, Felizmente há Luar! é uma expressão que faz parte de um documento escrito por D. Miguel Forjaz e enviado ao intendente da polícia no dia da execução do general Gomes Freire de Andrade, conforme consta de um texto do escritor Raul Brandão. Na peça de Sttau Monteiro, ela é proferida por duas personagens e com sentidos opostos.

          A primeira personagem a pronunciá-la é D. Miguel (p. 131) e pretende funcionar como um aviso a todos aqueles que ousem desafiar a ordem estabelecida, portanto como um elemento amedrontador e aterrorizador. Dito de outra forma, para D. Miguel, o luar permitirá que o clarão da fogueira e a execução sejam vistos por todos, atemorizando aqueles que ousem lutar pela liberdade. Tem, assim, um efeito dissuasor.
          A outra personagem é Matilde, a fechar a peça. Neste caso, a frase traduz a esperança que o povo continue a lutar contra a tirania e a injustiça, a partir do exemplo de crueldade, praticado pelos governadores, e, em simultâneo, de ousadia e coragem (do general) a que está a assistir. Neste sentido, estamos perante um estímulo para que o povo se revolte.

sábado, 30 de abril de 2011

Espaço psicológico

          O espaço psicológico compreende, essencialmente, os sentimentos que as personagens nutrem entre si.

1. Populares:
  • admiração pelo General, em quem depositam todas as esperanças numa alteração da situação de opressão e de miséria;
  • tolhidos pelo temor dos governadores.

2. Manuel:
  • infelicidade, pela sua impotência, patente no início dos dois actos, isto é, por nada poder fazer para mudar o rumo dos acontecimentos;
  • grande ternura e carinho pelos pobres e pedintes;
  • antipatia e desprezo pelos polícias e por todos aqueles que estão do lado da injustiça e do poder;
  • grande amor e carinho por Matilde;
  • enorme admiração pelo General Gomes Freire de Andrade.

3. Rita:
  • enorme carinho e amor por Manuel, seu marido;
  • grande ternura e solidariedade por Matilde, ao constatar o seu sofrimento pela prisão do General.

4. Antigo Soldado: grande admiração e simpatia por Gomes Freire, que vê como um herói.


5. Vicente:
  • desprezo pelos seus semelhantes (povo) quando se torna chefe de polícia;
  • inveja e sentido de injustiça relativamente aos fidalgos por lhe estar vedado o acesso ao tipo de vida que estes possuem, só porque nasceu pobre.

6. Dois Polícias:
  • antipáticos e rigorosos para com o povo;
  • respeitadores e obedientes aos governadores.

7. D. Miguel Forjaz:
  • profundo ódio por Gomes Freire;
  • dedicação ao rei;
  • misto de respeito e medo relativamente a Beresford.

8. Beresford:
  • sentimento de superioridade relativamente aos outros governadores;
  • ausência de consideração pela vida humana;
  • sistematicamente trocista e irónico relativamente a principal Sousa e a Matilde, quando esta lhe implora a libertação do marido.

9. Principal Sousa:
  • ódio aos franceses, acusando-os de provocarem a revolta entre o povo;
  • sentimento de inferioridade relativamente a Beresford;
  • ódio a Gomes Freire.

10. Andrade Corvo e Morais Sarmento: medo indescritível dos governadores.


11. Frei Diogo de Melo:
  • forte admiração pelo general;
  • crítico dos governadores, nomeadamente principal Sousa.

12. António Sousa Falcão:
  • dedica grande amizade a Matilde e ao General, pela coragem que manifestam;
  • ódio a D. Miguel por este não receber Matilde;
  • desprezo pela sua pessoa (final da peça), ao constatar que não possui a mesma coragem e determinação que o General e por não estar a seu lado na prisão;
  • tristeza por se sentir impotente para alterar o rumo dos acontecimentos.

13. Matilde de Melo:
  • amor e felicidade, ao recordar a intimidade do seu lar, na companhia de Gomes Freire;
  • desânimo e frustração perante a passividade do povo;
  • desprezo pelos governadores;
  • desespero ao constatar que é impossível salvar o General.

14. Gomes Freire de Andrade:
  • objecto da admiração e da esperança do povo;
  • odiado pelos governadores, que desejam ver-se livres de si.

Brecht sobre os políticos

          Bertolt Brecht (1898-1956), um dos autores que influenciou a escrita de Felizmente há Luar!, disse um dia o seguinte sobre o analfabetismo e os políticos:

          "Não há pior analfabeto que o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. O analfabeto político é tão burro que se orgulha de o ser e, de peito feito, diz que detesta a política. Não sabe, o imbecil, que da sua ignorância política é que nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, desonesto, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Toada Coimbrã: "E Alegre se fez Triste"


          Vídeo da Toada Coimbrã do presente mês de Abril, na Serenata Monumental de Viseu 2011, interpretando o célebre poema de Manuel Alegre.

          Continua a ser impressionante o barulho geral que quase abafa a voz de Rui Lucas e o som das violas e guitarra, uma tendência que se tem vindo a acentuar nos últimos (largos) anos, mesmo em Coimbra, a sede da tradição académica por excelência, embora o sentimento seja completamente diferente da maioria das academias lusitanas.

Desafio matemático

          Coloque os três meninos de modo a que configurem um número de três algarismos divisível por 7.
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