Scarlatti vem para Portugal depois de ser contratado por D. João V para ensinar música à sua filha. Não obstante, acaba por se tornar uma figura incómoda para o rei em virtude do seu espírito livre e do poder libertador e subversivo da sua música.
Embora não esteja directamente envolvido no projecto da passarola, nele participa a convite do padre Bartolomeu, assumindo-se como uma espécie de cúmplice silencioso. De facto, o músico é o quarto elemento que se vem juntar ao trio Bartolomeu, Baltasar e Blimunda e dos seus esforços conjugados nasce o projecto da passarola: à força física de Baltasar, à magia de Blimunda. traduzida na capacidade de recolher vontades, à ciência do padre, vem unir-se a arte do italiano ("Senhor Scarlatti, quando o enfadar o paço, lembre-se deste lugar. Lembrarei, por certo, e se com isso não perturbar o trabalho de Baltasar e Blimunda, trarei para cá um cravo e tocarei para eles e para a passarola, talvez a minha música possa conciliar-se dentro das esferas com esse misterioso elemento..." - pp. 170-171). O narrador mostra, desta forma, que a ciência e a arte são reveladoras de um espírito de inovação, de tolerância e de abertura ao progresso e à modernidade.
Assim sendo, tratando-se do quarto elemento, Scarlatti associa-se ao simbolismo do número 4, o número da terra, dos pontos cardeais, das fases da lua, das estações do ano, das etapas da vida humana, representando, portanto, a plenitude, a totalidade. Com efeito, estas quatro personagens remetem para a ideia de deificação do Homem, uma vez que são capazes de se libertar da materialidade.
Por outro lado, a sua música assume grande importância em determinados passos do romance. De facto, ela inspira os construtores da passarola e cura Blimunda da sua estranha doença, causada pela exaustão na recolha das duas mil vontades. Assim, a música que sai do cravo de Scarlatti simboliza o ultrapassar, por parte do ser humano, da materialidade excessiva e o atingir da plenitude da vida. Não se infira daqui, contudo, a constituição de um «quarteto» no que concerne ao projecto da passarola, que o italiano não segue até ao seu desenlace, visto que apenas assiste à sua partida. Após a partida, o seu cravo repousa, escondido, no fundo de um poço (p. 198), enquanto a passarola permanecerá, longo tempo, escondida na serra de Monte Junto.
Por fim, Scarlatti é também o mensageiro da má nova, porque é ele que informa Baltasar e Blimunda da morte do padre Bartolomeu de Gusmão.
Nas palavras de Adelina Moura, «Scarlatti personifica a arte (pp. 162-163) que, aliada ao sonho, permite a cura de Blimunda (pp. 186-187) e possibilita a conclusão e o voo da passarola (p. 173)».
Por outro lado, a sua música assume grande importância em determinados passos do romance. De facto, ela inspira os construtores da passarola e cura Blimunda da sua estranha doença, causada pela exaustão na recolha das duas mil vontades. Assim, a música que sai do cravo de Scarlatti simboliza o ultrapassar, por parte do ser humano, da materialidade excessiva e o atingir da plenitude da vida. Não se infira daqui, contudo, a constituição de um «quarteto» no que concerne ao projecto da passarola, que o italiano não segue até ao seu desenlace, visto que apenas assiste à sua partida. Após a partida, o seu cravo repousa, escondido, no fundo de um poço (p. 198), enquanto a passarola permanecerá, longo tempo, escondida na serra de Monte Junto.
Por fim, Scarlatti é também o mensageiro da má nova, porque é ele que informa Baltasar e Blimunda da morte do padre Bartolomeu de Gusmão.
Nas palavras de Adelina Moura, «Scarlatti personifica a arte (pp. 162-163) que, aliada ao sonho, permite a cura de Blimunda (pp. 186-187) e possibilita a conclusão e o voo da passarola (p. 173)».