Português

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O meu «liceu»

          Esta citação encontrava-se numa das entradas do velhinho liceu:


          Como Camões está desactualizado. Assim pensam os pedagogos modernos e os homens e mulheres que dirigem a Educação em Portugal.
          Depois espantam-se quando confrontados com resultados de exames ou índices de retenção de alunos. Alguém deveria relembrar-lhes a metáfora / imagem da escada  e dos degraus.

domingo, 14 de agosto de 2011

Pérolas (X) - «A» pérola

          A pérola das pérolas (o tema do texto de reflexão era O papel do sonho na vida do ser humano):
         «(...) também foi com o sonho que inventaram o primeiro ministro e essas coisas (...)»
          Só faltou acrescentar que há sonhos que se transformam em pesadelos...

sábado, 13 de agosto de 2011

Pérolas (IX)

          O tema do texto de reflexão era O papel do sonho na vida do ser humano. As divagações foram de monta...
          a) «(...) um sonho é um sonho (...)»;
          b) «Nascemos todos diferentes com ideias opostas, diferentes pontos de vista, diferentes profissões (...).»;
          c) «Nem sempre se consegue obter o que tanto queremos e esperamos, mas se sonhar-mos (...) o sonho pode não se tornar tão real como se quer, mas a mente fica mais calma.» 

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Pérolas (VIII)

          Como é que os navegadores portugueses se tornaram dignos de serem recebidos na «Ilha dos Amores»?
          Hipótese a): «No excerto transcrito de Os Lusíadas diz o seguinte: "Por obras valerosas que fazia" como por exemplo os tecidos, o vinho do porto, os enormes castelos, o convento de mafra...».
          Hipótese b): «(...) os nautas se sentiam como grandes senhores pois tinham tudo o que o homem sonha ter, como mulheres bonitas e outras coisas importantes.» 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Pérolas (VII)

          A pergunta pedia ao aluno que indicasse o valor de uma determinada oração relativa, no caso valor restritivo.
a) «A oração subordinada adjectiva relativa dá uma grande importância ao Oceano Atlântico e às praias Portuguesas.»
b) «O valor da oração relativa é de causa.»
c) «Elogia o Atlântico, por todas as memórias que possui.» 

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Pérolas (VI)

          Novas funções sintácticas, não previstas na TLEBS:
a) «A função sintáctica é "não"».
b) «A função sintáctica desempenhada pelo pronome pessoal é: "mas"».
c) «Pronome faz uma navegação ao descobrirem.»
d) «A função sintáctica desempenhada pelo pronome pessoal, é o esclarecimento de que não descobriram o Prestes João, pois partiram em busca dele.»
          Note-se que a resposta correcta era sujeito.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Repete-se o fado (dos maus resultados)?

          São afixadas, hoje, as pautas dos exames da 2.ª fase.


"Fado", Heróis do Mar (1986)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Pérolas (V)

          Assim se destrói o sonho de muitos alunos:
          «Luís de Camões refere-se aos Lusíadas.
            Porque ele diz para proteger os Lusíadas que tinha escrito para ninguém acabar com eles.»

domingo, 7 de agosto de 2011

Pérolas (IV)


          As vantagens insondáveis da leitura:
          «Ler é muito bom, faz bem ao nosso cérbero...» (NOTA: Cérbero é o cão mitológico que guarda a entrada do reino dos Infernos.)

sábado, 6 de agosto de 2011

Pérolas (III)

          A voz dos verbos: activa, passiva e... não activa.
          «Pretérito imperfeito do indicativo e tem voz não activa.»

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Pérolas (II)

          Intertextualidade entre Camões e o padre Vieira???
          «O narrador desta estrofe é Vasco da Gama, a gente marítima de quem ele fala são os peixes...» (NOTA: a gente marítima eram os marinheiros portugueses)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Pérolas (I)

          Eis algumas definições novas das oitavas de Os Lusíadas:
          «As oitavas são as primeiras 8 senas dos Lusiadas e as outras partes estam em casa de  Luis de Camões.»
          «No meu entender a expressão "oitavas" quer indicar a oito cópias da sua obra...» 

domingo, 24 de julho de 2011

Ainda a prova da 1.ª fase


          A professora Teresa Rita Lopes, desafiada a comentar a prova de exame de Português da 1.ª fase, fê-lo (aqui) nos termos seguintes:

          «Pediram-me a minha opinião sobre a “Prova Escrita de Português”, a que os alunos do 12.º ano de escolaridade foram recentemente submetidos. Hesitei em pronunciar-me publicamente, mas a minha antiga costela de militante (sem Partido) obrigou-me a aceitar fazê-lo, perante a constatação de que os resultados obtidos foram catastróficos: alunos que tinham tido altas classificações durante o ano lectivo saíram do exame com negativa. O pior é que isso, para muitos deles, representa a impossibilidade de se habilitarem a entrar nos cursos para que se sentem vocacionados por ficarem, com essa nota a Português, com uma classificação inferior à requerida para o seu acesso. E isso é grave, porque está em jogo o futuro desses jovens. Por isso, arregacei as mangas e pus-me a analisar (como aliás sempre gostei de fazer com os meus alunos e espero que os professores o façam com os seus) o poema de Álvaro de Campos que lhes coube em sorte: um do penúltimo ano de vida, de 16.6.1934, que começa “Na casa defronte de mim e dos meus sonhos”.
          A escolha do poema foi infeliz: o seu bom entendimento implicaria um conhecimento aprofundado da poesia de Campos que não pode ser exigido a alunos deste nível. Além do mais, as perguntas não estão bem formuladas nem são as que conduziriam ao entendimento do poema que se quer averiguar se o aluno teve (e que duvido os próprios examinadores tenham tido, perante tais perguntas e os “cenários de resposta” que apresentaram).
          A primeira pergunta, sobre “as duas sensações representadas nas quatro primeiras estrofes”, distrai da verdadeira compreensão do poema, que é, do princípio ao fim, a taquigrafia de um monólogo a que Campos se entrega, como em muitos dos seus outros poemas. Através dele, vamos assistindo à marcha do pensamento do Poeta e ao desfilar dos sentimentos que desencadeia. Porque é de sentir sentimentos e não “sensações” que o poema essencialmente trata. Quer o examinador, nesta primeira pergunta, que o aluno fale “das sensações visuais e auditivas” presentes nas quatro primeiras estrofes do poema. É ter em pouca conta a sua inteligência querer apenas fazê-lo provar que o Poeta não é cego nem surdo, porque diz “que viu mas não viu” e que ouve vozes no interior da casa (como se explicita no “cenário da resposta”). Nada nos diz que o Poeta não está à sua secretária, a evocar apenas o que habitualmente vê e ouve: não assistimos a uma verdadeira reacção a um estímulo sensorial. Das pessoas que moram em frente diz, com um verbo no passado (portanto, evocando uma visão, não vendo): “vi mas não vi”. Também as ouve, aparentemente da mesma forma: das “vozes que sobem do interior doméstico” diz que “cantam sempre, sem dúvida”, o que mostra que não as está a ouvir mas a imaginar (logo, é imaginação, não sensação). O verso seguinte “Sim, devem cantar”, reforça a suposição. Seria preciso, ao formular as perguntas, respeitar o facto indesmentível do poema ser um monólogo que o Poeta murmura por escrito enquanto contempla, talvez só com a imaginação, “os outros”– esses vizinhos que vê sem ver porque lhe são inteiramente estranhos.
          O que seria preciso entender – e sobre isso sim, questionar o aluno – é que o Poeta olha (ou se imagina olhando) para a casa fronteira à sua como um menino pobre para uma montra de brinquedos: tudo o que aí vê e ouve é uma manifestação dessa “felicidade” que ele não sabe o que é mas cobiça: crianças, flores, cantos, festas. “Que felicidade não ser eu!” Falando várias vezes o Poeta de “felicidade”, seria pertinente questionar o examinando sobre o sentido desse sentimento (bem mais importante do que as sensações ver e ouvir que querem que ele referencie).
          Pedir para caracterizar o tempo da infância tal como é apresentado na terceira estrofe do poema, e esperar, como se vê no “cenário da resposta”, que o aluno apenas fale “do ambiente de despreocupação feliz, sugerido pelo acto de brincar”é de uma profunda superficialidade …
          Quanto à pergunta seguinte sobre “a relação que o sujeito poético estabelece com os outros” percebe-se, pelo “cenário da resposta”, que o examinador quer que o aluno fale apenas da “diferença”que o Poeta sente que o separa dos “outros”, porque «os “outros” são felizes». O facto do Poeta exclamar “São felizes porque não são eu” mostra que essa “felicidade” é, não um verdadeiro sentimento que os outros experimentem mas o sentimento que o Poeta tem de que é uma sorte ser outra pessoa qualquer, que o verso seguinte “Que grande felicidade não ser eu!” exprime plenamente.
          Seria interessante, isso sim, fazer o aluno falar sobre o papel e o significado das interrogações súbitas, nomeadamente “Quais outros?” porque são elas que traduzem e nos fazem assistir ao evoluir do pensamento do Poeta, que se põe em causa a si próprio, isto é, ao que está pensando no decurso do seu monólogo interior. Assistimos, assim, à transição, desencadeada por essas perguntas, de um “eu” para um “nós”: do sentimento inicial de solidão total, de ser apenas um “eu”, uma ilha de solidão, ao de pertencer a um “nós” – a humanidade: “Quem sente somos nós, /Sim, todos nós” - embora cada um a sós consigo. Cada um sente e sofre sozinho mas isso não o impede de fazer parte de um “nós”. Seria demais esperar que o aluno soubesse dizer que é esta uma característica da atitude de Campos: o sentimento de que é uma ilha de solidão, quando diz “eu”, mas de que pertence a um arquipélago, quando pronuncia “nós”. Mas não seria excessivo esperá-lo do examinador.
          A última questão presta-se a muitas respostas, não apenas à que é indicada no “cenário de resposta”, que espera referências à “dor” e ao “vazio” “expressos na última estrofe, particularmente no verso «Um nada que dói…»”. Os examinadores não perceberam a sua subtilíssima ironia: depois de afirmar que “já” não está sentindo nada, o Poeta corrige-se, com um sorriso de vaga ironia triste: “um nada que dói”. Se o aluno conhecesse razoavelmente Campos – o que seria demais exigir-lhe mas não ao examinador– referiria que esse incómodo, essa vaga dor é o que, noutro poema, o Poeta chama “o espinho essencial de ser consciente”.
          Só uma nota: não estou a querer pôr ninguém em causa: não sei nem quero saber quem elaborou esta “prova”. Estou apenas a obedecer ao meu velho tropismo de querer ser útil. (Que, diga-se de passagem, muitos dissabores me tem trazido ao longo da minha já longa vida.)»
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