Português

quarta-feira, 2 de março de 2011

Manuel

          A primeira personagem a ocupar a cena é Manuel, apresentado na didascália que «informa» sobre as personagens da peça como «o mais consciente dos populares». De facto a personagem está plenamente consciente da situação que a rodeia, marcada pela miséria, pelo medo, pela ignorância, pela repressão, pelo autoritarismo.
          As suas vestes denunciam, desde logo, a miséria em que  vive e que é extensível ao resto da classe a que pertence. Por outro lado,  as atitudes revelam a impotência para alterar a situação vivida, bem como um certo conformismo e resignação, não obstante a esperança inicial depositada no general Gomes Freire de Andrade. Exemplo desse estado de espírito é o início paralelo dos dois actos da peça, em que no surge um Manuel interrogando-se: «Que posso eu fazer? Sim, que posso eu fazer?».
          Logo de seguida, ainda no seu monólogo inicial, Manuel denuncia o sacrifício do orgulho nacional, vítima das invasões francesas, da opressão dos militares ingleses e da ausência do rei no Brasil, fugido precisamente em resultado daquelas.


(em actualização...)

Estrutura externa

          A peça é constituída por dois actos, que não estão divididos em cenas. Estas são sugeridas pelo movimento das luzes, que vão remetendo para espaços diferentes e dando conta da entrada e saída de personagens. Pode, contudo, tentar gizar-se quadros em que as personagens monologam ou dialogam, marcando as suas entradas ou saídas de cena.

Obra

● Narrativa:
  • estreia: Um Homem não chora (1960, Milão);
  • Angústia para o Jantar (1961, Lisboa)
  • Chuva na Areia (1982), adaptação televisiva de um romance que ficou inédito: Agarra o Verão, Guida, Agarra o Verão.
          Em todas estas obras, Sttau Monteiro denuncia, de forma sarcástica, os problemas da época.


● Teatro:
  • Felizmente há Luar! (1961), obra que obtém grande êxito e esgota rapidamente;
  • Todos os Anos pela Primavera (1963, Lisboa);
  • O Barão (1964, Lisboa) - adaptação teatral da novela com o mesmo nome, da autoria de Branquinho da Fonseca;
  • Auto da Barca do Motor Fora de Borda (1966, Lisboa);
  • Duas Peças em um Acto (1967, Lisboa);
  • A Estátua (1966, Lisboa);
  • A Guerra Santa (1966, Lisboa, prisão do Aljube - a sua publicação valeu-lhe mais seis meses de cárcere em Caxias);
  • As Mãos de Abraão Zacut (1968 - escrita na prisão de Caxias);
  • adaptação de A Relíquia de Eça de Queirós (1971, Lisboa);
  • Sua Excelência (1971, Lisboa);
  • E se for Rapariga chama-se Custódia (1978 - escrita na prisão do Aljube).
          Destas peças, poucas foram representadas em Portugal antes do 25 de Abril, devido ao seu conteúdo crítico e ideológico. Após a publicação das peças A Estátua e A Guerra Santa, que criticavam a ditadura e a guerra colonial, foi preso pela PIDE em 1967.


● Jornalismo:
  • colaborou com várias publicações (Diário de Lisboa, Almanaque, O Jornal, Se7e, Expresso, agências de publicidade);
  • redacções da Guidinha (Lisboa, 1971 - O Jornal e Diário de Lisboa - suplemento «A Mosca»;
  • escreveu também sobre gastronomia com o pseudónimo de Manuel Pedrosa, para O Jornal (Lisboa, década de 80).

● Prémios literários: Grande prémio de Teatro, em 1962, para a peça Felizmente há Luar!.

Vida

● NOME: Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro.

● NASCIMENTO: 3 de Abril de 1926, em Lisboa, na Rua Liverpool.

● FILIAÇÃO:
  • PAI: Armindo Monteiro, jurista e diplomata (embaixador);
  • MÃE: Lúcia Rebelo Cancela Infante de Lacerda (descendente de D. Afonso Henriques?).

● ESTADA em LONDRES:
  • partiu aos dez anos, acompanhando o pai, que aí desempenhou as funções de embaixador;
  • aí conheceu a dura realidade da Segunda Guerra Mundial;
  • a estada permitiu-lhe o contacto com movimentos de vanguarda da literatura anglo-saxónica, decisivos para a sua formação intelectual;
  • regressou a Portugal em 1943, após a demissão do pai, ordenada por Salazar, em virtude das simpatias que nutria pelo governo inglês no contexto da guerra;
  • manteve sempre uma ligação afectiva e um fascínio por Londres.

● FORMAÇÃO:
  • Colégio de Santo Tirso (Lisboa), de onde foi expulso;
  • Liceu Pedro Nunes (onde teve como colega João Pulido Valente e João Abel Manta);
  • Licenciatura em Direito (apesar do gosto pela Matemática), na Faculdade de Direito de Lisboa.

● PAIXÕES:
  • as corridas de automóveis (foi corredor de Fórmula 2 em Inglaterra);
  • a pesca;
  • a gastronomia;
  • a literatura.

● CARACTERÍSTICAS:
  • não gostava de ser conhecido;
  • considerava Portugal um país demasiado pequeno e limitado ("Nunca encontrei nada em Portugal que não encontrasse melhor lá fora.");
  • era profundamente religioso (encarava a morte como «apenas uma maneira de ir a Deus»);
  • defendia as liberdades individuais e colectivas - o seu lema era «A única coisa sagrada é ser livre como o vento»;
  • a sua relação com a escrita não era fácil e foi o estímulo dos que lhe eram mais próximos que o conduziu à produção literária e o conseguiu afastar da inércia que o levava a deixar inacabados vários manuscritos:
               -» José Cardoso Pires arrastou-o para o jornalismo e para a ficção (Um Homem
                   não Chora, por exemplo);
               -» Nikias Skapinakis, pintor que vivida escondido da PIDE numa casa de Sttau
                   Monteiro, incentivou-o à escrita de Felizmente há Luar!;
  • opositor do regime salazarista e preservando a liberdade como valor máximo, sofreu perseguições que culminaram com a sua detenção e prisão no Aljube, por alegado envolvimento na revolta de Beja;
  • um dos traços da sua personalidade foi a dispersão e o desbaratar de um talento multiforme.

● MORTE: Lisboa, a 23 de Julho de 1993.


● ACTIVIDADES:
  • Advocacia: exerceu a profissão apenas durante dois anos.
  • Corridas de automóveis:
               - corridas de Fórmula 2 em Inglaterra;
               - correu no Team Cooper, ao lado de figuras lendárias como Stirling Moss;
               - desistiu da actividade porque esta causava um grande desassossego à família.
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