Português

terça-feira, 15 de março de 2011

"Lisbon Revisited (1923)" e "Going Down Town" - Proposta de correcção

Proposta de reposta da ART

          O título do poema, «Lisbon Revisited», poderia ser o título da imagem que observamos no quadro de Miguel Yeco. De certa forma, esta imagem faz-nos lembrar a cidade de Lisboa tal como ela é retratada na décima estrofe do poema.
          O quadro mostra-nos uma rua antiga de uma cidade triste, escura e sombria, iluminada por um céu azul-marinho e um sol tardio. Este céu é o único elemento que alegra o quadro, tal como o céu azul de que o poeta fala quando se refere à sua infância, a única altura da sua vida em que foi feliz.
          Observando o quadro de Yeco com mais atenção, constatamos que nele há muitas parecenças com a cidade de Lisboa de outrora e de hoje, nomeadamente, o castelo no cimo da colina, que nos faz lembrar o castelo de São Jorge. Os prédios antigos, altos, escuros e sombrios que se erguem de ambos os lados de uma rua íngreme e sombria, onde não se vê uma única pessoa, fazem-nos lembrar uma viela dos bairros típicos de Lisboa.
          A rua que é retratada no quadro é uma rua solitária e sem vida, que dá a sensação de tristeza, parecendo que caminhamos num abismo sem fim.
          As palavras que o poeta utiliza para descrever a «Cidade Revisitada» são as mesmas que poderíamos utilizar na descrição do quadro de Yeco. A imagem que nele podemos observar é uma imagem «eterna», «vazia», «macia» (no sentido de calma e solitária), «ancestral» e «muda».
          Tal como o poeta sente uma mágoa profunda na sua «Lisbon Revisited», também nós, ao passarmos pela rua retratada no quadro, nos sentimos pequenos, magoados e deprimidos no meio de prédios tão altos, tão escuros e tão assustadores. Nesta rua, sentimo-nos infelizes, tal como o poeta não é feliz nesta cidade que nada lhe dá, nada lhe tira e nela nada sente a não ser mágoa.



Proposta de resposta da SP

          Neste quadro de Miguel Yeco, conseguimos observar no horizonte um castelo e o céu (o pôr-do-sol). O castelo encontra-se no alto de uma colina e a partir daí a única coisa que conseguimos ver são casas, ou seja, construções modernas que apagaram todos os vestígios da antiga cidade que ali existiu, ficando apenas o castelo e o imutável céu.
          Ora, é isto mesmo que o sujeito poético nos diz na décima estrofe do poema, que Lisboa mudou e que se sente como um estrangeiro nela. As únicas coisas que se assemelham ao que Lisboa fora outrora são o céu e o Tejo. O sujeito poético, ao ver Lisboa (ou a recordar a imagem que tinha dela), sente nostalgia e saudade da infância que ali passou (a melhor altura da sua vida). No entanto, esta já não é a sua Lisboa, mas sim Lisboa Revisitada («Lisbon Revisited»).
          Podemos ainda contemplar neste quadro uma grande escuridão que nos remete para tristeza, angústia e solidão. São também estes os sentimentos que podemos encontrar ao longo do poema e são também estas as emoções que surgem no sujeito poético ao revisitar Lisboa.



Proposta de resposta da AI

          O poema, cujo título é «Lisbon Revisited», de Álvaro de Campos, pertence à terceira fase do autor, uma fase intimista ou independente marcada pela abulia, pelo tédio, pela angústia.
          Na penúltima estrofe deste poema, o sujeito poético começa a recordar a imagem que tinha de Lisboa no passado e a nostalgia de tudo de bom que parecia existir na sua infância. Nesta estrofe, podemos, então, comparar Álvaro de Campos ao seu ortónimo Fernando Pessoa, pois este também descrevia a saudade da sua "idade de ouro". Apesar de o passado não ter sido perfeito, ambos encaram pior o presente e falam da infância como a única oportunidade de uma suposta felicidade. O tempo que o sujeito poético recorda é um pedaço da sua vida de outrora e descreve-o como sendo um tempo agradável e de felicidade. A Lisboa de outrora que o poeta revisita é a Lisboa da infância, simbolizada em Lisboa, e o presente asfixia-o, porque se caracteriza pelo estado de consciência, de racionalidade, o que lhe causa a dor de pensar, tal como Fernando Pessoa.
          Desta Lisboa, o sujeito poético já não reconhece nada, nem nada lhe desperta sentimento nem vontade de encarar este local como pedaço de vida presente ("Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.").
          Comparando o conteúdo da décima estrofe deste poema com o quadro de Miguel Yeco, podemos observar a tal Lisboa de outrora que o sujeito poético revive com saudade.
          Miguel Yeco é um pintor que se caracteriza por pintar a "figurinha" solitária de Fernando Pessoa e, neste poema, Álvaro de Campos assemelha-se àquele.
          No quadro, no canto inferior direito, conseguimos avistar uma parte do corpo de Fernando Pessoa, bem como no canto da parede do prédio. Este parece encontrar-se na Lisboa de hoje, mas revivendo a Lisboa de outrora, pois o sujeito poético deste poema apenas deseja relembrar a sua agradável infância na sua Lisboa antiga. No quadro "Going Down Town", de 1986, podemos ver a Lisboa de outrora, pois vemos os candeeiros nas paredes dos prédios com os seus rendelhados de ferro, vemos os prédios antigos, com janelas altas e escuras. Só o céu tem uma cor viva, azul, "(...) o mesmo da minha infância (...)".
          Assim, podemos concluir que o quadro descreve a infância e a Lisboa de outrora que Álvaro de Campos retrata no poema. O sujeito poético revista a Lisboa de hoje, apenas relembrando e imaginando a Lisboa de outrora.

sábado, 12 de março de 2011

"Lisbon Revisited (1923)" e "Going Down Town"

          Relacione o título do poema - «Lisbon Revisited (1923)» - e o conteúdo da décima estrofe com o quadro de Miguel Yeco.

Miguel Yeco, Going Down Town (1986)



                               Lisbon Revisited (1923)

                               Não: não quero nada.
                               Já disse que não quero nada.

                               Não me venham com conclusões!
                               A única conclusão é morrer.

                               Não me tragam estéticas!
                               Não me falem em moral!
                               Tirem-me daqui a metafísica!
                               Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
                               Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) -
                               Das ciências, das artes, da civilização moderna!

                               Que mal fiz eu aos deuses todos?

                               Se têm a verdade, guardem-na!

                               Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
                               Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
                               Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

                               Não me macem, por amor de Deus!

                               Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
                               Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
                               Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
                               Assim, como sou, tenham paciência!
                               Vão para o diabo sem mim,
                               Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
                               Para que havemos de ir juntos?

                               Não me peguem no braço!
                               Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
                               Já disse que sou sozinho!
                               Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

                               Ó céu azul - o mesmo da minha infância -,
                               Eterna verdade vazia e perfeita!
                               Ó macio Tejo ancestral e mudo.
                               Pequena verdade onde o céu se reflecte!
                               Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
                               Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

                               Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
                               E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

                                                                                                                    Álvaro de Campos

sexta-feira, 11 de março de 2011

Correcção do teste (4.º)

Grupo I


TEXTO A


1. A metáfora “O plantador de naus a haver” remete para os pinhais mandados plantar por D. Dinis que são já, virtualmente, as naus das Descobertas – o futuro adivinhado. A figura do rei é apresentada, assim, como aquela que cria condições para as navegações futuras, como uma espécie de intérprete de uma vontade superior.

2.1. Efeitos de sentido:

          a) Com a madeira dos pinhais construíram-se as naus com as quais Portugal viria a
              construir o seu império marítimo.

          b) A palavra «trigo» pode ter o sentido de «abundância», «ausência de fome», «riqueza»,
              «sobrevivência».

3. Elementos que evidenciam o destino mítico de Portugal:
          - os pinhais plantados por D. Dinis;
          - o rumor dos pinhais;
          - «esse cantar»;
          - o «som presente»;
          - a «voz da terra».

4.1. Esta metáfora apresenta-nos o «cantar» do rei como um regato que corre em direcção a um «oceano por achar», querendo com ela apontar para a ideia de que nesse passado – do «cantar» se adivinha já o futuro das descobertas, simbolizado pelo oceano ainda não descoberto, ainda não desvendado.



TEXTO B


1 – V

2 – F

3 – F

4 – V

5 – V



Grupo II

1 – d

2 – d

3 – b

4.1. – a

5.1. O advérbio desempenha a função sintáctica de modificador frásico / de frase.

5.2. O predicativo do sujeito é «a que fica, esperando, imóvel, na felicidade e no sonho do regres-so».

6.
   1 – d
   2 – h
   3 – a
   4 – g
   5 – f

7.
   a) A oração é uma oração subordinada substantiva relativa.

   b) As orações são ambas coordenadas disjuntivas.

"Esta velha angústia"

          Todo o poema se desenvolve em torno da expressão da angústia do sujeito poético.

          Logo a abrir, o deíctico demonstrativo «esta» (repetido em anáfora nos versos 1 e 2 com a finalidade de expressar o estado de alma do sujeito) e o adjectivo qualificativo «velha» remetem para a temática da angústia, para a sua presentificação.
          O sujeito poético pretende comunicar que a angústia o consome (o complemento preposicional «em mim» relaciona-o precisamente com esse sentimento) e é real ("Esta (...) angústia, / Esta angústia» - vv. 1-2; «este mal-estar» - v. 9) e se vem a desenvolver na sua alma («em mim» - v. 2), desde a idade da razão, desde que começou a tomar consciência de si («velha» - v. 1; «que trago há séculos em mim» - v. 2 - notar a hipérbole, para mostrar o enraizamento, a duratividade da angústia, já sugerida pela expressão «trago (...) em mim»).
          Por outro lado, a angústia do sujeito poético é «tanta» e dura há tanto tempo que «transbordou da vasilha» (metáfora - v. 3), isto é, ele (o seu coração, a sua alma) já não comporta mais, por isso não a pode esconder e tem de a exteriorizar através das lágrimas, de grandes imaginações, de sonhos e de grandes emoções  (vv. 4 a 6) - notar a anáfora, a estrutura paralelística e os nomes abstractos que designam os sentimentos e as emoções. Além disso, a adjectivação («grandes») sugere que as «imaginações» e as «emoções» são muito numerosas, muito intensas ou muito elevadas e distanciadas da realidade. Por outro lado, os nomes abstractos «pesadelo» e «terror» traduzem o carácter opressivo dos sonhos, o que os torna semelhantes a pesadelos, embora sem o medo que eles instilam («sem terror»). Por último, convém atentar no valor expressivo do modificador preposicional «sem sentido nenhum», que destaca a desproporção entre a intensidade das sensações experimentadas e a falta de lógica da sua existência.

          Na segunda estrofe, despojado de qualquer argumento, em anáfora com o verso 3,
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