a) Herói: Alberto, uma personagem nobre que cai em
desgraça.
b) Hybris
(desafio):
● Sofia, pela sua forma de ser, pelo seu
modo de atuar, tendo em conta, sobretudo, o meio fechado em que se encontra,
desafia toda e qualquer regra, quer no plano dos homens, quer no dos deuses (=
princípios de uma moral estabelecida). Ela comporta-se, desde muito cedo, fora
de qualquer parâmetro considerado “normal”. Desde pequena desafia a moral
instituída, as convenções, as leis da vida e até as da própria morte. Observemos
o que sobre ela diz seu pai: fora sempre uma “criança difícil”.
Quando certo dia a mãe a vestiu de forma mais cuidada, pois viriam para o
jantar pessoas “de cerimónia”, ela rasgou-se e assim se
apresentou. “Madame sentiu-se vexada, trouxe a filha a um recanto
disciplinar e explodiu. Sofia nada disse. Não se ria, não chorava. Estava
apenas muito séria como se tivesse cumprido um dever.”
Sofia parece aperceber-se, assim, de
que tem um destino a cumprir, o qual a leva a confrontar e a desafiar
tudo e todos: “Mas nessa noite, ao deitar, desapareceu (...)” – novo desafio às
regras e que será levado às últimas consequências quando finalmente aparece – “Só
na tarde do dia seguinte ela reapareceu, absolutamente serena, indiferente à
aflição familiar.”.
E os seus desafios prosseguem, cada
vez mais limites: “De outra vez, e sem questão nenhuma, atou fortemente um
nastro num braço, prendendo a circulação. Já tinha a mão roxa quando o pai a
descobriu. Sofia sentiu-se alegre por saber que estivera em risco de perder
o braço todo.”.
Na sua própria caracterização, quer
física, quer psicológica, existem vários indícios de tragédia:
. “E era assim como se qualquer coisa a habitasse e fosse maior
do que ela...”;
. “Porque há de a vida ter razão sobre nós? Porque havemos de
ser sempre nós a submeter-nos?”;
. “(...) durante uma conversa, como quando o pai falava da morte
de algum doente, ela sorria com o ar distante, separado, de
uma louca...”;
. “Respondemos com a absoluta liberdade ao desafio do fantástico
que nos habita...”;
. “(...) os teus olhos vivos de inocência e perversão.”;
. “Sofia ao pé de mim (...) a sua face tenra e branca, o seu
olhar oblíquo de pecado...”;
. “És bela, Sofia. Bela. Como um veneno.”.
Simultaneamente, Sofia obedece, na
sua personalidade, a outra característica da tragédia: é nobre de caráter (como
o demonstram alguns exemplos já citados) e como Alberto nos dá a conhecer: “Mas
Sofia sabia-se excecional.”.
A própria sociedade considera-a
igualmente uma outsider: “– Pois... Ela é uma louca, oh, o pai sabe-o
bem. E depois esse tolinho desse moço...”, afirma o reitor.
● Carolino é caracterizado pela loucura,
que leva às últimas consequências. Distanciado também por isso do real que o
cerca, resolve substituir-se aos deuses e destruir em seu lugar, afinal a forma
mais extrema e fatal de desafiar as leis dos homens e dos deuses:
. “Eu estava atónito. Porque sentia Carolino, através do que
sentia nele de estranho, uma inquietante separação de si, não sei se para um
encontro lúcido consigo, se para uma união de loucura.”;
. “Mas o Bexiguinha não tinha ideias: tinha quase apenas
o seu alarme de louco.”;
. “– Eu não digo que se mate, senhor doutor, eu não digo isso.
Digo é que matar é igual a criar...”;
. “(...) – Pois é, senhor doutor, mas se o assassino souber
muito bem o que destrói...”.
Nesta ótica de desafio, Carolino
acabará por se sentir igual aos deuses, possuindo os mesmos poderes, só que,
alheado na sua loucura, contrapõe à construção primordial a sua capacidade de
destruição.
●
A hybris de Alberto Soares traduz-se na sua atitude
existencialista, que constitui um desafio à organização social estabelecida,
daí ser considerado um elemento desestabilizador na pacata cidade de Évora (as
conferências que deseja proferir são canceladas, pois a temática
existencialista é considerada perigosa para a comunidade; o fundamento deste
receio vem a confirmar-se com o ato criminoso de Carolino, no final da obra).
Alberto Soares lança o seu primeiro
desafio quando, tal como o homem inicial, quer ser o detentor da sabedoria,
conhecer o fundamento da sua existência, apreender na totalidade a sua “condição”
e também, como ele, terá de sofrer ele próprio o castigo por se confrontar com
os deuses: “Que maldição pesa sobre a assunção do nosso destino?, sobre o nosso
confronto connosco mesmos?, sobre a evidência da nossa condição?”.
Alberto desafia mesmo Deus, ao
abandoná-lo e ao procurar substituí-lo, procurando assim alcançar a referida
sabedoria total sobre si mesmo e sobre os outros. Chega até a considerar-se um
Messias, proclamando-se portador de uma extraordinária notícia. Por isso, ele
terá de ser punido, como foi Prometeu quando roubou o fogo do Olimpo e com ele
fabricou seres humanos, ou como foram Adão e Eva ao quererem ser como Deus.
c) Némesis: Alberto, Sofia e Carolino ansiaram,
sobretudo, compreender e compreender-se. O desafio foi demasiado e tinham de
ser castigados.
d) A presença do destino/anankê: Alberto, pelas suas
angústias, pelo seu conflito interior, acaba por se tornar vítima de si mesmo e
das suas convicções. Por outro lado, o próprio Alberto transforma-se em agente
do destino, pois irá ser ele que estará na origem do interrogar-se, será
ele que irá despertar os inconscientes adormecidos e chamá-los à descoberta,
que será uma maldição punível, por vezes com a própria vida.
Como elemento
“perturbador”, Alberto vai associar-se, inconscientemente, à força do destino,
precipitando-se e aos que o ouvem para um desenlace trágico.
e) Anagnórise:
– 1.ª anagnórise: o reconhecimento de Alberto como agente do destino
que precipitará a ação trágica, nas palavras de Sofia: “Meu querido assassino
(...) meu bom assassino...”;
– 2.ª anagnórise: a acusação feita a Alberto anonimamente, uma
espécie de anúncio do desfecho: “Só você é responsável. Só você.”.
f) Pathos: a angústia é o elemento fundamental do pathos.
Alberto é o agente do destino que vai despertando as consciências adormecidas,
levando-as a uma cada vez maior interrogação de si, que arrastará sempre
consigo uma maior angústia: a angústia da descoberta de si mesmas, o ter de
viver com aquilo que são sem nunca conseguirem “reagrupar-se”, isto é, sem
serem capazes de encontrar “soluções” (ao contrário de Ana ou da mãe de Alberto),
sem nunca atingirem uma serenidade; será na angústia que residirá todo o cerco
sobre si próprios em que irá assentar todo o crescendo de ação trágica.
g) O agón traduz-se no conflito interior das
personagens, nomeadamente Alberto Soares, Sofia e Carolino.
h) Prólogo: é a exposição da situação. É concretizado
na obra através dos indícios revelados aquando das referências ao carácter de
Sofia e de Carolino e à sua descrição física, e também através da ação de
Alberto Soares, que provoca a interrogação, e das suas reflexões/pensamentos.
i) As peripécias: condicionada pelo destino, assistimos
a uma gradual aproximação de Alberto a Sofia, numa “união trágica e blasfema”.
Também a ligação entre Alberto e Carolino se
vai intensificando, manifestando-se neste, de modo cada vez mais inquietante,
as suas tendências assassinas, que Alberto dificilmente conseguirá dominar (o
destino parece sobrepor-se ao seu primeiro agente) e que encontrará o seu ponto
culminante na morte acidental de uma galinha,
face à qual Carolino ficará como que fascinado: “E olhava-a, fascinado, olhava-lhe o bico,
donde o sangue pingava...”.
A inquietação de Carolino, provocada pela
ideia da morte, é aprofundada quando simultaneamente ocorre uma quase rotura
com Sofia, com quem o relacionamento se tornará tenso (cap. XV), o que levará
Alberto a afastar-se, dando, inconscientemente, lugar a que seja Carolino a preencher
o vazio deixado, como se as duas loucuras irremediavelmente se atraíssem.
O mesmo
afastamento ocorre entre Carolino e o professor, facto que precipitará por toda
a cidade uma série de respostas em cadeia, no meio das quais Alberto, sentindo
ter perdido o controle sobre todos os acontecimentos, se afasta e se refugia na
Casa do Alto (cap. XVIII), essencialmente reflexivo, como que a denotar esse
mesmo afastamento.
A morte de Cristina vai marcar a primeira grande
convulsão no desenrolar das peripécias da ação trágica – já anteriormente
Alberto se lhe referira, em indício, trazendo na cabeleira loura ”o teu
laço vermelho” e no mesmo momento ”roçava” o seu destino, definindo-o com: ”alguma
coisa, no entanto, a transcendia, abusava dela como de uma vítima”.
Como que sentindo que o destino pairava
insidioso sobre a cidade, todos a abandonam em fuga perante o golpe que ela
lhes desferira. Permanecem apenas Alberto e Carolino e é através destes, postos
frente a frente, que temos uma segunda preparação para o desenlace trágico
durante a visita de Bexiguinha, que ensaia na figura do professor toda a
sua raiva destruidora e assassina (cap. XIX); pela primeira vez ir-se-á esboçar
um sinal de auto-culpabilização, prenúncio da denúncia da cidade que recairá,
consumada a tragédia, sobre ele. Pela primeira vez Alberto terá tido uma noção
do peso da sua ação sobre aqueles que sagrou seus pupilos, responsabilização da
qual não mais se irá libertar.
A ação adensa-se a partir da visita de
Carolino: revela-se infaustosa a união Sofia/Bexiguinha e o reitor,
representando a voz da comunidade em atitude de defesa, parece acusar Alberto,
apesar de ter em conta a loucura dos dois jovens, e sugere o seu afastamento em
nome da boa reputação do Liceu. Está declarada a guerra a Alberto Soares e não
mais ele deixará de ser auto e heteroculpabilizado. Assim, na sequência dos
acontecimentos ocorridos na Casa do Alto, ele interioriza essa culpa e passa a
viver em atitude de fuga: ”Eu faltava muito às aulas, fugia muito para o campo
ou para casa, desertando da cidade.”
No entanto,
a angústia e o clima trágico continuam a adensar-se: Sofia e Carolino estão definitivamente
”fulminados de maldição, de castigo”; ”Destruíam-se com o seu protesto, mas
recusavam-se a renegar o seu destino, morriam no combate, mas não pretendiam
salvar-se fugindo desse combate...”.
Assumindo cada vez mais a sua parte de
responsabilidade, cresce a angústia, o medo, até em Alberto, que em tudo vê uma
acusação. Assim sucede quando Chico o vai visitar e antes mesmo de este
desferir contra ele todo o seu libelo acusatório: ”Chico bateu à porta com
violência, a violência categórica de quem vem por ordem da justiça. E foi essa
ideia absurda que me assaltou, a ideia de que uma autoridade qualquer me vinha
condenar...”. E será, numa frase desesperada a Ana, afinal sua oponente, mas a
única que se encontrou ao seu nível, que tentará um pouco de alívio: ”Olho-me,
Ana, não tenho culpa de nada. Os teus demónios são teus...”, já que também
pelas atitudes da mulher de Alfredo Cerqueira Chico o tenta responsabilizar.
Umas férias em volta do seu país marcam uma
pausa no sufoco da cidade, mas o regresso a Évora traz de novo a sensação de
marginalização, para a qual só encontrará lenitivo na imagem marginal de
Florbela Espanca: ”Sento-me, reconciliado, nos bancos de azulejos,
fechados em recantos clandestinos, vou visitar Florbela, olho-a de um banco de
madeira que lhe fica em frente, medito com ela.”
Mas a ação está delineada e ainda que o Dr.
Moura o pareça evitar e as personagens trágicas pareçam enfim afastadas, logo o
destino, pela mão de Alfredo, as voltará a reunir na Bouça: ”Subitamente,
Sofia apareceu...” e novamente fica marcada a sua característica de personagem
nobre (como o impõe a tragédia grega): ”Estendia a perna esquerda, apoiando a
planta do pé, dobrava a direita, aproveitando a liberdade das calças para
aquela atitude rígida de nobreza.”. E é Alfredo que novamente a lança no
espaço do professor – de regresso a Évora, levando-a Alberto, Sofia, na sua
cada vez maior alucinação, começa, junto do local da morte de Cristina, os seus
cânticos angustiados aos ”Céus desabitados” como se quisesse juntar-se a ela. E
em desespero se apodera de Alberto, em inquietude contínua, o seu canto nessas
noites de Verão, ”com um insidioso arrepio”, e regressa sempre em pânico até
que finalmente se afasta como se chamada a cumprir o seu destino. E assim é
que, na última vez que Alberto a viu, foi ”num banco secreto de jardim. Estava
com Carolino.”. A união trágica consuma-se. A ação condensa-se a partir de
então, Alberto debate-se com o seu alarme e toma nova atitude de fuga, quando
anonimamente o acusam como num pré-anúncio do desfecho: ”Só você é responsável!
Só você.”
E a narração finda com a morte de Sofia.
j) O epílogo encontra-se no posfácio, onde tudo é
revelado, onde a ação trágica tem o seu fim: Carolino foi o autor do
assassinato de Sofia e também para ele foi reservada uma “morte psicológica”
através do atingir do cume da sua loucura. Alberto Soares, ao contrário do que
esperava, não foi notificado e assim a culpa será um caso a resolver perante si
próprio. Para já retira-se do cenário da ação trágica, sem, no entanto, dela se
desprender nunca: ”O espaço esvazia-se até ao limiar da memória, onde alastrou
o meu cansaço, o afago quente de um choro, o aceno de sinais que correspondem
como ecos de um labirinto. Num oblíquo aviso aflora o que estremece sob os
gestos enfim apaziguados. Évora. Évora.”
l) O momento de retardamento: Bexiguinha visita a Casa
do Alto, numa primeira tentativa de assassínio, numa primeira fase, de Alberto
Soares – a morte do “mestre” ou “criador” permitir-lhe-ia assimilar, na
plenitude, toda a sua força e grandeza, convertida a admiração em revolta – é
este o primeiro momento em que Carolino deseja reivindicar para si uma outra
dimensão; o seu “endeusamento” culminará, na sua mente doente, na aniquilação
da grandeza que existia em Sofia.
m) O clímax
é constituído pela morte de Sofia.
n) A catástrofe é constituída pelo desenlace trágico: o
fim trágico de Sofia (”Sofia apareceu num caminho que parte do
Chafariz de El-Rei, assassinada a punhal.”) e de Carolino (é preso),
após a deturpação que Carolino faz da mensagem transmitida por Alberto Soares.
o) O coro, uma voz coletiva e moderadora, que se
encontra personificada em Alberto Soares, nas suas reflexões e comentários,
assistindo ao desenrolar dos acontecimentos, analisando-os, prevendo-os;
mantendo um diálogo com os intervenientes através dos vários momentos da ação
trágica.
p) Os indícios
trágicos de morte:
– a caracterização (física e psicológica) de Sofia, aliada à
sensualidade pecaminosa, à sedução carnal e diabólica:
. ”E era assim como se qualquer coisa a habitasse e fosse maior
do que ela...”;
. ”(...) durante uma conversa (como quando o pai falava da morte
de algum doente) ela sorria enlevada com o ar distante, separado, de uma
louca...”;
. os desafios constantes às regras sociais estabelecidas (p.
54);
. um dia Sofia apareceu, para a lição de Latim, toda vestida de
preto: ”Encostada, pelo lado de dentro, à meia-porta fechada, a aresta da porta
cortava-a de alto a baixo, dividindo-a pelo meio dos olhos, dos seios, das
pernas...” – todos os elementos desta descrição são eloquentes: o vestido
preto, a figura integralmente cortada a meio, a sugerir esfacelamento e, em
última análise, a morte;
. ”Respondemos com a absoluta liberdade ao desafio do fantástico
que nos habita...”;
. ”O vestido de veludo negro, colado ao corpo...”;
. ”Mas o que sobretudo se iluminava era o seu maravilhoso olhar,
esse olhar de uma violência ingénua, secreto e húmido e fulgurante como um
primeiro pecado.”;
. ”(...) os teus olhos vivos de inocência e perversão...”;
. ”Sofia ao pé de mim (...) a sua face tenra e branca, o seu
olhar oblíquo de pecado (...)”;
. ”És bela, Sofia. Bela. Como um veneno.”;
– o canto de Sofia, através do qual ela dava voz ao desespero que
sentia: ao ouvi-lo e, mais tarde, ao recordá-lo, o narrador sente ”um insidioso
arrepio”;
– uma outra referência a propósito de Sofia: ”terra calcinada,
deserto estéril – pensei –, a cor dos restos do incêndio, o teu destino de
desastre, Sofia.”;
– a referência ao Carnaval e ao seu triste espectáculo grotesco e de
degradação, numa ”fúria de chacina”;
– as palavras de Sofia em relação a Alberto Soares: ”Meu querido
assassino (...) meu bom assassino (...)”;
– a afirmação de Sofia, segundo a qual ”– O Alentejo era trágico, não
lírico, só uma praga, a blasfémia ardente o exprimiria.”;
– os indícios que preparam a morte de Cristina:
. a referência de Alberto a Cristina, que trazia na cabeça um
laço vermelho e no mesmo momento ”roçava” o seu destino, definindo-o desta
forma: ”(...) alguma coisa, no entanto, a transcendia, abusava dela como
de uma vítima (...)”;
. o vocativo que inicia o cap. XVIII, uma espécie de chamamento
trágico de alguém que se sabe estar à beira de perecer;
. a descrição da natureza que, estalando de fecundidade,
contrasta com uma vida que fenece;
. a precariedade e fugacidade do presente na simbologia do enfeitar
dos carros por Cristina, com serpentinas e mimosas que logo o vento destrói e
arreda para longe, como se o tempo do agora apenas necessite de um pequeno
pretexto para se tornar em passado irreversível;
. a pergunta lançada ao vento por Alberto sem que obtenha
resposta: ”Ouço a tua música, Cristina?”, momentos antes do acidente que a
vitimará;
. a caracterização de Sofia;
– o facto de a morte começar por inquietar Carolino, para passar, de
seguida, a constituir motivo de fascínio: por exemplo, a morte da galinha por
esta personagem antecipa o poder de destruição que ela descobre em si;
– a caracterização de Carolino:
. a caracterização física: a falta de beleza, o rosto coberto
de borbulhas vermelhas e os olhos azuis, de ”uma lucidez serena” (p. 125),
sugerindo a aparência plácida e inócua de Carolino (no olhar) e sua figura
pouco atraente e motivadora de complexos;
. a caracterização psicológica: Carolino demonstra ser
incapaz de descodificar de forma objetiva e “correta” as ideias que lhe são
transmitidas pelo narrador; por outro lado, a partir do episódio da galinha
fica bem evidente a feição destruidora desta personagem, ao confundir e substituir
o ato supremo de criação com/pelo ato de destruição, tentando, assim,
reivindicar para si a dimensão de Deus, cuja ausência percebe no ser humano,
após as palavras do narrador (”E então eu pensei: já não há deuses para criarem
e assim o homem, senhor doutor, o homem é que é deus porque pode matar.” – p.
123);
– a tentativa de Alberto Soares levar a ”boa nova”, ou seja, a ideia de
que o Homem está só, sem qualquer Deus que trace a sua vida, o seu destino ou a
sua morte e que terá que assumir a verdade da sua condição (tentativa que
constitui a hybris desta personagem).