2. O romance é constituído por 25
capítulos, antecedidos de um prólogo em itálico e de um epílogo
também em itálico.
3. A narrativa apresenta uma estrutura
circular, pois inicia-se e finaliza com a mesma frase: “Sento-me aqui
nesta sala vazia e relembro.”; esta frase inicia também o último texto em
itálico. Por outro lado, a personagem é, simultaneamente, o autor do ato de escrita
(assim torna-se uma entidade fictícia, no momento em que inicia o processo de
construção do texto) e o protagonista/personagem principal da acção.
Em terceiro lugar, há uma interseção de tempos distintos – o
passado e o presente – que também remete para a ideia de circularidade,
materializada pela lua, numa alusão à sua forma em círculo e à realidade
primordial, original que representa. A lua, associada à figura da mãe, propõe o
regresso ao tempo da infância (de Alberto Soares e à infância da própria humanidade);
ou seja, a descoberta que Alberto realiza, ao longo da obra, relativamente ao
seu próprio “eu” é o espelho da vivência humana ao longo dos séculos, numa
tentativa de explicação da própria existência.
Esta circularidade representa:
® o mito do eterno retorno, isto é, a
noção de que nem todas as inquietações existenciais têm resposta;
® a existência do ser humano como um ciclo composto por
três fases: nascimento, vida e morte.
4. O romance apresenta uma ação principal
(o ano letivo de Alberto Soares em Évora e as suas relações com a família
Moura) e uma ação secundária (o passado do narrador na sua aldeia
natal).
5. Às duas ações distintas correspondem
tempos distintos (o tempo da infância, educação e início do percurso
existencial e o período passado por Alberto em Évora) e espaços diferenciados
(a aldeia natal, na Beira, espaço da infância, e a cidade de Évora, no
Alentejo, espaço que marca o início da atividade docente de Alberto Soares).
6. O romance é construído através da
memória do narrador. Alberto Soares faz uma narrativa muito posterior aos
acontecimentos, evocando um tempo passado distante do ato de escrita cerca de
vinte anos, ocupando a duração de um ano letivo, em Évora, e um outro passado
mais distante ainda que vai até à sua infância, contemplando factos familiares.
A memória funciona, assim, como fator que determina a construção do romance.
7. Nos textos em itálico, o narrador
situa-se num tempo presente (escreve na sua atual casa de campo).
8. O estilo é típico do romance-ensaio,
é um estilo ensaísta; ou seja, contribui para a estruturação do romance,
acompanhando e permitindo as reflexões e descobertas do narrador. A escrita é
uma experiência que conduzirá a uma descoberta por parte do narrador, que se
questiona, se desnuda, descobre o seu “eu”, de forma progressiva, precisamente
através do ato de escrita – e este acaba por ultrapassar a condição individual
para se transformar num modelo da própria espécie humana.
Esquema-síntese
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