Após queda violenta, mulher teve de ser assistida no Hospital de Leiria.
terça-feira, 16 de novembro de 2021
Quem quer ser professor?
Sintaxe do verbo aquiescer
Favas contadas
segunda-feira, 15 de novembro de 2021
Análise de "Proençaes soem mui bem trobar"
De facto, apesar de serem dotados de
qualidade artística, de mestria poética, dado que “soem mui bem trovar”, só o
fazem na primavera, enquanto o sujeito poético exprime na sua poesia um amor verdadeiro,
sincero, pautado pelo sofrimento. Os provençais compõem poemas apenas nessa
estação do ano, porque é uma época propícia ao amor. Não o fazem no inverno,
pois os seus sentimentos estão adormecidos (“razom / nom am”). Assim sendo, não
sentem verdadeiro amor, que estaria presente em todas as estações.
Esse falso sentimento amoroso é
observado com ironia por parte do «eu»: “e dizem eles que é com amor” (verso
2). Assim que a primavera termina, os provençais deixam de ter motivo para
trovar, o que confirma que o seu sentimento não é verdadeiro.
Em suma, os trovadores provençais
apenas poetam na primavera e não todo o ano e escrevem que sofrem de amor, mas
esse sentimento é artificial: eles não padecem da «coita de amor» e vivem
alegres.
Por um lado, a poesia baseia-se no
convencionalismo e na imitação servil, na esteira dos trovadores provençais e
dos seus cantares de amor.
Por outro lado, D. Dinis sugere uma poesia
sustentada na expressão autêntica da «coita de amor», como se pode constatar
nesta composição poética.
▪ Estrofes: três sextilhas
isométricas.
▪ Métrica: versos eneassílabos (9 sílabas) e
maioritariamente decassílabos.
▪ Rima:
- esquema rimático. ABBCCA
- interpolada e emparelhada
- consoante (“amor”/”flor”)
- aguda ou masculina
- rica (“non”/”coraçom”) e pobre (“trobar”/”levar”)
▪ Ritmo binário.
▪ Transporte/encavalgamento: vv. 3-4, 4-5, 5-6, etc.
▪ Gradação “da coita de amor”: na primeira cobla, o
sujeito poético refere somente a sua «gram coita»; na segunda, afirma que não
existe outra igual (“qual eu sei sem par”); na última, assinala o facto de esta
coita ser a sua «perdiçom» e que o «á de matar».
▪ Nomes:
- proençaes: é o objeto da
crítica presente na cantiga e, simultaneamente, o criador do cantar de amor;
- tempo, frol: estes
nomes remetem para a crítica – os provençais trovam apenas na primavera;
- coita: o sofrimento que
atormenta o sujeito poético, em contraste com a artificialidade e o fingimento
dos provençais:
- perdiçom: a morte de amor,
dada a não correspondência amorosa da «senhor».
▪ Vocábulos provençais: prez, sem.
▪ Anáfora do e: explica que os provençais não
têm “gram coita no seu coraçom”, é um fingimento, pois só trovam numa dada época
do ano.
▪ Paralelismo estrutural e semântico.
▪ Ironia: “dizem eles que é com amor” (vv. 7-9); “sabem loar / sas senhores o mais e o melhor / que eles podem” – os provençais compõem belas cantigas, mas o que escrevem não corresponde aos seus sentimentos, pois tudo é fingimento.
É curioso que Nuno Júdice (in Cancioneiro de D. Dinis) a inclui na secção das cantigas de escárnio e maldizer por causa do seu tom crítico e satírico.
Análise de "Se eu pudesse desamar"
▪
está apaixonado;
▪
sente-se enganado (v. 9);
▪
não dorme (v. 12);
▪
está desamparado e perturbado (vv. 16, 18);
▪
sofre (v. 26)
▪
deseja vingar-se da «senhor».
De
facto, o «eu» está enamorado, mas sofre imenso e mostra-se muito indignado e
revoltado porque a mulher que ama não corresponde ao seu amor.
Além
de não lhe corresponder e de lhe causar dor, a «senhor» parece ter desejado
fazê-lo sofrer, como o indicia o verso 4: “a quem me sempre mal buscou!”. Por
outro lado, ela espicaçou nele, de forma maldosa, o amor e a paixão, como se
pode comprovar pelos versos 24 e 25: “por que me fez em si cuidar, / pois ela
nunca em mim cuidou”.
Tudo
isto o leva a manifestar o desejo de se vingar dela pelo sofrimento e pela dor
que lhe causou, fazendo-a sofrer como ele tem sofrido. No entanto, como é
impossível retribuir-lhe o mal que ela lhe causou, a sua mágoa é reforçada, ou
seja, porque ele não antevê qualquer alívio futuro. Esta ideia é bem traduzida
pelo refrão, que ora aponta a causa do sofrimento do «eu» (estrofes 2 e 4), ora
indicia a condição impossível para o alívio do sofrimento (coblas 1 e 3): o
«eu» não pode vingar-se nem dormir, isto é, encontrar a paz, pois não pode
fazer sofrer a amada. Assim, como não lhe é possível libertar-se da dor,
resta-lhe lamentar-se e continuar a sofrer.
O
tom do seu queixume é de lamento e algo colérico, visto que, como já foi
mencionado, ele sofre por amor e está revoltado com a situação em que se
encontra e com a «senhor», a responsável pelo seu estado de alma.
Em
suma, o «eu» vive um conflito interior, visto que, por um lado, deseja
vingar-se da mulher, “devolvendo-lhe” todo o sofrimento que ela lhe causa,
contudo, por outro lado, tem consciência de que não lhe é possível evitar o
amor que o prende à dama.
Mas
o que é próprio das cantigas de amor e do seu modelo provençal é a distância a
que o amante se coloca em relação à sua amada, a quem chama senhor, tornando-a
um objeto quase inacessível.”
Por
outro lado, as regras do amor cortês não lhe permitem dirigir-se diretamente à
mulher, daí usar o verbo «ousar» (v. 22) e no pretérito imperfeito do
conjuntivo, sugerindo uma situação improvável. De facto, falar com ela
constituiria um atrevimento e uma quebra do código amoroso e do serviço de
vassalagem que tem de lhe prestar.
No
entanto, esta cantiga contraria a convenção, visto que o «eu» poético não serve
dedicadamente a mulher amada e não aceita o sofrimento amoroso e a dor causados
pela não correspondência amorosa da dama, não se resignando a sofrer. Mais do
que isso, ele revolta-se contra ela e expressa mesmo o desejo de se vingar,
fazendo-lhe mal e trazendo-lhe igualmente sofrimento. A revolta contra o poder
da «coita de amor» é uma fuga ao código da «fin’amors», pois o trovador jamais
poderia desanimar ou colocar o seu sofrimento acima do seu serviço. O amor, ainda
que não correspondido, devia ser fonte de depuração. Além disso, desmistifica a
ideia da mulher idealizada: ela é cruel, dá esperanças ao pobre trovador e
depois desdenha dele, ignora-o.
▪ Rima:
- esquema rimático: ABABRAR
- cruzada e interpolada
- consoante e toante
- pobre e rica
- aguda
▪ Métrica:
versos octossílabos.
▪ Transporte.
▪ Ritmo
lento e arrastado.
▪ Refrão:
. estabelece o
confronto entre o desejo e a realidade;
. o sujeito formula o desejo de que a “senhor”
que ama e que não lhe retribui o amor sofra tanto como ele tem sofrido por ela;
▪ Aliteração
em s.
▪ Personificação
do coração: o sujeito poético responsabiliza-o pelo seu sofrimento
▪ Antítese
entre o desejo do trovador e a realidade da cantiga de amor, do código da
“fin’amors”. Trata-se de um conflito não resolvido, pois é impossível ao «eu»
«punir» a amada, o que o deixa em tensão.
▪ Orações
subordinadas condicionais e causais: mostram o esforço do sujeito
poético para encontrar a solução acertada para a sua vingança: pensa, avalia,
calcula várias possibilidades sem conseguir concluir.
Além
disso, é também o reflexo da decadência da vida da corte, da nobreza, que
começa a perder o seu poder para uma nova classe que começa a surgir – a
burguesia.
terça-feira, 9 de novembro de 2021
terça-feira, 2 de novembro de 2021
sexta-feira, 29 de outubro de 2021
Na aula (XLII): a conjugação pronominal... versão aluno
O que significa o seguinte momento glorioso?
O stor avisarate.
André A.
segunda-feira, 25 de outubro de 2021
Análise de "Sedia la fremosa seu sirgo torcendo"
▪ formosa
▪ alegre
▪ apaixonada
▪ exultante, radiante
▪ canta doce e harmoniosamente
▪ disfarça o seu amor
▪ saudosa
▪ ansiosa por voltar a ver o amigo
Análise de "Que fizeste das palavras"
O poema, de Eugénio de Andrade, baseia-se no recurso intenso à interrogação retórica. Assim, o «eu» começa por questionar um «tu»: “Que fizeste das palavras?” Com esta interrogação retórica, ele reflete sobre o seu ofício de poeta, que é alguém que trabalha com as palavras. Ora, estas são constituídas por vogais e consoantes, resultam da fusão desses dois elementos.
As vogais
são «azuis» (sensação visual), cor que simboliza a tranquilidade e a paz (a cor
azul relembra, por exemplo, o céu e o mar, que reflete aquele), enquanto as
consoantes ardem entre o “fulgor / das laranjas [cor quente] e o sol [símbolo de
vida] dos cavalos” (animais que representam a força e a vitalidade). Assim
sendo, as palavras possuem um grande potencial e diversidade. Por outro lado,
estas metáforas traduzem a relação das palavras com a Natureza.
No terceiro
terceto, o «eu» poético associa, metaforicamente, as palavras a “minúsculas
sementes” (vv. 8-9), relacionando-as novamente à Natureza. Através desta
metáfora (as palavras são sementes), ele sugere que o poeta e uma espécie de
semeador, pois fá-las germinar, ou seja, semeia-as e fá-las nascer e crescer,
isto é, o poeta constrói o poema como se se tratasse de um ser vivo. Então,
isto significa que o poeta é um criador, dá vida (ao poema, à poesia) e tem de
ser muito cuidadoso com o seu ofício.
Análise de "Quem a tem", de Jorge de Sena
Este poema, constituído por um dístico e duas sextilhas, foi datado de 9 de dezembro de 1956, quando Jorge de Sena acabara de completar 37 anos, vivia ainda em Lisboa como engenheiro e se preparava, a convite do British Council, para se deslocar para Inglaterra, para um estágio sobre betão armado.
O título do poema (“Quem a tem”) é constituído por
uma frase incompleta com uma referência não concretizada. Tendo em conta que o
pronome pessoal «a» se refere à liberdade, essa frase reticente deixa por
saber quem é que possui liberdade ou o que faz quem a tem.
No dístico, o sujeito poético manifesta o desejo de não
morrer sem assistir à chegada da liberdade, isto é, de a ver chegar ao seu
país. Tendo o poema sido escrito em 1956, facilmente se conclui que a ausência
de liberdade referida é a que se vivia em Portugal durante o Estado Novo, o
regime salazarista. Por outro lado, este dístico repete-se como os dois versos
finais da última estrofe. Esta repetição traduz a convicção do sujeito lírico
na crença de que um dia verá a liberdade chegar ao seu país. Essa convicção é
tal que ele está determinado a viver o tempo que for necessário para que o
desejo/a situação se concretize. Neste contexto, há também a destacar o recurso
à metáfora, ao atribuir-se à liberdade uma cor. Esta estrofe inicial indicia um
profundo sentimento de esperança na humanidade e no movimento de mudança
próprio da História. Os versos inscrevem-se em duas realidades distintas: a
realidade da censura que se vivia em Portugal na época de escrita do texto; a
presentificação de um futuro assente na certeza de que a liberdade haverá de
chegar, mais tarde ou mais cedo.
No início da segunda estrofe afirma a impossibilidade de,
sendo português, não poder ser outra coisa que não português, ainda que possa viver
noutros espaços (por exemplo, de exílio), na ânsia de viver em plena liberdade.
A pertença a uma pátria específica torna plena a consciência de que, apesar de
ser um cidadão do mundo, é e será sempre português. Há aqui, nomeadamente nos
versos 3 a 5, a noção de uma pertença dupla ao mundo e a Portugal.
No verso 7, o sujeito poético questiona-se acerca da
verdade da liberdade, isto é, como ela será quando chegar a Portugal? Já o
verso 9 (“Trocaram tudo em maldade”) coloca-nos perante outro traço do regime
salazarista: a denúncia e a difamação.
Os versos 11 e 12, pontuados pela metáfora, denunciam a
ocultação de informação e da realidade que o Estado Novo cultiva (aparentemente
Portugal era um paraíso, um mundo perfeito), bem como a política de manter os
portugueses na ignorância e de desencorajar a intervenção pública e as
limitações à liberdade de expressão (“mudo”).
O estado de espírito do sujeito poético é caracterizado
pela tristeza e ansiedade, mas temperado pela esperança na chegada da liberdade.
O seu tom ao longo do poema é marcado pela melancolia e pela especulação,
associado a um certo desânimo e à ansiedade do «eu», mas também à tal esperança
que tem na mudança deste estado de coisas.