O poema, de Eugénio de Andrade, baseia-se no recurso intenso à interrogação retórica. Assim, o «eu» começa por questionar um «tu»: “Que fizeste das palavras?” Com esta interrogação retórica, ele reflete sobre o seu ofício de poeta, que é alguém que trabalha com as palavras. Ora, estas são constituídas por vogais e consoantes, resultam da fusão desses dois elementos.
As vogais
são «azuis» (sensação visual), cor que simboliza a tranquilidade e a paz (a cor
azul relembra, por exemplo, o céu e o mar, que reflete aquele), enquanto as
consoantes ardem entre o “fulgor / das laranjas [cor quente] e o sol [símbolo de
vida] dos cavalos” (animais que representam a força e a vitalidade). Assim
sendo, as palavras possuem um grande potencial e diversidade. Por outro lado,
estas metáforas traduzem a relação das palavras com a Natureza.
No terceiro
terceto, o «eu» poético associa, metaforicamente, as palavras a “minúsculas
sementes” (vv. 8-9), relacionando-as novamente à Natureza. Através desta
metáfora (as palavras são sementes), ele sugere que o poeta e uma espécie de
semeador, pois fá-las germinar, ou seja, semeia-as e fá-las nascer e crescer,
isto é, o poeta constrói o poema como se se tratasse de um ser vivo. Então,
isto significa que o poeta é um criador, dá vida (ao poema, à poesia) e tem de
ser muito cuidadoso com o seu ofício.
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